Cap.1 Dazed and Confused

"Been dazed and confused for so long
It's not true?"

Era difícil não se encantar com aquilo tudo. A pele dela era tão macia, o corpo dela mais parecia uma onda de um mar calmo, trazendo-lhe paz. Os fios ondulados dos seus cabelos refletiam magistralmente a luz amarelada das velas encantadas, que os rodeavam, num movimento bruxuleante. Não havia nada melhor que vê-la pender a cabeça para trás, abrindo ligeiramente a boca, e arranhando de leve o seu peito. Essa era a hora que ele simplesmente achava que não suportaria, e aquela sensação iria lhe invadir por dentro. Algo que ele sentia primeiramente como uma gota d'água percorrendo-lhe a espinha, transportando-o então para um outro lugar, que ele adorava ir.

Mas aquilo novamente o atormentava esta noite. E aquele prazer prestes a explodir teimava em se transformar em dor, numa queimação intensa do seu corpo. Por que às vezes aquilo tudo era tão doloroso? O cheiro dela inebriava o ar, ele esforçava-se para se concentrar, mas novamente aquela face retornava como um demônio, prestes a enlouquecê-lo. Não havia nada que fizesse o homem-que-sobreviveu voltar a ser alguém sensato, depois de tudo o que aconteceu.

Harry delicadamente a pegou pela cintura, sentindo um pequeno alívio em tirá-la de cima dele e a pôs, docemente, ao seu lado, apoiando sua cabeça sobre o travesseiro.

"Amor, você está bem?" – ela perguntou, com um tom de indagação e preocupação no rosto.

"Eu sinto muito, Mione..." – desculpou-se, perceptivelmente decepcionado.

"Não tem problema algum... É ele, certo?" – perguntou, passando a mão sobre os cabelos dele, esforçando-se ao máximo para se mostrar compreensiva.

"Eu estou muito ansioso, vai ser..."

"Amanhã, não é?"

"Sim..."– respondeu, num suspiro.

"Tudo bem, apenas durma. Não se preocupe com isso, ok? Eu te amo!" - disse suavemente ao seu ouvido, aconchegando-se, depois, debaixo dos cobertores.

Não seria certo não se entregar totalmente a ela, que sempre esteve ao seu lado, indubitavelmente. Hermione, desde os tempos de escola, havia sido dedicada a ele e a Ron. E Harry jamais poderia supor o quão entregue ela podia ser como sua esposa. A única coisa que ele ainda lamentava era ter dado esse desgosto ao seu melhor amigo, que deixou a vida no meio daquela guerra insana sem perdoá-los por aquilo. Ron amara Hermione desde sempre e Harry esteve ciente disso desde que pôde entender o que era o amor. Mas não havia magia que fizesse Ron se declarar, ou algo parecido. Talvez ela tenha se cansado, ou talvez nunca tenha gostado dele, como Harry imaginava. O moreno jamais ousara perguntar o que ela sentia. Não era mais de bom tom. Ron estava morto, não importava mais.

Horas passavam, ele mal conseguia pregar os olhos, uma taquicardia insolente insistia em ir e voltar, sem que ele desse permissão. E com ela, lembranças que preferia esquecer.

"Estava sentado apreensivo na sala de Dumbledore. Pela primeira vez via o velho tão preocupado, andando de um lado para outro da sala, o que o deixava extremamente irritado.

'Harry... A guerra começou! – despejou.'

Bela notícia de se dar naquele momento, logo aquele momento em que ele estava começando a conhecer a felicidade, ou pelo menos achava que estava. Alegria era algo que ele não provava há tanto tempo, que qualquer indício que fosse era o suficiente. E Hermione estava sabendo como deixar sua vida mais leve, doce.

'Ele está agindo pessoalmente, Harry. Temo que em breve, ele venha aqui atrás de você.'

'Eu não tenho medo.'

'Corajoso de sua parte, talvez não tão prudente', advertiu o velho.

'Eu não tenho medo. Por isso sou Grifinório. Só há duas opções, não é mesmo? Ou eu ou ele? Não há nada que eu possa fazer pra mudar isso, há? Então, que ele venha. Eu estou esperando.'

'Harry... Aprecio sua determinação, mas vamos ter que te tirar daqui.'

'Como assim? Eu não quero sair de Hogwarts.'

'Isso talvez seja irremediável, meu querido. Não podemos arriscar os outros alunos.'

'Ah, então é uma questão de não arriscar a vida de outros alunos, não é? ENTÃO QUE SEJA ESSA PORCARIA DE VIDA QUE EU TENHO!' – gritou, não deixando um resquício que fosse de objeto sobre a mesa do diretor, que assistia à cena, impassível.

'Você não acha que eu já devo estar um pouco cansado disso, Harry? Essa sua auto-piedade já está chegando ao limite. Eu não posso arriscar a vida de toda uma escola por sua causa.'

O moreno ficou estático por um momento. A única coisa que ele nunca esperaria de Dumbledore seria uma reação como aquela. Talvez aquele velho bruxo já estivesse cansado demais daquilo tudo, assim como Harry, mas ele jamais podia deixar de transparecer fortaleza e comprometimento com tudo. Dumbledore deveria ser Deus, era isso que esperavam dele. Talvez fosse a hora de Harry tentar sustentar o próprio fardo com maturidade.

'Me desculpe...'- desmoronou.

'Eu sei que não é fácil, Harry. Mas você já se imaginou carregando a culpa por ter perdido seus amigos por um simples capricho? Isso porque, certamente, Voldemort não será nem um pouco misericordioso. Matará qualquer um que atravesse o seu caminho.'

'Terei que voltar para a casa dos Dursley?'- perguntou, esperando profundamente que aquele não fosse o seu destino.

'Talvez a Ordem da Fênix seja melhor para a sua sanidade... Dursleys e Voldemort são como sinônimos, no que se trata de trazer o inferno para a sua vida. Além disso, temos que manter os olhos em você o tempo todo.'

'Sinceramente, não sei se a Ordem seria algo sadio pra mim.'

' Sirius?'

' Sim...' – admitiu, tristemente.

'Então é hora de você ter se acostumado com o fato de tê-lo perdido. Harry, acaba a sua infância aqui, agora, com o início dessa guerra. Você vai ter que ser maduro, não haverá possibilidade de se cometer erros.'

"Infância? Infância? Eu não lembro de realmente ter tido isso...", pensou.

Harry fez uma pausa. Nunca suas mãos foram tão interessantes. O velho diretor sabia o que se passava naquela mente.

'Eu morrerei, não morrerei, Dumbledore?'- perguntou, conformado.

E antes que o ancião pudesse respondê-lo, ainda estupefato com a pergunta, Prof.ª Trelawney entrou na sala, com aquela respiração asmática e os olhos extremamente arregalados, o que era ainda mais evidente com aquelas lupas que ela sustentava no rosto, que alguns teimavam em chamar de óculos. Aquele comportamento que ambos Dumbledore e Harry já haviam testemunhado.

'Aquele jurado de morte, que carrega uma marca maldita no corpo, será salvo pela pessoa que menos espera. Neste dia, o céu estará negro, e haverá no ar apenas cheiro de sangue e podridão. Após o salvamento, o enlace está concretizado. Um não viverá enquanto o outro não viver!' – recitou a mulher, em tom fleumático.

O que se pôde ver depois disso foi Dumbledore tentando segurar o corpo da professora que insistia em desfalecer, como se lhe faltasse o ar. E Harry agradeceu a Merlin por não haver nada no estômago da professora, ou ela teria vomitado tudo com aquelas tossidas exageradas.

'Mas... O que estou fazendo aqui?'- perguntou Sibila, confusa.

'Creio que nos presentear com mais uma profecia, prof.ª Trelawney', disse Dumbledore, num misto de escárnio e confusão.

'Ah, poupe-me, diretor!' – intrometeu-se Harry. 'Mais uma é demais para mim, isto está virando uma piada de muito mau gosto! Porque é obvio que "esse que carrega a marca maldita no corpo" sou eu! Só falta agora a professora Trelawney dizer que quem vai me salvar é o Voldemort! Bons tempos em que Firenze foi o nosso professor e ela estava longe daqui!'"

Harry despertou daqueles pensamentos como se houvesse uma campainha em sua cabeça. Algo que o avisava que ele precisava repousar, pois o próximo dia seria longo. Talvez fosse o relógio de parede que a Sra. Weasley havia dado a ele num natal, no seu tic-tac intermitente, que o lembrava de que ainda estava inapropriadamente acordado. Mas Harry estava angustiado com tudo que havia acabado de reviver, e o que aquelas palavras significaram em sua vida daquele momento em diante. Trevas. E o sono não lhe daria o menor sinal.

"Malditas lembranças... Se eu não tivesse ouvido aquilo tudo, certamente nem saberia que agora tenho minha vida atrelada a ele. LOGO A ELE!". Antes de fechar os olhos e relaxar o corpo, buscando dormir, despediu-se de Hermione, aparentemente no décimo sono:

"Boa noite, querida. Eu te amo."


"Dumbledore, você irá comigo?" – perguntou Harry, levemente pálido.

"Creio que seja melhor que vocês conversem sozinhos antes. Ele só ficará em liberdade daqui uma semana e quando esse dia chegar, irei com você buscá-lo."

"Receio de que não seja bem recebido hoje..."

"E não será, meu filho. Você terá que ter muita paciência. Mas você é forte e já enfrentou coisas bem piores do que uma conversa."

"Como será que ele está, Dumbledore? Azkaban não deve ser fácil para ninguém, mesmo sem os dementadores."

"Nenhuma prisão é, Harry."

"Lembro-me de Sirius, será que ele está tão debilitado quanto o meu padrinho?" – indagou, aflito.

"Harry... Imagino o temporal de coisas que está passando por sua cabeça." – o velho bruxo apoiou sua mão no ombro do jovem – "Sei que você não está preparado para isso, e ninguém estaria... Mas é uma realidade que você tem que enfrentar, você e Hermione. Da parte dela, eu tenho absoluta certeza de que tudo correrá bem. Você tem uma esposa dedicada, paciente, extremamente inteligente e compreensiva. Espero que você também se esforce para que sua vida seja a melhor possível daqui pra frente e eu tenho certeza que você o fará" – disse, em tom de ordem.

"E se eu dissesse que estou muito mais aliviado agora que ele estará mais perto de mim, agora que eu não tenho que mandar um pergaminho por dia para o diretor de Azkaban perguntando como ele está? Sempre com medo de que ele fizesse alguma besteira ou se machucasse seriamente? Apesar de tudo, agora eu acho que minha agonia vai acabar."

Dumbledore abriu um sorriso misterioso e disse:

"Ou está apenas começando..."

O moreno sentiu um arrepio ao ouvir isso, como um presságio. Ficou tão absorto em seus pensamentos que nem se deu conta de que já estava sozinho naquela sala.

"É hora de ir, Harry Potter. Essa conversa tem que acontecer."- disse a si mesmo.


Harry aparatou no único lugar permitido próximo a Azkaban. Uma espécie de casebre abandonado, fedido a mofo e empoeirado. O lugar abrigava aranhas de todo tipo e de vez em quando um rato intrometido. E Harry teve o azar de se encontrar com um desses.

Ao sair, foi revistado por dois bruxos brutamontes que o escoltaram até uma parede falsa de pedras, algo que lembrava a passagem para o Beco Diagonal. Harry suava frio, nem mesmo o vento gélido do início do inverno surtia efeito em seu corpo.

As pedras foram se abrindo uma a uma, dando passagem aos três. Mais à frente havia um homem carrancudo, usando um grande chapéu preto, uma fita vermelha que rodeava seu pescoço e um sobretudo escuro, distinto.

"Bom dia! Quem é o senhor?"

"Fiennes. O senhor é Harry Potter, creio eu..." – disse, sem olhar nos olhos do bruxo, consultando uma pequena lista que havia acabado de conjurar.

"Perfeito."

"Bom, o diretor o aguarda."

O velho fez um sinal para que os dois brutamontes voltassem aos seus lugares e outro para que Harry o acompanhasse.

O moreno tinha receio de que o homem escutasse as batidas do seu coração, tão nervoso estava. E, se não as ouvisse, certamente veria os indiscretos batimentos tentarem levantar sua blusa. Harry ficou aliviado quando percebeu que o "simpático" homem não lhe dirigira o olhar até chegarem ao seu destino.

Pararam em frente a uma grande porta de madeira escura, coberta com frases em latim, num dourado vivo. Fiennes estendeu a mão e disse:

"Sua varinha, senhor Potter."

"Minha o quê?" - perguntou, atordoado.

"O senhor não pode permanecer nas dependências de Azkaban com a sua varinha, sinto muito."

O homem comunicou a notícia tão maquinalmente que Harry tinha certeza de que aquela frase já havia sido decorada; provavelmente, havia dito aquilo milhares de vezes.

"Ah, sim. Pois não!" – disse, pegando sua varinha dentro de seu casaco marrom e o entregando.

"Bom dia, senhor Potter, até mais!" – cumprimentou, esboçando algo que talvez um dia fosse se tornar um sorriso.

Harry respirou fundo, esperou o homem se afastar, olhou para a maçaneta e a girou lentamente. Ao entrar na sala, notou algo ligeiramente familiar. Havia diversos quadros nas paredes, mais outro tanto de quinquilharias espalhadas por todos os cantos e o olhar do homem era...

"Dumbledore..." – pensou.

"Então recebo aqui o famoso Harry Potter, o grande herói da II Guerra!" – disse, vivamente, levantando-se para cumprimentá-lo.

"Ah, er... Bom dia, senhor Grant... Também é um prazer conhecê-lo!" – estendeu a mão, enrubescido.

"Então o grande homem é tímido também?" – perguntou, brincalhão.

"Ah, sim, acho que a guerra me deixou assim..." – disse, ficando mais rubro ainda.

"Sente-se, por favor, senhor Potter!" – convidou, apontando a cadeira à direita de Harry.

Harry enxugou as mãos suadas enquanto o homem o analisava minuciosamente, um sorriso discreto.

"Senhor Potter, devo dizer que eu e toda a comunidade bruxa agradecemos imensamente os seus feitos durante a guerra e..."

"Mas já faz dois anos que tudo aconteceu..." – murmurou, debilmente.

"Oh, sim, claro! Mas eu ainda não tinha tido a oportunidade de agradecê-lo pessoalmente, afinal, mantivemos contato por pergaminhos por todo esse tempo, mas ainda não havia tido o prazer da sua visita."

"Senhor Grant... O senhor deve concordar comigo que este não é o lugar mais apropriado para visitas..." – caçoou.

"O senhor está certíssimo" – riu, divertido – "Pois bem, vamos ao que interessa!"

"Por favor" - pediu Harry.

"Bem, como o senhor já deve saber, o seu protegido" – Harry ruborizou – "deixará este lugar em exatos sete dias, graças ao indulto."

" Claro que sei, eu mesmo fui o defensor do indulto perante o Tribunal de Crimes de Guerras Mágicas..." – confirmou.

"Reduzir uma pena perpétua para dois anos... Nada que a sua influência e o seu nome não consigam, não é, senhor Potter?" – alfinetou.

Harry viu-se imensamente desconfortável com a situação. O diretor do presídio continuou:

"Eu sei o quanto uma guerra pode mudar um homem, senhor Potter. Mas, apenas me responda uma coisa: Por que diabos o senhor passou dois anos da sua vida empenhado em libertar alguém que era partidário do... Você-sabe-quem e ainda matou seu melhor amigo?"

"A única coisa que posso dizer, senhor Grant, é que eu prefiro que ele fique bem debaixo do meu nariz. E não guardo rancores da guerra. Ele matou meu melhor amigo assim como fiz com grande parte dos amigos dele. Além disso, tenho uma razão muito forte, que prefiro não revelar, para não querer que ele apodreça aqui."

"Porque é o que certamente aconteceria, e eu me empenharia pessoalmente nisso" - cuspiu Grant.

Harry impacientou-se na cadeira.

"O senhor poderia guardar as suas opiniões para si. Eu apreciaria muito se, AGORA, eu fosse levado até ele."

Grant ensaiou uma expressão de desgosto e disse:

"Um minuto, vou chamar alguém para acompanhá-lo, com licença." – pediu, acuado.

O moreno começou a pensar em que estado "o seu protegido" estaria. Certamente, não deveria se parecer em nada com aquela criatura empertigada e impecável, que emanava classe por onde passava. E aquilo o incomodava um pouco, algo que ele não sabia explicar bem o porquê. Talvez fosse por ele ter lidado sete anos com uma pessoa totalmente previsível. Harry conhecia cada olhar, cada reação, cada gesto. Agora, encarar uma situação totalmente singular, um Draco, em toda sua essência, irreconhecível, não é o que se pode chamar de divertido. Muito pelo contrário, era assustador.

"Malfoy... Às vezes você me espanta..."– sussurrou, pensando alto.

"Senhor Potter? Harry Potter?"– chamou Grant, insistindo após notar a distração do rapaz.

"Anh?" – respondeu, atordoado.

"Por favor, o senhor Fiennes o acompanhará até a cela."

"Tudo bem. Até daqui a uma semana, senhor Grant! E obrigado por tudo" - agradeceu, respingos de sarcasmo na voz."

"Não tem de quê, e até mais!"

"Céus! Como pode haver um lugar tão gelado, tão sombrio?" – pensava, horrorizado. O mau cheiro daqueles corredores impregnou o nariz de Harry, que mal conseguia respirar o ar denso.

"Estamos longe?" – indagou ao carcereiro.

"Não muito, senhor Potter. Em breve o senhor o verá."

Harry observou cada prisioneiro, e eram aterrorizantes. "Se Malfoy estiver se parecendo com esses outros prisioneiros, apodreceria aqui em pouco tempo!", concluiu.

"Sabe, senhor Potter, o seu amigo é um caso muito especial aqui em Azkaban. No começo, recusou-se a comer a comida que oferecíamos. Pediu apenas um espelho e um pente."

"Um espelho e um pente?"

"Sim, apesar de sujo e muito mal-cheiroso, é o cabelo mais bem penteado que jamais vi!"

Harry sorriu.

"Bem peculiar do Malfoy, senhor Fiennes. Ele é extremamente vaidoso, pelo menos é isso que consigo me lembrar dele."

"Mas o senhor não precisa se lembrar. Esta é a cela, senhor Potter" – disse, apontando um cubículo escuro.

Novamente o coração do moreno se acelerou. "Então, chegou a hora!"

"Abra-a, por favor!" – pediu o moreno, apertando as mãos, apreensivo. "Droga, por que estou nervoso? Medo do Malfoy... Era o que me faltava..."

"Pois não."

O homem fez um feitiço complicado que desacorrentou as grades da cela e disse:

"Devo trancá-los quando o senhor entrar, por segurança. No caso de alguma coisa ocorrer, grite."

"Grite?" – indagou, surpreso.

"Sim, o que o senhor esperava? Que fosse permitida alguma mágica dentro de Azkaban, com exceção dos carcereiros?" – questionou, impaciente.

"Não, tudo bem... Só não é um prospecto muito animador." – desabafou, apreensivo.

"Não se preocupe, ele não se atreveria a fazer nada" – assegurou.

"Assim o espero!"

Harry respirou fundo, enfiou as mãos nos bolsos e tentou fazer algo que parecia com uma expressão de confiança. Assim que pôs os dois pés dentro daquela cela sombria, ouviu as portas serem seladas atrás de si. "Ótimo! Agora estou aqui para ser morto em três segundos e mal consigo enxergar!".

A cela era comprida, porém extremamente estreita. Ao fundo, ele pode ver uma silhueta distinguindo-se da escuridão. Lentamente, aproximou-se, até notar que Draco estava encostado na parede, sentado no chão, a cabeça entre as pernas.

"Malfoy?"

Não houve resposta.

"Malfoy?" – insistiu.

Harry resolveu aproximar-se um pouco mais. Talvez ele estivesse dormindo, e não ouvira seu chamado.

"Malfoy, pode me ouvir?" – perguntou, abaixando-se tão próximo do rosto do loiro que podia ouvir sua respiração alterada.

Em instantes, Harry viu-se pendurado na parede, com as duas mãos de Draco o enforcando.

"Não só ouvi, como não acreditei que Merlin poderia ser tão bom pra mim e me permitir te matar aqui mesmo!"

"Mal... foy... Não fa...ça is...so..."– balbuciava, tentando de alguma forma fazer-se entender com duas mãos assassinas enterradas em seu pescoço.

"E por que não, Potter? O que eu teria a perder? Vou ficar aqui pro resto da vida mesmo! Não me arrependeria nem mesmo de usar um artifício trouxa como minhas próprias mãos pra te matar..."– disse do seu modo arrastado, tão peculiar.

" Nã...o vai cont.. inuar aqui, Mal..."

"Você está muito mal informado, Potter. Prisão perpétua soa bem pra você?" – indagou, apertando-o ainda mais contra a parede.

"Vo... cê vai... sair da...qui a sete dias..."

"Vou o quê?" – perguntou, confuso, soltando Harry bruscamente no chão.

O moreno não conseguia terminar de falar, tamanha a dor. Tentava massagear a garganta, com esforço, mas a voz não saía.

"Fala, seu miserável! Diz por que eu vou sair daqui!" – exigia, alterado, agarrando Harry pelo colarinho.

Aquilo era mais do que o Ex-garoto dourado da Grifinória poderia agüentar. Harry deu um soco forte na barriga do loiro, desvencilhando-se dele.

"Porque eu consegui, idiota estúpido!" – revelou, furiosamente.

"Você o quê?" – indagou, recuperando-se da dor no abdômen.

"Eu consegui sua liberdade, eu intercedi por você no Tribunal!"

"Por que diabos você fez isso?" – perguntou Malfoy, em choque.

"Talvez porque... Eu estivesse em dívida com você."

"Conversa..."

"Você tem razão, não foi só por isso. Mas eu não pretendo dizer agora os meus outros motivos!" – disse Harry, decidido.

"Está a fim de morrer hoje, Potter?" – sibilou, aproximando-se do moreno.

"Você não salvou a minha vida só para me matar depois, ou você faria isso?"

"MALDIÇÃO! Por que você tem que me lembrar disso? Some daqui, Potter!" – gritou, os olhos dos dois tão próximos que Harry podia sentir o ódio que emanava de Draco – "Some daqui, maldito!" – murmurou, por entre dentes, empurrando-o depois.

Foi nessa hora que o moreno teve a oportunidade de fitá-lo, de ver a dor do outro, de ver quão atormentado Draco estava. E também, de notar que suas feições não haviam mudado muito apesar do confinamento. Aliás, a mudança mais brusca, na verdade, tinham sido os cabelos, agora para baixo dos ombros, oleosos como só Snape conseguiria deixar. Mas impecavelmente penteados. Não valia a pena se atracar verbal e fisicamente com alguém naquele estado.

"Eu vou, Malfoy. Mas logo estarei de volta para buscá-lo."

"Então eu vou preferir ficar aqui, imbecil."

"É o que veremos..."

Tão logo Harry deixou a cela, Draco pô-se a esmurrar a parede, completamente atordoado.

"Eu te odeio, Harry Potter. Me solte e sua vida se tornará um verdadeiro inferno!"


N/A: Meu muito obrigada a Ana Carolina (Elnara), q está betando a fic! Homenagem à maior beta q alguém pode ter! Bjos pra vc