Todos os dias

Disclaimer:os personagens não me pertencem.

Seria tremendamente certo, se não fosse tremendamente errado.

Pensar naquilo era patético e, no entanto, ela pensava novamente.

Principalmente porque sua cabeça estava doendo de frio e seus dedos cansados de não tocá-lo. Muito cansados, até porque, eles não o haviam tocado nunca.

E ele tinha os cabelos mais finos e claros que ela jamais vira e, se ela colocasse neles uma flor, ela explodiria de cor solitária. A menos que fosse branca.

A flor.

Os olhos dele também eram claros, e não como o verde-claro que ela via entre beijos, ou o azul-claro que ela via desde sempre, ou o castanho-claro que ela via no espelho, mas claros como uma ausência de cor, transparência.

Ausência de cor também era o negro. As pupilas dele cresceram, cresceram, e logo havia só um grande abismo, cercado do finíssimo lago, como seus fios, como sua mágoa conformada.

O negro era a falta de cor, e o branco era a junção de todas elas; então, o que era o transparente?

O ar estava muito cheio de palavras impensadas e sem significado algum para ser transparente. Ela esperava que o riso desdenhoso cobrisse seu coração o suficiente para que não pudesse ver o não devia estar lá dentro.

Estava sendo óbvia.

Ela esmagava outros lábios com fúria, enquanto os dele se curvavam levemente, e ela se curvava, rubra e bela – sabia-se bela, assim como ele – e aceitava aquele extenuante e interminável jogo.

Respirava a intransparência e tomava fôlego para mais um dia; o que importava?

Se colocasse uma flor em seus cabelos, ela escorreria como lágrima num rosto sorridente, recebida pelo chão e pela boca.

Mãos humanas jamais tocariam as estrelas.