Nota das autoras (publicada no 7º capítulo original): Bem, aqui está o capítulo 7. Luna e eu decidimos desde o começo que, como é uma história dos Marotos, iríamos abordar os pontos de vista de TODOS, incluindo Lily e Peter. Então cá está. Também notem, por favor, que os pensamentos e visões de Peter sobre a situação é como nós achamos que ele deve se sentir a respeito disso tudo, e não reflete o que nós, Luna e Dawnatello, pensamos dos outros Marotos. A gente também sabe que vocês estão ansiosos pelo slash. Não se preocupem — vai aparecer MUITO em breve. ;-) Aproveitem!


Escrito nas Estrelas
por Dawnatello e Luna

tradução para o português: Calíope Amphora
betagem da tradução: Dana Norram

Capítulo Sete

POV DO PETER

A caminhada era longa até a sala de Poções — um caminho frio e mal-cheiroso pelas masmorras. Eu odeio Poções. Não tanto quanto Remus, mas quase. Remus jura que o professor de Poções o odeia. Eu ignorei Remus da primeira vez que ele disse isso. Remus tem um... como é que se chama... um complexo de inferioridade (acho que está certo) e acha que ninguém gosta dele, exceto nós. James concordou que Scythe odeia Remus e Sirius disse pro Aluado não se preocupar, que Scythe era uma "bicha velha que provavelmente se sentia atraído por Remus, mas não podia fazer nada, então descontava a frustração nele". Remus riu quando ouviu isso. Não sei por que. Acho que eu ia preferir acreditar que Scythe me odiasse do que…urrggg… gostasse de mim desse jeito, mas... esse é o Remus.

Não quero dizer que o Remus é esquisito... bem, na verdade ele é, mas não de um jeito ruim. Quer dizer, tirando o grande segredo dele, que nós não podemos comentar, ele é um cara muito bacana. Ele foi o primeiro dos três a ser meu amigo, Remus é legal assim. Ele se preocupa com as pessoas se sentirem excluídas e sozinhas e parece... eu acho... sentir isso a respeito de mim.

Eu gosto do Remus, gosto mesmo, mas às vezes ele me assusta. Perto da época da lua cheia ele muda — fica mais quieto, mais reservado, mais temperamental e você tem que ver como ele come! Nossa! Ele parece mesmo um lobo nessas épocas, comendo pilhas de carne. No mês passado ele ficou indignado uma noite porque só tinha um pedaço de carne por prato. Ele ficou tentando trocar os vegetais dele pela nossa carne. James finalmente desistiu e trocou o pedaço dele pelas ervilhas do Remus. Argh!

James também é esquisito. Bom, mas, como eu disse, na maior parte do tempo o Remus é legal, mas eu fico meio nervoso quando estou perto dele dependendo do ciclo lunar. Eu li em algum lugar que lobos comem ratos! Credo! Sirius achou isso muito engraçado — é claro, aquele idiota. Mas Remus me assegura constantemente que ele nunca vai tentar me comer.

É estranho ter esses caras como meus amigos. Eu nunca tive tantos amigos antes. Eu cresci numa vila de trouxas. Meus pais sempre acharam que eu deveria evitar contato com outras crianças por causa das minhas 'habilidades mágicas', o que é bastante irônico, já que eu sou praticamente uma piada. Sim, eu admito. Não me orgulho disso — é bem vergonhoso, mas é a verdade. Na noite antes de eu vir para Hogwarts pela primeira vez, meu pai entrou no meu quarto e ficou me olhando por um tempão. Ele nunca gostou muito de mim, meu pai. Finalmente, ele disse: "Filho, quando você chegar em Hogwarts, isso é o que você tem que fazer. Encontre alguém esperto, alguém corajoso, alguém competente e se torne amigo deles, faça o que puder para eles gostarem de você, porque só assim você vai conseguir se virar na escola e na vida. Você é parecido com a sua mãe e não muito habilidoso para mágica. Isso é o que você vai precisar fazer — encontrar ajuda para sobreviver. Entendeu?". Eu concordei e absorvi as palavras. Ele estava certo. Eu não era muito esperto, nem corajoso e nem competente, mas podia virar amigo de outros alunos para eles me ajudarem...

Não demorou muito para eu encontrar esses alunos — depois conhecidos como meus amigos, os Marotos. Conheci Remus no trem para Hogwarts. Ele estava sentado sozinho no último compartimento quando perguntei se podia sentar com ele. Seus olhos estavam brilhando, como se ele estivesse com tanto medo quanto eu. Mas ele disse que sim, que eu podia dividir o compartimento com ele. Mal nos falamos no começo, mas aí ele me mostrou um livro sobre a história de Hogwarts e eu comecei a fazer algumas perguntas. No início, ele me pareceu muito tímido e respondia educadamente a tudo que eu perguntava, mas não entrava em detalhes. Ele foi relaxando gradualmente e logo estava me falando sobre o Salão Principal, os fundadores e os fantasmas de Hogwarts. Ele riu quando eu disse que não queria saber sobre os fantasmas. Eu odeio fantasmas.

James e Sirius... conheci os dois juntos. Eles sempre foram uma dupla. Pareciam irmãos, com os cabelos escuros e o jeito brincalhão. James bateu educadamente na porta e perguntou se ele e Sirius poderiam "se juntar à festa". Eu tremi, mas Remus sorriu, corando um pouco, e concordou. Sirius já falava alto e era atrevido desde aquela época, passando pelas nossas cabeças para espiar os outros alunos que entravam no trem, comentando um por um, como se nós não pudéssemos olhar pela janela e observar sozinhos, que foi o que James disse para ele.

Naquela noite, ficamos surpresos de descobrir que todos nós éramos da Grifinória. Eu! Corajoso! Eu! Não conseguia acreditar e imediatamente mandei uma coruja com uma carta para o meu pai. Não sou tão inútil quanto você pensou. Espere para ver. Deixarei você e a mamãe orgulhosos. Vou ser poderoso um dia...

Os outros foram legais comigo e, quando eu comecei a conhecê-los, lembrei das palavras do meu pai. Remus era esperto, Sirius, corajoso e, James, competente. Hmmm... então esses caras eram o que eu precisava para me dar bem por aqui. Grudei neles como cola. No começo, era mais próximo de Remus, mas, depois que descobri o segredo dele, eu me afastei e me aproximei de James. Sirius nunca gostou muito de mim por alguma razão. Não me importo. Também não gosto muito dele. Prefiro Remus a ele (o que é uma grande coisa, já que Remus é um monstro e tal), e prefiro James a Remus.

Mas, onde nós estávamos... a caminho de Poções, é claro. Ah, droga, Acabei de lembrar. Vamos ter novos parceiros de poções. Que droga!

James deve ter percebido como fiquei pálido de repente, porque veio me perguntar se estava tudo bem. Eu concordei e, para mudar de assunto, perguntei sobre a "conversa intelectual" entre ele e Remus que o horóscopo de brincadeira previa. Ele me pediu para ficar quieto e balançou a cabeça, sorrindo.

"Não, não ainda, mas eu vou conseguir. Não sei como, mas vou ajudá-lo nas poções ou só conversar com ele se não formos colocados juntos... espera!", seu rosto avermelhou e ele piscou. Ele tinha tido uma idéia. James sempre pisca e fica vermelho quando tem uma idéia.

"Ei, Pete, o que você acha disso?", ele sussurrou no meu ouvido. "Se eu irritar o Scythe logo que a gente entrar na sala, ele irá tentar me punir. E… qual você acha que será a punição? Hmmm?"

"Detenção?", arrisquei.

James zombou. "Não, seu idiota! Se ele vai estar nos dividindo em duplas, para me punir e tentar baixar minhas notas, ele vai tentar me colocar com o pior parceiro de Poções possível. E... adivinha quem vai ser?"

"Eu", disse triunfante e aliviado.

"Uhhh… não, Rabicho, desculpe… na verdade, nessa o Remus é pior que você".

"Não, ele não é. Ele só age daquele jeito melodramático com Poções dizendo que ele odeia, mas na verdade as notas dele são melhores que as minhas", respondi de mau humor.

"Bem… hmmm… ok, talvez, mas, mesmo assim, Scythe não gosta do Aluado por algum motivo bizarro..."

"Porque Scythe se sente atraído por ele."

"Oh ugghhh! Pete! Não deixe o Remus te ouvir dizer isso!", James falou, rindo.

Eu dei de ombros. "Foi o que o Sirius disse".

James gargalhou e balançou a cabeça. "Bem, o Sirius às vezes tem umas idéias mesmo... únicas".

Eu ri e sussurrei para James. "Vamos esperar que ele esteja aberto a idéias únicas. Você sabe, já que estamos planejando dizer que ele e Remus deveriam ficar juntos".

James riu de novo. "Exatamente! Ei, falando nisso… eu tenho uma idéia para o horóscopo de amanhã. Temos que tentar aproximar os dois. Estou pensando em escrever que 'um amigo tem uma paixão secreta por você'. Algo desse tipo. Mas… eu preciso fazer alguma previsão que se torne verdade. Você tem alguma idéia?"

Eu pensei um pouco. "Por que você não diz algo sobre um encontro em... ummm... um lugar de aprendizado. E aí você pode falar para o Sirius que o Remus está na biblioteca e precisa falar com ele".

James comemorou a minha idéia. Ele gostou da minha idéia!

"Sim! Peter, isso deve funcionar. Eu vou ter que mudar um pouco, sabe. Não quero que o Sirius corra para a biblioteca e pergunte para Remus o que ele precisava falar com ele e o Remus responda que não tinha dito nada disso. Hmmm…"

"Ah, já sei! Eu vou para a biblioteca com Remus e digo para ele que o Sirius ficou chateado porque nós rimos dele com o Snape..."

"Ahhh sim! Sim, Petey! Garoto esperto! É isso. É claro, então o Remus vai querer falar com o Sirius, vai querer confortá-lo. E aí você diz que vai caçar o Sirius..."

Eu interrompi com uma risada. Ele me olhou de um jeito estranho e eu expliquei: "Sirius— Almofadinhas, o cachorro... caçar!"

"Ah… sim", James disse.

Hmmph… ok, então não foi tão engraçado…

Finalmente chegamos na sala de Poções, depois de virar no corredor, e eu vi Remus e Sirius parados na frente da porta, olhando para dentro com ansiedade. James e eu nos juntamos a eles, e então James perguntou o que estava acontecendo.

"O que é aquilo?" Sirius disse, apontando para as mesas divididas em cubículos duplos fechados.

"Ah… não. São para as novas duplas, eu imagino", Remus reclamou, seu rosto empalidecendo. "Professor Scythe obviamente quer impedir que nós espiemos os outros".

"O quê? Céus! O homem é paranóico!", Sirius resmungou.

"Ai… eu me pergunto com quem eu vou ficar", Remus resmungou de novo.

"Ah, Remus, não se preocupe", James disse. "Você irá se sair bem com qualquer par que te coloquem". Ele então se virou e piscou para mim.

Professor Scythe apareceu atrás de nós, a carranca mal-humorada como sempre. James agiu, casualmente esticando o pé para que Scythe tropeçasse.

James começou a rir, mas se abaixou para ajudar Scythe levantar, ainda rindo, o que só piorou o humor do professor.

"Ah, professor Scythe, me descuuuuulpe", James disse, olhando seriamente para o rosto de Scythe. O professor o encarou e depois a cada um de nós, seu olhar se concentrando em Remus por tanto tempo que Remus brilhou de tão vermelho, mas se manteve firme e o encarou de volta. Sim, Remus! Mostre para o desgraçado que você não tem medo dele!

Com outro olhar mal-humorado, Scythe entrou na sala.

Sirius deu de ombros e o seguiu, e nós seguimos Sirius. Estávamos prestes a nos sentar nos cubículos no fundo da sala quando Scythe nos chamou, a voz áspera. "Esperem um segundo, cavalheiros". Ele cuspiu a última palavra com desdém, como se nós fôssemos qualquer coisa menos cavalheiros.

Ele rabiscou alguma coisa em um papel e pediu para que nos aproximássemos. Eu engoli a seco enquanto andava.

"Sr. Potter…"

"Sim, professor?"

Scythe olhou para James por cima dos seus óculos, seu rosto se contorcendo no que deveria ser um sorriso, mas que para mim parecia uma careta.

"Você e o sr. Lupin devem ser parceiros de Poções. Sentem-se aqui".

Eu vi o alívio no rosto de Remus e o triunfo no de James quando eles andaram até o cubículo e sumiram de nossas vistas.

"Bem, Pete, acho que isso deixa você comigo, não?" Sirius disse sorrindo e me deu um tapa nas costas.

"Ah, eu acho que não, sr. Black", Scythe murmurou. (Ele também não gostava muito do Sirius)

"Apesar das suas… vamos chamar de tendências para desordem, eu percebi que você tem manifestações de quase inteligência. Seu maior problema parece ser sua rivalidade infantil com o sr. Snape. Levando isso em consideração, eu acho que seria melhor se você e o sr. Snape fossem parceiros de Poções. Assim, vocês vão ter que trabalhar juntos, ou os pontos das suas casas e suas próprias notas sofrerão as conseqüências".

Eu olhei para Sirius, cujo rosto rapidamente se tornou vermelho. Pude ouvir instantaneamente James rindo, um fato que ele tentou esconder tossindo, mas Sirius ouviu mesmo assim, o que só o fez ficar num tom de vermelho mais vivo.

"Mas, professor", Sirius protestou, "como, é claro, o senhor só tem o nosso bem-estar em mente e no seu coração, acho melhor o senhor me colocar com o Peter. Ele tem problemas com essa matéria e eu provavelmente poderia ajudá-lo. Na verdade, ficaria honrado por…"

"NÃO, sr. Black. Você vai ficar com o sr. Snape. Agora, eu sugiro que você dê o melhor de si, ou eu serei forçado a tirar pontos da Grifinória. Sente-se… ali no canto".

Sirius me lançou um olhar e eu mordi o lábio. Pobre Almofadinhas. Pela primeira vez na vida, eu tive pena do Sirius.

Então meus pensamentos se voltaram para mim mesmo quando Scythe me olhou. Eu tremi.

Ele me olhou feio e pressionou sua pena contra o lábio, pensando. "Agora… o que eu vou fazer com você, sr. Pettigrew… hmmm?"

Por favor, não me coloque com um sonserino. Por favor, sem sonserinos, eu desejei mentalmente.

Outros alunos começaram a chegar e eu ouvi alguém atrás de mim. Me virei para encontrar os olhos verdes questionadores de Lily Evans — a garota dos sonhos de James. Ela sorriu para mim e para o professor antes de perguntar, "Oi, Pete. Por que há divisões nas mesas?"

"Uhhh… ummm… o pro… professor Scythe está… nos… nos juntando", eu murmurei.

"Não é uma má idéia, Pettigrew", Scythe resmungou. "Sim, assim está bom. Pettigrew, você e a srta. Evans — naquela mesa, por favor".

"Então… Lily vai fazer dupla comigo?", eu perguntei, a esperança fazendo meu coração disparar. Ah por favor! Por favor! Diga que sim.

Scythe resmungou. "Sim, Petti-grew" (ele fala assim, Petty-grew, acentuando a parte do "Petty" — eu o odeio), "foi exatamente isso que eu disse, 'esperto' jovem (ele disse como se eu não fosse nada) Agora… nessa mesa."

"Vamos", Lily disse, pegando minha mão.

Assim que nos viramos, a cabeça bagunçada de James apareceu pelo cubículo dele e de Remus e ele sorriu para Lily. Ela sorriu de volta e, quando ela se virou, eu o vi se voltar para dentro do cubículo, provavelmente para Remus, e percebi que ele estava desapontado. Sim, ele agora devia estar desejando que a Lily fosse a dupla dele.

Quando Lily e eu alcançamos nosso lugar, ela perguntou: "Onde estão Sirius e Remus?"

"Remus está junto com o James, ali. E Sirius…", eu comecei a rir. Não consegui evitar.

"O que?", ela perguntou com curiosidade.

"Sirius está junto com o Snape".

A boca de Lily se abriu em um perfeito "O" quando ela disse: "Ah, não. Isso é terrível. Eles se odeiam! E aquele horóscopo disse… ah, não…"

Eu concordei. "Não acho que o fato de eles se odiarem importa para o Scythe".

"Não", ela disse com uma careta enquanto puxava um livro da mala. "Provavelmente não. Sádico idiota!"

Nesse momento, Sirius passou por nós. Lily encostou em seu braço, e ele se virou para ela, o rosto ainda vermelho de raiva.

"Oi, Lil. Então… você já ouviu as notícias felizes? Parece que eu irei descobrir ainda mais desses sentimentos intensos por Snape, já que vou ser dupla daquele idiota em Poções", ele reclamou.

Lily suspirou. "Sim, eu fiquei sabendo. Bem, tente não deixá-lo te afetar. Snape valoriza muito essa aula para fazer qualquer coisa que estrague suas notas perfeitas aqui".

"Sim, sim… não quero ser rude, mas é muito fácil para vocês falarem isso, não vão ser vocês que vão respirar os odores sonserinos nojentos dele dias após dia, dia após dia…"

Lily sorriu em simpatia e observou enquanto ele andava até James. Ouvimos James reclamar (obviamente, Sirius estava se vingando do prazer que James sentiu pela situação dele) e então Remus protestar.

"Sirius… por favor, acalme-se. Solte o James. Ele não teve nada a ver com a decisão das duplas".

Eu não teria tanta certeza, Aluado. Está certo que ele não planejou que Sirius acabaria ficando com o Snape, mas ele queria muito ser sua dupla, Remus!

E então Scythe apareceu. "Sr. Black! Volte para o seu lugar imediatamente. Eu não te dei permissão para ficar socializando pela sala".

"Desculpe, professor", Sirius resmungou enquanto voltava para o seu lugar, pisando pesado.

"Scythe é um babaca", Lily sussurrou, balançando a cabeça.

Eu concordei antes de me inclinar ao lado dela. Mmmhh… o cabelo dela tem um cheiro gostoso… "Bem, essa aula vai ser interessante, pelo menos".

Ela sorriu um pouco. "Sim. Pelo menos isso. Você tem razão, Peter."

— x —

POV DA LILY

Algumas coisas da vida são difíceis de explicar — minha vontade de visitar lugares novos, por exemplo, ou a inteligência quieta de Remus ou as habilidades atléticas de James — mas nada se compara aos mistérios do amor.

Por que eu tinha sentimentos tão intensos por James? Eu, na verdade, sentia isso há bastante tempo. E por que, então, eu não conseguia dizer para ele? Será que James sentia o mesmo? Sempre me achei meio intuitiva, mas, mesmo com todos os sinais sutis apontando para o contrário, não conseguia deixar de me preocupar com James não sentir o mesmo por mim.

Ah, eu sabia que James gostava de mim — não tinha como duvidar. Havia vezes em que a gente ficava até às 3 da manhã conversando sobre as aulas, a história da magia e os efeitos de Você-Sabe-Quem na sociedade mágica atual. Nossas conversas fluíam facilmente, e eu me sentia completamente à vontade com ele. Como se ser qualquer coisa que não eu mesma na presença dele fosse um crime.

Também havia algumas vezes em que ele segurava minha mão quando andávamos ao redor do lago ou perto da Floresta Proibida. Como eu adorava ficar ao lado dele sentindo a brisa fria, desfrutando do calor do corpo dele e desejando correr meus dedos pelos seus cabelos que balançavam com o vento. E aqueles olhos — céus, aquele azul líquido parecia penetrar direto no meu coração, até que tudo que eu pudesse ver, tanto nos meus momentos acordada quanto nos meus sonhos, eram infinitos lagos de azul cristal.

Nesses últimos tempos, meu fascínio por James Potter cresceu a ponto de quase obsessão. Era uma sensação estranha perder meu autocontrole completamente quando ele estava por perto, mas também era uma sensação da qual eu não abriria mão por nada. Estar apaixonada — isso é realmente maravilhoso. E, recentemente, eu comecei a notar algumas similaridades na relação entre duas pessoas que eu considerava serem irmãos.

Ah, não havia nada de concreto na troca de olhares deles, nada irrefutável. Mesmo assim, algo me dizia que havia um sentimento mais profundo entre os dois — algo não-declarado e inconsciente. Eu duvidava que mesmo eles soubessem. Mas eu tinha minhas suspeitas. Eu via o jeito que Sirius observava Remus quando ele achava que o outro garoto não estava olhando. Eu podia ver algo mais profundo naqueles olhos flamejantes. E o sorriso dele não ficava muito maior quando era de uma das piadas do Aluado que ele estava rindo?

É claro, os sinais de Remus eram muito mais sutis. Ele estimava Almofadinhas com um silêncio reservado. E a facilidade na interação entre eles era maravilhosa. James e Sirius sempre foram melhores amigos, tinham uma amizade relaxada e confortável. Eu tinha certeza que os dois conversavam sobre muitas coisas das vidas deles — talvez eu até fosse tema de algum assunto — mas a amizade que ele dividia com Remus era de um nível completamente diferente.

Os dois se sentiam tão seguros um com o outro que não tinham medo do que qualquer um pensasse dos seus atos. Sirius ostentava sua atitude de macho quando estava com garotas por perto ou mesmo com James, mas não hesitava nem por um segundo em segurar a mão de Remus. Eles riam juntos por horas incontáveis, e, quando Sirius estava chateado, Remus sentava ao lado dele com seu jeito quieto, murmurando palavras de conforto. Sirius sequer piscava antes de abraçar o Aluado depois de algum exercício difícil. Ele exibia sua amizade com Remus como uma bela jóia, mostrando para o mundo inteiro ver. Na verdade, eu estaria mentindo se falasse que não tinha um pouco de ciúmes pela proximidade deles. Mesmo assim, eles eram simples colegas — amigos Marotos que agiam juntos para uma meta comum: irritar o maior número de sonserinos possível. Tinha certeza que eles não tinham consciência dos seus sentimentos mais profundos, e me perguntava se não seria só minha imaginação.

Imagine, então, a minha surpresa quando eu entrei no dormitório de James e Peter. Eu bati rapidamente e abri a porta, para encontrar James deitado de costas na cama, rindo histericamente. Peter estava de pé ao lado dele, se dobrando de rir, com um pedaço de pergaminho nas mãos.

"Ah, isso é perfeito, Rabicho! Como não pensamos nisso antes?"

Peter sorriu e eu entrei, curiosa demais para voltar. Os garotos se ajeitaram quando me viram, e eu fechei a porta.

"Viu, James", Peter disse orgulhoso, "Eu disse que você deveria ter usado um feitiço para trancar a porta".

"Hmmm... talvez você estivesse certo, Pete..." , ele respondeu, sorrindo para mim.

"Se eu estou interrompendo…", eu disse, andando até a porta.

"NÃO!", James gritou, quase desesperado. "Umm...não. Nós só estávamos… bem… você guarda um segredo?"

Eu sorri, intrigada. "Claro que sim. Prossiga…"

"Bem… certo… mas, primeiro…"

Eu assisti com curiosidade quando ele pegou a varinha da mesa e apontou para a porta. "Foris Pingere", ele murmurou. Segundos depois, a porta trancou com um clique e James sorriu de satisfação.

"Pronto. Agora, como eu estava dizendo…"

Eu sentei no colchão macio, suspirando. Tinha a sensação de que a explicação seria longa.

"Peter e eu… bem, nós estamos fazendo uma brincadeira fabulosa com Remus e Sirius…"

"Remus e Sirius?", eu estava confusa. Pensei que eles só exerciam suas tendências perversas em suspeitos sonserinos ou em professores chatos. "Seus amigos Remus e Sirius?"

"Ah, sim, bem... não é nada perigoso, se você quer saber, só uma brincadeirinha para me vingar deles por—"

Sim, James… por que você está os punindo? Eu tinha uma idéia do porquê dele estar querendo se vingar de Remus, mas a mantive para mim mesmo.

James limpou a garganta e olhou para Peter, pedindo ajuda. Peter simplesmente deu de ombros e continuou quieto, forçando James a olhar para mim. Ele me olhou meio envergonhado, seu rosto se tingindo levemente de vermelho.

"Bem… por aquela besteira que Remus te disse sobre astrologia…"

Eu sorri. Sabia que era isso. "James… eu não acho que foi besteira. Remus parecia falar sério sobre o assunto".

James ficou ainda mais vermelho e baixou o olhar. "Bem… sim… é que eu esperava que ele não te envolvesse nessa besteira toda. Quer dizer, era óbvio que você iria pensar que eu acreditava naquilo e que tinha metido ele nessa história e—"

Eu neguei com a cabeça. "Não. Remus me disse que você não acreditava. Apesar, que, James, eu acho que você não deveria desacreditar completamente. Algumas das coisas por trás do zodíaco são bem verdadeiras", dessa vez, fui eu quem fiquei vermelha, pensando em todas as afinidades românticas que tinha lido estudando a relação potencial entre Sagitário e Aquário.

"Sim, talvez você esteja certa. Mesmo assim, para mim foi vergonhoso ver ele tentar nos juntar desse jeito… como se ele pensasse que eu não sou capaz de fazer as coisas sozinho…"

Eu olhei para ele com esperanças. Então por que você ainda não me chamou para sair, seu bobo? Você é um idiota, James Potter — um idiota insuportável, adorável e lindo…

Interrompi meus pensamentos e percebi que o quarto estava em um silêncio estranho. James me olhava de um jeito aterrorizado, ainda que determinado. Eu mordi o lábio, me forçando a sustentar o olhar.

"Lily, eu—"

"Sim, James…?"

"Bem… eu só não queria que você pensasse que eu sou idiota. Você sabe, por acreditar nessas coisas de estrelas. Para mim, a vida é o que a gente faz dela, e ninguém pode me dizer o que fazer ou por quem me apaixonar—"

As bochechas dele avermelharam e seus olhos se arregalaram pela súbita confissão, e eu senti meu próprio rosto aquecer de alegre timidez.

Ele levantou e começou a andar pelo quarto, os olhos fixos no chão. Cada movimento do corpo dele era hipnotizante, e eu me vi perdida no jeito dele andar. "Bom, como eu estava falando… é por isso que eu resolvi retornar o favor para o Aluado".

"E onde Sirius entra nessa equação?"

"Ha! Isso é o melhor!", James levantou o rosto de satisfação. "Ele estava rindo de mim o tempo todo e ainda se meteu para defender o Aluado!"

Hmmm... eu pensei. Muito interessante… talvez meu palpite esteja certo no final das contas…

"O que exatamente você vai fazer?"

Peter riu enquanto James explicou. "Nós vamos mostrar para eles o gosto do próprio remédio".

Uh oh... isso tinha que significar problema.

"Você quer dizer que vai juntá-los com alguma garota em que eles estejam interessados. Isso não me parece uma punição…".

"Ah, não. É muito melhor do que isso. Nós sabemos que o Remus realmente acredita nesse negócio de astrologia, certo?"

"Bem… sim".

"Então, Pete e eu estamos escrevendo horóscopos falsos para o Quill. Nós vamos fazê-los ficarem juntos!"

Eu tive que rir pela expressão de triunfo no rosto de James. Ele tinha se superado dessa vez.

"Vocês têm certeza de que isso vai funcionar?"

"Sim!", Peter disse, me entregando o pergaminho que ele estava segurando esse tempo todo. "Olha o que nós fizemos para amanhã".

Desdobrando o papel, eu li.

Esteja atento hoje, Áries. Uma conversa sincera irá ocorrer em um lugar de aprendizado com um bom amigo. Essa conversa pode levar a um romance, já que esse amigo tem uma paixão secreta por você. Será que você consegue fazê-lo revelar seus sentimentos verdadeiros? Talvez, se você perceber os sinais.

Eu ri. Aquilo era muito esperto, tinha certeza que Sirius iria acreditar. Oh, céus… de repente eu percebi. Eles estavam por trás daquele horóscopo terrível de ontem! Bem, pelo menos dessa vez eles usaram o Remus no lugar do Seboso Snape.

"Como vocês vão fazer isso funcionar?", eu perguntei.

"Simples", James riu. "Leia o próximo".

Um incidente recente e infeliz deixou um amigo magoado e confuso. Coloque sua diplomacia e seu encanto librianos em ação hoje e você pode fazer sua amizade alcançar novos níveis.

"Nós vamos falar para o Remus que o Sirius está chateado por causa de ontem e então vamos buscar o Sirius para que os dois conversem", Peter anunciou.

"Isso é brilhante", eu admiti. "Vingativo, mas brilhante".

"Então…", James sorriu, parecendo esperançoso. "Você quer nos ajudar? Você é muito inteligente, aposto que teria um monte de boas idéias".

Eu corei pelo elogio. "Bem…" Por um lado, essa brincadeira parecia má e insensível. Mas, por outro lado, se meu palpite estivesse certo sobre os dois amigos, eu achava que era minha obrigação e minha honra mostrar para os dois o quanto eles significavam um para o outro. Se eu estivesse errada, pelo menos nós iríamos rir da história toda, sem prejudicar ninguém. "Ok", disse finalmente, ganhando um grito de vitória e um abraço caloroso de James. Eu deveria concordar em ajudá-lo mais vezes, pensei quando ele se afastou.

"Bem…", eu disse, levantando da cama e andando até a porta. "Preciso me arrumar para o jantar. Vejo vocês lá?"

"Sim", James sorriu. "Ah, e… Lily?"

"Sim?"

"Você gostaria de sair comigo nessa sexta?"

Eu ri, triunfante. "Achei que você nunca fosse convidar!"


Obrigada pelas reviews, esperamos que vocês continuem acompanhando e gostando da história! Ah, e podem deixar reviews, a gente não morde.

Nota da Tradutora: tenho que deixar registrado que, como pseudo-escritora que sou, paguei um pau absurdo para esse POV do Peter. Há muitas fics que tendem a deixá-lo de lado quando falam dos Marotos. Essa foi a primeira vez que o vi ser aproveitado de verdade, e de um jeito absurdamente bem caracterizado. É por essas e outras que me sinto honrada por traduzir essa fic.

Nota da Beta: Eu juro que fiquei com dó do Peter! Juro!