Lágrimas Derramadas

Capítulo 10

Sangue

Era o começo. Os espectros de Hades estavam lá, avançando contra eles. O brilho lúgubre das sapuris cegava a vista dos dois guerreiros de bronze. E eles sabiam que aquele era o último sopro de suas vidas.

E dariam o seu melhor.

E seriam para sempre lembrados, gravados para sempre na história dos heróis que zelaram pela terra.

- Acharam mesmo que tinham nos derrotado? – Enia de Corvo tornou a surgir das sombras.

- Huhu! E não é que os enganamos direitinho Enia? – ria Naga.

- Saibam que não há como derrotar os espectros de Hades. – Enia sorriu cinicamente. – É algo humanamente impossível, tolos guerreiros de Athena.

- E vocês por acaso sabem quem estão enfrentando? – Caio se aproximou mais, montando guarda na entrada do Santuário.

- Tolos são vocês. – disse Gabriel. – Colocaram os pés em um solo santo e daqui só sairão quando o último sopro da vida os tiver abandonado.

Os olhares do Dragão e do Cisne se cruzaram, trocando uma cumplicidade que só pertencia a eles e a qual eles decifravam com perfeição.

- Essa conversa está me cansando. – pronunciou-se o espectro que surgira junto com inúmeros outros. – Enia, Naga, acabem logo com isso, esperaremos vocês nas doze casas. – disse avançando.

- E quem disse que você conseguirá chegar lá? – Gabriel se posicionou frente ao espectro. – Enquanto houver vida nestes corpos, vocês não irão a lugar nenhum.

- Não me subestime moleque. – tentou empurrar o cavaleiro, mas teve o golpe detido.

- Vou gostar de te mostrar o quanto o moleque aqui é forte. – tomou distância.

Esse era o único momento que tinham para avaliar os poderes dos invasores e para eliminar o máximo possível deles. Não pouparia esforços para isso.

Tornou a cruzar os olhos com o cavaleiro de dragão, era chegada a hora.

Concentrou seu cosmo. Uma tênue luz azul começou a reluzir envolta do guerreiro protegido pela constelação de cisne. E seus braços pareciam evocar algo.

- Brumas. – disse, num sussurro. E logo, uma imensa camada de névoa cercou o ambiente, impossibilitando a visão e os movimentos.

A névoa que cobriu a extensão daquele campo de batalha era gélida, espessa, tão fria quanto se poderia esperar de um cavaleiro vindo do gelo. Uma bruma maldita que poderia levar ao desespero e à loucura. Uma névoa feita de cosmos, impossível de ser dissipada, a não ser que o cavaleiro que a chamou a vida fosse morto. Era o maior golpe do Cisne.

- Gabriel.

- Caio, agora é a sua vez... Eles estão presos na ilusão, no frio, no deserto de gelo... Ache-os e os elimine.

- Mas...

- Você pode vê-los. – disse o cisne, enquanto a bruma se dissipava aos olhos do cavaleiro de dragão.

Puderam vê-los, alguns estavam se entregando à aflição, outros permaneciam imóveis. Caio não pensou duas vezes, atacou no primeiro momento em que observou a guarda baixa.

- Que o Dragão resplandecente, mostre seu brilho. O FOGO DO DRAGÃO! Ide e eliminai com as chamas sagradas, aqueles que ousaram sujar esse solo santo.

Um imenso dragão de fogo surgiu nos céus, gigante, não tardou a atingir o seu alvo. Causando a ilusão, para quem o recebia, de que este estava sendo consumido pelo fogo. Estraçalhando corpo e mente.

Cinco espectros tombaram. MORTOS.

- Cristal de Gelo. – Gabriel surgiu no mesmo instante, golpeando outros que estavam aturdidos pela ilusão das brumas.

Os cristais finos de neve cortavam e dilaceravam os corpos com o qual entravam em contato.

CLAP – CLAP – CLAP

- Sabe que eu realmente não esperava por isso? – o espectro que parecia ser o chefe daquele grupo se aproximou. – São excelentes golpes para guerreiros que são praticamente vermes inferiores e escudo para os que realmente possuem poder neste Santuário. – riu cinicamente. – Olha só, 10 espectros eliminados, até Sapo e Corvo. Também, vermes só podem ser derrotados por vermes. Mas, eis que sempre existe alguém superior não? A quem os vermes não podem barrar.

- Não irá passar por nós. – Caio disse, se aproximando.

- Tem certeza, protótipo de dragão? – gargalhou.

- O FOGO RELUZENTE DO DRAGÃO! – avançou contra o espectro.

O golpe foi aparado por apenas uma mão.

- Acha que essa ilusão me afetará? SOPRO DA MORTE! – o golpe lançou o cavaleiro de dragão longe. – sorriu. - Você é forte, não morrer de primeira com esse golpe é praticamente uma surpresa. Mas, deixe-me acabar logo com você... O Sopro da Morte, elimina de forma cadenciada seus órgãos vitais, é impossível barrar, ele apenas sabe onde é o lugar mais propício para eliminar o oponente. SOPRO...

- Cristal de Gelo! – os cristais voltaram a dançar pelas brumas, mas foram aparados pelo espectro. – Como você é miserável, acha mesmo que salvará seu amado amigo, Gabriel? Você vai morrer sem poder ao menos se despedir... Eu Anaia espectro da Ira, não perdoarei sua insolência.

- GABRIEL! – Caio tentou se levantar para ajudar o amigo, em vão.

- Hora de eliminar as brumas! – sorriu Anaia de forma sarcástica. – O SOPRO DA MORTE!

As feições delicadas de Gabriel foram mudando pouco a pouco, seu rosto antes de um semblante doce e decidido, foi, pouco a pouco, sendo substituído por traços de dor e sofrimento. De seus olhos, lágrimas de dor, misturada a lágrimas de sangue passaram a ser derramadas... Até tombar, por fim, no chão frio, totalmente sem vida.

As brumas foram se diluindo e tornando-se gotículas finas de água, as quais Caio amparava com as mãos abertas.

Ele MATARA seu...

- Ande, o que estão esperando, prossigam o caminho. – Anaia decretou aos que lhe acompanhavam. – AGORA! – os espectros correram, passando pelo cavaleiro atordoado. – Bom, não se desespere tanto, meu caro, já te mandarei para junto de seu "amigo".

- Eu não irei te perdoar. – os olhos escuros do dragão inflaram-se de fúria.

- Isso, convoque a Ira. – sorriu.

- GABRIEL! – Karen parou de súbito. – Não sinto mais o cosmo de Gabriel...

- Calma Karen! – Lyra tentou em vão segurar a amazona de águia.

- Deixa Lyra, ela escolheu o caminho. – Annie disse, fazendo com que a amazona de camaleão desistisse de segurar a outra. – Vamos, temos de ir para nossas posições, o mais rápido possível.

- Eu não...

- Você vai. – Maia se pronunciou. – Somos apenas um escudo frágil Lyra, não agüentaremos por muito tempo, vocês precisam subir e ajudar a guardar as doze casas. – Lyra ainda tentou se pronunciar. – É uma ordem.

- Mas...

- Annie está certa, Karen escolheu o caminho, não poderemos fazer mais nada por ela. – Maia sorriu tristemente. – Agora vão!

As duas amazonas correram para o zodíaco de ouro, sem pronunciar nem uma palavra. Até Annie cortar o silêncio.

- Karen viu aqueles meninos crescerem... Ou melhor, cresceram juntos, ela não pode abandoná-los. – suspirou, parando a corrida. – Não pode deixar os dois enfrentarem sozinhos, o último momento de suas vidas.

- Então... – não se atreveu a dizer as palavras. – Como você sabe Annie?

- Apenas sei, mas te garanto que preferiria não saber nada, absolutamente nada. – Lyra pareceu notar algumas lágrimas no olhar da amiga, que sempre fora tão forte. – Vamos, não há tempo.

- Vamos!

- EU VOU MATAR VOCÊ, MALDITO! – Caio avançou em direção a Anaia, prestes a desferir-lhe outro golpe. O Espectro barrou suas mãos.

- Ainda não percebeu? É a sua Ira que alimenta o meu poder, quanto mais forte o seu ódio por mim, mais o Sopro da Morte ganha vida e forças para eliminar você. – preparou-se para lançar novamente seu ataque.

- GARRAS DA ÁGUIA! – flashes de luz azul cruzaram a vista do espectro da Ira, desconcentrando-o do golpe e lançando-o a uma distância considerável. – Tire suas mãos imundas de meu irmão.

- Karen?

- Caio! – sorriu. – Gabriel, onde está? Eu vim para ajudá-los, lembra? Eu prometi que estaríamos sempre juntos. – Caio abaixou os olhos e apontou para o corpo sem vida.

Silêncio.

O silêncio cortou o coração da jovem amazona, ao ver estirado naquele chão, o corpo de um de seus irmãos queridos. Pois, era assim que ela via os guerreiros de bronze, seus IRMÃOS.

Irmãos de vida, de estrada, de fé, de esperança...

- Gabriel... – sussurrou, indo em direção ao corpo do cavaleiro de cisne. – Oh, Gabriel... Por que não me esperou? – aconchegou o rosto sem vida em seu peito, acariciando os cabelos castanhos curtos, passando a mão pela pele pálida. – Meu menino. Você me prometeu. Prometeu a mim e a Caio que estaríamos sempre juntos. – fios transparentes atravessaram a barreira da máscara sem vida.

- Eu não pude fazer nada. – disse Caio se aproximando. – Eu não pude nem ao menos, me despedir. – ajoelhou-se no chão e tirou o corpo das mãos da amazona. – Eu quebrei minha promessa. – disse levando sua testa de encontro à do corpo em sua frente, para o abraçar em seguida.

Enquanto ambos choravam a morte do amigo, Anaia se recuperava do golpe inesperado. Observou a cena com repugnância, odiava cenas daquele tipo, tinha de acabar logo com aquele momento degradante.

- Chega de choro, já não disse que irão até ele? Sim, isso também vale para a guerreira sem rosto. – sorriu irônico.

- SEU! – Caio tentou se manifestar, mas sentiu as mãos delicadas de Karen segurarem seu pulso.

- Não! Eu vou.

- O que uma fedelha como você pode contra mim? – disse o espectro. - Ainda mais uma fedelha de "porcelana". – riu.

- Fedelhas podem ser mais inesperadas do que imagina. – por baixo da máscara o olhar de Karen modificara-se por completo, parecia ter compreendido algo muito importante. – Não deveriam ter adentrado nesse recinto sagrado. Vão se arrepender.

- Sempre as mesmas frases?

- Não, sempre o mesmo objetivo. – Karen tomou posição de ataque. – Já viu uma águia dançar?

- Isso é outro jogo?

- Você vai ver.

A constelação de águia reluziu nos céus. Karen começou uma dança inusitada, diferente, o lenço amarrado à sua cintura passou a circundar o ar a sua volta, bailando pelos ares.

O olhar do espectro se perdeu, aquilo parecia uma dança maluca de... Sedução? Só que não era aquilo, ele percebeu quando garras afiadas marcaram-lhe o rosto, afundando-se na carne, para depois atirá-lo à distância. Tornou a voltar o olhar para a amazona, ela continuava dançando, o lenço claro ainda voava pelos ares e parecia que ela não saíra dali um minuto sequer.

O golpe tornou a se repetir inúmeras vezes, nos braços, na barriga, pernas e ela continuava a dançar. O que era aquilo?

- A dança da águia! – a voz de Karen surgiu, como se tivesse lido os pensamentos do espectro. – E você morrerá.

- Acha que morrerei só porque estou caído. – disse Anaia, levantando-se e no esforço cuspindo sangue. – Eu te matarei.

- Não pode! – ela disse calma. – Seu poder é alimentado pela ira, eu não tenho raiva ou rancores em meu coração, eu só tenho amor. É por isso que luto, pelo amor, para defender as pessoas que tanto amo.

- Que baboseira, acha mesmo que só sou forte quando tenho o ódio de vocês? Isso é apenas uma parte da minha força. – limpou os lábios sujos de sangue. – Posso ter-me deixado seduzir por esta dança patética, só que agora você conseguiu despertar a minha fúria. Ainda mais ao mencionar algo tão baixo quanto o amor. – riu. – Agora irei quebrar a bonequinha de porcelana.

Um vento gélido cruzou o ar, encontrando-se com a máscara da amazona e rachando-a ao meio. Karen se abaixou, procurando esconder o rosto.

- Ela não está sozinha. – Caio pareceu subitamente acordar.

- Você de novo? Não vê que agora estou ocupado com a bonequinha?

- Não tocará nela.

- Veremos!

- O FOGO RELUZENTE DO DRAGÃO!

- Inútil, eu já conheço esse golpe.

- QUEIME!

- O quê? – o espectro assustou-se ao perceber o fogo que dilacerava seu braço esquerdo, causando uma dor aterradora.

- O Dragão de fogo não é um "único" golpe.

- Não vai me vencer!

- DRAGÃO! RELUZA! – um enorme dragão de fogo cruzou novamente o ar, pairando sobre a cabeça do cavaleiro. – Pulverize o inimigo.

O espectro ardeu nas chamas. Agonizando enquanto seus olhos presenciavam a carne que derretia ao calor do fogo, para transformá-lo em cinzas.

- Eu disse que iria pagar, quem é o verme agora? Sr. Ira? – disse Caio pisando nas cinzas.

Voltou-se para Karen.

- Irmã, tudo bem? – abraçou-a. – Não precisa mais esconder seu rosto, aqui está apenas o seu amigo e seu irmão. – ela levantou o rosto, os olhos azuis cruzaram-se com os negros, que viram no rosto delicado a cicatriz que se formava. – Ele machucou você.

- Eu estou bem! – disse Karen, se levantando e limpando o sangue. – Você é que não está, foi golpeado muitas vezes Caio e seu coração foi despedaçado, como o meu, eu posso sentir. – o cavaleiro abaixou a cabeça.

- Temos de zelar por essa entrada, muitos conseguiram passar, eu falhei.

- Não falhou. Olhe esses corpos no chão, apontou os espectros mortos. Acha mesmo que você e Gabriel não fizeram a sua parte? Não fizeram o melhor possível? – Caio sorriu.

- Lembrei de algo. Por favor, não me mate! – Karen o olhou surpresa, para depois dar um sorriso carinhoso.

- Não se preocupe, não é o primeiro, este rosto já tem dono. – os olhos dela adquiriram um brilho especial. – Alguém que decidi amar.

- Você é corajosa irmã.

- Você também é Caio!

- P-a-t-é-t-i-c-o! – uma voz doce se fez ouvir. – É isso que são os guerreiros de Athena: Patéticos. – riu. – Derrotam um guerreiro desprezível como Anaia e acham que salvaram o Santuário? – o corpo feminino se delineou nas sombras.

- Quem... – ambos disseram juntos.

- Ananda de Papillon! – respondeu, com uma reverência.

Escadarias

- Eles estão avançando. Muitos já passaram pela entrada e o cosmo do cavaleiro de Cisne desapareceu. – Dohko disse com pesar.

- Não sem deixar a sua marca nessa terra, sua morte não foi em vão. – disse Shion. – Vamos, é hora de nos separarmos.

- Espere! – Dohko os parou de súbito. – Suas armas!

A armadura de libra reluziu, abandonando o corpo do cavaleiro e suas armas espalharam-se pelo ar.

- As espadas! – as armas tomaram vida e se dirigiram ao seu respectivo cavaleiro. – Escolheram Shion e Osirus!

- Os escudos! – a cena se repete. – Escolheram Aurion e Ardol!

- As Barras-tripla! Escolheram Aurus e Allas!

- Os Nunchaku! Escolheram Arios e Yoros!

- As Tonfas! Escolheram Lidius e Darius!

- Os tridentes! Escolheram a Lunion e a Mim!

O circulo se completou, as armas foram entregues e Dohko olhou para cada amigo como se fosse a última vez... Uma última vez que os veria ali, com vida! Sentiu um peso enorme recair sobre seu coração, queria falar algo, dizer qualquer coisa que pudesse reconfortá-los, mas não havia palavras.

Queria tudo... Mas, tudo o que tinha, era nada.

- Boa Sorte amigos! – foi a única coisa que conseguiu dizer.

A escadaria que descia do templo para o Zodíaco de Ouro os encarava. Correram o mais rápido que podiam, sem olhar para trás. Prontos para encarar a última batalha de suas vidas.

Allas parou na entrada de sua casa e Aurus repetiu os seus gestos, os demais já tomavam distância da casa de peixes.

- Não quero despedidas precioso amigo. – Allas falou calmo a Aurus, que olhava os companheiros sumirem de sua vida.

- É só um até logo! – sorriu.

- Isso não combina com você. – disse apontando o sorriso no rosto do amigo e sorrindo também.

- Assim como esse olhar sério não é seu. – disse Aurus voltando ao semblante de antes. – Você é corajoso Allas.

- Você também é, indiano! Você honra seu povo! – segurou nos ombros do amigo.

- Não tanto como você. – olhou nos olhos do amigo, para depois voltar o olhar para a constelação de águia.

- É difícil mesmo compreender, talvez a tristeza que esteja estampada em meu rosto agora, não sumirá jamais; só que essa foi a nossa escolha. – também olhou para a constelação. – E também o nosso amor.

- Realmente é difícil entender.

- O Amor é livre! Ela é livre! Tão livre quanto a águia de sua constelação. – sorriu, um sorriso triste. – Livre para sonhar, livre para voar e para lutar por aquilo que acredita e pelo que ama.

- E, ela não ama você?

- Há formas e formas de se amar, essa é a dela. E a minha é zelar por isso, meu coração zela pelo dela. No final, estamos juntos, mesmo estando longe. – os cabelos de tom prateado voaram com o vento forte. – Ela morrerá defendendo o que acredita e eu também. E isso jamais diminuirá nosso sentimento.

- Amigo... É realmente muito forte. – se abraçaram. – Boa Sorte!

- Para você também!

Sua voz ainda chegou aos ouvidos do indiano que descia lentamente as escadarias rumo à casa de Aquário. E no coração daquele homem, as palavras de seu amigo ecoavam mais do que nunca.

E, na entrada da casa de Aquário, aquela a quem amava o esperava. O rosto moreno, os olhos negros sempre tão frios, o sari branco que flutuava com o vento.

- Raíssa!

Entrada do Santuário

- Veja só! Até que fizeram um estrago considerável. – Ananda disse irônica. – Agora já chega dessa baboseira, deixem-me passar.

- Quem você pensa que é? – Karen disse raivosa.

- Já não disse? Pappilon! Ananda de Papillon, a borboleta! Além de tolos, são surdos?

A borboleta. Sua sapuris era toda de um metal delicado, que se encaixava às curvas do corpo e davam a ele movimentos como se não portasse defesa alguma. Os cabelos castanhos se apagavam perante a forte tonalidade violeta de seus olhos.

- Isso está me cansando! – disse, tentando ganhar passagem. – São insistentes não? Tenho cinqüenta homens para passar por vocês, não percam a vida agora...

- O que está dizendo? – Caio saiu do atordoamento, avançou. – DRAGÃO RELUZENTE!

- Eu avisei! – suas mãos pareceram se juntar em prece, logo se viram inúmeras borboletas, amarelas e róseas, circular pelo ar. – FADAS, ATAQUEM!

- O quê? Saia daí Caio. – Karen empurrou o cavaleiro. – Eu sou sua adversária, não ele.

- Tola, as fadas são para ele e não para você!

Karen não pode acreditar na cena que via... Caio sumira no ar, como uma névoa de cinzas.

- O que... fez com ele?

- Foi levado para o mundo dos mortos. – riu. – Eu tentei avisar! Agora, deixe-me passar amazona.

- Não! – os olhos de Karen brilhavam, a raiva se misturava com as lágrimas. – AS GARRAS DA ÁGUIA! – avançou contra Papillon.

- Eu não queria sujar as minhas mãos, não com sangue tão ruim; só que não tenho outra escolha. – Ananda desviou-se do golpe.

- Morra, amazona petulante!

Leves fios de seda pareceram surgir nas mãos do espectro. Ananda pareceu traçá-las no ar, formando uma teia invisível, a qual, destinava-se a Karen.

- FIOS DE SEDA!

- AS GARRAS DA ÁGUIA!

Os dois golpes cruzaram-se no ar, mas era inútil. Os fios de seda eram como navalhas e cortavam tudo o que tocavam. Os fios encontraram-se com o corpo frágil da amazona, já ferido pela luta anterior e arrancaram-lhe a armadura, sua única defesa.

As mãos de Papillon ficaram encharcadas de Sangue, assim como sua face e a partir desse instante... Karen deixara de existir.

- Sangue! – a borboleta lambeu o líquido em suas mãos. – Eu ainda pensei em deixá-la viver, só que a escolha foi sua. – riu. – Avancem, tropas de Hades. É hora de revelar a esses tolos de Athena, quem e o quão forte são os guerreiros das trevas.

Allas observou o céu e viu a constelação de águia se apagar, lentamente. Não pode conter suas lágrimas e sua dor. Apesar de saber que, aquela era a escolha de Karen.

- Me espere, amada! Eu não demorarei a ir até você! – disse para o vento, que carregou suas palavras e a levou até a constelação já sem vida.

Os espectros avançavam e para trás, um traço de destruição era deixado.

Sangue!

O Santuário Sagrado, a terra santa de Athena, se encharcava, se banhava... de Sangue!

Templo de Athena

A jovem deusa pedia por seus guerreiros e o céu, a cada prece, dava-lhe a resposta que ela não queria.

Estrelas que se apagavam, cosmos que sucumbiam... Seus guerreiros.

Aquela guerra tola só traria perdas. Perdas irreversíveis.

- Você pode parar esse derramamento de Sangue, se assim quiser, Athena!

- Quem... – voltou-se para o interior do templo. - ...Perséfone!

Continua...

N.A: Mais um capítulo saindo do forno. Esse deu trabalho e tristeza.

Caio e Gabriel surgiram tão repentinamente e tão fortes em seu carisma e coragem, que eu mesma me surpreendi. Eles não eram simples guerreiros de escudo, eram muito mais que isso. Os dois foram os únicos guerreiros de bronze que sobreviveram à batalha de Poseidon, de acordo com a minha cronologia. E a carga de sentimento que os dois personagens carregam é muito forte, o amor que nutrem um pelo outro, pelo seu ideal, por Karen, são a sua energia para lutar. Espero que tenha conseguido passar essa força, esse sentimento dos dois, para vocês que acompanham a fic.

Também me admiro com o amor de Allas e a coragem de Karen ao fazer sua escolha. Morrer longe do homem que tanto amava, encarar de cabeça erguida mais de cinqüenta espectros e enfrentar alguém que sabia, suas forças não derrubariam, mostram o quanto ela merecia ser protegida pela constelação de Águia.

Lembrando, essa é a primeira vez que narro uma luta, que descrevo mortes ou melhor, que mato um personagem... Não é fácil, Karen, Gabriel e Caio deixaram fortes impressões e penso até em reescrever fics curtas com eles. Gostaria de saber qual a opinião de vocês sobre isso e também, sobre como me sai nessas cenas de luta, ok?

Agradeço também quem começou a acompanhar Lágrimas Derramadas agora, como a POC Freya, isso me dá uma alegria imensa e maior vontade de continuar a escrever.

Sem esquecer, dois meses sem atualizar, quase me fizeram esquecer algo...

Lágrimas Derramadas completou 1 Ano!

Obrigado a vocês que acompanham a história, a minha Beta filhota Lyra que corrige os erros e me dá uns toques legais e a Juliane-chan, novamente, por ter proposto um desafio tão maravilhoso como este!

VALEU GENTE!

Até a Próxima!

Lithos de Lion

P.S: O que será que Perséfone quer? Como foi parar no templo de Athena?