Escrito nas Estrelas
por Dawnatello e Luna
tradução para o português: Calíope Amphora
betagem da tradução: Dana Norram
Capítulo Oito
POV DO REMUS
Me espreguicei languidamente em volta dos lençóis de seda da minha cama, desejando mais alguns momentos de descanso em paz. O sol já estava baixo no céu, brilhando fraco pelas janelas do dormitório e pintando tudo o que tocava com sua luz amarela. Coloquei a mão na frente do rosto, sentindo o toque de luz quente que banhava minha pele, iluminando as linhas claras dos meus dedos e as discretas cicatrizes causadas pelas noites de Lua Cheia.
Suspirando levemente, deitei de bruços, me aninhando na maciez da cama. Tinha sido um dia longo. Ontem — segunda — foram designandos nossos novos parceiros de Poções, e eu tive muita sorte, ficando com James. Fiquei espantado com a minha sorte. Achava que Scythe iria me colocar com alguém menos talentoso nessa matéria, já que ele não gosta muito de mim. Pobre James. Eu tinha que me ressentir por ele ser meu parceiro. Mas ele pareceu não se importar muito.
Nossa lição foi uma poção de ferormônio — uma poção simples, que durou apenas alguns momentos, mas deixou uma fragrância de atração. Eu achei a matéria meio esquisita, como comentei com James. Se poções do amor são contra as leis, por que estavam nos ensinando seus passos básicos?
"É simples, Aluado", James respondeu. "Nós somos adolescentes, e eles devem estar querendo deixar a aula interessante. Tenho certeza que Dumbledore está por trás disso".
Concordei. Tinha certeza de que Scythe não se importava nada com nossas vidas amorosas. De qualquer modo, era grato a ele por essa lição, pois me fez ter uma conversa muito interessante com James, começando com paixões da escola (e aí ele admitiu que minha conversinha com Lily não tinha sido nada ruim) e terminando com uma conversa sobre preferências sexuais e os efeitos dessas escolhas na sociedade moderna. Foi uma das conversas mais inteligentes que eu tive em muito tempo, apesar do fato de nós sermos interrompidos de tempos em tempos por xingamentos altos e insultos vindos da direção do caldeirão que Sirius dividia com Snape.
Oh, uau...
Lembrei de uma coisa enquanto deitava na cama, abraçado com o travesseiro. Meu horóscopo tinha dito que eu teria uma conversa intelectual com um bom amigo com quem eu estivera brigado. Como isso provou ser verdade! Nunca, em todos meus anos estudando astrologia, eu vira uma previsão tão afinada com as minhas atividades diárias. Talvez tenha sido só coincidência. Ou talvez quem escreveu esse horóscopo sabia bem o que estava fazendo.
O que quer que fosse, eu não tinha conseguido ver a previsão de hoje para verificar a sua validade, pois meu jornal desapareceu misteriosamente depois do café da manhã. Na verdade, eu estava morrendo de curiosidade para ver o que ele diria para hoje, mas teria que esperar para perguntar aos meus amigos se eles tinham visto meu exemplar do Quill.
Estava com tanto sono depois de um longo dia de aula que decidi não pensar nisso. Me ajeitei na cama, puxando o lençol até o queixo para um cochilo antes do jantar. Tinha acabado de fechar os olhos quando Peter entrou no quarto.
"Remus!", ele gritou, ofegando como se tivesse corrido por todos os lances de escada. "Remus, você está dormindo? Preciso falar com você!"
Suspirando, esfreguei os olhos e sentei. "O que foi, Peter?"
"Eu… bem…", ele pareceu pensar no que iria falar por um momento. Eu estava um pouco irritado por ser perturbado, mas sentei calmamente e esperei pela resposta. "A professora Nebula nos colocou com novos pares, e eu fiquei com aquele sonserino, Evan Rosier".
"Sim", eu sorri em tolerância. "Eu sei, eu estava lá".
"Ah... é. Bem, ele quer que eu faça nossa lição de casa sozinho — você sabe, aquele mapa das estrelas — e ele me disse que se eu for mal, ele vai esfregar o chão comigo!"
Balancei a cabeça. Que efeito aqueles nojentos sonserinos tinham no pobre Peter. Não entendia por que eles não escolhiam alguém com quem pudessem brigar de igual para igual. Porque isso é muito mais fácil, me lembrei. Pessoas assim não estão procurando por um desafio intelectual, simplesmente querem inflar os próprios egos. Era triste, na verdade…
"E eu pensei… bem, já que você é tão bom em Astrologia… talvez você pudesse me ajudar?"
Havia uma expressão pidona no rosto de Peter que eu simplesmente não podia resistir. Odiava a idéia de ajudar Rosier, o amigo do Snape, a tirar uma boa nota, mas não iria prejudicar Peter por causa disso.
"Claro, Rabicho. Deixa eu só pegar alguns livros…"
"Ótimo! Obrigado, Aluado! Você não vai se arrepender!"
Olhando para a minha cama quentinha, eu não tinha tanta certeza disso. Mas pensei que valia a pena para ver Peter feliz.
— x —
A biblioteca não estava muito cheia, já que a maior parte das pessoas estava ou brincando no sol ou desfrutando de sonecas no meio da tarde, como eu deveria estar fazendo. Mesmo assim, ficava feliz em ajudar Peter. Ele vinha tendo problemas na maioria das matérias, pois tinha aberto mão de muito tempo livre para estudar a transformação de animagus com James e Sirius. Achei que essa era uma chance de recompensá-lo.
Sentamos à mesa no fundo da sala, e revirei minha mochila procurando o livro apropriado. "Astrologia e o Futuro" acabou caindo junto com "Mapas de Estrelas — Olhando para o Amanhã", e eu lancei um olhar para a capa do livro. Fiquei sabendo ontem que James finalmente tinha tido coragem de chamar Lily para sair, e estava orgulhos por — pelo menos em parte — ter ajudado. Sorri, sabendo que tinha sido aquele livro que começara a história toda.
Interrompi meus pensamentos e coloquei o livro de volta na mochila, abrindo os mapas das entrelas. Peter me acompanhou de perto, olhando para as páginas nervosamente.
"Aluado… eu não sei direito por onde começar…"
"Você se lembra da lição do ano passado, quando nós tivemos que desenhar as constelações?"
"Sim… mas é que James… meio que fez aquilo para mim".
Eu suspirei. Odiava quando James e Sirius completavam as lições do Peter. Sabia que eles estavam tentando ajudar, mas como eles esperavam que Peter aprendesse alguma coisa, sem falar passar nos exames de magia, se ele não fizesse as lições sozinho?
"Certo... vamos pegar um pergaminho para praticar, está bem?"
Eu apontei para a página 23. "Está vendo esse exemplo? Por que você não copia e vê se consegue desenhar outras constelações a partir das notas que você fez na outra aula?"
Observeio-o trabalhar, fazendo caretas para o livro enquanto desenhava linhas e pontos no pergaminho. Ele desenhou por algums minutos e me mostrou, parecendo preocupado que eu fosse reprová-lo.
"Ei, está muito bom!", eu assegurei. Viu, Peter? Você consegue fazer sozinho!
"Hmmm... olha, aqui está Orion e Scorpio... ah, e Cão Maior — muito bom. Hmmm... você talvez devesse reposicionar um pouco. A ascensão direita tem que estar às sete horas, você está vendo?"
Peter se inclinou na mesa para ver os ajustes que eu estava sugerindo. "Mas você colocou todas as estrelas em ordem — Murzim, Muliphen, Wezen, Sirius¹..."
"Falando em Sirius…" Peter me cortou.
"Sim? O que tem o Sirius?"
"Você falou com ele hoje?"
Pensei naquilo por um instante. "Bem… ele estava nas aulas de Feitiços e de Adivinhação, mas, pensando bem, não. Não falei com ele a tarde toda".
"Nem eu". Um ar de nervoso pareceu dominar Peter, e eu parei minha leitura para olhar para ele.
"O que foi, Rabicho? Está pensando em alguma coisa?"
"Não… é que… bem. Eu o vi reclamando sozinho mais cedo quando ele achou que ninguém estava olhando. Acho que ficou magoado porque nós rimos dele por causa do Snape. Ele ainda parecia chateado".
Sirius parecia mesmo meio aborrecido esses últimos dias.
"Você tem certeza?"
Peter assentiu vigorosamente. "Sim. Na verdade, acho até que o vi chorando!"
"Sirius?", realmente, aquela era uma surpresa. "Bem… talvez eu devesse ir falar com ele, me certificar que está tudo bem".
"Eu vou chamá-lo para você!", Peter fechou o livro e levantou, aparentemente feliz por uma desculpa para abandonar os estudos.
"Mas… e o seu mapa das estrelas?"
"Bem... eu… uhhh... acho que você já me ajudou bastante. Consigo terminar sozinho agora".
"Se você tem certeza…", eu disse ceticamente.
"Sim!", ele respondeu entusiasmado. "Eu vou chamar o Sirius. Espere aqui".
Ele saiu da sala correndo, o que lhe rendeu um olhar cortante da bibliotecária. Eu continuei sentado e o vi sair, confuso pelo comportamento estranho.
— x —
POV DO SIRIUS
Eu descobri há anos a melhor maneira de lidar com uma cabeça cheia: andar! Eu sempre tive um excesso de energia. Claro, essa explosão de energia e meu alto metabolismo me são muito úteis em certas ocasiões, como nos jogos de Quadribol, nas brincadeiras e durante as excursões noturnas… Meu problema sempre foi que minha mente costuma ser tão 'energética' quanto meu corpo. Os pensamentos voam pelo meu cérebro como muitos pomos dourados, e às vezes é um pouco difícil para mim organizá-los. Nessas horas eu simplesmente vou caminhar.
Andar limpa minha cabeça. Eu me concentro apenas no caminho na minha frente e consigo relaxar e apreciar a sensação de sentir o chão sólido sob meus pés. James é um pouco parecido comigo nesse sentido. Quando está nervoso ou precisa liberar alguma energia extra, ele se ocupa com alguma coisa. Mas, se não tiver nada para fazer, ele vai para o ar. Voar é legal — eu gosto muito, mas… para mim, nada se compara com a satisfação de sentir a cada passo meus problemas se distanciarem.
Eu disse isso para o Aluado uma vez e ele me presenteou com um de seus sorrisos tímidos e disse: "A mim parece, Almofadinhas, que psicologicamente você gosta de andar porque está 'escapando' dos seus problemas em um sentido bem palpável". Eu lembro que não gostei muito dessa explicação, porque por ela parece que eu estou fugindo ou relutando em encarar meus problemas, e eu definitivamente não sou um covarde.
Na verdade, os problemas geralmente não me acham, eu que encontro os problemas. Acho isso bastante esclarecedor. Disse isso a Remus em resposta e ele apenas deu de ombros, "Não, não quis dizer nada negativo, Sirius. Eu sei que você é muito corajoso — aliás, me desculpe, mas até demais. Acho que... bem, talvez você seja viciado em adrenalina, então". Ri e respondi, "Talvez você seja um psicólogo louco". Ele riu e disse que eu tinha razão. Essa é uma das coisas que admiro no Aluado. Enquanto nós odiamos que essas coisas envergonhantes sobre nós sejam ressaltadas, o Aluado, reservado do jeito que é, honestamente admite suas pequenas excentricidades. Como… admitir a obsessão por astrologia, por exemplo! Ele não se absteve em nos dizer que acreditava nisso.
Mas, deixando de lado as divagações… justificativas e motivos à parte, aprecio muito minhas caminhadas porque adoro explorar áreas escuras e secretas do castelo, andar ao redor do lago, ir escondido até Hogsmeade e me arrastar até o Salgueiro Lutador para acompanhar as transformações do Aluado. Adoro essas coisas, especialmente quando estou acompanhado por um ou mais dos outros marotos. Hoje estava sozinho, mas era melhor assim, pois ainda tentava superar minhas frustrações causadas pelos últimos dias.
Ontem foi um dia terrível! Poções! Gaaah! Quer dizer, admito livremente que não sou um aficionado por poções. Minhas notas são muito boas, na verdade, mas… mesmo assim, não gosto dessa aula. Todas aquelas bolhas e ter que ficar olhando o caldeirão e cortando os ingredientes e medindo — é praticamente como cozinhar! Não que eu tenha algo de errado em cozinhar, sou amante da comida, adoro os resultados da culinária. Se puder escolher, prefiro milhões de vezes comer a preparar… mas, mesmo assim… Ahhh, lá vai minha mente de novo! Eu comecei falando de Poções e vou acabar discutindo comida. Pareço o Peter. Tudo o que importa para ele é comida.
Ok, então, o que eu vou explorar hoje? Hmmm… o corredor — é um bom lugar para começar. Suspirando, virei no final do corredor, contando os quadros enquanto passava, acenando para alguns rostos amigáveis. Esses quadros estavam acostumados a me ver passar por eles correndo, andando, vagando e até pulando — lembrança terrível. O James ficou com raiva de mim porque eu estava caçoando da sua terrível tentativa de fita de Wronski e me jogou um feitiço do pulo por dois dias. Que vergonha que foi aquilo!. Me perguntei como deveria ser ter que viver preso dentro de um quadro. Céus… que horrível ter sua liberdade arrancada desse jeito. Não deve ter nada tão terrível.
Na minha frente, um garoto ruivo — acho que do segundo ano — escrevia furiosamente em um pergaminho. Aparentemente estava insatisfeito com sua resposta, porque ele murmurou e riscou o que tinha escrito. Observei enquanto me aproximava e ele me viu, uma expressão aborrecida no rosto.
"Ah, me desculpe", murmerei pelo jeito que ele me olhou. "Não queria te atrapalhar".
"Não, tudo bem. Não é você. É essa… maldita lição de casa. É impossível!", ele riu e então se levantou, me mostrando.
"Poções!", eu disse, rindo. Que coincidência que minha mente estava ocupada com considerações dessa matéria terrível.
"Sim, Poções", ele reclamou. "Eu realmente… urrgghh... bem, de qualquer modo, me ignore. Desculpe, só estava um pouco irritado".
"Umm... você pode tentar adicionar um pouco de soporificus", sugeri. "Essa é uma poção do sono, não é?"
Ele concordou com a cabeça, os olhos brilhando enquanto relia a página. "SIM! É claro. Eu deveria ter pensado nisso! Obrigado… Sirius, né?"
Ele sabia quem eu era. Eu inflei. Um fã de quadribol, é claro! "Sim, isso mesmo. Você deve ser fã de quadribol, então".
Ele riu e negou. "Não, na verdade eu conheço bem pouco. Quem gosta é o meu irmão, Charles! Eu te conheço porque você é da Grifinória, como meu irmão e eu. Eu me chamo Bill Weasley, aliás²".
Senti meu rosto ficar vermelho de vergonha pela minha presunção do quadribol, e estendi a mão. "Prazer te conhecer, Bill".
Ele assentiu e eu suspirei. "Na verdade, também não sou muito fã de Poções. Especialmente depois de ontem".
Ele me olhou, curioso, e eu apenas ri e balancei a cabeça. "Não importa. Bom, eu já estou indo. Boa sorte com a sua lição".
"Prazer te conhecer também, Sirius. Obrigado pela ajuda! E boa sorte na próxima partida!"
Eu sorri e voltei a andar. Poções… uma das aulas que eu mais odiava e, agora, para fazê-la ficar trilhões de vezes pior, tinha ficado de parceiro do… Snape! Senti meus punhos se fecharem ao lembrar do desastre que tinha sido a aula de Poções do dia anterior.
A expressão no rosto do Snape quando ele entrou na sala e soube que teria que ficar comigo quase fez valer a pena. Seus lábios se curvaram em uma careta e seus olhos se arregalaram pela surpresa, as sombrancelhas tão levantadas que quase encontraram com os cabelos na testa. "O quê! O que é isso!", ele gaguejou antes de recuperar seu tom controlado. "Professor Scythe, eu vou ter que ficar com o Black?"
Scythe assentiu, sorrindo diabolicamente, e Snape se voltou para mim. "Não me olhe assim", eu murmurei. "Acredite, também não estou celebrando o fato de que nós seremos 'colegas de caldeirão', Snape".
Ele resmungou enquanto se ajeitava na mesa e tirava a mochila das costas, batendo o ombro na divisória. Eu escondi um sorriso quando ele me encarou. Dando de ombros, empurrei o caldeirão para o meio da mesa. Pelo menos uma barreira entre nós.
"Black", ele murmurou, "Eu não sei o motivo disso, mas fique sabendo que se você sequer respirar errado em um dos ingredientes ou das poções, eu vou te fazer desejar que estivesse morto. Eu levo essa aula muito…"
Ele pausou e eu suspirei, revirando os olhos. "… a sério", eu terminei.
Ele fez uma careta e eu me inclinei para frente. "Não se preocupe, Sevy-baby, como eu disse, não estou mais feliz com isso do que você, mas estimo muito minhas notas escolares…"
Ele interrompeu minha frase com um som esquisito que eu imaginei ser sua versão de uma risada. "Não sabia que vocês grifinórios se interessavam por questões acadêmicas quando há coisas muito mais interessantes para fazer, como brincadeiras idiotas, jogar quadribol e seduzir garotas".
"Você esqueceu de torturar sonserinos, seboso…"
"Ah, que comecem os xingamentos!", Snape cerrou os dentes.
Eu abri a boca para responder, mas ele me irritou ainda mais ao dizer "Não deixe sua mente divagar, Black. Ela já é pequena demais para ser abandonada desse jeito".
Então era isso! "Seu grande seboso, imbecil, monte de…"
"Nossa! Seu vocabulário está cada dia mais rico".
"Lesma sonserina…"
"Sirius Blackhead…"
"Cavalheiros! Parem com isso. Dez pontos a menos das duas casas!" Scythe anunciou.
O rosto de Snape ficou num tom nauseante de verde e eu mordi a parte de dentro das bochechas para me impedir de responder para Scythe. Como ele ousava! Foi ele quem nos colocou juntos, sabendo muito bem o que esperar da nossa… argh!… 'parceria'!
Então, para fazer o que já era terrível ainda pior, Scythe anunciou que nós iríamos fazer poções de ferormônio! Eu quase morri! Senti meu estômago revirar e minha mente paralisou diante do medo de algo sair errado com os ingredientes e Snape acabar se apaixonando de mim! Por Merlin — eu juro, eu penduraria uma varinha na minha cabeça! Ou… céus… ainda pior… e se eu… não… não podia nem considerar isso. Minha própria mente recusou o assunto. E então, como se algo extremamente pesado tivesse caído em cima do meu peito, eu me lembrei daquilo… daquele… daquele horóscopo. Não, é melhor, horror-scopo sobre um certo sonserino narigudo... aaaarrgghhh!
"Black! Você está ouvindo, seu imbecil?"
"O quê! O que foi?", eu resmunguei, fulminando Snape com o olhar.
"Eu disse… você extrai as glândulas do verme cego".
"Eu acho que não! Por que eu tenho que fazer isso? Faça você. Você está acostumado a lidar com vermes, afinal…"
O resto da aula seguiu basicamente do mesmo jeito 'glorioso'. Eu estava morrendo. Uma hora eu coloquei a cabeça por cima da divisória, tentando espiar James e Remus. É claro, eu não consegui, mas podia ouvi-los conversando alegremente e tive que suprimir a inveja dentro de mim que quase me fez querer chorar alto.
Nunca fiquei tão feliz na minha vida inteira por ver uma aula acabar.
Estava perdido nos meus pensamentos quando Peter correu na minha direção. "S… Sirius!", ele gritou, o rosto vermelho pelo esforço.
"O que foi, Pete? O que está errado? Aquele rato do Rosier — ah, foi mal — bem, ele está implicando com você de novo?"
"Não, não, está tudo bem. É só o Remus…"
Eu me senti em pânico e olhei para Peter. "O que aconteceu com o Remus?"
Peter parou por um segundo e depois disse. "Não Sirius. Credo, calma. Estou bem, Remus está bem, e tenho certeza que onde quer que o James esteja, provavelmente com a Lily, ele está…"
"Rabicho! O que aconteceu com o Remus?"
Peter inspirou fundo e apontou. "Ele está na biblioteca. Quer falar com você".
Eu dei um passo para trás. "Ah, ok. E está tudo bem?", Remus geralmente não manda avisos pelos outros. Não entendia por que ele tinha mandado Peter me buscar.
"Sim, está tudo bem. Ele só está… você sabe, na biblioteca e não queria sair de lá, então eu disse que eu tinha que ir embora e… ummm... acho que ele está sentindo sozinho, porque ele pediu para que eu te pedisse para ir lá caso o encontrasse".
Franzi a testa em confusão. Nada disso parecia com o Aluado. Remus gostava do seu tempo sozinho. Ele adorava mesmo. Muitas vezes já o tinha encontrado sozinho no canto da biblioteca, feliz com o rosto escondido atrás de um livro.
"Você vai?", Peter perguntou.
Por que ele se importava com isso? Mesmo assim… "Sim, eu vou. Obrigado, Pete".
— x —
Encontrei Remus sentado, como eu imaginava, em um canto quieto da biblioteca — o canto favorito dele, na verdade. Desde o nosso primeiro ano, ele sempre gostava daquele lugar. Acho que ele gostava por ser ao lado da janela. Ele freqüentemente colocava os estudos de lado para olhar para fora por longos momentos, deixando o resto de nós imaginando o que se passava por aquela cabeça.
Andei até ele em silêncio, sorrindo pela cena. Ele parecia tão jovem sentado lá — a cadeira parecia ser grande demais para ele, mas também… correta. Ele sentava com um joelho dobrado na cadeira enquanto sua língua corria pelo lábio inferior, uma mão apoiando a cabeça de lado enquanto a outra mão seguia as linhas do livro que ele lia. Ele parecia tão tranqüilo e contente — e... hmmmm... nada sozinho, Peter! — que eu quase me arrependi por perturbá-lo.
Ele pareceu perceber a minha aproximação, porque rapidamente olhou para cima. Hmm... Ele deve ter sentido a minha presença. Às vezes esqueço que ele tem essa habilidade. Minha preocupação em atrapalhá-lo foi extinta com o sorriso caloroso que ele me deu, apontando a cadeira vazia de frente para ele.
"Oi, Almofadinhas!"
Sorrindo, sentei na frente dele, admirando o jogo de luz contra sua pele. "Oi, Aluado. Tudo bem?"
Ele sorriu, parecendo meio confuso. "Sim, claro. Por que a pergunta, Sirius?"
"Oh... ummm... por nada. Você não está se sentindo sozinho nem nada assim, está?"
Ele riu, aquela risada gentil que iluminou seu rosto. Me vi sorrindo de volta.
"Sozinho? Claro que não!"
"Ok. Isso é bom".
O silêncio nos envolveu até que ele se esticou na mesa para colocar uma mão no meu braço. Eu olhei para ele, mas ele não disse nada por longos minutos. Apenas sorriu para mim e… de alguma forma, acolhido pelo calor daquele sorriso, eu relaxei, relaxei de verdade, pela primeira vez em dias.
"Sirius", ele finalmente murmurou, seus olhos de mel queimando na luz turva. "Me desculpe se nós te magoamos por causa daquele… horóscopo".
Eu sorri. Céus, ele estava se preocupando com aquela coisa estúpida de novo! Espera aí, Sirius. Admita — você ficou atormentado. Tanto que você pegou o exemplar do Quill do Remus essa manhã e o escondeu, antes que pudesse ser vítima de outras brincadeiras por causa do horóscopo. Olhei para Remus enquanto ele me lançava um olhar penetrante. Eu suspirei e balancei a cabeça, finalmente respondendo. "Ah, Aluado, está tudo bem. Você sabe… se tivesse sido o horóscopo do James e não o meu, eu teria explodido de tanto rir. Não posso te culpar, e nem a nenhum de vocês, por rir às minhas custas. Mas, é óbvio, James deve ter achado hilário ontem quando descobriu que nós faríamos poções do amor na aula… e lá estava eu, nariz com nariz com o Snape!"
Remus riu, balançando a cabeça, e murmurou, "Mesmo assim… Sirius, você sabe que eu nunca teria a intenção de ser cruel ou tentaria caçoar de você, certo?"
Eu encarei seu rosto aberto e doce e… senti meu coração contrair. Céus, o que estava acontecendo? "Ummm...sim", eu consegui responder. "É claro..."
"Que bom. Porque, Sirius, eu realmente gosto muito do seu… carinho por mim, da sua amizade. Não consigo imaginar minha vida sem você ser parte dela. Não posso imaginar um dia sequer sem suas brincadeiras bobas, seus sorrisos e suas conversas…"
Ele parou, seu rosto corando, e eu engoli a seco. O que ele estava tentando me dizer? E o que meu próprio coração estava tentando me dizer?
"Bem", eu comecei, "Eu sinto o mesmo. O que seria de mim sem o doce, calmo e sensato Aluado para me ajudar a manter minha cabeça no lugar?"
Eu fiz uma careta. Minha confissão não me pareceu tão sincera quanto a dele, então tentei de novo.
"Remus, me importo muito com você e sei que você nunca iria querer me magoar. Não se preocupe com isso. E, como você, eu nem quero pensar em algum dia em que não possa ver seus olhos brilhantes e felizes, rir do seu senso de humor irônico, ver seu sorriso luminoso ou ouvir sua risada suave. Eu gosto muito de passar meu tempo com você, Aluado. Você é meu… parceiro!"
Seus olhos se arregalaram pelas minhas palavras e eu percebi as implicâncias daquela frase para ele — ele era, no final das contas, um lobo e 'parceiro' significa algo bem diferente para lobos. Céus… como eu era estúpido! Agora ele acha que eu estou flertando com ele… Bem… talvez eu esteja… aggghhh... não, não posso pensar nisso. Pare, Black!
Tentando dispersar a tensão entre nós, agi como sempre faço — mudei de assunto. Levantei da cadeira e o puxei pelo braço. "Vamos, Aluado. É quase hora do jantar! Vamos encontrar os outros antes de irmos". Parceiro, eu não acredito que chamei o Aluado de meu parceiro!
Ele continou me olhando, mas finalmente sorriu e concordou. Com uma piscada, ele saiu correndo. "Vou chegar na frente!"
Aí está meu brincalhão Remus! "Ah, não vai, não", gritei, correndo atrás dele e ignorando a expressão da Madame Pince quando nós saímos.
Corremos rápido, um passando o outro, quase atropelando um monitor da Corvinal que tentou tirar pontos da nossa casa por corrermos no corredor. Mas, como estávamos voando, duvido que ele tenha tido tempo de perceber de que casa nós éramos.
Assim que pensei nisso, eu gritei, "Desculpe. Estamos tentando chegar na nossa sala comunal da Sonserina!". Pronto! Talvez a Sonserina perca pontos!
Quando chegamos nas escadas da Torre da Grifinória, disparei na frente de Remus, rindo. Aí o ouvi me chamar, ofegando atrás de mim.
"Sirius! É o meu Quill esse que está na sua mochila! Procurei por ele o dia inteiro! Por que ele está com você?"
Droga! Tinha sido pego em flagrante!
Eu dei de ombros. "Talvez seja, talvez não. O fato é que, se você o quer, vai ter que me pegar e arrancá-lo de mim!" Céus, olha a ambiguidade dessa frase! O que estava acontecendo comigo!
Remus gargalhou e começou a me perseguir. Eu ri, sentindo uma alegria insana, e continuei correndo com direção ao nosso quarto. Segurei minha varinha e gritei "Alohamora", me jogando para dentro da porta agora aberta.
Remus estava logo atrás de mim. Com um grito de triunfo, ele me segurou, me empurrando contra a cama enquanto caiu por cima de mim, tentando alcançar o jornal.
Eu ri e balancei a cabeça, o segurando pela cintura magra. "Ni-na-não!"
Ele franziu a testa, subindo por cima de mim, e então… céus, ele endireitou o corpo, como eu também fiz, e se arrumou em cima de mim, seus olhos abertos em um profundo e hipnotizante mel dourado… lindo. Senti sua respiração macia, leve e quente contra meu rosto e senti seu peso leve enquanto ele deitava sobre mim, seu tórax comprimido contra o meu. Era tão bom ter ele assim…
Eu engoli em seco, mergulhado em sensações que logo se espalharam pelo meu corpo. Céus… eu agora sabia… isso… isso era o que eu queria há tanto tempo. Não conseguia acreditar e menos ainda admitir para mim mesmo, mas eu reconhecia atração e desejo quando os sentia. E agora… ah, eu os sentia. Eu queria Remus…
Ele mordeu o lábio, os olhos semi-cerrados — tão lindo! — e se inclinou para mais perto. Sim, só um pouco mais perto, por favor…
Então, passos no corredor — droga! — e, com sua graça e agilidade típicas, Remus levantou, arrumando suas roupas, somente suas bochechas vermelhas denunciando nossos atos de segundos antes…
NdT:
¹Sirius é o nome de uma estrela da constelação de Cão Maior.
²Como explicado no primeiro capítulo, essa fic é meio antiga e alguns de seus aspectos não têm mais coerência com os livros. Sirius, assim como o resto dos Marotos, estudou em Hogwarts de 1971 a 1977. Bill Weasley (na gloriosa tradução brasileira ele é o Gui) esteve na Grifinória de 1982 a 1988, e, Charlie, de 1984 a 1990 (as informações são do HP-Lexicon). Por isso, seria impossível o Sirius trombar com o Bill no meio do corredor. Mas relevem — provavelmente a Rowling ainda não tinha divulgado a idade desses dois Weasley quando a fic foi escrita.
Nossos agradecimentos de sempre a todo mundo que deixa comentários para a fic, é muito legal saber que vocês estão curtindo tanto quanto a gente.
Nota da tradutora: ah, mas que hora para alguém interromper, não? E acho que o Sirius é a única pessoa do mundo que chamaria o Snape de "Sevy-baby" (rs).
Nota da beta: Colegas de caldeirão! AMEI ISSO!
