Capítulo II:
Noções de Irrealidade
"Finalmente recebera o dinheiro das missões! Um sorriso se ensaiou nos lábios de Sakura. Legal! Estava precisando de roupas novas há tempos! Seus pais não mais bancavam suas compras, embora ainda morassem sob o mesmo teto. Não que ela fosse uma garota que gostasse muito de gastar, mas às vezes, até ela merecia abster-se de comprar livros e algumas roupas novas.
Ao abrir o envelope, ficou feliz com a quantidade que encontrou... Caramba! Daria pra comprar aquele vestido que ela estava olhando na vitrine da loja da sra Fujitaka! E sobraria muito mais para outras peças de uso comum e diário.
Sem pestanejar, saiu correndo para a loja daquela senhora sorridente de meia-idade que costurava os mais lindos vestidos.
-Ah, olá, Sakura-chan! –A senhora disse ao ouvir o sininho na porta da loja tocar e encarar a moça de róseos cabelos -Como tem passado, querida?
-Muitíssimo bem, sra Fujitaka. –A garota respondeu sorridente a senhora que arrumava algumas roupas por detrás do balcão branco. - Melhor agora que recebi meu pagamento!
-Então deixe-me adivinhar... –A senhora disse com um ar pensativo, indo até um quartinho onde ficava o estoque, voltando com uma grande caixa em mãos. Ela já estava bastante acostumada com suas visitas a loja, tanto que já conhecia os gostos perfeitamente. Parecia gostar muito de Sakura - Você só pode ter vindo aqui atrás deste! Fica namorando este vestido todas as vezes que vem aqui. Não é querendo ofender, mas seu namorado é mesmo um tapado por sempre passar aqui contigo e nunca ter percebido seu apresso por este aqui!
-Ele é um tanto distraído, sim. Mas é um ótimo rapaz. –Sakura disse sorrindo a senhora. Aquela senhora era um amor de pessoa...Estava acostumada com esse tipo de comentário sobre seu namorado e devia concordar que ele realmente era um tanto disperso em assuntos que nada tivesse a ver com sua carreira brilhante como shinobi.
-Não tenho dúvidas de que ele seja. –A senhora de cabelos lisos e grisalhos disse lançando-lhe um ar um tanto dúbio -Mas ainda acho que uma garota tão brilhante e bonita quanto você mereça alguém que enxergue seu valor real.
-Acredite, senhora Fuijitaka, por mais que ele pareça relapso, parece ser a única pessoa que me dá algum valor. –A jovem de olhos verdes como uma laguna, disse baixando suas jóias em forma de íris para o chão, entristecendo-se com a menção deste pensamento. Por mais que quisesse negar ou pensar que não fosse desse jeito, não havia meio. Era assim. Ninguém parecia se importar com a jovem prodígio Haruno Sakura. Como poderiam se preocupar? A moça era uma garota exemplar, nunca fazia nada que fosse contra as regras, não tinha vícios, não se atrasava para o jantar, nunca deixava de comparecer a um encontro com o namorado, nunca deixava de sorrir para seus amigos, por mais que quisesse chorar. Ela era a Sakura com quem todos podiam contar. A garota em quem as pessoas se apoiavam quando prestes a cair.
-Ora, querida! É um pensamento um tanto pessimista para uma moça tão jovem. –A senhora sorriu com bondade, fintando-a com um sorriso caloroso -O tempo mostrará seu verdadeiro valor. Sei que você é discípula da 5ª Hokage e é uma excelente médica-nin. Uma hora eles vão reconhecer o seu valor. Algum dia, alguém lhe dará o devido valor, não se preocupe.
-Certo. –Sakura respondeu parecendo pouco confiante ou meramente crente, mas sorrindo a senhora que parecia feliz por dar-lhe algumas palavras de conforto. Sakura observou enquanto ela tirava o vestido da caixa e o estendia sobre o balcão. O vestido devia ter de comprimento até pouco acima dos joelhos, esvoaçante, enquanto devia apertar-se e ajustar perfeitamente aos moldes de sua cintura e busto, um modelo sem mangas e com decotes generosos. A parte do busto era completamente coberto por paetês. Nada que se visse por ali com muita facilidade. As garotas de Konoha não costumavam inovar e investir em roupas assim. Luvas também de veludo negro até os cotovelos, com um tecido leve, prata e semitransparente como artigo adicional para que recobrisse os ombros e as partes dos braços que ficariam descobertos. Ousado e sexy. Exatamente como ela se lembrava dele. –Nossa! Eu... Eu mal posso imaginar que finalmente será meu!
-Fique a vontade em experimentá-lo. –A Sra Fujitaka encorajou-a, mostrando-lhe o caminho do provador -Faremos os ajustes necessários agora mesmo!
Sakura pegou o vestido no mesmo momento e foi se trocar. Vestiu-o com todo o cuidado, com medo que este estragasse, por mais que não fosse possível. Ao avistar-se no espelho, a satisfação não podia ser maior. E nem mesmo sua felicidade. Ficara perfeito! O vestido ajustara-se perfeitamente ao seu corpo, jogando fora o ar de menina que a maioria das suas roupas lhe davam e oferecendo-lhe o ar de mulher já feita. Jogou os cabelos compridos para trás, passando seu dedos para despenteá-los um pouco.
Em nada se parecia com a Sakura a qual todos estavam acostumados a ver. Parecia mais velha, mais bonita, mais experiente e até mesmo mais alto-confiante. Céus! O que uma roupa nova não podia fazer com uma moça!
-Sem dúvidas, perfeito! –A jovem respondeu saindo do provador e desfilando pela loja para que a senhora pudesse ver.
-Recomendo que o use com botas de camurça. –A senhora sorriu jovialmente.
-Pode deixar! –Sakura respondeu analisando-se mais uma vez no espelho do provador, antes de trocar-se -Vou seguir seu conselho!
A senhora sorriu. Sakura virou-se e um tanto infeliz por ter de tirar o vestido que lhe dava mais autoconfiança. Sua mãe iria lhe matar quando visse o preço! Não. Matar era pouco! Provavelmente a torturaria psicológica e fisicamente antes de matá-la. O preço não era pra que qualquer um comprasse.
Entregou-o para que a senhora o pusesse na caixa e o embrulhasse. Depois, com muito sofrimento, abriu sua bolsa e pegou a quantia no envelope. Sobrara o bastante para as botas e quem sabe umas duas mudas de roupas, ou cinco mudas se fosse de segunda mão.
Pegando a bolsa onde a senhora pusera o pacote do vestido, saíra da loja, buscando pela sapataria.
Foi até lá e comprou as botas de camurça de cano longo. Realmente ficariam bonitas com o vestido. E por último resolveu passar em algumas lojas de roupas de segunda mão, quer dizer, mais baratas, por já não estarem de acordo com a moda atual.
Pensara que não acharia nada muito bom, contudo, achou peças capazes de agradá-la e de fato as comprou. Duas saias e três shorts, além de 2 blusas de alça da moda do verão passado e 2 de mangas compridas para o inverno que logo chegaria. Sakura realmente não se importava com a moda. Ela sempre estaria mudando enquanto houvesse pessoas querendo ganhar algum dinheiro com o consumismo. Por mais que os modelos fosse parecidos, algumas pessoas era volúveis o suficiente para comprar coisas bastante caras dentro da moda, do que roupas do modelo do verão passado.
No envelope dentro de sua bolsa, sobrara o suficiente apenas para um singelo sorvete e mais nada. Bem, ela vinha juntando os últimos pagamentos e já havia contribuído com as despesas da casa este mês, então porque não gastar seus últimos centavos em um sorvete bem gelado?
Afinal esta andança toda de loja em loja a cansara bastante. Abriu a bolsa e pegou seu dinheiro. Ou melhor, seus últimos centavos. Aproximou-se da pequena barraca do outro lado da rua. Hum... Pensava num bom sorvete de bombom, cujo possuíam pedaços generosos de bombom, com cobertura de cereja. Sem dúvida o melhor! Amava bombom, principalmente os que possuíam recheio de licor de cereja.
-Um de bombom com cobertura de cereja, por favor? –Pediu ao um rapaz que devia ter uns dezesseis anos e que sorria para ela de um jeito simpático.
-Saindo... –O rapaz disse girando em volta de si mesmo, enquanto oferecia-lhe a casquinha.
-Obrigada. –Agradeceu, dando-lhe o resto de seu pagamento. Colocou as sacolas todas em uma mão e com a outra foi lambendo alegremente seu sorvete, exatamente como uma criança faria.
Era assim que Sakura gostava da vida. Simples e gostosa. Era uma adulta quase independente, contudo, não abandonava os hábitos infantis que tanto lhe faziam a felicidade quando jovem e ainda hoje.
-Hey, Sakura-testuda! –Ouviu uma voz feminina gritando para ela de algum ponto atrás de si em um tom provocativo. Virou o rosto enquanto continuava a caminhar. Viu Ino acenando veemente, querendo chamar sua atenção.
-Olá, In.. –Sakura foi incapaz de completar suas palavras... Fora inconseqüente e acabava de pagar por isso... Alguém viera tão distraído quanto ela e dera-lhe um encontrão, com toda a força. Pode apenas perceber quando perdera o equilíbrio e ia perigosamente ao chão. Que mico! Numa rua toda movimentada, no mínimo ririam dela a valer. Suspirou resignada, sentindo algo gelado atingi-la em cheio a blusa. Ótimo! Cairia ela, compras e com um sorvete manchando sua blusa favorita. Será que poderia ser pior?
Fechou os olhos fortemente esperando o pior. Será que Ino a chamara de propósito para que ela realmente perdesse a atenção? Seria aquilo tudo premeditado?
Esperou um, dois, três, quatros segundos. Não sentia seu traseiro doer. Sequer sentia o chão sob os seu pés. O que...? Como...?
-Você está bem? –Ouviu uma bela e vigorosa voz masculina. Ela era baixa, um tom barítono, pelo que pôde perceber, extremamente sexy, pelo que percebeu. Ao alcançar seus tímpanos e ir ao cérebro, sentiu um arrepio se espalhar pelo seu corpo. As mãos frias dele, ao contatar a pele dos ombros quentes desnudos, provocou novos arrepios dos quais ela sequer conseguiu disfarçar. Céus! Ele devia estar achando-a uma fraca.
-Eu... Sim... –Ela abriu os olhos verdes devagar, decidida a descobrir se o dono da voz era tão gostoso quanto a própria. Fixou suas grandes orbes exatamente em sua frente. Apenas encarou o peitoral do rapaz, uma vez que ele era bem mais alto que ela, que era largo e viril, escondido por uma infeliz e amaldiçoada camisa negra. Droga de camisa! Só para lhe ativar mais a curiosidade a respeito dele! Olhou para cima e encarou-lhe o queixo forte e bem talhado. Muito viril, sem dúvidas. Os lábios tinham um belo contorno e estavam entreabertos, como se a convidassem a esticar sue corpo e testá-lo. Mordeu aos seus próprios, talvez com a pequena dor, seus hormônios se contivessem. A pele era bastante branca, os olhos eram uma incógnita por estarem cobertos com um óculos de sol, fazendo com que ela divagasse mais uma vez sobre o que estaria pro trás deles... Castanhos? Azuis? Verdes? Âmbar?
Os cabelos lisos e negros caiam pela testa com suavidade, indo em direção aos olhos por baixo dos óculos, o que a deixava com um certo ímpeto de tocar-lhe o rosto e afastar os cabelos para descobrir se sentiria aquela sensação estranha que a assolava enquanto sentia os braços dele ao redor de seus ombros e sua cintura, com seu corpo bem rente ao dele, encaixando-se com perfeição. Sakura corou ao notar tal proximidade, ou melhor, intimidade.
-Que bom! –Ele lhe exibiu um lindo sorriso e a pôs no chão, desgrudando os corpos. Ele fora bastante rápido! Fora capaz de evitar sua colisão iminente com o chão e ainda segurá-la firmemente contra o próprio corpo, erguendo-a do chão inclusive.
-O... Obrigada! –Ela respondeu ainda encarando o chão por estar tão corada. Não queria deixar que ele notasse que a vulnerabilizara.
-Não precisa me agradecer. –O rapaz respondeu lhe presenteando com um belo sorriso. Este bendito sorriso, gentil como uma carícia feita pelo vento, fez com que ela sentisse seu coração dar um batida um tanto mais forte. O que era isso agora? O que estava acontecendo consigo?- Afinal, a culpa foi toda minha. Devia prestar atenção por onde ando.
-Eu também tenho minha quota de culpa! –Ela apressou-se a dizer, ainda um tanto envergonhada -Não sou pedra pra ficar no meio do caminho das pessoas, fazer com que elas tropecem e atribua mais este fato ao pobre do Murphy, que só criou esta pequena teoria...
Ele riu! E, nossa, que risada maravilhosa! Parecia um som divino e cristalino, brincando de soprar em seus ouvidos, como crianças em sua inexperiência. Um ruído cheio de divertimento e clareza. Talvez uma risada que lhe mostrasse a alma do moço. Estranho classificar o moço pela risada. Mas de alguma forma, ouvi-lo a fazia se sentir bem. Quer dizer, por um instante se esquecera por completo da situação inconveniente que provocara.
-Não me importaria de esbarrar todos os dias em pedras tão lindas quanto você. –O rapaz lhe disse, oferencendo-lhe um belo e doce sorriso. Ela apenas sentiu quando seu rosto pegou fogo. Isso era real? Um homem daqueles, lhe dando atenção assim, do nada?
-O...obrigada! –Agradeceu, sem muito mais o que dizer. Por mais que quisesse mostrar maturidade, que não era mais uma criança que ficava sem-graça por qualquer coisa, o que podia fazer, se seu rosto parecia não obedecer? Porque não conseguia se mostrar indiferente a ele? Quer dizer, nem quando seu namorado lhe dizia coisas um tanto desconcertantes, ele conseguia fazê-la corar. Então por quê? Odiava quando, de fato, seus sentimentos se mostravam tão claros como os céus em uma manhã de verão. Exatamente como ele conseguira agora.
-Não precisa ficar assim. –O rapaz de cabelos negros respondeu, aproximando-se do rosto dela e tocando-lhe as bochechas irreversivelmente rosadas. Sentiu outro arrepio. As mãos frias na pele quente de seu rosto... Que sensação maravilhosa! Era como se alguém regasse com água fria o solo quente, clamoroso por algo como aquilo, um pouco de alívio depois de ser castigado pelo sol. Dando-lhe uma sensação de languidez e satisfação.- Deveria estar acostumada, pois com uma voz tão charmosa e olhos tão lindos, provavelmente te elogiam a todo segundo.
-Não mesmo. –Ela disse rindo da afirmação dele. Como se alguém notasse que a Sakura existia... Como se alguém ligasse para o que ela fazia ou deixava de fazer. Como se alguém perguntasse "como vai?" com intenções de saber a verdade. Que vida! Ninguém parecia se importar. Sakura era ótima, desde que fosse um pilar de sustentação e não um pilar defeituoso... Quer dizer, ela precisava segurar a barra de todo mundo. Por vezes, dava até uma de psiquiatra para o shinobis que ela costumava visitar no hospital. Contudo, ela não parecia ter o direito de se sentir mal. Ela era o pilar de apoio, logo, não deveria cair nunca -Ninguém costuma olhar para um poste de sustentação com algum apreço. Ninguém olha pra médica com algo mais além da perspectiva de que se cure. Talvez eu devesse ter seguido outra carreira...
-Ora, não é bem assim... – O rapaz respondeu em um sorriso bondoso, tentando animá-la. Aquilo a fez corar de leve. Ninguém nunca tinha lhe oferecido um sorriso assim. Por mais que seu namorado sempre a animasse, jamais era de forma tão doce quanto este gesto. Quer dizer, gestos leves e bastante gentis, não era do feitio dele. Estranho mesmo, era a forma como conseguia se abrir para um rapaz que jamais vira na vida -Por mais que outras pessoas não vejam valores em postes, sempre terá alguém que saberá reconhecer o valor de sua arquitetura e sua inflexibilidade.
-Gostei da metáfora! –A kunoichi respondeu lhe oferecendo um grande sorriso. Adorava esse negócio de jogos com palavras e discursos bem articulados. –Você me parece ser bom com as palavras...
-Por que diz isso? –O garoto franziu de leve o cenho, decerto curioso para saber o motivo daquela afirmação.
-Simples. –Ela respondeu com um ar de sabedoria -Você conseguiu fazer com que a verdade em minhas palavras ganhassem um novo aspecto, como se sempre estivessem implícitas, mesmo que a intenção não fosse essa. Você deve ser bom em linguagem subliminar.
-É... –ele respondeu levemente embaraçado, parecia que iria corar, mas de alguma forma contivera o rubor -Gosto de procurar vertentes escusas em diálogos diretos. É um hobby meio sem-graça, mas pode se tornar útil em meio a uma batalha. Provocações feitas a partir de deixas do próprio locutor causa um certo grau de irritação, e quando o inimigo é irritado, se precipita.
-Você é um shinobi? –Sakura perguntou curiosa, os olhos verdes se arregalando ligeiramente. Não esperava que aquele rapaz, de modos tão graciosos e carinhosos, fosse um homem que empunhasse kunais e shuriquens, que lutasse e carregasse dentro de si alguma espécie de sede por batalhas, como os shinobis de Konoha, em geral o faziam.
-Pode-se dizer que sim, mas como hoje estou de folga, não estou usando meu protetor. –Ele sorriu, sincero, enquanto suas mãos deslizavam para os cabelos negros ligeiramente compridos -Há momentos em que precisamos ser apenas pessoas comuns, andando pelas ruas e fazendo coisas normais, apenas para matar um tempo com um pouco de tranqüilidade e paz. Afinal é em busca de uma vida serena que lutamos.
-Eu entendo. –A jovem de róseos cabelos sorriu, compreensiva. Ele era exatamente como ela. Lutava, mas no fundo só queria um pouco de paz. Ela também odiava a guerra! Mas não tinha jeito a não ser esse para proteger as pessoas da vila que realmente se ama. Infelizmente o ditado de "quando um não quer, dois não brigam!" é a maior mentira que inventaram para apartar crianças ou impedirem que elas brigassem entre si.
Se uma vila declara pugna a uma outra pacífica, haverá guerra. Por mais que a vila pacífica não queira brigar, ela é obrigada, pois não pode ver os filhos de sua terra morrerem e ficar de braços cruzados em nome de um ditado idiota, vendo tudo se destruir. Atacar é uma defesa, por mais que pareça ilógico... Uma defesa psicológica, uma defesa peculiar, pois quando se espera, o tormento dos pensamentos são piores... Defesa porque quando se ataca, alguém tem de se defender, logo, ficando ocupado com as tentativas de se esquivar e evitar danos maiores a sua vila.
Era por isso que se mantinha impassível! Em nome das pessoas que ama, era fria e controlada, como uma médica-nin deve ser.
-Pelo visto, estas suas mão macias não são usadas apenas para carícias... –Ele concluiu com ar solene, pegando suas mãos com respeito e vagarosamente levando em direção aos lábios. Prendeu um pouco sua respiração por antecipação a sensação que viria a seguir. Como seria? Ninguém jamais havia tratado-a com tanta afeição e tanto romantismo. Jamais lhe beijaram as mãos como ele faria agora. Sempre via isso nos filmes, mas qual seria a sensação real? Sentiu quando a pele fina e macia dos lábios dele tocaram de leve as costas de sua mão, com um respeito que jamais vira em um rapaz jovem como ele... Ao provar esse contato, sentiu suas mãos de súbitos amolecer entre as dele, os lábios não eram tão frios quanto a pele dele, pois quando sentiu o contato, levemente prolongado por ele, foi como se ele tivesse marcado com brasas ardentes o local onde beijou. Vagarosamente ele afastou seus lábios de suas mãos, embora insistisse em continuar com estas bem seguras entre as dele. Embora o gesto dele tenha sido vagaroso, Sakura queria que tivesse durado mais, embora jamais o fosse admitir- Realmente uma maldade pedir que uma flor manche suas pétalas sedosas com sangue de guerras. Moças como você foram feitas para serem amadas e adoradas, ficarem sempre protegidas sob as vistas de homens zelosos e bondosos.
-Infelizmente a vida não é tão simples assim. –Sakura respondeu com um sorriso tranqüilo, como se explicasse aquilo a uma criança -É apenas utopia acreditar que um ser humano pode se devotar por completo a outro. "E viveram felizes para sempre..." é uma linda frase para o final de um conto de fadas. Mas o que acontece depois dessa frase? Não existe felicidade que seja eterna, assim como não existe mau que perdure. Não existe "felizes para sempre". A vida é cheia de conflitos, a vida é cheia de surpresas, ninguém pode afirmar com certeza que será feliz para sempre... Não se pode prever quando coisas ruins acontecerão...
-Quem fez isso com você? –Ele perguntou enquanto sua expressão se tornava um tanto rígida.
-Como assim? –Sakura realmente não entendera essa interrogativa. O que ele queria dizer com isso?
-Para que uma pessoa desista de sonhar e acreditar em um futuro belo ao lado de alguém que ame, algo de muito errado aconteceu. –Ele concluiu, soltando-lhe as mãos, mantendo um tom sério. Droga! Ela estragara tudo! Era esse o momento em que ele daria o fora por ver que ela era demasiadamente complexa! Estragara tudo mesmo! "Ei! E quem disse que estou interessada? Eu tenho namorado!" Levou um grande susto ao notar que as mãos do moço se dirigiram até o seu rosto. Não sabia explicar como, mas ela o permitia tocá-la, enquanto se fosse outro, já teria esfolado até tomar vergonha. Era estranha a sensação que ele proporcionava a ela. Sentia como se as mãos dele em contato com sua pele fosse algo tão necessário quanto o chocolate em sua refeição diária. E acredite, o chocolate era obrigatório! -Não se pode desistir de sonhar, criança. Pois se você o faz, você desiste de viver também. São os sonhos que nos alimentam e incitam a buscar pelo melhor para nossas vidas. Se eu estivesse ao seu lado, teria te protegido do que quer que fosse. Não agüentaria ver uma donzela tão doce quanto você sofrer.
-Eu... Eu... –Sakura não sabia o que responder. Era uma bela lição moral, que provavelmente funcionaria com qualquer um. Mas por mais que lições morais tocassem o coração, ainda assim não fariam que alguém mudasse seu jeito de ser. E ela não precisava ficar ali ouvindo coisas irrelevantes, algo que seria inútil. Responderia educadamente e iria embora -De fato sofri uma grande provação. Mas aprendi a ser forte a custo disso. Agora se me dá licença, tenho de ir...
-Não fuja, criança... –Ele sussurrou segurando o seu braço, e dando-lhe um sorriso encorajador.
-Não estou fugindo! –Sakura afirmou corajosamente, levantando a cabeça e mantendo um ar digno de superioridade do qual estava longe de sentir -Eu jamais fujo.
-Certo. –Ele respondeu em um sorriso descrente -Então me prove!
-Na hora e local que você quiser! –A jovem medica-nin respondeu com um ar desafiador. Seus olhos brilhando como nunca. Parecia um cristal em contato com a luz. Ele mexera diretamente com seu ego, então não era hora de se omitir. Aceitaria o desafio, qualquer que fosse.
-Aceite minhas desculpas e permita que eu lhe pague um sorvete, já que arruinei o que você tomava. –Ele sorriu triunfante. 'Touché!' Ele a pegara. Conseguira convidá-la para sair de uma forma que ela não recusasse, afinal, se o fizesse estaria provando a ele que era fraca e que voltaria atrás em sua própria palavra! Isso era mais que um convite. Isto era uma forma descarada de manipulação e ameaça a integridade moral de uma moça... Ela não podia fugir! Não tinha como fugir. Ele a cercara direitinho, como apenas um ninja faria.
-Feito. –Ela respondeu estendendo a mão de uma forma cordial, com uma velada rigidez -Sou Haruno Sakura. Espere-me amanhã às sete na praça.
O moço aceitou a sua mão e apertou-a com vigor, depois levou-a até os lábios e beijou-a, exatamente como antes. Sakura teria dado atenção ao tremor que sentira, mas estava demasiadamente irritada para se importar...
-Sou Ahuchi Taichi. –Ele respondeu com suavidade -Seu servo.
-Certo, certo... –Ela redargüiu, fingindo um ar de descaso -Apenas me espere lá e veremos quem é covarde... Ja ne!
-Ja ne! –Ele sussurrou antes de vê-la desaparecer."
Sakura acordou, ligeiramente atordoada. Seus olhos, que imaginaram se deparar com a penumbra da noite, na verdade foram cegados pelos raios do dia já claro lá fora, o que a atordoou ligeiramente.
Fechou os olhos com firmeza, enquanto via um reflexo avermelhado sobre suas pálpebras. Um vermelho um tanto distinto, que certamente podia ser mais uma peripécia de sua mente...
Por falar em peripécia... Aquilo tudo fora apenas um sonho? Quer dizer, fora tudo tão real... Ainda lembrava-se nitidamente das sensações que ele provocava nela, mas então como...? Poderia um sonho assim estar acima da realidade? Será que os sonhos liberam mesmo sensações como essa para o sonhador? O jeito como ele a tocara... Como ele a abordara. Tão real... Tão maravilhoso!
E ao mesmo tempo... Não podia ser real! Que rapaz seria tão gentil com uma desconhecida? Que rapaz seria capaz de ultrapassar a carapaça de autoproteção que ela construíra por anos a fio? Ninguém conseguiria uma confissão quanto aos seus sentimentos com a mesma facilidade com a qual ele fizera. Só podia ser irreal! Se nem os psicólogos de Konoha eram aptos a detectar qualquer problema emocional da médica-nin Haruno Sakura...
Sim! Apenas um sonho! Por um instante se aliviou. Não precisaria provar nada a ninguém, e nem tomar sorvete com um estranho que trombara com ela. Isso podia ser até mesmo perigoso! Ela não tinha como ter certeza se ele lhe dissera a verdade o tempo todo. Ele podia ser um maluco esquizofrênico que pensasse que ela fosse a bruxa de alguma vila oculta inimiga que estava apenas em Konoha para descobrir seus pontos fracos e atacá-la! Improvável, talvez, mas não impossível! Ele podia ter apenas se aproximado dela para fazê-la falar sobre os planos...
Bem melhor assim... Com um suspiro se levantou e vestiu seu robe e suas pantufas. Estava se estressando a toa. Nada acontecera. Não teria encontro nenhum com estranho algum. Não sabia, no entanto, se estava realmente feliz ou triste. Quer dizer, ela apenas fingia que assim era melhor, por saber que não haveria encontro nenhum na noite seguinte. Era mais fácil se poupar de uma decepção do que esperar ansiosamente que tudo se torne real... Porque no fim ela sabia que não se podem controlar os sonhos para o que se quer sonhar... Não se podem controlar os sonhos para que se tenha uma vida melhor dentro deles, afinal, não se pode viver sonhando!
Ela sabia que sentiria falta daquele rapaz. E se pegaria imaginando nos momentos mais inoportunos sobre como teria sido o encontro, ou como teria sido um beijo entre eles... Ou como ele era fofo e seu namorado um tanto negligente... Doeria, mas o que se podia fazer se essa era a realidade. Ao menos ela tinha alguém que a reconhecesse... Que lhe desse algum valor... Sonhos jamais contariam.
Abriu a porta para ir até o banheiro fazer sua higiene, quando viu sua mãe subindo as escadas como uma louca. Parecia ter visto o pior de seus pesadelos, pois seus olhos azuis estavam arregalados, por trás da mascara para pele em tonalidade verde, e os rolinhos por todo seu cabelos rosa, enrolando-os. Pensando bem, Sakura pegou-se imaginando se ela estava assustada porque se olhara no espelho... Adorava sua mãe, mas achava um tanto desmedida a vaidade dela. Seria esse o preço que se pagava pra ficar bonita? Ficar muito feia antes? Bem, talvez fosse melhor estar sempre ao natural do que passar aos extremos com tanta rapidez... Não era o que diziam? Que o equilíbrio é o melhor caminho? Nada que seja dos extremos é bom. Não é bom ser muito guloso, porque seu corpo sofre com os males que isso pode trazer, e também não se pode deixar de comer, porque a comida é o "combustível" do corpo e sem este o ser perece.
-Sakura! Eu não acredito que você pode torrar todas as suas economias naquelas roupas? –Fora tudo o que ela falara enquanto Sakura entrava no banheiro e ouvia o sermão diário de sua mãe. Por que seria dessa vez? Ela estava em dia com a sua parte do pagamento nas despesas mensais... E daí se ela comprara duas peças de roupas? Não gastara seu salário todo!
-Bom dia pra você também, mamãe! –Respondeu sarcástica, do outro lado da porta. Sabia que sua mãe odiava que a chamasse dessa forma. Ela nunca fora do tipo muito maternal. Só sabia dar ordens e sermões em todos os momentos e situações. Irritante, de fato! Mas tanto anos de convivência serviram ao menos para que ela aprendesse a ignorar. Sua mãe era uma ótima estudiosa, mas carregava consigo a arrogância de quem sabia demais. Às vezes se pegava desejando que sua mãe fosse Tsunade-sama e não a Sra. Haruno, que fazia questão de apontar todos os seus erros, enquanto a Godaime sempre a incentivava a seguir em frente e fazer o que sua consciência aprovava.
-Não, Sakura! –A mãe bateu na porta, irritada. –Meu dia começou péssimo e por sua causa. O que você andou aprontando? E não adianta fazer cara de entediada e sair por aí como se não tivesse feito nada! Você não sai dessa casa enquanto não me explicar.
-Explicar o que? –Sakura disse abrindo a porta, embora relutante. Ela não a deixaria em paz se não o fizesse. De imediato, terminou de bochechar um daqueles anti-sépticos bucais e saiu, respirando fundo, armando-se com todas as suas defesas para encarar seu terror... Ou melhor, sua mãe!
Sua mãe sequer se dera o trabalho de responder, apenas puxou-a pelo braço, segurando seu pulso com mais força do que realmente seria necessário. Ótima maneira de se começar o dia, sem dúvidas. Sua mãe devia lutar também, porque a força que ela tinha quando irritada, ou melhor, quase o tempo todo, não era para que qualquer um encarasse.
"Só pode ser falta de homem!" Sakura pensou enquanto observava sua mãe arrastá-la escada abaixo. Ela riu! Sua mãe sempre pegara em sue pé, desde muito pequena. A pessoa que zelava e desatava em cuidados, eram seu pai e avó paterna. Sua avó morrera quando Sakura atingira a idade escolar e seu pai se fora meses após Sakura completar 15, em uma missão. Era triste, mas desde então, sua mãe parecia sentir enorme prazer ou satisfação em fazê-la sofrer. Aff, como ela odiava isso! Pediria para que Kakashi lhe indicasse alguém para sair com sua mãe!
A mãe parou de súbito na sala, onde sacolas e mais sacolas estava espalhadas sobre as poltronas de madeira de lei, com confortáveis acolchoados sobre elas. Sobre a mesa de centro de vidro, o vaso de flores característico não estava lá, dando lugar a um grande pacote. Este, estranhamente lhe pareceu familiar.
-Então, mocinha? –Sua mãe soltou-a jogando-lhe no chão com força, como se ela acabasse de encontrá-la na cama com um vagabundo qualquer.
-De onde vieram todos estes pacotes? –Sakura perguntou de olhos arregalados. Com toda a certeza aquilo tudo não era dela. Ontem ela havia comprado apenas um conjunto de lingerie vermelhas, uma saia rosa e uma blusa azul. Como aquilo tudo estava ali?
-Não me pergunte! Eu acordei e já estava tudo aí! E hoje de manhã, acordei com um moço vindo entregar mais duas dessas bolsas, afirmando que você as esquecera quando trombara com seu mestre.
Sakura franziu o cenho totalmente chocada. Não podia ser... Ela não colidira com ninguém ontem, a não ser... NÃO! Não podia ser! Não era possível! Não tinha condições! A única colisão que tivera fora durante o seu sonho! Mas fora apenas isso! Um sonho!
A jovem verificou pacote por pacote. Sim, de fato eram todas as roupas que comprara durante seu sonho! Céus! Como podiam estar ali? Aquilo tudo não fora apenas um sonho?
Sakura suspirou sem saber o que fazer. Estava decididamente perdida!
CONTINUA...
N/A: Oi! Fala galera... Mais um capítulo prontinho e postado. Sei que este não está tão bom quando o outro... Se bem que é muita pretensão minha dizer que o outro estava bom... Mas de qualquer forma, vocês entendem, não? Eu quis atualizar antes, mas inventei de escrever uma outra fic chamada "Durma com os anjos" (Já estou eu aqui fazendo propagando! Internem-me! Ninguém merece! Você dá cinco segundos de fama e eu já me desato a fazer merchandising!) e acabei me atrasando.
O próximo capítulo pode demorar um pouco, pois estou na casa de minha avó e usava a net da minha tia, mas ela cancelou a conta dela... Aí, já viu, né? Vou ficar sem... E outro problema é que estou sem teto até o dia 23. Estou de mudança do Rio de Janeiro para o Rio Grande do Sul, portanto sem net até que eu me mude e me estabeleça. Espero que me perdoem! Eu odeio me mudar! Mas o que posso fazer? A vida é assim...
Sobre esse capítulo... Sonho estranho, não? Ou será que não era um sonho? Quem era o rapaz? Quais são as intenções dele com a Sakura? Tenho a ligeira impressão de que o desafio que ele lançou a ela foi algo como psicologia reversa, hein? Como a coisa vai ficar?
Aposto meu sutiã preto de renda, meu favorito, que o cara é o SHINO! Rsrsrs... Brincadeira! Eu jamais aposto meu sutiã de renda! Só meu chicote sadomasô...
Agradecimento a Hatake Mi, que comentou pelo MSN; a Evelyn minha irmãzinha por me convidar a passear de escuna amanhã em Santa Cruz; a todo o pessoal que leu, mas não deixou reviews e um super Arigatou a Ichigo-dono, que me deixou uma review, a qual vou responder agora:
Ichigo-dono: Oi! Um super obrigada por comentar. Quer dizer... Nossa! Eu li sua fic e você deve ser super ocupada, porque escreve muito bem! É uma honra ter uma leitora como você para minha humilde fic... E põe humilde nisso!
Eu sei como é... Eu curti bastante a minha tarde de natal... Sim, tarde, porque pra acordar... Rsrsrs Fui dormir tarde na véspera! Eu também estava eufórica, não tanto pelos presentes, mas sim porque toda a minha família e amigos estavam juntos! Até mesmo o meu... bem... você entende, não é?
Puxa, que bom que você gostou... É um super elogio, principalmente porque é você quem está fazendo... Eu também ADOREI o seu tipo de narrativa! Se importa de me ensinar? Terá uma aluna dedicada! batendo continência Meu estilo é um pouco filosófico e um tanto detalhista, por isso às vezes se torna meio chato, se isso acontecer, me avisa, sim?
Quanto aos complôs... Eu também adoro isso! Todas as fics que escrevo tem algo do tipo... É meio que mania, sabe, como se fosse uma paranóia minha... Numa fic, a garota dorme com o pior inimigo sem saber quem ele é e descobre que tem que trabalhar pra ele. Como evitar que ele descubra? (essa é uma conspiração do destino) Na outra, o personagem é manipulado por uma sacerdotisa para matar um amigo e ele mesmo acaba em péssimos lençóis (conspiração divina)... E bem, é melhor eu parar por aqui... Porque senão vou me lembrar de que tenho que atualizá-las e vou me sentir culpada o resto do dia... Rs Valeu! Brigada de novo!
Kissu!
Valeu povo! Até a próxima! APERTÕES NOS TRASEIROS!
