Lágrimas Derramadas

Capítulo 6

Segredos

Athena dormia profundamente sobre os papéis espalhados pela imensa mesa da biblioteca. Atlas, que já despertara, olhava pela janela como quem aprecia os últimos momentos de calmaria; seu rosto, descoberto, transmitia grande serenidade e ele sorria levemente.

Voltou-se para o lugar onde estava a deusa, e o sorriso acentuou-se em sua face... Lá estava a criança, a pequena a quem dedicara a sua vida a proteger e a cuidar... A menina deusa, tão jovem e com tamanha missão.

Tirou-lhe do rosto de forma delicada, a mecha de cabelos ondulados de uma tonalidade próxima ao ouro. A menina mal se mexeu, limitando-se a dar um profundo suspiro. O mestre sorriu e pegou-a nos braços, levando-a para o templo.

Atlas deixou Palas em seu quarto no templo e retornou a biblioteca, reunindo os papéis espalhados e olhando atencioso todos os traços ali esboçados. Era sem dúvida uma sábia decisão da deusa, ainda que ele não tivesse compreendido os reais motivos para aquilo, ou compreendera e tentava ocultar a dura verdade de si mesmo.

Deu um suspiro profundo e guardou os papéis, tinha muitas coisas para preparar antes de comunicar a Shion a tarefa que a eles fora designada.

O santuário era movimento, desde as primeiras horas do dia... Cavaleiros e soldados rasos andavam por todos os lados, uns treinavam e outros conversavam entre si... Alguns comentavam a paz por que passavam depois de tantas batalhas, como a de Poseidon, dizendo essa ser permanente, enquanto outros discordavam dessa idéia.

Afastado do movimento do Santuário, longe da vista de todos, erguia-se o acampamento das amazonas, na verdade uma pequena vila... Nela há alguns poucos casebres, vítimas do tempo e de batalhas travadas, contrastando com as ruínas de templos que se erguiam a sua volta, como uma muralha.

As amazonas consagradas que ali viviam possuíam uma antiga tradição; que perdurava desde os tempos remotos, quando decidiram dedicar suas vidas nas batalhas pela justiça e pela paz. Era essa tradição a honra, ou o fardo de esconder para sempre tudo o que remontava a sua feminilidade, escondendo as feições suaves de seus rostos por debaixo de máscaras. Essas sem expressão...

Bom dia, garotas! – cumprimenta uma garota alegre, os cabelos num azul claro caindo-lhe pelo meio das costas que moldavam o rosto encoberto pela máscara.

Bom dia! – responde as outras duas garotas sentadas a mesa.

Karen, vai treinar nas arenas hoje? – pergunta uma das garotas, levantando-se da mesa. Os cabelos da jovem em um castanho avermelhado e levemente ondulados lhe caem suaves na altura dos ombros.

Vou sim Lyra, tenho que levar as novas aprendizes para treinarem por l�! – Karen responde.

Posso ir com você? Sabe que apesar de não ter nenhum pupilo, eu adoro ensinar as crianças.

Eu sei, sinto que leva até mais jeito do que eu... – as duas riem de forma gostosa.

Ora, Karen, aquelas pequenas te amam como a uma irmã mais velha... Mesmo você sendo tão rígida.

Karen é uma amazona de prata e está no auge de seus 16 anos, sua constelação protetora é a constelação da Águia. Sua pele extremamente clara denuncia o seu país de origem: a Suíça.

Lyra é a amazona da constelação do Camaleão. Sua armadura é de bronze e recebeu seu traje sagrado há pouco tempo, sendo esse um dos motivos pelos quais ainda não possuí discípulos a seu encargo.

Quer ir com a gente Raíssa? – Lyra pergunta à jovem de cabelos negros, ainda sentada na mesa, fitando o vazio.

A jovem se vira lentamente em direção as outras duas, como se as analisando por debaixo de sua máscara.

Não. – sua resposta é fria.

As duas amazonas olham em silêncio para a jovem aprendiz, enquanto essa se retira do casebre, sem ao menos se despedir.

Nunca vou entender essa garota. – Lyra diz em um tom chateado.

Tão fria... Parece não ter sentimento algum... – Karen diz, mas para si do que para a amiga ao seu lado.

Culpa... – Karen lhe faz um gesto para que não diga nada.

Encostada no batente da porta, uma mulher, aparentando já uma idade avançada observa as duas garotas. Maia da constelação do Ofiúco ou "cobra" como é mais conhecida, tem cabelos verdes ondulados bem vastos que lhe descem até um pouco abaixo da cintura, neles já se pode ver algumas mechas brancas.

Já disse a vocês que a menina é especial... – ela diz sentando-se à mesa e se servindo de café. – Não que ache certo a maneira com que ela age com as demais pessoas, é errado, mas isso será o tempo a lhe ensinar e não nós.

Desculpe-nos senhora Maia. – Karen se desculpa juntamente com Lyra.

Maia é a amazona que por mais tempo carregou uma armadura e que se necessário ainda luta, apesar da idade. Ela é a mestra de Karen e Lyra, a quem treinou com todo ímpeto e esforço.

Estão desculpadas, agora podem se retirar com as crianças... – ela ri de forma exagerada. – Já estão até em fila em frente ao alojamento delas...

As duas não podem deixar de sorrir de forma suave ao ouvir a mestra.

Está bem. – Karen responde já saindo.

Lyra permanece ainda por alguns momentos com a mestra.

Não se preocupe menina, ainda sei me defender. – Maia diz antes mesmo que a garota fale. – E se precisar de vocês mando chamar.

Ouvindo as palavras da mestra, a jovem se retira.

Maia fita o horizonte, pela pequena janela da cozinha... "O que está para acontecer?" Essa pergunta não para de atormentar seus pensamentos.

Raíssa que acabara de sair do casebre sem ao menos se despedir das amigas, caminha sobre as ruínas do santuário de Athena, está pensativa e seu coração lhe diz que algo não está certo.

Após algum tempo de caminhada penetra por um agrupamento de árvores, até chegar ao ponto que queria, um lago, que possuía uma delicada queda d'água em meio a uma clareira.

Feliz, retira sua máscara e roupas e se joga nas águas límpidas e geladas do lago... Liberdade era isso o que sentia quando podia tirar o peso estúpido daquela máscara sem vida que era obrigada a carregar em seu rosto. Não, ela não tinha vontade de se rebelar contra regras tão antigas, "as regras, elas evitam o sofrimento", a frase surge de imediato em sua mente. Só não entendia os motivos de tal regra.

Raíssa fica durante muito tempo brincando nas águas, deixando vir à tona a personalidade da menina-moça que era, nos seus 15 anos... Apenas nesses momentos ela tirava de seu rosto e de seu coração toda a seriedade que carregava consigo.

Saiu lentamente das águas, dirigindo-se para onde deixara sua roupa, o sari branco, o qual nunca abandonava. Vestiu-se devagar, jogando o traje com cuidado sobre os ombros e em seguida torceu levemente os cabelos negros e lisos para tirar o excesso de água. Sentiu que era observada, havia alguém entre as árvores... Não teve nenhuma reação, seus olhos negros sempre frios, adquiriram brilho... Brilho que durou apenas alguns minutos, tempo em que não desviou o olhar das árvores.

Abaixou-se no chão e com a lama do lago traçou em sua testa o terceiro olho, para depois cobrir o rosto com a máscara inexpressiva. Olhou novamente, a presença ainda podia ser sentida... Fez um movimento com as mãos, como quem convoca algo e se retirou do local.

Atrás das árvores, a figura de cabeça baixa, deixava escapar de seus olhos lágrimas que não podia conter. Em um gesto ergue as mãos para receber nelas os pequenos flocos de neve enviados pela pequena que tanto amava.

Nas arenas o barulho era intenso, vários cavaleiros treinavam com afinco, apesar da paz sabiam que não podiam estar despreparados, o mal não avisa de sua chegada.

Karen e Lyra treinavam as pequenas aprendizas, que prestavam atenção em tudo o que as duas jovens diziam.

No outro extremo da área de treino, outros dois cavaleiros cuidavam dos aprendizes, os garotos todos em tenra idade não paravam um minuto com a bagunça. Lidius de Escorpião e Darius tentavam de toda maneira conter os garotos recém chegados ao santuário.

As amazonas observavam os dois guerreiros perdidos entre os "capetinhas" rindo de uma forma gostosa.

Ajudamos eles? – perguntou Karen.

Lyra que observava a cena com ainda mais atenção não ouviu a pergunta da amiga, virando-se para ela sem entender.

O que disse?

Te perguntei se devemos ajudar? – Karen continuava rindo.

E por que não? – Lyra sorriu por detrás da máscara. – Fique aqui com as meninas que eu vou dar uma mãozinha pros guerreiros dourados.

Está certo.

Lidius notou a aproximação de uma das amazonas e sentiu o coração disparar ao ver de quem se tratava... A amazona de camaleão estava ainda mais linda do que em suas lembranças, vestia uma roupa de treinamento em cores suaves e o lenço amarrado a sua cintura balançava com o vento, assim como os cabelos.

Precisando de ajuda rapazes? – ela perguntou divertida e sem esperar resposta já chamou a atenção das crianças. – Meninos... – os pequenos pararam todos ao mesmo tempo para ouvi-la. – ...este dois jovens são os mestres de vocês, sabem o que isso significa? – eles balançaram a cabeça em negação. – Que devem respeitá-los ou jamais se tornarão guerreiros da justiça, jamais se tornarão cavaleiros. – eles ficaram em silêncio provavelmente pensando no que havia dito a jovem a sua frente.

Então... – Darius tomou a palavra e agora os garotinhos lhe olhavam com toda a atenção.

Lidius se aproximou sorrindo da amazona.

Realmente tem jeito com crianças...

E vocês nem um pouco não é mesmo? – ela sorriu.

Estamos aprendendo. – ele sorriu e mudou de assunto. – Você está bem?

Estou. – ela estranha a pergunta. – Por que não estaria Lidius?

Não sei, só foi uma pergunta... – ele sorriu sem graça passando as mãos pelos longos cabelos. Em um gesto juvenil.

Surge um silêncio constrangedor entre os dois jovens, que é quebrado com a chegada repentina de Allas de Peixes.

Allas. – Lidius diz surpreso.

Escorpião. – ele cumprimenta o jovem. – Lyra.

Olá. – a amazona responde.

Pelo visto você deu uma mãozinha a Lidius e Darius com os novos aprendizes. – ele diz olhando para Darius que fazia graça para os pequenos.

Mas, o que faz aqui Allas? – Lidius pergunta.

Athena me mandou, tenho um recado para as amazonas.

Do que se trata? – Lyra pergunta.

Vamos até Karen e lá eu entrego o recado para as duas. – disse se afastando em seguida em direção a amazona de águia, Lyra o acompanha meio a contragosto.

Athena irá até a vila? – Karen olha surpresa para Allas.

Sim, ela pediu para que entregasse o recado a vocês. – o olhar de Allas era diferente do de minutos atrás, seus olhos tinham agora um brilho diferente e percorriam a máscara da amazona como se quisesse descobrir o rosto que esta escondia.

Então vamos avisar a Mestra Maia o mais rápido possível. – Lyra disse impaciente.

Sim vamos.

Eu as acompanho. – Allas diz surpreendendo as duas.

Não precisa. – Lyra diz.

Quero dar o recado também à senhora Maia. – "vão notar que é mentira", pensou, só queria ficar um tempo a mais ao lado da amazona de águia.

Tudo bem, venha com a gente então. – Karen respondeu. – Já que não confia em nós.

Não é isso... – ele diz chateado.

É o que parece. – Lyra responde ainda contrariada.

Os três caminham em um silêncio pesado até a vila, onde Allas avisa a velha mestra que Athena lhe quer falar pessoalmente e que para isso desceria até a pequena vila, morada das amazonas.

O assunto é sério? – ela perguntou ao cavaleiro.

Não sei de que se trata senhora. – ele respondeu.

Lyra... – ela se vira em direção à amazona de camaleão.

Sim mestra?

Vá buscar Raíssa.

Está bem. – diz a jovem que se retira no mesmo instante.

E você Karen... – a amazona olha para a mestra, o olhar por trás da máscara se torna interrogativo. – Suba ao templo de Athena e a acompanhe até aqui.

Sim. – ela responde, sem questionar os motivos da mestra.

Os dois se retiram juntos da vila, em silêncio...

Karen, ainda está com raiva de mim? – o cavaleiro pergunta, num repente, quebrando o silêncio.

Não. – ela responde, a voz distante.

Eu só lhe disse aquilo, porque... – ela levantou o rosto para fitar o cavaleiro. - ...Você sabe o quanto gosto de você, o quanto eu... – ela coloca as mãos sobre os lábios dele.

Não diga essas coisas Allas, é proibido e você sabe disso. – ela torna a abaixar o rosto.

Eles se encontram agora em meio a ruínas desertas, o silêncio só é quebrado pela respiração pesada dos dois.

Acha que o amor é algo que se possa proibir? – ele pergunta erguendo o rosto da amazona de forma suave. – Eu não acho. – e num gesto rápido retira a máscara de seu rosto.

Os olhos cinza do cavaleiro se iluminam ao ver pela primeira vez o rosto sereno da jovem a quem amava, sabia que tinha excedido todos os limites e que agora eles entrariam em um jogo perigoso... Mas, não importava, tudo o que tinha em sua mente era o olhar tênue e calmo da jovem, os olhos em um azul céu que combinavam com seus cabelos, a pele branca como porcelana. E tomado pela paixão que sentia puxou-a para junto de si, beijando-a com carinho, Karen ainda tentou resistir, mas por mais que negasse até para si mesma amava o cavaleiro de peixes e se entregou ao beijo com a mesma paixão.

No templo Palas se arrumava para descer até a vila das amazonas, pela primeira vez em muito encararia Maia, e sabia que devia explicações a ela... Sentia que havia algo na amazona que deixava seu coração triste e pesado, algum segredo.

Atlas ao contrário do que esperava não fora contra sua idéia, só pediu para que não fosse sozinha e levasse Aurion e outro cavaleiro junto dela. Palas sabia de todo o passado de Atlas e sabia que esse passado podia estar ligado a amazona, e que talvez por esse motivo ele não iria com ela até a vila.

Ouviu batidas suaves na porta.

Sim?

Palas, Allas já chegou. – ouviu a voz suave de Aurion do outro lado da porta.

Estou indo. – retirou-se da sala e sorriu de forma carinhosa a Aurion, para depois cumprimentar o cavaleiro de peixes e notar que tinha mais alguém com ele.

Athena, está é Karen, amazona de prata da constelação da águia. – ele apresentou a amazona.

Palas sorriu, era a primeira vez que tinha contato com outras amazonas que não fossem as de ouro.

Karen é um prazer te conhecer. – aproximou-se da moça e a abraçou.

Mestra Maia mandou que eu a acompanhasse. – Karen ajoelhou-se perante a deusa.

Palas reparou bem na jovem, os gestos, o nervosismo que essa deixava transparecer apesar da máscara que cobria seu rosto. Tentou amenizar toda aquela tensão, segurando a amazona pelas mãos e fazendo com que ela se levante.

Então vamos. – Palas disse com um sorriso sincero.

Os três jovens se dirigiram juntamente com a deusa para o acampamento.

Atlas os observava enquanto eles deixavam o templo "hoje muitas coisas serão reveladas" pensou tristemente, enquanto acabava de juntar todas as coisas necessárias para partir junto com Shion para Star Hill (O monte das Estrelas) o lugar em que todos os grandes mestres iam para meditar e ler o futuro nas estrelas que se espalhavam pelo céu.

Mestre. – a voz de Shion lhe trouxe a tona.

Sim?

Já estou pronto... – ele levantou os olhos para observar o discípulo, vestido de uma maneira simples e carregando a caixa em suas mãos.

Pegou tudo que precisamos?

Sim, o pó de estrelas e as ferramentas estão aqui. – ele apontou a caixa.

Não fique apreensivo Shion. – ele lhe repreende por um instante.

Não há como não ficar Mestre, é a primeira vez que... – Atlas completa a frase.

...Que vai a Star Hill? – ele dá um sorriso por debaixo da máscara. – Não precisa temer o lugar Shion, seu destino está traçado a conviver com ele por toda a sua vida.

Shion abaixa os olhos, por mais que lutasse para vencer esse sentimento, ele se fazia cada vez mais forte, não queria ser Grande Mestre... E não entendia o por que de desejar tão profundamente que não precisasse substituir seu Mestre Atlas.

Está na hora Shion, vamos? – ele levanta os olhos para responder.

Vamos.

E os dois juntos, no mesmo instante se teleportam para o todo da montanha das estrelas e silenciosos caminham até a morada que lá havia para iniciar o seu trabalho.

Maia, Raíssa e Lyra esperavam pela deusa na porta do pequeno casebre, as máscaras ocultavam as expressões preocupadas.

Athena notou a tensão, e pensou consigo mesma que não mais conseguiria evitar que seus amados guerreiros sentissem isso, aquela energia maligna que sentia estava a cada dia mais intensa...

As amazonas curvaram-se diante da deusa em saudação, enquanto Palas apenas sorriu e pediu para que Allas e Aurion a esperassem do lado de fora e que se mantivessem afastados da casa.

Maia olhava para a deusa com uma expressão séria, sabia ser inúmeros os motivos pelos quais ela tinha vindo pessoalmente falar com suas guerreiras.

Antes de mais nada... – Palas começou. - ...Quero que retirem suas máscaras, elas para mim não têm nenhum valor e quero ver os sentimentos que se passam no coração das minhas guerreiras.

As quatro mulheres se mostram visivelmente incomodadas com o pedido, mas fazem o que a deusa pede, deixando as máscaras em um pequeno armário. Maia rompe o silêncio.

Minha deusa... – Palas a silencia.

Eu sou Palas, apenas Palas. Não quero que me vejam como alguém melhor do que vocês, somos iguais e lutamos pelos mesmos ideais.

Mesmo assim Athena, continuarei a chamá-la de minha deusa. – Maia diz séria. – Isso é o que nos foi ensinado e não romperemos essa tradição, nem mesmo a seu pedido.

Então que seja. – a deusa responde impaciente.

Mas minha deusa, o que te fez descer de seu templo, até suas guerreiras? – Maia quer chegar logo ao assunto.

Tenho muitas coisas a comunicar a vocês, mas o principal motivo é que não acho justo que lutem por mim sem ao menos me conhecer.

Não precisamos conhecê-la para sentir que é nosso dever dar nossas vidas pela sua e pela paz no mundo. – Maia é rígida com a jovem deusa, sabe que está exagerando, mas não consegue deixar de notar que é uma criança que está a sua frente.

Não pense que não tenho maturidade só porque sou jovem. – os olhos azuis da deusa se encontram com os castanhos da amazona. – Eu sei o que estou lhe falando, vocês são a minha família e não apenas guerreiros que tem de lutar até a morte.

O mundo é a sua família.

E vocês meus parentes mais próximos. – Palas começa a se irritar com a petulância da amazona a sua frente. – E meu dever é protegê-los da mesma forma que protejo a humanidade.

O dever de proteger o mundo não é apenas seu e sim de todos os seus guerreiros.

Já chega desta discussão inútil Maia. – a deusa diz em uma voz repressiva, mas que ainda ostenta calma e serenidade. – O motivo que me trouxe aqui não é esse.

Então do que se trata.

Primeiramente, quantos aprendizes chegaram ao santuário para serem treinados? – Pergunta olhando para Lyra e Karen.

Quinze meninas. – Karen responde.

E os meninos pelo que pude ver são dez. – Lyra completa a conta.

Vinte e cinco crianças... – Palas abaixa a cabeça pensativa. – São órfãos ou foram mandados pelas famílias?

As meninas na grande maioria são órfãs, já os garotos são mandados pelos pais. – Karen diz mostrando uma certa tristeza no olhar.

São abandonadas? – Palas pergunta.

Sim, algumas nem estão em orfanatos, são deixadas a própria sorte. – Lyra diz.

Mas aqui elas ganham um lar que nunca tiveram, é claro que treinam, vão se tornar guerreiras e isso requer muitas privações, mas damos a elas todo o carinho que precisam. – Karen diz calmamente.

Sei que fazem um bom trabalho, assim como Maia fez ao treinar vocês. – Palas respira fundo antes de continuar. – Só que essas meninas terão de ir embora, não só elas os meninos que chegaram também.

O QUÊ? – Karen se assusta com a notícia.

Não quero nenhum aprendiz aqui no santuário.

Raíssa até agora em silêncio se assusta ao ouvir as palavras da deusa, ela era uma aprendiz ainda. Maia não diz nada, parece saber exatamente os motivos dessa decisão.

O clima se torna pesado na pequena sala, Athena nota as dúvidas que surgem no olhar de Raíssa que até agora parecia distante da conversa.

Não se preocupe Raíssa, você não vai. – Raíssa demonstra alivio no olhar. – Já está treinando há muitos anos e só voltará para casa se o seu mestre achar que é melhor.

Eu não vou embora, nem que ele queira. – a menina diz.

Palas se faz de desentendida com o comentário, e continua a conversa.

Karen, Lyra, quero que preparem as crianças para deixarem o santuário o quanto antes. – diz olhando diretamente para as amazonas. – Raíssa você deve ir conversar com seu mestre sobre a decisão aqui tomada, ele fará o que achar melhor e agora se as três não se importarem gostaria de falar a sós com Maia.

As amazonas ainda olham uma para as outras antes de pegarem suas máscaras e saírem em silêncio.

Do lado de fora da casa, já comentavam as decisões da deusa.

Algo muito grave está acontecendo. – Lyra foi a primeira a quebrar o silêncio.

Concordo com você, apesar do sigilo a respeito. – Karen diz pensativa, mas suas argumentações somem ao olhar para Allas encostado em uma pilastra em ruínas, conversando sereno com Aurion.

Karen, Karen, esta me ouvindo? – Lyra pergunta sacudindo a moça.

O quê?

O que vamos dizer para as crianças?

Não faço a mínima idéia. – diz desviando o olhar do cavaleiro.

Digam a verdade. – Raíssa se pronuncia pela primeira vez.

Qual verdade? – Lyra pergunta impaciente. – Nem ao menos sabemos o motivo.

Apenas diga que Athena os quer fora de perigo. – Raíssa olha profundamente para as amigas. – Preciso ir falar com o meu mestre.

E se retira sem se despedir das outras duas, caminhando apressada em direção as doze casas. As outras amazonas caminham para o alojamento.

Aurus escuta passos rápidos que se aproximam da entrada de sua casa, a décima primeira casa zodiacal, a casa de Aquário. Caminha para entrada devagar e se depara com os olhos negros e frios de sua discípula.

Raíssa. – ele diz assustado.

Mestre.

Ela caminha até ele devagar, para depois o abraçar tentando conter as lágrimas que desciam pesadas. Aurus não entendia o que estava acontecendo, apenas tentava acalmar a menina, a qual ele nunca tinha visto tão abalada.

As lágrimas de Raíssa molhavam o sari cor púrpura de seu mestre, Aurus acariciava os cabelos negros da jovem com carinho, esperando que ela amenizasse o choro.

Ambos eram indianos, Aurus pedira para treinar a menina na primeira vez que a vira, indo junto com Maia treinar com as demais garotas. Sabia que ela tinha algo especial dentro de si, sabia que desenvolveria com facilidade o cosmo supremo e que assim como ele poderia controlar o poder do frio. Os olhos gélidos da garota o encantaram assim que ele os viu... Olhos que o encaravam desafiantes e ele amara isso.

Ele amava a sua discípula, e isso ia contra as regras... O que se podia esperar? Quando começara com o treinamento dela ambos ainda eram crianças, mas as crianças crescem e o fato de estarem sempre tão próximos não resultou senão em um amor forte e puro que crescia nos corações.

Nunca disseram nada a respeito, nunca se declararam... Só que o amor se diz sem palavras e o amor deles não precisava delas...

Raíssa o que aconteceu? – ele perguntou, levantando o rosto dela.

Athena me mandou até aqui. – ele se assustou ao ouvir o nome da deusa.

Ela então já está tomando providencias. – ele disse evasivo, sem se afastar do abraço da menina.

Como?

O que ela disse a você e as outras amazonas?

Os aprendizes têm de ir embora. – Raíssa disse com raiva. Aurus a olhou com tranqüilidade.

Tenho certeza de que ela não disse para que fosse.

Sim, mas que você era quem teria de decidir isso. – ele a encarou, nenhum sentimento manifesto no olhar.

Não adianta eu tentar te colocar em segurança, não posso te afastar do seu destino. – ele escondeu o rosto na curva do pescoço dela. – E você não iria, mesmo que eu mandasse.

Aurus encarou o olhar surpreso da jovem. Não, ela não usava a máscara quando estava junto com ele, fora assim desde o primeiro momento...

O que vai acontecer... Aurus? – ela disse o nome dele em um sussurro.

Não posso te dizer. – ele se afastou dela, caminhando até a saída de sua casa. – Mas quero que esteja preparada para o pior.

Shion e Atlas observam o brilho complexo das estrelas. Tinham concluído o que Athena pedira, a urna brilhava junto a eles.

Essa talvez seja a última lição que eu tenha para lhe ensinar. – Atlas começa, tirando em seguida o seu elmo e a máscara de grande mestre.

Os cabelos castanhos voam com o vento e seu olhar em um lilás profundo brilha de maneira misteriosa.

Olhe para as estrelas Shion, contemple bem o brilho delas. – ele começa. – Não somos nós que a lemos e sim elas que lêem a nossa alma.

Shion olha com firmeza para as estrelas, seus olhos do mesmo lilás profundo se perdem na imensidão da galáxia.

Não prevemos futuros, elas que nos contam fragmentos deles. – o mestre continua sereno. – Sinta o que elas têm a lhe contar Shion, ouça a voz delas... Elas conhecem tudo, estão ai desde que o mundo se fez mundo e sabem o que espera a humanidade.

Um forte vento sopra pelo monte, o brilho das estrelas se torna ainda mais intenso, elas contam a Shion o que sabem sobre o futuro... Reconhecem no jovem abaixo delas o futuro Grande Mestre, sabem o que se passa no coração de Shion e sentem o seu amor e o seu medo pelas responsabilidades que irá assumir.

As lágrimas descem devagar pelo rosto perfeito do cavaleiro, ele entendeu... Finalmente compreendeu o porque de todas as suas angústias e o porque de temer tanto o que lhe espera. Mas não fugira mais do destino... Do seu destino...

Atlas também chora, a cabeça baixa... Transmitiu a última sabedoria que tinha para seu discípulo, agora não tinha mais nada a oferecer para ele... Só esperava que tivesse sido um bom mestre e que isso o fizesse perdoar os seus erros de ser apesar de tudo, um simples humano.

Pai... – Shion diz, abraçando-se ao mestre com força.

Meu filho, te ensinei tudo o que podia... Desculpe não ter sido ainda melhor pra você.

Você fez de mim o homem que sou, se tenho todo esse amor pela justiça e pela paz no meu coração foi porque você me guiou durante todo esse tempo. – pai e filho se encaram. – Eu só tenho a agradecer.

E eu tenho de pedir desculpas... – Atlas diz. – Separei você de sua mãe, acabei com nossas vidas... Eu não tinha esse direito.

Não tem que pedir desculpas pai, foi o destino ditado pelas estrelas. – Shion diz.

Eu sei...

Shion pega a urna que se encontra no chão e a coloca nas costas... E eles se preparam para voltar ao santuário...

Pai...

Sim?

Por favor, não morra. – Shion diz.

Atlas toca o rosto do filho com carinho... Mas não diz nenhuma palavra, sabe que irão cumprir o que as estrelas ditaram... E sabe também, seu filho teme ser mestre porque isso significa a perda... A perda de alguém que ama.

Os dois se teleportam, silêncio... Star Hill, o monte das estrelas guardara para sempre um segredo... As estrelas, últimas testemunhas do amor entre um pai e seu filho. Um segredo guardado para sempre nos céus.

Continua...

N.A: Putz... Ai gente essa parte final (Lithos as lágrimas) ficou mto triste... Mas, vamos lá... Recuperar é preciso...

Primeiramente peço desculpas pela demora pra atualizar, é que eu realmente estou sem tempo, desde que as aulas da facul começaram eu tenho tanta coisa pra ler, mas tanta coisa pra ler que eu nem sei o que leio primeiro... E por isso, vou ter de atualizar o fic a cada mês, e não mais de duas em duas semanas como estava fazendo... Espero que não fique ruim, se ficar, podem me dar puxão de orelha que eu tento me apertar como der pra continuar atualizando como antes...

Não sei se esse capítulo ficou mto confuso... Só que eu queria colocar esses novos personagens, as amazonas... Claro que já temos as guerreiras de ouro, mas seria chato que as demais não aparecessem... Outros romances surgiram, e segredos foram descobertos... Sobre Atlas e Shion serem pai e filho... Bem mais pra frente vocês vão entender... :P

A conversa de Palas e Maia ficou para o próximo cap., senão esse ia dar umas 20 páginas ou mais... A cada hora me vem uma idéia na cabeça...

Ahhhhh agradeço todos os rewie que recebi, e novamente, são eles que me dão forças pra continuar a história, pq sempre fico com receio de que a fic não esteja agradando e as msg são o meu combustível ... Então como sempre digo, sugestões serão bem vindas... :)

Ahhhh sem esquecer, a amazona Lyra é uma participação especial, da minha miga Scorpion Lyra... Menina não deixa de me dizer o que achou heim?

Abraços a todos

Lithos de Lion