J.J – Olha só, uma atualização! N.N ;; Acho que isso se deve porque é a minha primeira vez postando no ff. Net, eu estou toda boba então senti a necessidade de atualizar mais rápido. Fico pensando em quando é que isso vai parar... .

Mel – É, acabei atualizando antes do que planejara porque fiquei doente na terça e faltei aula, então deu para adiantar bastante. Bom para vocês, que obtiveram o capítulo antes do tempo programado, e ruim para mim, que ainda estou com a garganta ardendo. Ah sim! Uma boa notícia, minha mãe liberou para mim duas horas diárias no computador, ao invés de só no final de semana; mas só vou poder traduzir bem mesmo quando passar a semana de prova.

Pyoko-Chan – A história original não está completa ainda e atualmente está no sexto capítulo.

Blackrey – Isso é provavelmente porque ainda não deu tempo. Espera mais um pouco que ele aparece.

MisSsMoOnY – Não posso te culpar sabe? Fiz a mesma coisa quando li a tradução de Soulmates e Thief!


Capítulo Três

O Feio, o Rico e o Mais Rico

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Os dias estavam lentamente se moldando em padrões, como normalmente ocorre quando se tem um típico trabalho de limpeza. Keiko e Shizuru gentilmente a ajudaram com qualquer obstáculo ou dúvida que teve. As três garotas estavam se tornando amigas íntimas rapidamente. Elas davam risadinhas e fofocavam todas as vezes que encontravam-se nos corredores, e Botan já havia até escorregado as duas para seu quarto para uma festa-do-pijama secreta.

O tal 'último andar' era igualzinho aos outros lugares que ela já limpara, embora um pouco melhor. Botan tinha ficado nervosa na primeira vez que pisou no banheiro de Hiei para limpá-lo, mas teve a agradável surpresa de encontrá-lo decente. A mesma situação ocorreu em seu quarto. Nada fora do lugar, ela só precisou trocar os lençóis, arrumar a cama e passar o aspirador.

Depois de sua breve entrevista, Botan só pegava visões rápidas de Hiei por todo o último andar. Ele permanecia quieto e frio, mas constantemente presente. Contudo, presente não significa necessariamente sociável. Ele basicamente a ignorava se estivessem em uma sala juntos, mas ela estava simplesmente muito feliz para retribuir o favor.


"Botan, querida, você não usou essa camisa na segunda?"

Era quarta-feira e Shizuru nunca foi dessas que adoçavam declarações. A garota suspirou e traçou a bainha incomodada. "Sim. Eu sei que parece horrível, mas estou acostumada a ter vários uniformes providenciados. Meu guarda-roupa não é muito adequado e eu não posso fazer compras até receber meu primeiro salário."

"Botan," Shizuru disse cuidadosamente. "Você sabe que isso só é daqui a duas semanas e meia, né?"

Botan gemeu e enterrou a cabeça em um dos travesseiros de Keiko. "Eu sei!"

"Sua garota boba," Keiko disse com um tapa brincalhão em seu ombro. "Nós vamos te levar às compras!"

"Nós vamos?" Shizuru repetiu. Ela nunca foi daquelas que andavam à toa no shopping.

"Claro. Você pode nos pagar mais tarde. Nenhuma garota merece ficar um só dia sem um guarda-roupa apropriado."

Shizuru bufou e revirou os olhos, mas Botan encarava-a com olhos esperançosos. "Sério? Vocês fariam isso por mim?"

Keiko pareceu ofendida só por ela ter feito tal pergunta. "Ora! Nós somos suas amigas – claro que faríamos!" Deu risadinhas antes de bater de leve em seu queixo pensativa. "Que tal sexta de tarde? Yusuke tem tempo para nos levar nesse dia."

"Kurama também costuma ter essa tarde livre," Botan adicionou excitada. Tornara-se íntima do assistente ruivo da mesma forma que havia feito com suas companheiras de limpeza. Passar o dia com eles seria uma saída encantadora.

"Ótimo!" Keiko juntou suas mãos. "Vamos nos planejar, então."


A tentação a estava matando.

Ela simplesmente tinha que ligar aquela T.V. Já trabalhava lá por um pouco mais de uma semana e não vira ninguém nem parecer que queria assistir. "Mil dólares jogados pelo ralo abaixo."

Botan suspirou e balançou a cabeça, colocando as mãos na cintura. Era irônico que as pessoas mais esbanjadoras eram aquelas com mais dinheiro. Ou ter muito dinheiro tornava-nas esbanjadoras? Era como se ser pobre pudesse tornar uma pessoa cuidadosa em relação aos assuntos financeiros?

Ela não tinha certeza, mas sabia que se acontecesse de funcionar dessa maneira, teria que ser classificada na categoria dos pobres e cuidadosos com o dinheiro. E isso significava que uma televisão de plasma não iria ficar sem uso.

A garota andou nas pontas dos pés até a porta da sala de conferência e colocou a cabeça para fora, olhando para os dois lados do corredor. Ninguém por perto. Não havia realmente superado sua contínua 'consciência do Sr. Jaganshi'(1).

Satisfeita, ela retornou a sala e tirou o controle remoto de cima do criado mudo. Botan ergueu uma sobrancelha aos complicados botões. Não sabia o que metade deles significava, mas pelo menos possuía conhecimento tecnológico suficiente para reconhecer os botões que realizavam as trocas de canais e ligava e desligava o aparelho. Posicionou a ponta do dedo em cima daquele que era grande e vermelho. Ela olhou para tela e tomou fôlego antes de empurrá-lo.

A T.V. veio à vida com um estrondo quando um desenho do Looney Tunes apareceu. Era o Coiote e o Papa-léguas. Os lábios da garota tomaram uma forma incomum por divertimento. Quem quer que tenha assistido por último obviamente gostava de desenhos. Ela viu por um minuto, dando risadinhas quando ouviu o familiar 'Meep! Meep!' do Papa-léguas. E quando Coiote tentou jogar um piano em cima dele, Botan achou-se pulando no momento em que ele quebrou na estrada fictícia. Parecia que havia aterrissado bem ao seu lado.

"Uau. Bom sistema de som."

Decididamente impressionada, ela começou a trocar os canais. Botan desejou que estivesse passando algo com Meg Ryan, mas parecia que hoje não era seu dia de sorte. Já passara por quase todos os canais (em torno de 500 e nada que prestasse) quando chegou a uma novela que gostava.

Ela ajeitou-se confortavelmente eu um dos sofás, preparada para assistir um episódio de uma hora de duração que acabava ás seis.

"Robert, eu imploro. Escute-me. Eu te amo. . . Nós podemos passar por isso."

Botan suspirou. Será que Martha não sabia que Robert a traía com sua irmã mais velha?

"O que está fazendo?"

Estranho. A voz de Robert soou suspeitamente igual. . .

Ah não.

Ela virou-se devagar em direção à porta. Hiei estava encostado contra o batente de uma maneira que seria casual, se não pudesse ver a forma tensa e confiante que seus braços estavam cruzados em frente ao peito. Fora a isso, ele não parecia muito zangado. Ainda.

Botan decidiu não agir culpada, ou temerosa quanto a continuação de seu emprego, ignorando o fato de que sentia os dois. "Me desculpe. Você tem alguma companhia? Você precisa dessa sala?"

"Não. Somos só eu e você aqui em cima."

Esse comentário trouxe uma agitação esquisita para seu estômago. Ela fez seu melhor para por uma cara semi-interessada. "Percebo. Você quer ver T.V.?"

Os olhos dele se estreitaram e quase que Botan deixa seu comportamento calmo escorregar, mas manejou para manter sua expressão neutra. "Não," ele disse devagar. "Eu não desperdiço meu tempo com televisão."

A garota encolheu os ombros e voltou-se para a tela. "Não é uma perda de tempo tão grande. Pode ser muito educativa." Hiei só encarou sua cabeça virada, então ela inclinou-se de volta e olhou-o novamente. "Você não acha?"

"Claro," o outro disse sarcasticamente. "Sempre que alguém liga uma, vou ler um livro."

Ela lutou para manter a cara séria. Nunca podia afirmar se ele estava tentando ser engraçado, ou se era e simplesmente não percebia. A garota sorriu bondosamente. "Bem, eu odiaria te deter do seu valioso tempo de leitura."

E voltou a assistir, esperando que ele fosse embora – sem despedi-la. Botan ficou surpresa, e um pouquinho horrorizada, ao vê-lo tomar o sofá ao seu lado. Ela não disse nada, mas podia sentir que estava ficando ansiosa. Tentou concentrar-se em Marie e Robert, porém era difícil com Hiei só a um criado-mudo de distância. Ele sempre era o auge das atenções em qualquer sala que estivesse.

"Um dia," Hiei disse, mantendo os olhos na tela. "Um dia eu realmente vou me zangar com você."

Botan não sabia se ficava feliz por ele não estar zangado agora, ou se temia o dia em que expressaria sua raiva. Não pode pensar em nada para dizer, mas Hiei falou novamente em seu lugar, "O que é isso, de qualquer forma?"

"Tardes da Nossa Vida."

Ele nem ao menos tentou suavizar a voz quando declarou bruscamente, "É possivelmente a coisa mais estúpida que eu já vi."

Dessa vez ela não conseguiu evitar que uma pequena risada escapasse. Hiei lançou-lhe um olhar estranho antes de observar Martha e Robert discutirem de novo. Botan deu risadinhas pela expressão azeda em seu rosto. "Não é tão ruim," comentou espirituosa. "Uma vez que você conhece todos os personagens."

"Eu não acho que quero me envolver tanto."

"Esta é Martha, filha de um médico. Robert é uma espécie de vagabundo que sua mãe não aprova, mas Martha o ama mesmo assim, mas ela não devia porque ele a trai com Victoria, sua irmã mais velha, que deveria estar saindo com Tom, um paciente que o pai de Martha curou. Tom beijou a mãe de Martha uma vez, Beatrice, mas eu não acho que foi ele realmente, eu acho que ele tem um irmão gêmeo malvado."

Hiei ergueu uma sobrancelha para Botan, seus lábios um pouco curvados para cimaA coisa mais próxima de um sorriso que a garota já vira. "Você é estranha."

Não saíra realmente como um insulto, então ela meramente revirou os olhos, direcionando sua atenção para a tela mais uma vez. Eles assistiram em silêncio em torno de quinze minutos até que os comerciais entraram.

"Você está indo bem." Hiei interrompeu um anúncio cantado de papel higiênico.

"Licença?"

"Com o seu serviço."

"Ah." Botan corou um pouco. "Obrigada, eu acho."

Eles se calaram, ela escolheu concentrar-se nos comerciais. Dava uma sensação estranha, e ao mesmo tempo completamente natural, estar sentada em uma sala junto a ele. Botan supôs que só era estranho porque ele era seu empregador milionário. A garota perguntou-se como poderiam ter se dado se tivessem se conhecido em outras circunstâncias.

O programa voltou a passar e os dois assistiram por um minuto a mãe de Martha, Beatrice, chegar para botar Robert para fora, só para ter Victoria entrando toda exibida anunciando seu amor por ele.

"Ch," Botan escutou Hiei suspirar irritado. "Típico."

Ela precisou trazer o punho a boca para reprimir a risada que ameaçava escapar.


Botan não contara a Keiko ou Shizuru sobre a hora que passou assistindo novela junto a Hiei. Não era algo típico para se trazer à tona em uma conversa. "Adivinhem o que eu fiz hoje? Vi Tardes da Nossa Vida com o Sr. Jaganshi, legal né?"

Já era a manhã seguinte e Botan estava indo para seu habitual ritual de limpeza, desejando que fosse sexta logo para poder fazer compras e depois passear por aí. Enquanto retirava o pó dos livros da biblioteca, sua mente desencaminhava para Hiei. Fazia isso com bastante freqüência. E ela não sabia exatamente o motivo. Talvez fosse porque estava tão aborrecida que não conseguia pensar em nada mais para pensar. As coisas se tornam tediosas quando tudo o que você faz o dia inteiro é limpar.

Ela era uma artista no coração e talvez fosse propensa a sentir-se deprimida por toda a produção, mas escolhera distrair-se observando seu chefe sempre que tinha a chance. O comportamento humano sempre fora de seu interesse, e Hiei Jaganshi era muito complexo. Quando sua mente se tornava entediada ou desencorajada, pensava em tudo que sabia sobre ele, seu comportamento, seus hábitos, tentando decifrá-lo.

Era difícil quando estavam na mesma sala. Sua presença a cercava, mas Botan distraía-se dele pensando nele. Ou em sua mente, para ser precisa. Olhando para os traços mais óbvios de sua personalidade, talvez fosse simples. Ele era cruel, egoísta, arrogante, frio e possuía muito dinheiro e poder. Mas ela viu indícios de algo que a fez crer que havia mais em Hiei do que isso.

Ou talvez estivesse fantasiando coisas com sua imaginação fértil.

A garota encaminhou-se até a sala de conferencia, só para descobrir que estava atualmente ocupada. A porta estava entreaberta e Botan pode ver muitos homens de terno sentados nos dois lados. Hiei estava na cabeceira, em toda sua glória real. Quando o encarou, ele olhou para cima e apanhou seu olhar, pegando-a de surpresa. Obviamente não prestando atenção na conversa a sua volta, ele lançou-lhe um sorriso cínico devagar, expressando uma arrogância entediada.

Botan rapidamente virou-se para sair, sacudindo a cabeça pela mera confusão que ele sempre parecia levar até ela. Já começara a andar em direção à biblioteca, quando escutou sua voz atravessar a porta.

"Botan, venha aqui por um minuto. . ."

Ela mudou sua direção de imediato e entrou na sala de conferência, subitamente realmente desejando que tivesse melhores roupas para vestir. Forçou um sorriso bonito, mas sua mente estava franzindo e gritando. Sabia que isso era parte do trabalho, oficialmente, mas até esse momento ele não utilizara esse direito. Por que agora, entre todas as horas?

Kurama estava sentado em uma cadeira comum um pouquinho atrás de Hiei, tomando constantes notas em seu colo. Sua expressão demonstrava claramente que a ação de Hiei deixara-o tão surpreso quanto ela.

"Sim, Sr.Jaganshi?" Botan perguntou o mais alegre e menos surpresa que podia.

"Essa reunião está se tornando muito monótona." Nesse momento, ela podia jurar que o viu lançar um olhar intencional a um dos homens de terno. "Será que você poderia trazer-me, e a quem mais quiser, uma bebida?"

"Claro," ela disse devagar, sentindo-se um pouco incomodada. Nunca fizera esse tipo de serviço antes. "O que você quer?"

Botan podia jurar que ele estava muito próximo de diverti-se quando calmamente replicou, "Conhaque, seria ótimo."

"Eu gostaria de um uísque escocês, senhorita," alguém disse.

"Martini seco."

"Outro uísque escocês para mim."

"Será que eu poderia ter só uma água?"

Sua cabeça dava voltas enquanto repetia apressada os pedidos em sua mente, esperando não esquecê-los. "Estarei de volta logo, então."

Botan olhou para Kurama, que arqueara uma sobrancelha e deu de ombros, espelhando sua própria confusão. Retirou-se da sala rapidamente, dirigindo-se a jato para a cozinha. A boa notícia é que sabia onde as refeições de Hiei eram preparadas, não só a simples cozinha dos funcionários. Ficou agradecida de ver um rosto amigo e imediatamente acercou-se de Kuwabara. Ele a cumprimentou calorosamente, mesmo que estivesse um pouco surpreso por sua presença. Botan contou-lhe os pedidos e fez uma prece de agradecimento silenciosa quando este anunciou que possuíam todos, e que sabia como preparar um Martini. Ele até dispôs as bebidas organizadamente em uma bandeja para ela.

"Obrigada, Kuwabara. Você é uma benção."

"Sem problema." Ele pôs uma azeitona final no largo copo de vidro do Martini. "Embora seja estranho que você tenha que fazer isso."

"Nem me fale," a garota resmungou antes de carregar a bandeja para fora da sala. Kuwabara oferecera uma com rodinhas, mas Botan sabia que não conseguiria subir com ela pela escada, então precisou contentar-se em equilibrar uma grande em seu braço. Botan alcançou a escadaria e um olhar de consternação passou por seu rosto. Para alguém tão rico quanto ele, o homem realmente deveria considerar em investir em um elevador.

Rezando para que não derramasse, ela subiu a escadaria e entrou na sala de conferência. Entregou as bebidas certas para as pessoas certas, muito orgulhosa de si mesma por recordar-se de quem pediu o que. Deu o de Hiei por último, e este enviou-lhe um olhar bastante irritado por causa disso. Ela fingiu que não tinha notado, e deu uma piscadela súbita para trás dele, na direção de Kurama. O ruivo deu-lhe um sorriso de aplauso, e ela começou a andar em direção à porta.

"Obrigado, querida," o homem que ordenou a água disse.

Botan parou e olhou para ele cautelosamente, sorrindo ligeiramente. Achou estranho ele só ter ordenado uma água. A não ser, uma voz doentia a lembrou, que ele só tenha ordenado pelo prazer de ordenar. "De nada." Mal saiu agradável.

"Fique por perto," ele continuou com um sorriso falsamente reservado. O homem possuía olhos pequenos e brilhantes e cabelo ralo. "Talvez eu precise de você para reabastecer meu copo."

Ela entendeu a implicação e seus se arregalaram com nojo. Ela não fez nenhuma tentativa de responder por que as únicas palavras que poderia pensar em dizer talvez tirassem seu emprego. O sorriso do homem se ampliou, e ele lambeu os lábios subitamente. Botan sentiu bile alcançar sua garganta.

Hiei clareou a garganta do outro lado da mesa e todos os olhos voltaram-se para ele. Botan sentiu seus braços pinicarem com calafrio quando avistou seu rosto. Estava mortal. Se ela fosse o homem que Hiei encarava, provavelmente teria murchado e sido carregada para longe como pó. Parecia que era isso que o homem de olhos pequenos queria, encolhendo-se o mais longe possível em sua cadeira. Mas no caso, só pode retroceder com medo quando Hiei comentou friamente, "Eu agradeceria se você não saísse distribuindo cantadas nos meus empregados, Ichigarwa.(2)"

"Cl-Claro, senhor," ele conseguiu gaguejar.

Hiei relaxou sua posição, sua expressão suavizando para o normal (que não era tão suave de qualquer forma). "Ótimo." Foi com se toda a sala soltasse um suspiro unânime de alivio.

Botan não queria olhar para ele, já sentia-se materializada suficiente, então saiu acelerada da sala.


A garota sentia-se tão desgostosa que realizou seu trabalho ágil e facilmente. Até mesmo almoçara rápido, para a perplexidade de Keiko e Shizuru. Ela começou novamente de tarde, suas emoções embaçando sua consciência. Sentia-se estúpida e incômoda, se não humilhada.

Quando acabou, ficou confusa ao perceber que terminara antes de novo, embora soubesse que não deveria se surpreender. Ela havia trabalhado bastante rápido. Ainda possuía uma hora antes que suas amigas também ficassem livres. Botan olhou sem entusiasmo para a porta da sala de entretenimento. Ela sempre podia assistir a outro episódio de 'Tardes da Nossa Vida'.

Suspirando, adentrou na sala e jogou-se no sofá, agradecida pela necessária distração. Ligou a grande televisão, bem a tempo de pegar o tema de abertura. Dava uma sensação boa relaxar e não precisar pensar naquela manhã. Botan descobriu que o que realmente queria nesse momento era um sorvete. Perguntou-se se Kuwabara poderia ter um pouco. . .

Ela levantou-se para ver se ele realmente tinha algum armazenado mas congelou no caminho. Hiei estava estendido no vão da porta. Pega de surpresa, gaguejou, "H-Hiei?"

Ele ergueu uma sobrancelha, como se surpreso por Botan saber seu primeiro nome. "Sr. Jaganshi," ele corrigiu no tom de sempre.

A garota piscou, sacudindo a cabeça. "Sim, é claro! Desculpa." Ela esperou que Hiei dissesse algo, mas como ele não disse, decidiu falar no lugar. "Voltou para assistir?"

O outro lançou-lhe um daqueles sorrisos falsos, secos. "Não. Vim para discutir sobre os eventos desta manhã."

Botan sentiu uma pontada de mal-estar acomodar-se em seu estômago, mas tentou parecer calma e indiferente. "Oh?"

"Quando eu disse que você podia vestir o que quisesse, assumi que você escolheria vestir algo semi-decente."

Ela sentiu que estava ficando em um quente tom de vermelho. "Elas são decentes," argumentou miseravelmente, olhando para sua calça capri e camiseta. Pelo menos não parecia uma vagabunda.

Hiei não pareceu persuadido. "Eu já vi você usar a mesma camisa três vezes, e você só trabalha aqui há um pouco mais de uma semana." Ele pronunciou a palavra 'camisa' como se fosse uma praga.

Botan não lembrava de sentir-se mais envergonhada. Para não mencionar que era assustador pensar que Hiei notara a camisa que usara e quantas vezes. Apesar de saber que isso poderia causar mais constrangimento para si, ela achou que deveria pelo menos tentar defender suas ações. Fazê-lo entender que não estava se vestindo abaixo do padrão de propósito.

"Eu sei disso," a menina disse com a dignidade que podia. "É só que, eu não tenho outras roupas para escolher!"

"Ah não?" Ele perguntou em dúvida, não parecendo nenhum pouco que desconhecia a situação. Na verdade, era quase como se houvesse esperado aquela resposta.

"Não. Mas isso irá mudar na sexta. Eu vou fazer compras."

"Eu pensei que você não tinha dinheiro," Hiei desafiou.

"Eu não tenho," Botan respondeu bruscamente. "Eu tenho amigos, se você está familiarizado com esse conceito, eles irão me deixar pagá-los quando receber meu primeiro salário."

Ela percebeu o quão calmo Hiei parecia, como se nada para ele fosse novidade, então, subitamente, tudo se juntou. Ela encarou-o incrédula. "Você sabia?" finalmente conseguiu perguntar engasgada.

"Claro que sabia," o outro replicou, aquela falsa expressão 'surpresa-e-preocupada' sumindo instantaneamente. "Só estava esperando que você se sentisse ridícula o suficiente naqueles farrapos que chama de roupa para fazer algo a respeito."

As peças lentamente foram se encaixando. "F-Foi por isso que você me fez pegar todas aquelas bebidas hoje, não foi?" Hiei passou a concordar com a cabeça, um olhar soberbo no rosto, mas Botan o cortou. Ela tinha algum orgulho. "Para que? Para exibir sua empregada suja para todos os seus estúpidos, ricos amigos!"

Pela primeira vez desde que o conhecia, Hiei pareceu honestamente chocado. Chocado que alguém, especialmente alguém que era seu subordinado, falasse com ele dessa maneira. Mas Botan não acabara.

"Será que seu inflado ego aumentou um pouco mais quando me viu daquele jeito na frente de seus associados manda-chuva? Suponho que você colocou seu amiguinho Ichigarwa para me secar também! Acho que foi engraçado me ver degradada daquele jeito – ser tratada como nada mais do que uma mercadoria! Mas é isso que eu sou, não é mesmo? Mercadoria! Mais uma das coisas que te pertencem! Como se eu não me sentisse estúpida o bastante tendo que usar aquelas roupas, você tinha que piorar tudo! Você me humilhou! E para quê! Para provar que estava certo, que você sabia o tempo todo! Meus parabéns! Você venceu, você é superior! O rosto de Botan estava agora vermelho de tanto gritar e ela terminou com um final, "Você me dá nojo!"

A garota passou por ele, empurrando-o, e irrompeu no corredor, lágrimas correndo por sua face. As tinha segurado para que ele não tivesse a satisfação de vê-la chorando, mas no segundo que saíra de seu campo de visão, elas começaram a fluir. Correu até seu quarto, agradecida por não precisar ir muito longe, trancando a porta atrás de si. Meteu-se em sua cama e enterrou a cabeça em um travesseiro, soluçando quebrantadamente.

Botan esperou alguns segundos até que eles morressem em fungadas suaves antes de organizar seus pensamentos. Reagira por impulso, e não havia feito uma decisão muito sábia. Ela iria ser despedida, esse fato era inevitável. O que não conseguia entender era por que fizera aquilo.

Claro, ela nunca trabalhara para ninguém igual a ele – cruel, arrogante e sem medo de degradar-te e insultar-te abertamente. Mas sabia que pessoas assim existiam. Velhos colegas seus sempre reclamavam de algumas pessoas pomposas para as quais trabalhavam. Você só tinha que sorrir e suportar.

Regra número um – o chefe está sempre certo.

Botan sempre pensara que o que seu chefe pensava de você não importava. Contanto que você tivesse o emprego e fosse pago por ele, seu empregador podia pensar que você era uma prostitutase quisesse.

Por que não se lembrara disso há dez minutos atrás?

Mas havia magoado tanto! Fosse para melhor ou pior, e parecia que seria o último, ela ligava para o que Hiei achava dela. E logo ela, que possuía um temperamento tão amável, sentira vontade de discutir com ele. Era como se toda emoção que sentia aumentasse perto de Hiei. Raiva, vergonha, nervosismo. . . até mesmo alegria, pareciam se multiplicar.

"Estúpida, estúpida, estúpida!" Botan xingou-se viciosamente.


Ninguém o surpreendia. Nunca.

Era algo de que se orgulhava. Podia ver os movimentos dos outros antes que eles acontecessem, sabia como iriam reagir. Ele sempre ficava por cima. Mas não dessa vez.

Ela o surpreendera. Mais de uma vez agora.

A primeira vez foi quando ele percebeu que particularmente não se importava quando ela o interrompia. Ele achou que era só intrigante.

Strike um.

Ela manejou para surpreendê-lo novamente quando a encontrou em sua sala de entretenimento, vendo T.V. Hóspedes raramente assistiam aquela T.V., ou eram permitidos a tal privilégio em outras palavras, e ela era só uma empregada. E mesmo assim, lá estava, divertindo-se sem a menor cerimônia.E o que ele fizera? Assistira com ela, entre todas as maneiras irritantes de reprovar a situação.

Strike dois.

E então... e então ela teve a coragem de zangar-se com ele por ter feito seu trabalho. De dizê-lo que havia sido rude. Ele tinha o direito de ser rude! Quem era ela para fazê-lo sentir-se culpado por seus atos? Todo o suplício era praticamente intolerável.

"Por que diabos ela continua trabalhando aqui?" Hiei praguejou em voz alta.

"Quem?" Kurama levantou seu olhar para ele do lado esquerdo da mesa. Estavam de volta a sala de conferência, dessa vez só os dois, finalizando a reunião.

Hiei nada disse, escolhendo no lugar começar a rabiscar um dos papéis a sua frente. Ainda podia sentir Kurama encará-lo com dúvida, mas quando continuou a permanecer em silêncio, o ruivo retornou ao seu trabalho.

Depois de um momento, Hiei disse quieto, "Ela é estranha, não é."

Kurama deixou de escrever, fixando um olhar inquisitivo no seu chefe. "Quem?"

"A nova empregada . . . qual é mesmo seu nome . . ." Ele sabia que era Botan.

"Botan?"

Hiei ergueu seu queixo de leve, retornando seu olhar para os rabiscos que fizera nos papéis. "É, ela."

Kurama encolheu os ombros. "Eu não a acho estranha." Ele sorriu. "Eu gosto bastante dela – ela é brilhante e original, e faz seu trabalho bem."

"Ela é" Hiei precisou admitir. "Eu não quero ninguém original entre os meus empregados."

Kurama gargalhou. Ele de fato gargalhou. Hiei o encarou.

"Do que você está falando? Todos os seus empregados são "originais". O ruivo fez uma aspas de deboche com os dedos quando disse originais. "Você escolheu a dedo quase todo mundo porque eles tinham um certo algo que tornava-os diferentes de todos os outros do ramo."

Hiei zangou-se silenciosamente, sabendo que seu assistente estava certo, senão sendo uma prova viva. Kurama era diferente de todos os singulares assistentes. Ele tinha uma vantagem sobre os outros. E assim acontecia com todos os que trabalhavam para ele. Fizera questão disso e era assim que gostava. Confiava em seus empregados, e confiava em suas habilidades. Não era algo que todo o dono de uma mansão poderia dizer.

E Botan era uma boa empregada, não podia negar. O último andar nunca esteve tão bom. Tudo agora parecia ser acolhedor, e ao mesmo tempo continuava completamente imaculado. Ela também deixava um aroma muito leve em todo o andar. Cheirava a baunilha; ele às vezes se irritava quando podia senti-lo em seu quarto.

Mas suas habilidades de limpeza não eram o problema.

"Ninguém mais entre os mais entre os meus empregados jamais gritou comigo."

Kurama olhou-o. O ar tomou um silêncio mortal, os dois se encarando, até que Kurama finalmente disse, "O quê?"

"Ela gritou com-"

O outro levantou uma mão para interrompê-lo. "Sim, eu escutei. Agora eu preciso perguntar. . ." Hiei esperou, erguendo uma sobrancelha inquisitiva. O ruivo estreitou os olhos pensativo enquanto observava-o. "Você tem idéia do quanto isso soa infantil?"

Hiei rosnou, suas bochechas corando para um saudável tom de rosa. "Como é que é?" Ele fixou um olhar em Kurama que faria qualquer outro estremecer em uma poça de submissão. "Por que eu simplesmente não te despeço?"

Kurama nem piscou.

"Eu não sei. Por quê?"

Hiei estreitou os olhos, muito hesitante de realizar sua ameaça. Kurama era um bom assistente. Um muito bom. Houve várias vezes onde este selara contratos praticamente por conta própria, e o fizera sentir-se completamente desconcertado e inútil. "Eu vou te dar mais uma chance..."

O ruivo revirou os olhos subitamente. "Como você é bom."

"Não fique convencido, Kurama. Você acha que eu gosto de você, mas eu não gosto."

Acostumado com a nada-agradável atitude de Hiei, Kurama ficou de pé, juntando suas notas. "Claro que você não gosta. Agora, sobre a situação de Botan. Acho que é do seu interesse ir desculpar-se com ela."

"Desculpar!" Hiei exclamou. Seu rosto escureceu, franzindo exasperado. Kurama não sabia o que Botan dissera, justificado ou não, então como soubera que fizera algo a ela? A não ser que seu joguinho mental houvesse sido realmente tão óbvio e rude quanto ela afirmara. De novo, seu rosto magoado apareceu sem aviso em sua cabeça, trazendo o mesmo remorso que sentira anteriormente, sabendo que a machucara.

Ele derrubava as pessoas o tempo todo. O que deu a ela o direito de de repente fazê-lo sentir-se culpado? Ele a odiava por isso, porém odiava-se muito mais por demonstrar tal fraqueza.

Hiei suspirou resignado. Poderia ser frio, mas não iria despedi-la. "Eu não sei como pedir desculpas..." murmurou mal-humorado.

"Não," Kurama disse. "Eu suponho que você não saiba." Ele pensou consigo mesmo. "Por que você não fica com um simples, me desculpe, por favor não peça demissão?"

"Hn." E ele mal pode manejar essa resposta (3). Seu orgulho estava batalhando furiosamente contra sua decisão, mas o faria mesmo assim. Com má vontade, ficou em pé e encaminhou-se para o quarto de Botan. Garota estúpida.


J.J - Aaa...fofo. Hiei está com peso na consciência. 0

Mel – -Suspiro- Um dia eu vou conseguir traduzir um capítulo sem legendas...

1 (Não havia realmente superado sua contínua 'consciência do Sr. Jaganshi')- Não sei se está errado...é que no texto está 'Mr. Jaganshi awareness' e awareness quer dizer consciência só que eu achei que ficou esquisito...

2 (Eu agradeceria se você não saísse distribuindo cantadas nos meus empregados, Ichigarwa)- Nesse aí eu fui pelo sentido, porque no texto, ao invés de cantadas está escrito sleeze, o que nem no dicionário tinha.

3 (E ele mal pode manejar essa resposta)- O original está um pouco confuso para mim, está lá 'And he could barely manage that much of a reply'. Espero que esteja correto.


(Próximo Capítulo: A Bomba –dundundun-)