Lágrimas Derramadas

Capítulo 8

Temporal

As trevas ocupam o mundo gradualmente, revoltas surgem em todos os cantos do planeta... Provas de que Hades e seus espectros retornaram de seu sono, retornaram das profundezas do inferno.

E a mais cruel e sanguinária batalha de todos os tempos, está preste a começar. A terra jamais enfrentou tal ameaça. Os cavaleiros sagrados jamais imaginaram que ela saísse das lendas que contavam os antigos manuscritos.

A harmonia e a paz do Cosmos estava ameaçada. O Universo caminhava para o seu fim...

Inferno

- Medo, Pânico! – Hades adentrou no grande campo chamando pela sua escolta particular.

- Mestre Hades, a que devemos a honra? – Medo apareceu, saído do ar... Teleporte...

Os cabelos loiros, curtos e desgrenhados, cobrem parte de sua face, marcada por uma cicatriz profunda. Seus olhos azuis demonstram frieza e descaso... O olhar de um homem cruel.

- E Pânico?

- Já deve estar a caminho senhor. – diz o espectro.

Pânico surge alguns minutos depois, as faces chamuscadas com gotas de sangue. Seus cabelos negros curtos e lisos; acompanhados de orbes também negras, dão-lhe um aspecto divino, angelical... Um anjo maldito. O mais cruel soldado de Hades.

- Meu senhor! – diz ajoelhando-se ante a Hades. – Perdoe-me a demora, analisava os espectros e alguns não passam de vermes meu senhor. Tratei de castigá-los. – disse limpando o rosto, sujo de sangue.

- Hum... Não poderia esperar menos de você, meu querido filho. – disse cinicamente. – Agora, quero ver os guerreiros.

- É claro meu senhor. – Medo disse rapidamente. – Venha conosco.

- Treinando neste campo, estão os mais fortes. – Pânico completou.

O campo era escuro, cheirava a ocre, algumas árvores ainda tentavam se manter vivas, as restantes se encontravam secas. O chão coberto de um pó cinzento dava a impressão de que estavam em um lugar castigado por inúmeras batalhas.

Ao longe, podia se ouvir o som dos gritos e da lamúria das almas... O choro incessante daqueles castigados a carregar fardos e quebrar pedras por toda a eternidade.

- Lá estão eles. – apontou Pânico.

- Estão se dedicando ao treinamento aqui? – perguntou Hades.

- Sim. – Pânico respondeu. – O som dos gritos e as lamúrias, os agradam.

- Parem com a luta. – disse com voz forte Medo. – Mestre Hades veio conhecer seus guerreiros.

Os 108 espectros pararam no mesmo instante. O brilho negro de suas sapuris mudava, ainda que minimamente, o cenário grosseiro.

- Tragam-me os doze mais fortes. Agora. – disse Hades se retirando do imenso campo. – Aguardo-os em meu templo. – disse desaparecendo.

- Cada um de nós escolhe seis, dos que consideram mais fortes. – Pânico disse friamente para Medo.

- OK.

Hades aguardava em seu trono, enquanto se deliciava com uma taça de vinho. Maldita Athena, pensou, olhando a escuridão a sua volta... Ele teria a terra para ele, com os guerreiros que tinha a vitória era certa.

Não que desprezasse a força de Palas e a de seus guerreiros. Mas, dominaria a terra... Ela havia adquirido humanidade demais, esquecera de que era uma deusa.

- Seu desejo de protegê-los querida... É humano e falho. – riu com gosto. – Sua família? Pensei que a terra fosse a sua família... Querida sobrinha, não devia ter se apegado aos seus guerreiros.

- Falando sozinho, Hades-sama? – virou-se para ver de quem era a voz.

O rosto perfeito se delineou com a claridade do salão, os cabelos encaracolados e de um vermelho intenso caiam-lhe até metade das costas, a vasta e pesada franja cobria parte de seus olhos. Olhos em um verde escuro profundo, cheios de malícia.

- Ora, não é um dos meus juízes, Radamanto. – Hades levantou-se indo de encontro ao guerreiro, que se ajoelhou. – Vejo que a juventude nunca lhe abandona, juntamente com sua beleza, digna de Apolo. – o guerreiro apenas sorri desinteressadamente.

- Meu senhor, vejo que continua o mesmo. – sorriu levantando-se. Seu sorriso era capaz de entorpecer quem olhasse em demasia para ele.

- Vejo que meus queridos filhos já lhe comunicaram a minha decisão.

- Sim, Medo e Pânico foram me procurar. – o sorriso morreu. – Atacar Athena. Por que essa decisão meu senhor? Que eu saiba, nunca houve conflitos entre o reino de ambos.

- Realmente nunca houve. Mas, Athena tem tentado cada vez mais evitar que os seres humanos sofram. Utilizando-se de seus cavaleiros sagrados para impedir guerras, conflitos... E, além de tudo isso... Estou cansado de viver aqui.

- Então, é uma disputa por poder?

- Exatamente.

- Sabe que ela derrotou Poseidon? O deus dos mares foi aprisionado novamente. – gargalhou com gosto. – Não teme perder senhor? E ser lacrado assim como Poseidon?

- Poseidon é um fraco, sempre com sua idéia incessante de purificar o mundo pelas águas. – riu. – E você acha que podemos perder para ela? Como bem disse, ela lacrou Poseidon, mas isso exigiu grandes sacrifícios e muitos de seus guerreiros morreram em combate. O Santuário dela se encontra praticamente sem defesas.

- Está se esquecendo de que a elite sobreviveu? Os cavaleiros de ouro estão vivos, assim como algumas amazonas e um ou dois cavaleiros de bronze. Não subestime o inimigo mestre Hades.

- E nós temos 108 espectros. – Hades disse irônico. – Ainda penso em qual o por quê de lhe dar tanta liberdade Radamanto. – o guerreiro apenas sorriu.

Ouviram a porta do salão ser novamente aberta, Medo e Pânico adentraram com os doze guerreiros.

- Meu senhor, aqui estão. – Pânico disse, apontando para os espectros. – Radamanto, que bom que já está entre nós.

- Eu que fico feliz por estar aqui novamente. – disse, fazendo uma leve reverencia. – Não chamastes os meus irmãos? Os outros dois juízes do séqüito de Hades?

- Claro que sim, devem chegar ainda hoje. – Medo respondeu.

Hades olhou bem para os guerreiros, entre eles uma mulher... Seus cabelos castanhos lhe batiam na cintura, seus olhos tinham uma forte tonalidade violeta.

- Seu nome?

- Ananda. Ananda de Papillon.

- Papillon... – Hades disse evasivo. – Excelente escolha.

- Estão dispensados. – disse num repente.

- Não vai conhecer os outros guerreiros, mestre? – Pânico perguntou.

- Não. – disse encarando os outros onze. – Farão um bom trabalho. Agora saiam daqui.

Os guerreiros se afastaram, e Ananda olhou uma vez mais para o salão, encontrando-se com um sorriso divertido de Hades e Radamanto.

- Papillon... Acho que nem ela sabe o quanto é forte. – Radamanto disse com indiferença.

- Se engana amigo. Ela sabe. – Hades o surpreendeu. – Os outros também não ficam atrás.

- Como será o ataque?

- Só direi quando os outros juízes estiverem aqui. Agora preciso comunicar algo. – disse, saindo por detrás de seu trono. Indo em direção aos Elíseos.

Santuário

- O tempo está estranho. – Arios disse evasivo. - Nuvens negras de chuva... Nessa época... – apoiou-se em uma das colunas da casa de gêmeos. – O que Athena esconde de nós...

Olhou para o céu, a nuvens negras pairavam ameaçadoramente... E uma energia cada vez mais estranha se acumulava pelo santuário.

- Queria que estivesse aqui. – disse meio que em delírio. – Eu realmente não presto, o que estou pensando e dizendo? Já não basta ter causado tantos problemas a ela... – abaixou o rosto, para esconder as lágrimas solitárias. – Eu só queria te ver uma última vez... Julie...

- O que tanto olha menina? – um senhor perguntou rispidamente.

- Nada meu pai.

- Sei o que está pensando, este olhar que lança para o zodíaco de ouro. Não é indecifrável. – disse com rancor. – Maldito cavaleiro.

- Pare com isso pai, já te disse que ele nunca me fez nada... Nada que eu também não tenha feito e eu o amo. Você sabe que eu o amo. – disse com a voz entrecortada.

- Ele te enganou direitinho não foi? É mesmo uma criança. – disse entrando para casa, em silêncio.

- Ele não enganou ninguém. – disse enquanto lágrimas se formavam em seus olhos. – Arios... Por que sinto que tem algo muito errado acontecendo? Esse pressentimento que não me abandona. – olhou novamente para o zodíaco de ouro. – Não me importo que tenham me proibido de ir até onde você está.

Cobriu-se com a pesada capa, antes de sair em direção à casa de gêmeos...

O silêncio cobria as paredes da casa de gêmeos, Arios vagava em sua própria casa... Uma espécie de despedida. Recordava os bons momentos, assim como as más horas que ali havia passado. Sentiria saudades...

Ouviu passos adentrarem a casa, decididos... Seu coração sabia de quem se tratava. Teria ela ouvido o seu último chamado?

Caminhou para o corredor central...

- Não deveria estar aqui. – disse ríspido.

- Só que estou. – ela disse, o rosto ainda escondido pela grossa capa. – Cansei de seguir aqueles que não sabem o que é melhor para mim, desta vez, decidi ouvir o meu coração.

- Coração... – ele abaixou a cabeça. – Também gostaria de saber ouvir o meu.

- Você já tentou?

Ela tirou a pesada capa, os cabelos ruivos caíram sobre o rosto de forma suave... Seus olhos castanhos continham uma mistura de alegria e tristeza. E se firmavam em Arios de maneira interrogativa.

- Não me respondeu. – ela disse séria.

- Talvez você pudesse me ensinar. – ele sorriu, um sorriso simples. – Mas, creio eu que não há mais tempo...

- Sempre há tempo Arios, mesmo que sejam minutos. Sempre é tempo para mudar. – ela o abraçou. – Eu te amo! – ele também a enlaçou com os braços fortes.

- Também te amo! – queria que aquele abraço durasse para sempre.

- Eu sinto que algo ruim está para acontecer... – ela disse, o rosto escondido no pescoço do cavaleiro.

- E está. – ele disse distante. – Só espero que você seja forte.

- Isso é uma despedida.

- Não sei, não posso prever o futuro.

- Eu não quero te perder...

- Não vai me perder, eu sempre vou estar com você... Sabe disso, sempre vou estar em seu coração. – as lágrimas rolaram pela face de Julie.

- Mas...

- Julie, quando o relógio se acender... – disse caminhando com ela para fora e mostrando o relógio de pedra. – Quando ele se acender, vá embora do santuário, junto com os seus pais e com todos os demais inocentes. Entendeu?

- Por que?

- Me prometa que fará isso. – ele disse. – Por favor, não quero que corra perigo...

- Eu prometo.

O sorriso de Arios surgiu tranqüilo, tudo estaria bem, se ela estivesse bem... Nunca pensara que seu coração pudesse amar tanto alguém como a amava. E naquele momento, coisa alguma importava, apenas que ela estava ali, estava ao seu lado. Ergueu o rosto da jovem e a beijou. Um beijo cheio de significados, de amor, de paixão, de saudade, de despedida...

- Fica comigo essa noite? – ele pediu.

O sorriso dela surgiu, como um sim silencioso. Se pudesse ficaria com ele para sempre...

Tristeza... A terra pedia silêncio, pedia oração, pedia amor... Sangue de inocentes estava sendo derramado em lutas desiguais. Trevas... Era isso que ocorria... Trevas estavam dominando o coração do homem.

A terra gritava, um grito mudo de socorro...

- Karen. – Allas chegou nas ruínas em silêncio.

- Allas.

- Está perto, bem perto...

- Você também notou?

- Sim.

Karen se levantou em silêncio, caminhando pelas ruínas... Sem máscara, seu olhar não escondia a tristeza. Apesar de não saber o motivo, sabia que estavam para enfrentar a sua última batalha. A última...

Tantos sonhos deixados de lado, tantas privações, tudo para proteger a terra e agora chegara o momento decisivo. Conseguiriam eles defender a paz? Conseguiriam eles enfrentar essa última ameaça?

Tantos já não estavam mais entre eles... Lembrou do sorriso calmo e sereno dos garotos de bronze, a alegria que tinham de viver... Brincalhões por natureza, sempre administrando os inimigos mais simples, cuidando das vítimas de calamidades. Quantos restaram daqueles bravos guerreiros? Um, dois... Amazonas também haviam perecido em combate... Tinham dado tudo de si.

O Santuário desde a última batalha adquirira um ar saudoso, mas nunca esquecera de honrar esses guerreiros.

- Allas... Acha que sobreviveremos a isso? – o cavaleiro sorriu.

- Não sei... – a abraçou. – Eu só espero que eu possa estar com você até o meu último segundo.

- Poseidon ceifou muitas vidas... Tenho medo do que vier agora, tomar as restantes.

- Queria ser otimista Karen, mas não sabemos o que nos espera. O que importa é que, seja o que for não consiga o seu objetivo. – a abraçou com mais força. – Estamos aqui para isso e morrer pelo mundo em que acreditamos é a mais nobre das atitudes.

- Não mudaria seu passado, suas escolhas?

- Não. E você?

- Também não. Só queria sonhar...

- E quem disse que não podemos sonhar? – Allas a encarou. – Nossos sonhos são livres como pássaros.

Karen apenas sorriu, encostou-se a ele e fechou os olhos... Sentia o vento da tempestade que se aproximava... Abriu os braços inconscientemente, naquele momento se sentia a águia de sua constelação, pronta para alçar vôo... E nesse vôo ela levava a paz tão esperada para os seres humanos.

- É podemos sonhar sim. – ela voltou-se para eles sorrindo. – Todos podem e devem sonhar.

Allas a beijou de surpresa... Era bom estarem juntos...

Não houve declarações de amor... O amor se manifesta por si próprio.

- Ei, Darius!

- Entre Osirus.

- Sozinho também?

- É...

- Tempo esquisito.

- Normal.

- Acha?

- Acho que estão escondendo coisas da gente, e tem a ver com essa energia...

- Concordo.

- Quer vinho?

- Aceito.

Os dois sentaram-se juntos na entrada da casa de leão. Copo de vinho na mão e cada um com uma lembrança.

- Sinto falta de quando a gente era moleque. – disse Osirus.

- Ué, moleque a gente ainda é. – Osirus deu um safanão na cabeça de Darius.

- AI!

- Só se for você o moleque.

- Sem graça. – o leonino riu. – E o Lidius?

- Adivinha?

- Hum... Não falo nada.

- Será que eu sou o único solteiro nesse santuário? – Osirus disse meio alto, indignado.

- Eu também sou. – Darius riu desconcertado.

- Tá bom! Eu to sabendo.

- O que?

- Nada.

- Agora diz!

- Voltando ao início. Lembra das nossas trapalhadas? Puxa, éramos terríveis. – Osirus tinha o olhar saudoso.

- Éramos? Acho que nunca deixamos de ser.

- É, não. Mas, naquela época tínhamos mais coragem... Vivíamos ferrando o Aurus coitado.

- Só ele? Acho que ninguém escapou da gente.

- Nem nós mesmos.

Os dois riram com gosto. Terríveis sempre... Era bom lembrar o tempo de crianças.

- Deveria ir vê-la.

- Como?

- Ora, Darius! Sei que tem alguém especial.

- Não sei se devo... Não gosto de despedidas. – ele disse sério.

- Pense bem... Vou indo! – disse se levantando e entregando o copo vazio ao amigo.

- Já?

- Não somos os únicos solitários desse Santuário amigo, tem um taurino também... Mesmo chato, acho que todos gostam de ver alguém – sorriu. – Não esqueça do que te disse.

- Não vou me esquecer.

Ao avistar seu amigo partir, decidiu seguir o seu conselho e se dirigiu a cidade de Atenas.

A cidade estava na penumbra... Vazia... As ruínas, sempre presentes, desencadeavam sombras silenciosas... Foi quando a viu surgir...

As roupas gregas tradicionais, os cabelos castanhos presos em uma delicada trança... Os olhos claros.

- Daniela.

- Darius.

Daniela, nome que tem sua raiz nos anjos... E ela era o meu anjo, talvez o único que cheguei a conhecer naquela terra. A abracei, Osirus estava certo... Me arrependeria se não tivesse vindo até ela...

- Pensei que não queria mais me ver. – ela sorriu triste.

- Eu sou idiota. – a encarou. – Eu não poderia ficar longe de você.

- Darius, eu não quero que lute. Sei por que está aqui e eu... Eu não quero que isso seja uma despedida. – ela o abraçou com força. – Não quero que nada de mal aconteça com você.

- Eu tenho de lutar. E não posso te dizer que sairei ileso e talvez essa seja mesmo uma despedida... Mas, eu gostaria que não parecesse com uma. Por favor, não chora. – disse secando as lágrimas que ela derramava.

- Então, eu irei com você.

- Mas... – ela apenas sorriu.

- Anjos também lutam Darius...

Abraçou-se a ele e o beijou carinhosamente... Amava-o tanto, tanto... Não poderia deixar que seu leão fosse para sua última batalha sozinho, não o deixaria jamais... O seguiria para sempre. Eram as metades perfeitas... O sol e a lua.

Casa de Virgem, uma porta secreta... E um lindo jardim se abria aos olhos do cavaleiro de libra, nele duas árvores idênticas se erguiam majestosas. Ainda não havia compreendido a razão para que Yoros o levasse até ali, mas era uma visão maravilhosa.

- Gosta?

- Yoros eu... – ele encarou a amazona. – Por que estamos aqui?

- Aqui é onde ficam as salas gêmeas, o local da morte de Buda. E é o lugar que eu protejo, até mais que a minha própria casa. – ela o pegou pelas mãos e começou a caminhar pelo jardim. – Essa não é a última batalha Dohko, é a primeira. Meu mestre disse que esse jardim está reservado para o guerreiro que lutará a última batalha. E ele será o guerreiro mais próximo de deus.

- A primeira... – Dohko não dizia muita coisa, apenas ouvia a amazona com atenção.

- E você irá ver tudo isso Dohko... Viverá para ver. – ele a encarou confuso.

- Yoros eu não entendo o que quer dizer.

- Não precisa entender... A única coisa que quero que entenda é que essa é a primeira grande batalha... – ela olhou para o céu pesado de nuvens acima deles. – É a primeira Guerra Santa.

- Guerra Santa... Seja que batalha for essa Yoros, quero esquecer isso... Nem que seja por apenas uma noite... Nem que seja por algumas horas. – ele abaixou a cabeça, envergonhado com o que acabara de dizer. – Queria ser apenas Dohko hoje, não o cavaleiro... Apenas o ser humano.

- Eu entendo. Eu também quero ser apenas Yoros. Uma Yoros sem missão, sem segredos, sem regras... – as mãos de Dohko pousaram sobre a máscara dourada.

- Me permite? – Yoros disse um sim baixo e Dohko tirou a sua máscara.

O rosto revelado o fascinou. Era tão doce, diferente da personalidade sempre forte que ela manifestava. Os olhos castanhos, cheios de vida, de sentimento... Uma leve cicatriz marcava uma das maças de seu rosto, prova de tantas lutas incessantes que já havia travado.

Os olhos de ambos se cruzaram, os verdes de Dohko se perdendo nos castanhos de Yoros. Há quanto tempo a amava sem saber? A pergunta gritou em seu coração, quando em um impulso a puxou para si, beijando-a com desejo, com saudade, com amor...

A chuva que até então ameaçava cair desabou sobre eles... Yoros passou seus braços sobre o pescoço do cavaleiro, enquanto as mãos percorriam seus cabelos... Ela era uma tonta, tanto tempo ao lado dele e só agora percebia que aquilo sempre fora seu maior desejo. Tantas brigas, tantos desentendimentos... Tudo para esconder o amor louco que sentia por ele.

O temporal encharcava a roupa e o corpo de ambos, mas eles não se moviam, continuavam se beijando, sem pausas... Separaram-se para pegar fôlego, os cabelos castanhos de Dohko escorriam sobre seus olhos, enquanto ele encarava apaixonado a mulher a sua frente. Os lábios levemente inchados pelo beijo, o olhar cheio de amor, os cabelos esverdeados sempre tão cuidados, agora molhados e modelando um rosto vivo e real.

- Eu sou um estúpido. – disse de repente. – Só agora percebo... Eu... Eu sempre te amei. – ela o encarou, admirada, ele pensava justamente como ela.

- Não é o único idiota. – sorriu. – Eu também sou... Dohko eu sempre tentei esconder o que sentia... Sempre... E eu, eu também te amo.

Ele calou-a com um beijo... Ainda não acreditava que estavam ali, eles que sempre haviam se odiado tanto, brigado tanto... Embaixo de uma chuva intensa, trocando juras de amor, se beijando... Se amando...

Deitaram-se sobre a grama molhada... Dohko tirava o vestido que ela usava gentilmente, cada peça tirada, um carinho, um olhar, um sorriso. Yoros também tirou a túnica que o cavaleiro vestia, apreciando o traçado perfeito de seus músculos, seus braços fortes. Sorriu ao notar mais uma vez, a tatuagem que ele trazia em suas costas... Um tigre. Simbolizava sabedoria. A sabedoria que ele sempre tivera, em todos os momentos...

Entregaram-se um ao outro ali mesmo, naquele imenso jardim, sob a tempestade que inundava seus corpos... Sob a árvore que balançava silenciosa e que jogava suas pétalas ao vento.

Sempre estivaram destinados um ao outro e sentiam em seu coração a felicidade por ter descoberto isso a tempo... Mesmo que esse tempo, não fosse assim tão longo.

O importante era que tinham descoberto o amor que sempre carregaram em seus corações.

- Palas! – Aurion a chamou suave, tirando-a de sua concentração.

- A chuva, está purificando... – ela disse evasiva.

- Isso é bom! – ele sorriu.

- Que bom que está aqui comigo.

- Sempre vou estar com você. – Aurion disse, trazendo-a para mais perto.

O vento balançava as cortinas, acariciando a face de ambos, deitados juntos na imensa cama do templo.

Domínios de Hades

- Morpheus! Portador dos sonhos... Então, aceita levar a minha mensagem? – Hades perguntou calmamente.

- Transmitir um sonho deste nível é levar a verdade e o desafio... Está desafiando Athena, Hades?

- Estou.

- Quero lutar a seu lado.

- Não tenho o porque discordar. – Hades sorriu para o jovem a sua frente. – Gosta de sangue Morpheus?

- Gosto de levar homens para a morada dos sonhos, para ficarem lá pela eternidade... Apenas isso... – o sorriso brotou leve. – Se para isso é preciso sangue, talvez minha resposta deva ser a de que gosto.

- Então parta para o santuário. E transmita o meu recado a jovem Athena. – seu semblante ficou sério. – Não se assuste com o que irá ver.

Morpheus partiu imediatamente. Adentrou o templo de Athena como um fantasma... Pousando na imensa sacada, o brilho negro de suas asas pareceu brilhar por instantes. Os cabelos negros eram curtos e encaracolados. Alguns cachos caiam sobre seus olhos; olhos de um azul profundo, sua pele era branca como lírios.

Aproximou-se do leito de Athena, onde ela dormia, enlaçada pelos braços do cavaleiro de sagitário. Chamou seu espírito para o mundo dos sonhos, fazendo-o abandonar seu corpo e caminhar com ele pelo templo.

- Diga o que quer Morpheus. – ela disse ríspida, seu lado divino totalmente manifesto.

- Trago-lhe uma mensagem para a deusa da guerra e da sabedoria, Athena. – disse suavemente. – Espero que ouça com atenção.

Em um minuto Morpehus tinha os traços e o corpo de Hades, o deus do submundo. Sorriu, o mesmo sorriso cínico do deus.

- Querida sobrinha, vim dar-lhe apenas um recado: Cansei de ficar na escuridão, reinando sobre um mundo sem luz... Enquanto você vive na terra, com todos os luxos e prazeres, se comportando como uma reles humana. – sorriu – Estou declarando guerra a você e aos que estão ao seu lado. Quem ganhar a batalha, reinara sobre a terra e os infernos... – abraçou o espírito da jovem deusa.

- Pretende dominar os humanos?

- Pouco a pouco eles caem no meu domínio querida... É só olhar o que vem acontecendo ultimamente, ou acha que todos esses conflitos... Haha, acha que eles fazem isso por si próprios?

- Maldito.

- Eu estou próximo querida... Mais próximo do que você pode ver e atacarei quando você menos esperar. – riu. – Conhecerá a força de Hades e de seu séqüito... Palas Athena. – a imagem de Hades voltou a se tornar Morpheus.

- Recado entregue. – disse desaparecendo nas sombras.

Athena chamou seu corpo ao encontro do espírito, que ainda vagava pelos sonhos. Voltou, sentiu seu corpo dormente e as lágrimas escorriam solitárias... Andou até a janela que se encontrava aberta... Ajoelhou-se no chão aos prantos... Era fraca.

Aurion acordou e se assustou com a cena... Correu ao encontro da deusa e a abraçou de forma carinhosa... Perguntando-lhe o que estava acontecendo.

- É Hades! Hades quer o poder... – ela disse ainda em lágrimas, para o fitar séria minutos depois. – Aurion, chame Atlas é urgente.

- Estou indo! – respondeu já de saída.

- Diga a ele que convoque a União Dourada. – Athena respondeu, se retirando para o local de suas orações.

Aurion ainda olhou a figura frágil da jovem Palas, tomada por uma energia imensa, defensiva e que em minutos já se concentrava por todo o Santuário.

Athena tomava seu posto, guardaria a terra até o fim... E lutaria para isso. Sua missão era manter a paz no mundo.

Continua...

N.A: Primeiramente! Lyra, valeu por betar esse cap. Pra mim!

Gente, me perdoem pela demora pra atualizar, mas infelizmente não está tendo outro jeito... Vou tentar manter a atualização uma vez por mês... Apesar da demora tem compensação, pq os cap. são grandes... :P

A personagem Julie, é a Juliane-chan. Quem diria que o Arios teria alguém heim? E tá mto bem acompanhado!

A Daniela... Bem... Digamos q ainda há coisas a se revelar sobre ela!

A Guerra começou, e Hades atacará quando menos se espera!

Gostaria da opinião de vcs sobre alguns dos vilões que já apareceram nesse capitulo...

Abraços e Bjos

Lithos de Lion