Os demônios que me tentam
Je creuserai la terre pour couvrir ton corps d'or et de lumière.
"Então, você e Padfoot andaram nus pelos corredores de Hogwarts ontem à noite, e ninguém pegou vocês?" Ergui minha cabeça e fitei os olhos esverdeados à minha frente. Emanavam um brilho malicioso familiar. Oh, doce James. Queria possuir aquele despeito pelas normas do colégio. Realmente queria.
"Não estávamos nus, James.", falei em tom baixo, ignorando os olhares femininos insistentes. "Havia toalhas, sim..."
"Aquele cão velho!", e sua risada encheu o ar, atraindo ainda mais olhares. Não gostava de tamanha atenção. Principalmente das calouras. E das veteranas. Abaixei minha cabeça, e senti uma mecha escapar da fita preta que sempre contornava meus cabelos. Fitei as torradas à minha frente, e não senti nenhuma vontade de levá-las a boca. Estava totalmente sem fome. Apenas sua ausência fazia-se presente em meu corpo mal acostumado com seu calor. "Moony, coma alguma coisa..." Ergui meus olhos e manejei um não delicado ao meu amigo. "Você não jantou ontem, deve estar morrendo de fome."
Mas não estava. A obsessão roubava-me o apetite. Parecia que todas as minhas energias eram drenadas pelo demônio de olhos cinzentos que atormentava meus sonhos mais secretos. Ergui meu corpo e o procurei pelo salão. Sabia exatamente onde ele estava. Mas meus olhos incansáveis o buscavam em cada milímetro do enorme cômodo.
Malditas sejam as morenas corvinais, que com todos seus cachos amêndoas e seus lábios carnudos cobertos de batom, só fazem tentar meu tentador. Que com suas curvas, e seus seios roliços, chamam a atenção de meu imperador. Malditas sejam. E por que as morenas, Dieu? Será que ele não vê que com seus cachos escuros, elas só escondem a sujeira? O pecado, sim. O pecado de desejar cada centímetro daquele corpo divino. Um anjo não pode ser desejado. Não. Só pode ser apreciado. De longe.
Sua fragrância fez-se presente em meu ar. Ergui a cabeça em um movimento rápido. Tabaco e pimenta-branca. E lá estava ele. Com toda a sua irreverência e, mesmo assim, tão imponente. Observei-o sentar-se à minha frente e apanhar uma das torradas amanteigadas, levando-a rapidamente aos lábios escarlates. Sua camisa não possuía os primeiros três botões. Dizia ele que o faziam sentir-se preso. Sufocado. E eu não reclamei quando ele os arrancou com seu canivete prateado. Seus cabelos agora estavam secos, e novamente, adquiriam aquela tonalidade que tanto amo. Aquele preto único que tornava tudo a sua volta mais claro. Um negro que fazia inveja a noite. E então, seus olhos. Seus olhos cinzentos que facilmente tornavam-se verdes, azuis, e novamente, cinzas. Aqueles olhos mágicos que absorviam as cores do ambiente, tornando-se negros na noite sem luar, e grafites na lua cheia.
"Onde estava, Padfoot?", ouvi James perguntar com um tom malicioso na voz grave.
"Por aí...", ele respondeu indiferente. Senti seus olhos nos meus, e logo virei o rosto. Apanhei o jarro de suco tentando ganhar tempo e tornar úteis minhas mãos trêmulas.
"Com Melissa?", novamente meu irmão de cabelos rebeldes tornou a abrir a boca. Melissa. Que arda no inferno, maldita.
"Sim...", e ainda manejou o belo rosto para não haver dúvidas que ela era o motivo de sua ausência. "Fui obrigado a terminar com ela", aquela voz rouca em tom baixo, enquanto apanhava outra torrada.
"Terminou...?", Peter realmente parecia surpreso. E eu estava aliviado. "Por quê?", realmente. Era essa a questão. Por que...?
"Cansei...", simplesmente falou e mordeu a torrada com uma tranqüilidade invejável. Quando já havia desistido de escutar algo mais convincente, ele prosseguiu. "Cansei das morenas. Agora, estou em busca das loiras angelicais...", e fitou demoradamente meu cabelo após essa frase.
Apoiei meu queixo na palma de minha mão esquerda, e virei o rosto. O que ele queria agora era corromper as loiras angelicais lufas. Malditas sejam elas, com seus rostos rechonchudos e rosados. Senti seu corpo erguer-se, e espiei pelos cantos de meus olhos seus movimentos. Naquele momento, ele tinha seus cotovelos apoiados na mesa, e seus joelhos estavam dobrados em cima do extenso banco. Segui os movimentos de sua mão direita, e me surpreendi quando ela mudou seu rumo em direção a minha face.
Sirius me fitava com uma expressão interessada no lindo rosto. E sua mão roçava suavemente em minha maçã do rosto. Tive a impressão que todo o salão havia parado para analisar seus atos sempre surpreendentes e únicos. Em um movimento gracioso, ele levou a mecha que havia se soltado da fita, para trás de minha orelha.
"Ou quem sabe, de loiros angelicais...", e sorriu em desafio, fitando cada face do enorme salão.
James e Peter começaram a rir do comentário malicioso. Sirius voltou a se sentar, servindo um pouco de suco de abóbora em seu cálice. Minha mão já estava formigando pelo peso de meu rosto. Mas eu não me importava. Ainda estava tentando absorver a última frase dita por ele. Loiros angelicais...? Nunca apreciei humor negro.
Apanhei meu cálice, e sorvi o leite que o preenchia em grandes e pesados goles. Limpei meus lábios com as costas de minha mão, e voltei a fitar Sirius. Ele ainda tinha o cálice em um das mãos, enquanto a outra estava pousada preguiçosamente na mesa. Seus dedos tamborilavam uma melodia qualquer.
"Padfoot, é exatamente assim que os boatos começam, sabia?", escutei James falar divertido.
"Não me importo com o que dizem...", sua voz mantinha o tom baixo e indiferente. Seus lábios agora estavam sujos de geléia de damasco. Uma visão tentadoramente deliciosa. E, novamente, eu me perco nos devaneios.
"E você não é o único.", concordou o outro.
E então, eu levei uma das mãos ao meu cabelo preso, e o trouxe para frente. Senti o suave cheiro de camomila e tentei ignorar os olhares dirigidos a mim. Queria não me importar com a opinião alheia. Mas minha doce mãe sempre me aconselhou a levar em consideração cada palavra dita pelos outros. Junto com as palavras, vem a maldade. E com a maldade, o medo do incerto. E, de acordo com a sociedade, eu era o incerto. E espalhava medo com minha doença. Licantropia.
"Acho melhor irmos para a aula de Transfiguração... estamos atrasados...", falei me levantando e apanhando a bolsa pesada que continha todos os meus livros. Evitei os olhares curiosos de meus amigos, e me afastei da mesa, caminhando em passos rápidos em direção ao fundo do salão. Ouvi seus chamados, porém, decidi ignorá-los. Realmente estávamos atrasados.
Quando alcancei o corredor, fui puxado por uma mão forte e ao mesmo tempo, delicada. Fechei os olhos, e não me surpreendi quando seu perfume camuflou-se em meu ar.
"Mo-ny, por que a pressa...? Parece que está fugindo...", ouvi sua voz naquele mesmo volume baixo e tranqüilo. Virei meu rosto e fitei seus olhos.
"Estamos atrasados pra Trans...", mas fui interrompido.
"Dane-se Transfiguração! Vem comigo...", e antes de ouvir meu consentimento, ele me levou pela outra direção do corredor. Novamente, a péssima influência. Isso ainda iria me matar. Mas não estou reclamando. Morrer nos braços dele é até uma morte digna e prazerosa. E, lá se vai minha lucidez, perdida em algum lugar de meu corpo, agora, queimando pelo contato daquela mão áspera.
Aumentei a velocidade de meus passos a fim de igualar meu ritmo ao dele. Espiei-o pelos cantos de meus olhos e não contive a súbita felicidade que encheu meu peito. Sirius agora caminhava com um sorriso provocante nos lábios, como se quisesse demonstrar todo seu desprezo por regras através daqueles dentes porcelana. E seus cabelos lambiam sua face em uma dança harmônica conduzida pelo vento forte de outono. Em pouco tempo, chegamos ao jardim e avistei duas figuras sentadas embaixo de uma enorme árvore, que possuía as folhas numa coloração dourada devido à estação.
Vi Sirius levar o indicador aos lábios fechados em um gesto de silêncio. Manejei minha cabeça em concordância suave, e prosseguimos juntos no jardim. Reconheci as duas figuras sendo James e Peter, e quando chegamos próximos a enorme macieira, sentei-me apoiando as costas em seu tronco. Depositei minha mala no chão, e fitei meus amigos. James estava descalçando os sapatos e as meias, e sua camisa já estava aberta. Peter parecia adormecido no chão. E então, Sirius.
Ele retirara a camisa, e deixara o tórax exposto. Seus coturnos apareciam sob a calça social preta. Observei-o sentar-se em uma enorme pedra e apoiar um dos cotovelos no joelho. Seu queixo apoiado em sua mão numa forma desleixada, mas mesmo assim, irresistível. Parecia uma estátua de Apolo. Deus do Sol. Pois, acima de tudo, era exatamente isso que Sirius era. Um Deus, que iluminava tudo ao seu redor.
Bocejei fechando meus olhos e apoiando a cabeça ao tronco. Permaneci desse modo durante alguns minutos, até o vento fresco me obrigar a abrir meus olhos. Fitei o céu sobre mim, e brinquei com as nuvens de variadas formas.
"E então...", murmurei captando os olhares de meus irmãos. "Por que a súbita rebeldia?"
"Transfiguração é a matéria mais fácil, e precisamos de um descanso... certo, Padfoot?", falou James enquanto se levantava e caminhava até o lago.
"Certo, Progs", concordou Sirius enquanto pulava da pedra, e se deitava no chão de maneira com que uma extensa camada de fios negros cobrissem seu rosto. Observei-o virar seu rosto coberto pela seda negra, e me olhar com carinho. "Vem, deita aqui comigo, Mo-ny... eu sei que você está com sono..." Ele me oferece o paraíso, e o eu poderia fazer? Certa contradição essa. Um demônio me oferecer o paraíso. Vida surpreendente essa que conhecemos.
Engatinhei até aquele corpo e me deitei próximo a ele. Fechei meus olhos e inalei seu perfume inebriante. Poderia morrer naquele instante, e não iria me opor à decisão divina. Tornei a abrir meus olhos e observei as nuvens se moverem lentamente em direção a lugar nenhum. Virei meu rosto em um movimento delicado, ansiando vê-lo. E saciei minha vontade ao deparar-me com seus olhos fechados. Dormia um sono tranqüilo, a face divina apoiada na grama amarelada. Seus cabelos brincavam com o dourado do solo, e com o dourado de seu rosto sereno. Observei seu peito subir e descer numa respiração pausada e tranquilamente invejável. Virei todo meu corpo em sua direção, e levei uma das mãos ao seu rosto, retirando os fios negros de suas pálpebras fechadas. Afastei-os de sua face e enrolei-os em meus dedos finos, em um movimento carinhoso.
"Doux ange...", murmurei silenciosamente enquanto fitava seus olhos. Vi-os abrirem-se lentamente e sustentarem meu olhar. Sorri timidamente e tive o mesmo em resposta.
"Mo-ny...?", gracejou naquela voz sempre rouca. Encorajei-o a continuar com um suave manejo de cabeça. "Por que sempre prende seus cabelos?" Pisquei meus olhos em confusão e soltei a fina mecha que tinha em meus dois dedos. Levei a mesma mão aos meus próprios cabelos e mordi meu lábio inferior quando senti seus olhos em minha fita preta. "Solte-os pra mim..." Voltei a encará-lo tão pasmo que despertei seu riso gracioso. Observei-o sentar-se, e levar uma das mãos a minha nuca. "Assim..." Logo, meus cabelos estavam soltos exatamente como os seus. Sirius agora tinha minha fita negra em sua mão direita, e a fitava com desprezo. Senti seus dedos ásperos brincarem com uma mecha de meu cabelo dourado, e me perdi quando fitei seu sorriso gentil. "Deixe-os soltos a partir de hoje... eles são muito bonitos para serem presos..." Concordei suavemente com a cabeça.
"Padfoot!", ouvi James gritar enquanto se jogava em cima de Sirius. Observei os dois rolarem no chão em um movimento divertido. E então, deite-me ao lado dos dois tranquilamente. "Padfoot, se você terminou com a Melissa, quem você vai levar ao baile de outono?" Havia me esquecido do maldito baile programado pelas veteranas desocupadas.
"Vou sozinho, simples...", respondeu com os olhos cinzentos fechados.
"E você, Moony?", voltei minha atenção às nuvens antes de responder.
"Não havia pensando nisso até agora..." O que realmente não era mentira. Não gostava de bailes. A música extremamente alta sempre me deixava com os tímpanos doloridos. Sem contar a insuportável enxaqueca no final da noite. "Provavelmente irei sozinho..." Virei-me em direção a James e fitei seu rosto animado. "E você? Pensando em chamar Lily?"
"Bingo"
Não reprimi o riso, e fechei os olhos quando soltei meu corpo na grama macia. Ouvi o riso rouco de Sirius acompanhar o meu, e ri ainda mais alto. Ouvi James praguejar baixinho naquele tom que ele sempre usava contra nos quando o assunto era sua ninfa Lily Evans. Abri os olhos e limpei uma lágrima de meus olhos e fitei meu amigo de cabelos rebeldes, que naquele momento, mantinha uma expressão séria no rosto.
"Pelo menos eu vou acompanhado, seus cretinos!", falou em tom risonho. Mantive o sorriso divertido em meus lábios, e meus olhos encontraram os de Sirius. O que bastou para me fazer corar violentamente. Levantei em um único movimento ágil, e apanhei minha mala.
"Acho melhor entrarmos, a próxima aula já vai começar...", falei rápido e caminhei até Peter com a finalidade de acordá-lo. "E, não adianta vim com essa besteira de descanso, porque eu preciso de notas em Poções", e voltei a me levantar quando tive certeza que Peter havia acordado.
"Sim, é melhor irmos...", ouvi Sirius falar e o vi vestindo a camisa agora manchada de terra e grama. Joguei a mala em minhas costas, e caminhei em direção ao castelo. Escutei seus passos e logo, senti seu corpo ao meu lado. "Que tal outro banho mais tarde, Mo-ny?" O fitei sério e novamente, ele riu divertido. Levando um dos braços em volta de meus ombros, murmurou em meu ouvido. "Não me olhe assim, senão posso até pensar que você gostou do que viu..." Observei-o aumentar o ritmo, e adentrar o castelo antes de mim.
Ingênuo demônio que me tenta. Mal sabe a verdade que me consome por trás desses olhos falsamente puros.
N.A.:bom, antes de qualquer coisa, muito obrigado aqueles que comentaram! brigadão, gente, vocês são uns anjos que dão animo pra eu continuar a postar! vamos às respostas:
bel : linda. brigadão por comentar aqui! mesmo você já tendo lido a fic inteira no forum, hahaha. e sim, a fic é dividida em capítulos o.o' bem, agora você já sabe! haahahaha!
maripottermalfoy : a ação? calma, moça, tenha paciência. hahaha. que bom que você gostou, espero que continue acompanhando a fic ;D
moony ntc: aii. muito obrigado pela linda review! me animou bastante, viu? continue lendo!
tania kenorton: olha outra impaciente, hahahaha. calma, vai ter ação. eu prometo. mas só peço um pouco de paciência ;D
mo de aries: não o/ não terminou. (você já deve ter reparado se tá lendo isso, mas tudo bem, a tia nika gosta de responder perguntas, hahahaha). que bom que você gostou, viu? fico muito feliz!
e um beijo a todos que estão lendo, e não mandando reviews. tudo bem, eu entendo vocês. dá uma priguiça de escrever um texto enorme pra dizer que detestou ou amou a fic. mas, por favor, pelo menos falem um: oi, li, gostei!o contrário também serve.
até o próximo capítulo ;D
Disclaimer: Harry Potter, e suas personagens pertecem somente a J.K Rowling. (entendeu essa parte? ótimo! siga para a outra)
PORÉM, essa fic me pertence. é minha em toda sua essência, excêlenciae existência, ok? plágio é crime, além de ser algo abominante e muito, muito feio. por isso, lembrem-se do que sua mamãe dizia na sua infância sobre 'não furtarás' e não roube a minha fanfic!
