Lágrimas Derramadas
Capítulo 2
Palas Athena
- Então Dohko, é ou não é amor? Vocês brigam tanto, dizem que por trás de tantas brigas sempre tem uma paixão avassaladora escondida. – Shion dizia rindo, enquanto eles subiam as últimas escadarias em direção ao salão do grande mestre.
- Não vai parar mesmo com esse assunto? Já te disse milhões de vezes que dela eu passo longe... Ela é chata, indecente, vive me passando sermões e daqui uns dias, não duvide, ela vai me bater como se fosse minha dona. – ele olhou chateado para o amigo. – Ela pensa que pode me controlar... Desde quando?
- Eu continuo apostando na paixão avassaladora! – Shion ia cair na gargalhada quando seus olhos se depararam com a figura do Grande Mestre, aguardando por eles.
O Grande Mestre olhou para os jovens, e a irritação chegou a se transformar em uma vontade incontrolável de rir. Desde que eles apontaram no último lance de escadas rumo ao salão, ele já podia ouvir a briga ou pequena discussão relacionada ao tema paixão avassaladora; sabia que exigia demais daquelas "crianças" como ele gostava de chamá-los, mas era necessário, eles tinham responsabilidades e tinham que ter a consciência das mesmas. Apesar de que, tinha de ponderar, eram jovens e viviam emoções de jovens e isso ele não podia impedir.
Fitou-os por sobre a máscara, ambos com uma cara de espanto, passou seus olhos por Dohko para depois pousá-los em Shion e dizer ríspido.
- Estão atrasados.
- Desculpe-nos mestre. – Shion disse se ajoelhando juntamente com Dohko.
- Desculpas, desculpas, quantas vezes vou ter de dizer que vocês precisam ter consciência de suas responsabilidades? Principalmente você Shion, quantas vezes vou ter de repetir que sua responsabilidade é o dobro da de seus companheiros? – disse em um tom de repreensão.
Shion abaixou os olhos, fitando o chão, aquelas palavras de seu mestre... Elas sempre pesavam em seu coração e chegava a ter raiva em certas ocasiões do fardo ou honra que carregaria para o resto da vida... Fora criado desde pequeno para isso, assumir quando fosse o tempo o lugar de Grande Mestre. Nunca lhe foi dado escolhas, e a ele coube apenas aceitar, mesmo querendo ser um garoto como qualquer outro.
- Grande Mestre! – a voz de Dohko trouxe Shion de volta. – A culpa não foi de Shion, foi minha. – Dohko respirou fundo. – Fiquei até tarde da noite na casa de Osirus e perdi a hora, Shion ainda me ajudou a resolver uns problemas em minha casa antes de virmos para cá. Então, se tiver algum castigo, o de a mim e não a ele.
- A culpa também foi minha. – Shion disse, temendo que o amigo levasse algum castigo. – Eu devia ter ido a sua casa antes...
O mestre olhou para os dois com carinho, interrompendo os dois em seguida.
- Fico surpreso Dohko, mas o fato do atraso ter ocorrido por sua causa não tira a responsabilidade das mãos de Shion e ele sabe bem o porque disso. – olhou para os dois amigos, um protegendo o outro, desde crianças eram assim. – Agora deixemos este assunto para outra hora, vocês têm uma obrigação a cumprir, venham.
Levou os dois rapazes até a imensa biblioteca, dando as instruções sobre o que deviam procurar naquele vasto acervo e lhes precavendo ser proibida a leitura de qualquer um daqueles manuscritos. Por fim saiu deixando os dois jovens trabalharem...
- Shion? – após algum tempo, Dohko finalmente decide quebrar o silêncio.
- Sim? – Shion responde, sem nem olhar, tirando alguns papiros antigos do lugar e limpando-os cuidadosamente.
- Desculpa, te meti em outra enrascada... Seu mestre deve estar furioso com você e o pior é que você não fez nada.
- Claro que fiz. – continuou falando sem olhar para o amigo.
- Não fez não. – Dohko largou os papiros de um lado, odiava injustiças.
- Dohko, sabe que eu tenho responsabilidades extras; já contei pra você e não adianta fazer essa cara, não é injustiça nenhuma é minha obrigação ter um senso de dever maior do que o de todos vocês.
Silêncio.
- É, não adianta tentar corrigir isso não é mesmo? Deixa pra lá. – Dohko se dirige para outra estante de livros e papiros.
- É muito ríspido com eles Atlas. – o Grande Mestre é surpreendido por uma voz muito conhecida.
Ao virar-se se depara com a bela garota de cabelos loiros e ondulados até metade dos ombros, com olhos azuis penetrantes que ele conhecia desde que esta era um bebê... Trajava uma roupa grega simples, mas muito feminina e sorria.
- Mas minha de... – Ela o interrompe.
- Nada de me dizer que devo ficar sempre em meu templo, não sou uma estátua Atlas eu possuo vida sabia? – ela sorri carinhosamente.
- Me desculpe criança. – Ele sorri de volta. – Mas precisa se acostumar a sua posição, a sua vida, és uma deusa pequena Palas. – ela olha tristemente pela janela do grande salão.
- Eu sei Atlas, mas não existem tantas diferenças entre um deus e um humano... Passamos pelas mesmas angústias, alguns traem, matam e como já vimos isso não é? A única coisa que nos difere de vocês é que somos imortais. – ela sorri tristemente. – E isso pesa ainda mais, não temos segundos eternos e memoráveis é tudo igual, sempre igual.
- Mas neste mundo, neste momento, tua essência é humana minha deusa. – ele se apóia no peitoril da janela encarando-a. – E dessa forma corre risco de vida, pois sempre é ameaçada por esses outros deuses que mencionastes e é isso que tememos pequena, tememos por sua vida.
Uma lágrima rola solitária pelo rosto da deusa.
- Sim uma vida, eu tenho uma vida mortal entre vocês... E sendo assim, gostaria que ao menos uma única vez me visse como o que sou... – ela seca a lágrima antes de completar a frase. - ... Uma garota de apenas 16 anos...
A conversa é interrompida por um estrondo vindo da biblioteca.
- O que será que houve. – a jovem pergunta, correndo em seguida para a biblioteca.
- Palas!!! – o Grande Mestre ainda tenta segurá-la, mas em vão.
Ao entrar no cômodo, coberto por uma grande camada de pó, ela observa o jovem de cabelos verdes, erguendo às pressas a enorme estante que tombara.
- Mas o que houve aqui? – Atlas chega logo atrás observando a cena.
- A estante despencou em cima do Dohko. – Shion disse tentando não rir.
- Vocês não conseguem fazer nada direito? – Atlas suspirou furioso.
Nisso tudo Shion já havia levantado a estante e a colocado no lugar, estirado no chão Dohko estava com uma cara de quem não tava entendendo nada, os olhos fora de órbita.
Foi Palas que interrompeu as broncas de Atlas e foi em direção a Dohko, o erguendo e percebendo o corte na cabeça.
- Vocês dois, Dohko se machucou nessa brincadeira, vão buscar as ataduras.
- Nós cuidamos disso Palas, volte ao templo. – Atlas interviu.
- Não vou voltar, eu mesma cuidarei disso, pode ir buscar? – Atlas viu que a jovem deusa não estava brincando e resolveu buscar ataduras.
Após algum tempo, Dohko já voltará a si e os três jovens conversavam na biblioteca.
- Tem de tomar mais cuidado Dohko!!! – Palas ria da cara espantada do cavaleiro.
- Esse não tem jeito Athena, acho que nunca vai ter. – Shion completava rindo ainda mais.
- Shion, gostaria de lhe fazer um pedido... – pensou um pouco. – Por favor, me chame pelo meu nome certo? Aqui entre nós no santuário, eu sou apenas a Palas, ok?
- Mas... – Shion ainda tentou contestar.
- É um pedido.
- Está bem.
- E então Palas, obrigado por cuidar desse corte! – Dohko agradece a jovem.
- Não tem de quer. – enquanto conversavam o som da porta sendo aberta pode ser ouvido.
- O Mestre Atlas mandou me chamar para ajudar... – Palas se vira para ver quem chegara e seus olhos cruzam com outros que conhecia muito bem. – ...vocês. – o jovem completa a frase sem deixar de olhar para a garota, disfarçando em seguida lançando-lhe o olhar mais frio que podia e saudando-lhe da forma convencional. – Não sabia que minha deusa estava presente, desculpe a falta de decoro em minha entrada.
- Vou deixá-los, com licença. – Palas saiu da imensa biblioteca, controlando-se para não correr e cruzando seus olhos com os do rapaz ainda parado no batente da porta.
Fechou a porta atrás de si e correu para o templo, o coração a mil, assim como seus pensamentos... Ele continuava lindo, lindo como sempre, como desde sempre... E qual o motivo daquele olhar frio e cheio de mágoa? Droga, sabia que era a grande responsável por isso, por aquele olhar... Mas era para o próprio bem dele e dela...
- Aurion...Me perdoe... Me perdoe... – Palas chorava deitada na imensa cama, não queria ter visto o desprezo naqueles olhos que tanto amava.
- Que bom que chegou!!! – Shion recebeu o amigo.
- Agora a trupe está completa, vamos fazer mais bagunça ainda, não é mesmo senhor Aurion de Sagitário? – Dohko sorriu. – Hei, ta ouvindo a gente Aurion?
- Como? – ele desviou os olhos da porta. – Ahhh sim, mas é claro, vamos tratar de aumentar essa bagunça. – sorriu.
Shion como bom observador que era, não pode deixar de notar que um clima diferente ficara no ar quando Aurion e Palas se encontraram... Algo como uma faísca que saltava dos dois a olhos visto, nela pode perceber uma grande tristeza e nele desprezo. O que será que acontecera com aqueles dois? Depois comentaria o assunto com Dohko...
Juntando com Aurion logo eles acabaram de arrumar toda a bagunça e separaram os papiros pedidos pelo mestre... Foram embora juntos, brincando e fazendo farra... Shion aproveitou a deixa para ficar na casa de Aurion, e jantar por lá mesmo. Já Dohko terminou de descer as escadarias até sua casa, louco por um banho e pra ficar sozinho... Aquele dia tinha sido no máximo estranho. Primeiro os sermões eternos, depois os arruaceiros invadindo sua casa, a bronca do grande mestre, a estante caindo em sua cabeça e pra completar Athena cuidando dele e logo depois trocando um olhar cheio de significados com Aurion... Ali tinha coisa, pensou ao entrar em sua casa, e ele comentaria isso com Shion no dia seguinte.
Tomou seu banho, todo contente e foi para a cozinha preparar o seu jantar... A noite pelo menos estava tranqüila, ele pensou enquanto se dirigia para sua cozinha....
- Até que enfim, Dohko de libra... Estou esperando você sair daquele banho a horas. – a voz de Yoros viajou até seu ouvido.
Não, tudo menos isso. Pensou antes de olhar para a mesa, onde a amazona estava sentada a sua espera. Naquele instante sentiu uma vontade louca de sair correndo e se esconder em qualquer canto daquele santuário.
- Yoros o que você quer? – perguntou, deixando escapar um tom aflito.
- Calma Dohko, que tal você se sentar? Teremos uma longa conversa... – ela disse séria.
Continua...
N.A: Mais um capítulo saindo do forno Nesse eu tratei de apresentar alguns personagens novos, que eu criei, já que precisávamos de um Grande Mestre e de uma Athena não é? A Palas que aparece nesse capítulo surgiu logo depois que terminei a prova do vestibular e ela vai ter um papel fundamental no desenrolar dessa história. E o mestre Atlas, esse surgiu tão de repente que até me assustei.
Comentando os rewie:
Juliane-chan: Eu é que tenho de agradecer por este desafio maravilhoso que você lançou, estou amando escrever essa história. E concordo o Dohko jovem veio para abalar os corações.
Mo de Áries: Que bom que gostou da forma como descrevi a personalidade da Yoros . Aguarde ainda vão acontecer muitas coisas envolvendo sua amazona favorita. E eu também concordo que escrever com esses dourados antigos é uma experiência maravilhosa.
Abraços
Lithos de Lion
