Capítulo 8: Ação e Reação

Hora de ir ao Beco Diagonal novamente. Eu e papai resolvemos ir a um sábado de manhã. Chegando lá, fomos a Floreios e Borrões onde comprei todos os meus livros. Passamos na loja de animais e eu comprei petiscos para Lira. Papai disse para eu comprar o que quisesse e enquanto isso ele ia à nossa loja, a Artigos Para Quadribol, para checar se estava tudo bem. Resolvi ir até Madame Malkin comprar vestes novas. Ela tirou minhas medidas e sai de lá com várias vestes novas. Fui até Florean comprar um sorvete e encontrei, para minha alegria, Kat lá.

Kat congelou na hora em que me viu.

- Que foi Katrina? Que bicho te mordeu? – parecia que ela estava de frente para o Barão Sangrento, pálida.

- Você... É... O que você fez?

- Eu? Nada, por que?

- Não você está brincando... Você andou tomando alguma poção de desenvolvimento ou algum tipo de cosmético?

- Não... – aquilo já estava ridículo. – Qual é o problema Kat?

- Você está tão... Diferente...

Ergui uma sombrancelha. Comecei a rir.

- Todos crescemos um dia... Agora, a gente podia tomar o sorvete em paz não é?

- Ahn... Claro! – ela sorriu.

Mas Katrina não estava exagerando. Eu tinha crescido pelo menos uns dez centímetros desde o fim do ano letivo. Meus cabelos também tinham crescido e estavam mais pretos e lisos do que nunca. As férias no Havaí tinham produzido um ótimo efeito em minha pele, que estava num tom de dourado bem claro. Meus olhos, como sempre verdes. E digamos assim que esses não eram os únicos aspectos pelos quais eu tinha me desenvolvido.

Cheguei na plataforma 9¾ dez minutos antes do embarque.

Fiz minhas funções de monitora nos horários estipulados para a viajem.

Quando acabou meu horário fui procurar uma cabine para descansar. Vi uma onde estavam Crabbe e Goyle sentados em um canto, um garoto do sétimo ano no mesmo banco dos idiotas e no banco de frente Draco estava deitado no colo de Pansy Parkinson.

Abri a porta e entrei lentamente. Desde o fim do ano letivo eu não via Draco. Ele pulou do colo de Pansy como se estivesse levado um choque, e ela olhou raivosa para mim.

- Sarah...

- Oi Draco.

- Tudo bem? Foi bem de férias? – ele sorriu, nervoso.

- Sim... Fui ótimo, eu adorei o Havaí. – ainda assim eu não sorria.

- Nossa, que bom. – ele olhava meu corpo de cima a baixo, como se estivesse me vendo direito pela primeira vez. Pansy me fuzilava com os olhos.

- E como foram as suas Draco? – olhei nos olhos dele, para que ele parasse de olhar para meu corpo.

- Eh... – ele gaguejou na hora de responder – Foram... Boas...

O garoto do sétimo ano também olhava para mim. Draco estava a ponto de pegar a varinha e transformá-lo em um rato, quando um garoto entrou na cabine.

- O novo professor está chamando vocês para a cabine dele – e apontou para mim e para o garoto do sétimo ano.

Levantamos e seguimos o garoto. Chegamos na tal cabine e entramos. Na cabine estavam dois garotos da Corvinal, uns da Lufa-Lufa, Neville Longbotton, Gina Weasley e – corei furiosamente – Harry Potter.

O tal professor era realmente muito chato. Ficou horas falando sobre os antepassados de cada um de nós, e contou a história inteira de Harry Potter, como se nenhum de nós conhecêssemos. Saímos de sua cabine e voltamos para a de Draco. O garoto do sétimo ano não conseguia fechar a porta até que uma hora conseguiu. Draco olhou desconfiado. A viajem já estava acabando, e era hora de trocarmos as vestes. Coloquei a capa da Sonserina sobre as roupas de trouxa que eu usava e o resto do pessoal fez o mesmo. O trem sofreu um solavanco e Pansy quase caiu. Draco riu e eu procurei olhar para a janela. Quando o trem parou e eu fui saindo junto com o garoto do sétimo ano, Crabbe e Goyle nos seguiram e Pansy ficou mais um pouco na cabine com Draco, mas logo chegou até nós.

Subi em uma carruagem e Pansy foi para outra com Crabbe, Goyle e o garoto do sétimo ano. Quando a porta da carruagem ia se fechando e ela começava a se mover, Draco subiu nela ofegante.

- Por que não foi na outra carruagem?

- Estou fugindo da Pansy. Ela tem pegado no meu pé sabe.

Eu ri.

- Não ria ok? Não é legal. – ele parecia incomodado.

Eu olhava para fora da carruagem. Hogsmead era linda à noite.

- Você está diferente...

- E você não é o primeiro que me fala isso.

Ele parecia encabulado.

A carruagem parou e eu desci. Subi as escadas sem esperar ninguém e encontrei com Kat nas escadarias. Seguimos para o Salão Principal. Era bom estar de volta. Sentei com Kat na mesa da Sonserina e olhei para a da Grifinória. Potter não estava lá. Eu congelei. Estava acontecendo algo, ele tinha lutado com Voldemort no fim do ano letivo e agora não estava na escola. Tinha algo errado.

Começamos a jantar, e, para meu alívio Snape abriu a porta do Salão Principal e entrou com Potter em seus calcanhares. Ele seguiu para a mesa da Grifinória. Ainda vestia roupa de trouxa.

Me aliviei e jantei em paz. Ouvi o tradicional discurso de Dumbledore e ia saindo para o Salão Comunal quando Draco me alcançou correndo. Mas nem conseguiu chegar ao meu lado direito quando Pansy segurou ele pelo braço.

- Preciso falar com você, agora. – ela estava séria.

- Ok, vamos lá então. – Draco estava com cara de derrotado.

Entrei com Kat no Salão Comunal e fomos direto para o dormitório. Arrumei meus pertences em minha mesa-de-cabeceira e deitei na cama de frente para Kat. Eu estava contando para ela minha viajem ao Havaí quando ouvi a porta do quarto bater fortemente. Tudo depois foi muito rápido.

Em um momento Pansy Parkinson estava ajoelhada em cima de mim com sua varinha em meu pescoço, no outro sua varinha voava para longe, e no outro eu estava de pé segurando minha varinha na mão direita apontada para ela e a dela segura na mão esquerda, Kat em pé apontando a varinha para o peito dela também e ela em pé ao lado de sua cama. Eu olhava de Kat para Pansy assustada. Queria entender o que estava acontecendo ali. Então Pansy sentou no chão ao lado de sua cama e começou a chorar. Eu olhava para ela incrédula. Coloquei sua varinha sobre a cama e sentei ao seu lado. Kat sentou em minha cama, ainda com a varinha em punho, olhando para nós. Guardei minha varinha no bolso do pijama e fitei-a por um momento.

- Pansy? – disse com incerteza.

- Por que você faz isso? – ela me olhou com aqueles olhos negros cheios de lágrimas, a voz num misto de raiva e mágoa.

- Isso o que Pansy? – eu estava receosa.

- Finge que não percebe! – ela estava gritando.

- Não percebo o que?

- O que ele sente por você!

As duas estavam em pé agora, e Kat levantou-se também ficando em uma posição que daria para segurar Pansy caso ela viesse para o meu lado novamente.

- Eu realmente não entendo.

- A não é? Eu fui lá falar com ele agora Damon – ela chorou mais alto e gritou mais alto ainda – me declarei a ele. E sabe o que ele me disse?

- O que? – ela só podia estar delirando. Eu não entendia completamente nada.

- Que não podia ter nada comigo porque te ama!

- Quem me ama?

- Vai dizer que você nunca percebeu? – ela chorava e eu logo percebi o que estava acontecendo.

Lembrei do garoto me ajudando com meu malão na primeira vez em que eu vi o Expresso de Hogwarts. Lembrei daquele sorriso. Lembrei da minha seleção e do garoto que logo se sentou do meu lado, sorrindo satisfeito. Lembrei de Potter na Floreios e Borrões dizendo que ele também tinha arranjado uma namorada, e ele corou furiosamente. Lembrei dele raivoso quando eu discordei de suas provocações com Potter. Lembrei do pedido de desculpas no trem e do ataque de raiva quando eu queria ir procurar Potter no segundo ano. Lembrei dele passando furiosamente por mim quando Diogo me convidou para o Baile de Inverno e lembrei que não voltei a vê-lo depois que ele viu a gente se beijando. Lembrei que ele tinha dito que não queria que eu pensasse que ele fosse um fracassado como seu pai. Lembrei de todas as trocas de olhares nos últimos cinco anos. Lembrei dele me olhando de cima em baixo no Expresso de Hogwarts. Lembrei do elogio e dele corando furiosamente enquanto me dizia aquilo.

Olhei no fundo dos olhos de Pansy. Era Draco. Draco Malfoy gostava de mim. Ou ainda mais, me amava.

- Não Pansy, nunca percebi. – e abaixei os olhos.

- Ele te ama garota! Draco Malfoy te ama! – ela gritou e voltou a chorar.

Nesse momento Anne e Mary entraram no quarto e olharam confusas. Pansy chorava furiosamente no chão, eu sentei na minha cama, incapaz de pensar em nada. Kat deitou em sua cama, o que as meninas acabaram fazendo quando viram que não haveria explicação de nada naquele dia.

Eu estava transtornada. Olhava para a parede fria da masmorra.

Ok, ele sempre tinha sido um bom amigo, mesmo que tinha atitudes nas quais eu descordava e tal, mas sempre tinha sido um ótimo amigo. Eu nunca tinha percebido nada. Ele nunca tinha me demonstrado nada. Pelo menos nada que eu percebesse.

Olhei para o relógio. Eram onze da noite. Levantei da cama e fui para o Salão Comunal. Sentei no sofá da lareira e fiquei ali, observando o crepitar das chamas. Parecia que eu tinha passado horas ali quando ouvi um barulho. Sentado na poltrona em frente do sofá estava Draco. Meu coração disparou. Desviei o olhar. Eu estava sentada no sofá abraçada com meus joelhos olhando o fogo.

- Eu ouvi gritos vindo do quarto de vocês.

Eu congelei.

- Foi Pansy.

- Pansy?

- Sim. Ela estava transtornada.

- E o que ela disse? – ele parecia nervoso.

- O que eu nunca tinha percebido. Que eu sou uma burra que não enxergo nem o que esfregam na minha cara.

Ele estava suando. Sua voz saiu tremida.

- Como assim Sarah?

Eu desviei o olhar do fogo e olhei para ele. Levantei e andei até o peitoril da lareira. Me apoiei nele e fiquei olhando Draco. Ele também tinha mudado. Tinha crescido muito e seus cabelos já não eram arrumadinhos como no primeiro ano. Eram grandes e vinham até suas bochechas. As franjas ficavam caídas sobre seus olhos. Seu corpo estava definido e notavam-se claramente os músculos em seu peito. Draco tinha mudado muito.

- Ela disse que se declarou a um garoto – Draco empalideceu mais ainda – e disse que levou um fora.

- E – ele tremia – ela disse porque levou um fora?

- Sim, disse.

Draco se levantou e chegou perto de mim, mantendo certa distancia da lareira, porém me olhando nos lhos.

- E o que ela disse?

- Que ele não poderia namorar ela – Draco a dois passos de mim – porque ama outra.

Ele parou. Congelou devo dizer.

- E ela disse quem ele amava?

- Falou – Draco a um passo de mim agora.

- E quem é?

- Bom, o garoto disse que não poderia ficar com ela porque amava a mim.

Draco parou. Olhou nos meus olhos. Eu estava acostumada a ver aqueles olhos frios insultando qualquer sangue ruim nos corredores, mas agora eles estavam diferentes. Eles brilhavam de modo estranho. Eu olhava nos olhos dele tentando manter os meus na mesma intensidade.

- Eu te amo, Sarah.

Ele disse isso bem devagar. Eu olhava naqueles olhos. E então descobri que eu nunca estive confusa. Tudo ficou tão claro de repente que eu me assustei. Olhei os olhos cinzentos que pela primeira vez mostravam a verdade.

- Eu... Eu também te amo, Draco.

Diogo não tinha aquela sensibilidade, e nem muito menos aquela intensidade. Foi um beijo que me acalmou e ao mesmo tempo disparou meu coração. Senti as mãos de Draco apertando minha cintura, e apertei a nuca dele devagar. Sim, eu amava Draco Malfoy. Separei-me dele e olhei em seu rosto. Ele sorria abertamente.

Fui para o dormitório. Pansy ainda chorava em sua cama. Não pude deixar de sentir pena da garota. Deitei na cama e sorri, satisfeita. Dormi como um anjo àquela noite.