Será que alguém ainda se lembra dessa fic? Devo milhões de desculpas, eu sei. Mas infelizmente minha faculdade que estava em greve retornou em dezembro, e eu definitivamente não tive oportunidade para escrever o capítulo em tempo hábil. Mil desculpas mesmo. Foi entre um cálculo e outro que escrevi esse capítulo. Perdoem se não estiver bom, no momento foi o que pude fazer. Esse é o penúltimo capítulo, e também não sei se vou poder escrever o último logo. Se vocês quiserem dar algumas sugestões, estou aberta a elas, quem sabe não encurta a entrega do gran finale! Mil beijos.


E no último capítulo...

- Adoro ir para inferno com você, sabia... – provocou, atacando o pescoço de Draco, beijando-o selvagemente.

- Me solta, me solta! – gritava, debatendo-se.

- Eu sou bem maior que você, Draco. Acho melhor você não resistir, vai ser bem pior.

Draco acertou um soco em cheio no rosto de Joseph e correu com todas as suas forças. Depois de ter se distanciado do QG, concluiu amargamente que havia acabado de assinar a sua sentença.


Cap.11 Die with me

"Olhos, vede

mais uma vez; é a última. Um abraço permiti-vos

também, ó braços! Lábios, que sois a porta do hálito,

com um beijo legítimo selai este contrato sempiterno

com a morte exorbitante.

Vede como

sobre vosso ódio a maldição caiu e como o céu vos

mata as alegrias valendo-se do amor."

Um pingo gelado de suor descia por sua testa pálida. A respiração entrecortada, as mãos frias como as de um defunto que há horas havia recebido as boas-vindas da morte. Suas pernas trêmulas relutavam em mantê-lo de pé, as lágrimas enchiam seus olhos sem que houvesse permissão. Ele sabia que o outro estava bem perto. Era aquela sensação peculiar de quando sabemos que alguém se aproxima, mesmo que pelas costas. E pela intensidade daquela impressão, ele estava muito perto.

Draco apoiou-se numa árvore e ofegou, dando-se por vencido. Não conseguia mais correr, não tinha forças. Lançou um olhar às suas costas, mas ainda não podia vê-lo. Começou a sentir vertigens, nunca havia corrido com tamanha paixão. Sabia que disso dependia muito, algo que ainda não podia dimensionar. O seu instinto berrava em seus ouvidos que deveria chegar o quanto antes a sua barraca, mas ainda não havia passado por sua cabeça o que fazer quando estivesse lá. O que dizer se Harry perguntasse por que ele estava tão angustiado, ou o que dizer se o maldito Garret tivesse chegado lá antes dele e contado tudo que viera fazendo nos últimos meses, detalhe por detalhe? Seu estômago se contraiu. Tinha que matar o homem, só isso o salvaria.

Logo, havia alguém às suas costas. As folhas no chão delatavam. Seus pêlos do pescoço se arrepiaram.

- Draco... – sussurrou com escárnio Joseph, encostando sua vassoura de lado.

- Fique longe de mim, seu verme nojento! – esbravejou Malfoy, parecendo mais cansando do que enfurecido.

- Não se preocupe. Nunca mais vou encostar um dedo em você. Mas você vai pagar tão caro por isso que vai preferir não ter se negado a mim.

Draco engoliu em seco. Sabia que ele falava sério e agora era terrivelmente tarde para tentar consertar algo. Podia notar pela sua risada maligna, era quase como ele mesmo costumava rir. Um contentamento que só estava no rosto, enquanto o coração transbordava os piores sentimentos. Resignado, aceitou quando o outro sacou a varinha em sua direção.

- ESTUPEFAÇA!

Sentiu uma dor súbita ao bater a cabeça num tronco forte, um baque surdo como se o som de sua própria queda só tivesse chegado aos seus ouvidos instantes depois, e logo não viu mais nada.


Harry ouviu passos. Devia ser Draco chegando. Mas surpreendeu quando viu que era outra pessoa.

- Joseph? O que o traz aqui ainda mais essa hora? – perguntou Harry sorridente, ainda que confuso. O outro baixou a cabeça, constrangido.

- Um belo lugar vocês têm aqui, hein Harry? – comentou, sem saber como diria o que realmente fora fazer.

- Sim, é um lugar realmente maravilhoso, pena que não vim a passeio... – lamentou-se, tentando disfarçar qualquer sentimento que tivesse pelo lugar. - Você viu Draco por aí, ou lá no QG? Ah, me desculpe, você parece cansado. Por que não se senta se um pouco?

Garret fitou Harry por alguns segundos e quase sentiu culpa em ter ido lá para fazer aquilo. Ele parecia tão estupidamente apaixonado, mal conseguia disfarçar. O desgraçado do Malfoy havia enfeitiçado o pobre homem. O grande Harry Potter. Grandes homens, com coração fraco. Já havia visto muitos deles caírem. Que antítese... Mas ele tinha ordens superiores e cumpriria o seu dever, mesmo que achasse que não era o Potter que tinha que pagar o preço por ele ter sido desprezado... A vida nunca era justa mesmo, não havia sido com ele, de qualquer forma. Estendeu uma das mãos com um maço de pergaminhos enrolados e apontou para o moreno.

- Bem, Harry... Não tenho tempo para me sentar, muito menos descansar. Vim trazer umas coisas pra você, e espero que não seja tarde demais.

Harry o olhou confuso, um pequeno sorriso esmaecendo em seu rosto, e segurou os pergaminhos. Sentou-se no chão e começou a desembrulhar um a um, curioso pelo que o outro lhe trouxera. Algo lhe dizia que aquilo não era bom, seu coração acelerou. Sorrateiramente, o outro deixou o lugar. Não gostaria de saber a reação de Harry, ele mesmo não saberia o que fazer em seu lugar.

Harry começou a ler linha por linha, e por um momento pegou-se rindo daquelas palavras. Por um momento percebeu que não respirava. Cada uma daquelas palavras o transportava para sua casa, sua cama macia. A pele de Hermione na sua, e sua mão na barriga dela. E os sonhos, eles estavam ali, realizando-se em um pedaço de pergaminho. Uma piada... sim, mas estava começando a duvidar do bom gosto dela.

"Estou esperando um bebê, meu amor!...

Vai ser uma menina...

Tenho certeza que logo tudo vai acabar e seremos os três muito felizes! Os quatro, quer dizer, agora o Malfoy faz parte da família, não é?...

Por que não me responde nenhuma carta?...

Já estou com os malditos enjôos, mas é tudo normal. O bebê está bem, fui ao St. Mungus na última semana...

E todo dia, converso com o nosso bebê, sabe, será uma menina, e lhe digo que seu pai está longe, mais que logo voltará para ficarmos juntos novamente..."

Ao final, Harry deixava que algumas lágrimas escapassem de seus olhos. Depois de ler aqueles pergaminhos, se deu conta de que aquilo não era uma brincadeira. Ninguém seria tão engenhoso. Conhecia muito bem a letra de Hermione, melhor ainda a maneira a qual ela gostava de escrever em suas cartas. Às vezes, um sorriso contagiante tomava conta de seu rosto quando ele compreendia o significado daquelas linhas, noutro momento seu rosto, coberto por suas mãos sedentas, contorciam-se em profunda dor. Era difícil decidir qual o sentimento mais forte: a felicidade ou a tristeza pela terrível traição que sofrera. Como pôde ser tão estúpido! Draco... Gritou pelo perdão da mulher. Amaldiçoou o dia em que amou o loiro, puniu-se por saber que aquele ser tão desprezível era o amor da sua vida e não merecia uma migalha que fosse de sua confiança e sentimento. Céus, ele havia confiado a Draco a sua própria vida e este o apunhalava pelas costas como nem Voldemort ousou fazer! Seu antigo arquiinimigo costumou ser mais honrado... Parecia até odiá-lo menos do que Draco demonstrara.

- Como eu pude ser tão... cego! Como pude abandonar a Mione... Você não precisava ter feito isso, Draco... Porque eu te amaria de qualquer jeito... – murmurou, os olhos escorrendo uma última lágrima, deitado sobre o chão. A verdade é que o sonho de Harry Potter acabara ali.

Draco acordou cuspindo um monte de terra que se amontoou em sua boca na queda. Deveria estar horrível, podia sentir o sangue escorrendo por uma pequena fenda aberta em sua cabeça, que latejava. Parecia ter levado uma surra daquelas, seu corpo todo doía. Não tinha idéia de quanto tempo ficara ali, desacordado, mas sabia que fora tempo suficiente para o maldito Garret ter contado tudo para Harry.

Por um momento, Draco pensou em fugir. Não suportaria ver dor naquela pessoa que havia se tornado tudo para ele. Coisa que outrora fora sua diversão, agora era o mesmo que submetê-lo à mesma agonia. Como o convenceria que tinha feito aquilo porque o amava e não por causa de uma vingança? Ele mesmo jamais acreditaria, afinal fora assim que tudo começou. Por causa de uma retaliação ridícula que se virou de maneira potencialmente forte e fatal contra ele. Torcia para que Harry tivesse a mesma compaixão de sempre.

Mas congelou.

Será que Garret o estava consolando? Será que aquele maldito estava se aproveitando do seu Harry? O que o homem-que-sobreviveu estava pensando agora? Estava amaldiçoando-o? Odiava-o? Ou entendera que aquilo fora um ato desesperado de amor? Será que alguém seria tão bom assim? Draco não tentaria adivinhar, ele iria descobrir agora mesmo, ainda que isso custasse ter que se levantar dali naquele estado.

Com um esforço sobre-humano, Draco conseguiu chegar à barraca. Ela estaria completamente vazia, não fossem alguns pergaminhos embolados no chão. E sentiu seu sangue parar de circular.

- Estou completamente perdido. – sentenciou, os olhos marejando, as mãos trêmulas. – O maldito não havia destruído os pergaminhos!

Draco deixou-se desabar no chão. Tinha que pensar em algo rápido para tentar consertar aquilo. Tinha que pensar em alguém que pudesse ajudá-lo. Desesperado, o loiro embrenhou-se na floresta e correu até o lugar em costumava encontrar-se com seu pai. Sem saber que Harry estava não muito longe dali, lendo e relendo cuidadosamente os últimos pergaminhos que Hermione lhe enviara.


- MEU PAI, ONDE ESTÁ O MEU PAI! – berrava Draco à entrada da gruta. PAI!

- Draco Malfoy, filho de Lucius... Achei que não viria mais! – sussurrou um espectro que se aproximava.

- Cadê o meu pai, eu preciso falar com ele!

- Pobre Draco... Você está um lixo... – zombou o homem, que agora mostrava seu rosto. Era Garret.

- Você!

O homem riu.

- Eu quero falar com meu pai, por Merlin! Onde está meu pai? – gritava.

- Seu pai... – gargalhou o homem. Você se lembra de uma garota conhecida em Hogwarts por ser uma sabe-tudo insuportável? Acho que ele foi lhe fazer uma visitinha...

- HERMIONE!

- É, acho que é assim que aquela sangue-ruim se chama... – desdenhou.

- Oh, céus... – murmurou, sentindo o estômago dar voltas. O que ele foi fazer lá?

Antes que o outro dissesse palavra alguma, a resposta veio na mente de Draco claramente. Sabia o que Lucius fora fazer na casa de Hermione e tinha que chegar lá antes que fosse tarde demais – e correu, mais rápido que podia.

- Hey, Malfoy! – gritou o homem. Seu pai deixou um presentinho pra você! – e estendeu a mão com uma vassoura. Draco o encarou, desconfiado, mas uma vassoura era tudo que precisava nesse momento.

O ex-sonserino voou com gana, como se o pomo de ouro estivesse a centímetros de sua mão e ele não o alcançasse. "Não posso deixar ele matá-la, não posso deixar ele matá-la...". Draco sabia que aquilo, sim, seria o seu fim.


Hermione aconchegava-se no sofá com sua grande barriga, assistindo a um programa imbecil na TV. Não havia nada de bom passando àquela hora. O sono não vinha, e seu bebê não parava de se remexer em seu ventre, causando desconforto.

- Calminha aí, garotinha. Já está quase na hora de nascer, mas você vai ter que esperar um pouquinho! – brincou, acariciando a barriga.

De repente, a campainha tocou. Ela não estava esperando ninguém, muito menos àquela hora da noite. Seria Molly? Bem, ela costumava vir algumas vezes na semana ver se ela estava bem, mas não havia enviado nenhum pergaminho avisando àquela noite.

Com dificuldade, Hermione levantou-se e foi atender à porta. O seu sorriso se desfez no mesmo instante em que o de seu visitante se abriu.

- Surpresa, sangue-ruim! Há quanto tempo! – saudou, fazendo um movimento com a varinha que prendeu a mulher à parede. Outros bruxos entraram na casa.

- Ora ora ora, mas então é aqui que você vive... – disse, fazendo gozação e observando em volta. - Sabia que o Potter não seria capaz de lhe dar algo decente pra viver.

- VAI EMBORA DAQUI, MALFOY! – gritou, desesperada, acompanhando o Comensal com os olhos.

- Ah, não vou não... – murmurou, quase encostando seu nariz ao da mulher, que virava o rosto, enojada.

Lucius deu uma olhada em toda a casa e virou-se para os outros, ordenando:

- Destruam tudo.

Os homens puseram-se a ordenar, com suas varinhas, que os móveis se espatifassem nas paredes, fazendo estrondos horríveis. Malfoy se deliciava ao ver a expressão de pânico de Hermione.

- Não se preocupe, não pretendo fazer desse jeito com você... Mas posso lhe dar um aperitivo. CRUCIO!

Hermione gritava de dor, podia sentir seu bebê se contorcendo em sua barriga. Será que ela também sentia aquela dor terrível? Ela não suportava pensar nisso. A dor era tão grande que, de fato, ela não suportava pensar em absolutamente nada. Quando Lucius interrompeu a tortura, sentiu suas pernas molhando-se. Sua bolsa havia acabado de estourar. Hermione chorou baixinho. As contrações agora começariam a lhe atacar.

- Urgh, que nojo! Não pensei que fosse viver para ver isso! Acho que agora você deve estar com uma dor parecida com Crucio, não é, sangue-ruim? Divirta-se... – riu, acompanhado pelos outros homens. Lucius interrompeu o feitiço que a mantinha suspensa à parede e o corpo dela desabou ao chão, o que arrancou mais risos dos homens.

- Amarrem as pernas dela, ela não vai ter esse bebê! – ordenou.

- Não, por favor, não faça isso... Não mate minha filha... – implorou, tremendo. Se fosse pela vida de sua filha, não se importaria em implorar pela sua vida a um comensal.

- Oh... – exclamou desconsolado Malfoy, aproximando-se dela. Quando chegou bem perto, ele sorriu cinicamente – Temo que não tenha escolha, sangue-ruim.

Hermione chorava copiosamente, enquanto aqueles outros homens, talvez novos comensais, jogavam feitiços que imobilizavam suas pernas como se cordas as houvessem prendido. Ela fechou os olhos fortemente, travando uma luta interna pra proteger seu bebê de qualquer feitiço que fosse. Amava demais a sua filha para perdê-la assim.

- Harry... Harry... – chamava, movendo debilmente os lábios.

Lucius gargalhou.

- Por que você acha que ele viria agora, sua tola! Sabe o que ele está fazendo? Deve estar transando e berrando de prazer com o idiota inútil do meu filho! – gritou, possesso. Ele esqueceu de você... Ele não virá te ajudar, ele não se importa com esse menina na sua barriga. Ele ama Draco!

- NÃO! – gritou, chocado com as palavras – Não é verdade! Você é um mentiroso desgraçado, Malfoy!

- Então espere por ele, espere... Porque sim, ele virá, mulher. Mas você não vai mais estar aqui para ver isso.

Hermione foi submetida aos mais diversos feitiços de tortura. Com uma força sobre-humana, tentava proteger a todo custo seu bebê, não se preocupava mais com sua própria vida. E possivelmente estava conseguindo, pois a criança não mexia mais em seu ventre. Havia também a possibilidade de ela não estar mais viva.

- NÃO! PAREM COM ISSO, PAREM! CHEGA! – berrava. Seu esforço foi tanto que perdeu os sentidos completamente.

Diante do corpo inerte dela, um deles perguntou.

- Ela está morta, Lucius?

- Não. – disse, movendo o corpo dela com um dos pés. - Ela desmaiou. A desgraçada é forte! Mas não se preocupem, ainda faltam alguns convidados para nossa festa. E eu garanto que dessa noite ela não passa. Menos uma sangue-ruim nojenta no mundo.

Neste momento, Draco escancarava a porta e via a cena, horrorizado.

- PAI?


Harry ainda estava mortificado pela culpa. Girava de um lado para outro, procurando por respostas, montando um verdadeiro quebra-cabeça em sua mente. Observando como tudo lamentavelmente se encaixava. Assistindo de camarote o que fora a sua derrocada. E dando-se conta que, apesar de tudo, hesitava em deixar Draco, hesitava em odiá-lo. Só poderia estar ficando louco.

Ainda que não soubesse o que fazer, Harry certamente tinha que voltar para sua casa. O nenê estava prestes a nascer. Tinha que ver Hermione, tinha que tentar explicar o que acontecera. Talvez mentir... Mas consertar tudo.

Ia voltar. Ainda que sua mente fosse uma caixinha de surpresas para ele mesmo, ainda que ele não tivesse nenhuma idéia do que dizer, tinha que voltar e faria isso agora.


- Bem a tempo, Draco. Bem a tempo... – regozijou-se Lucius.

- O que diabos está fazendo? – perguntou Draco, chocado ao ver o corpo de Hermione no chão.

- Prosseguindo com a sua vingança, já que você não tem competência o bastante para isso – disse ríspido, fazendo sumir toda a expressão de alegria de seu rosto. Como sempre, Draco, limpando a sua sujeira e ensinando a você como que é que as coisas devem ser feitas.

Draco correu e se ajoelhou ao lado da mulher, que respirava precariamente. Indignado, virou-se para o pai com ela nos braços.

- O que vocês fizeram com ela? Ela está morrendo, pai!

Os outros comensais riram dele.

- A presença de Potter na sua vida realmente foi o seu fim. Desde quando você sente pena disso? – perguntou, apontando o corpo de Hermione.

- Desde quando a morte dela, PAI, levar a única pessoa que eu amo na vida – resmungou, entre - dentes.

- Como ousa, seu bastardo! – gritou, enfurecido, dando um tapa no rosto de Draco. Tudo isso por causa daquele imbecil do Potter! Onde está todo aquele ódio, Draco! O que ele nos fez passar, o que ele nos faz passar! Ele levou nosso mestre, ele nos deixou desmoralizados! Como pode amá-lo! Você não é digno do meu nome, era você quem deveria estar no lugar dessa mulher! – gritou, estapeando Draco ainda mais, que caiu no chão.

- Então não perca tempo, pai. Mate-me. Mate-me agora. Porque depois do que acontecer aqui, eu não terei mais vida.

- Não seja ingênuo... Acha que não previ que você teria essa reação? Você não quer morrer, Draco. Você é muito covarde pra isso. Pois eu vou lhe dizer o que vai acontecer... – disse, entregando uma varinha a Draco e segurando seu queixo. Você vai matar essa mulher. Eu devo ir embora agora, antes que aurores comecem a aparatar aqui como malditas abelhas.

"Não tente bancar o esperto, Draco. Eu saberei o que fez, e como fez. Se não matá-la, será você a me implorar pela morte. E você sabe que eu te acharia no inferno. Azkaban para você será o paraíso perto do que sou capaz. Aliás, com a morte dela, você será sentenciado à morte, mas ela será rápida, quase indolor. Você escolhe..."

Sob esta última sentença, os homens desaparataram da sala. Draco começou a soluçar, o choro incontrolável em sua garganta. Estava cansado, destruído... Realmente desejava morrer. Olhou para ela, tão pálida, indefesa. Como puderam fazer aquilo com uma mulher que esperava uma criança? A verdade é que realmente jamais sentira compaixão neste tipo de situação. Comensais deveriam fazer esse tipo de coisa sem titubear. Arrastou-se até Hermione e tomou sua cabeça em seu colo, implorando para que ela acordasse. Sua respiração ficava cada vez pior.

Draco, então, desejou que ela morresse e acabasse com aquela agonia.

Não conseguiria matá-la, não poderia. Se ela morresse, talvez ainda sua vida ainda tivesse uma salvação. Com a varinha, ele soltou as pernas dela do feitiço que as amarravam e tomou-a nos braços.

- Harry?...

- Hermione, você!... – exclamou, surpreso e emocionado.

- Draco... Cadê o Harry... – sussurrou, os olhos girando nas órbitas.

Draco irrompeu em choro.

- Eu não sei, Hermione. Eu queria muito que ele estivesse aqui.

Hermione apertou os olhos fortemente e tentou balbuciar alguma coisa.

- Calma, não se esforce! – pediu.

- Minha filha...

- Eu sinto muito, Mione... Eu sinto muito! – chorava.

- Ela ainda vive, Draco. Tire ela de mim, você pode salvá-la.

O loiro olhou para a mulher pasmo. O que diabos ela estava pedindo?

- TIRE ELA DE MIM, SEU ESTÚPIDO, IDIOTA! – berrou, com as últimas forças que ainda restavam.

- Mas, como? – perguntou, aos prantos.

- Não sei, corte... Pegue qualquer coisa qualquer coisa que corte. Não use a varinha, qualquer feitiço pode atingi-la. – sussurrou.

Draco estava atônito. Hermione estava pedindo para que ele a abrisse e tirasse o bebê do seu ventre. Aquilo tinha que ser um pesadelo. Levantou-se e começou a procurar desesperado no que restou do armário da sala algum instrumento de corte. No meio de chaves, canetas e outras quinquilharias, encontrou um estilete grande. Aproximou-se dela. Hesitou.

- Hermione, não posso fazer isso... – choramingou.

- Você vai fazer, Draco. Não queira ser amaldiçoado por uma mulher grávida, no fim de seus dias... – murmurou, esboçando um sorriso. - Força! Eu preciso de você agora. Estou morrendo, Draco. Salve-a.

Draco acenou positivamente com a cabeça e delicadamente levantou a camiseta dela, tirando-a.

- Oh, céus... – chorou.

- Diga que eu o amo, Draco. Que jamais vou deixá-lo.

- Sim... – respondeu, aos soluços, antes de cobrir o rosto dela com a camiseta.

Um choro. Como era doce aquela vozinha inocente. Draco tirou a própria roupa e envolveu a menina, limpando o sangue que a envolvia. Ela era grande, muito branca, e tinha os olhos da mãe. Ele quase riu diante daquele milagre. Como ela poderia ser perfeita, depois de tudo? Recostou-se num canto com ela nos braços, as lágrimas percorrendo seu rosto. Ouviu passos lá fora. Medo. Antes que pudesse se esconder, viu aqueles olhos.


Harry entrou em sua casa e ficou sem reação. Todos os móveis despedaçados, aquele cheiro horrível no ar. Cheiro de morte. Havia sangue no chão. E havia ela.

E ele.

Com passos lentos, Harry aproximou-se do corpo imóvel, mutilado. Ela mais parecia uma boneca recortada, a sua palidez mórbida contrastava com o sangue que adornava a sua volta. Curvado sobre ela, Harry revelou o seu rosto por trás da camiseta. Ela parecia satisfeita. E tudo pareceu absolutamente silencioso.

Grito.

A dor lacerante cortou sua garganta e incapacitou seus pulmões. Seus dedos afogados naquele vermelho profundo afagaram, beijaram, apertaram, arrancaram cabelos. E sua voz implorou por perdão, e amaldiçoou a vida. E suas pernas o impulsionaram para cima, e fraquejaram. E os cacos do chão encontraram conforto em sua carne. E mais alguém chorava.

- Você...

Draco levantou-se e foi até ele, aos prantos. Estendeu-lhe um embrulho e despediu-se:

- Ela lhe deixou esse presente. E ela te ama, amou... Do jeito que você merece.

Harry olhou para aquele pequeno amontoado de tecido e não pôde sentir nada. Era ela, a menina, sua filha. Mas ele não a amava, e deveria ser um monstro por isso. Por que ela estava viva? Ela era o símbolo da sua maldição. Quando viu seu rosto, notou que ela tinha os olhos da mãe, punindo-o, enlouquecendo-o. Não conseguia nem ao menos segurá-la.

- Você a matou pra me castigar, não foi? Você a matou e acabou com a minha vida. Você conseguiu.

Da porta, Draco parou. E o olhou melancolicamente.

- Nada do que eu fizer ou disser vai trazer o seu perdão, Harry. Não vou me esforçar.

- Não vá embora.

Harry deu-lhe as costas e entrou no quarto, roboticamente. O cômodo não estava destruído. O maldito havia destruído apenas a sala. Colocou a menina brandamente na cama e voltou.

- Por quê? – perguntou, ao se aproximar. - Amar você já não era punição o bastante? Por que você tinha que levá-la? Por quê? – os joelhos fraquejaram novamente, levando-o ao chão.

- Eu não fiz isso, Harry. Eu não a matei. Eu cheguei aqui, meu pai... Bem, ele estava aqui, e já estava tudo destruído e ela estava morrendo. E me pediu para salvar a menina, eu tive que fazê-lo, ela implorou!

- Seu bastardo mentiroso! Por que ainda mente! POR QUE AINDA MENTE! – gritava, descontrolado, jogando Draco na parede e esmurrando-o.

- Pare Harry! – gritou uma voz grave e forte.

- Oh, meu Merlin! Eu sabia Dumbledore, eu sabia que havia alguma coisa acontecendo aqui!– uma voz feminina lamentou.

Dumbledore correu para separá-los enquanto Molly debruçava-se sobre o corpo inerte de Hermione.

- Ele a matou, Dumbledore... – chorou, abraçando o velho professor.

Draco estava caído no chão, as mãos no rosto. O velho se afastou de Harry e ordenou que Malfoy se levantasse. Agarrou-o pelo rosto e olhou dentro de seus olhos. Draco teve a impressão de que sua mente estava sendo sugada.

Dumbledore girou a cabeça em sinal negativo e olhou para Harry.

- Não foi ele. Ele não a matou.

- EU SEI QUE FOI ELE, DUMBLEDORE! ELE A LEVOU DE MIM! Ele sabia que eu ia descobrir toda a farsa e resolveu matá-la antes que eu soubesse de toda a verdade, foi ele! – berrava Harry, que se aproximava de Hermione novamente, transtornado. Molly derramava lágrimas copiosamente, e quando ele ajoelhou-se ao seu lado, abraçou-o fortemente.

- Oh, Harry... Que desgraça, meu filho. Ela estava tão feliz, apesar de tudo. Apesar de você estar longe... Ela queria tanto essa menina! – lamentava.

De repente, um choro interrompeu o silêncio que se instalou. A criança reclamava a plenos pulmões. Harry tapou os ouvidos.

- Faça ela parar, Molly. – pediu com a voz fraca, e a mulher imediatamente se levantou e foi até o encontro da menina.

Dumbledore se afastou e chamou Draco.

- Draco... Eu sei o que aconteceu, acredite-me, sei o que aconteceu.

- Mas não tem idéia da dor, Dumbledore. – disse morbidamente.

- Não tenho. Mas você deve presumir a minha tristeza em saber que isso poderia ser evitado e nada fiz.

Draco dirigiu-lhe um olhar cansado.

- Não quero suas desculpas. Você é cheio disso. E eu estou cheio de você. Estou cheio de tudo, dessa vida que só me faz tropeçar, não quero mais...

- Draco...

- Não quero ouvir mais nada.

- Preciso te esconder, garoto. Você sabe que seu pai não desistirá de te encontrar. Você sabe que a sua sentença está assinada, não sabe? Você precisa se esconder até que o encontremos. Até que possamos dar um fim nisso tudo.

- E o que faz você pensar que eu vou querer essa vida? E o que te faz pensar que isso vai ter um fim?

- Você tem que viver, Draco! Você ainda não entendeu nada! – gritou, sacudindo-o.

- Pois bem, me esconda. Não tenho forças pra lutar contra o que quer que seja.

O velho se afastou do loiro e aproximou-se de Harry, que estava sentado sobre o que restava de alguns móveis, o olhar distante.

- Preciso ir por um instante, Harry. Logo chegarão os aurores, não se preocupe. Em breve estarei aqui.

De braços dados, Dumbledore e Draco desapareceram.


Os olhos doíam. A claridade era como milhares de agulhas perfurando-os. O teto era muito branco, as cortinas azuis em volta... Sto Mungus. As ataduras em seus braços provavam que não o haviam deixado morrer. E para salvar quem? Com esforço, sentou-se na cama. Os flashes daquela noite em sua mente, e o que quer que houvesse em sua barriga estava agora no chão. Seus músculos exaustos o levaram ao chão e por alguns metros ele se arrastou.

Logo uma série de enfermeiros corria ao seu encalço, apoiando e levando-o de volta para a cama, enquanto ele gritava os mais sujos impropérios.

- Acalme-se, senhor. Dumbledore já deve estar chegando.

A imagem voltou a se misturar e embaçar, só vira a varinha de um deles girando e tocando a sua fronte.


- Como ele está?

- Hoje achamos o pobre no chão, senhor. Conseguiu se levantar da cama e se arrastar até ali. Não estava nada bem. Disse coisas que eu nem sabia que existia.

- Compreensível, senhora. Agora nos deixe a sós.

Dumbledore colocou a mão na testa de Harry. Ele estava febril.

- Harry, pode me ouvir?

Ele mexeu de leve a cabeça. Por um momento, o velho bruxo não sabia o que dizer.

- Lamento que venha a entender a profecia assim, rapaz. Era para ter sido mais simples, bem mais simples...

Silêncio. Harry abre os olhos.

- Desde o começo de tudo, houve um sentimento forte que ligava vocês dois. Mas o acaso do destino fez com que vocês não o interpretassem de maneira correta. Sempre se odiando, sempre aquela tensão. Eu não ia intervir. Nada do que ninguém dissesse faria qualquer um de vocês dois ponderar. Essas coisas só nós mesmos podemos descobrir. E aí veio a profecia, que dizia que a vida de um dependia do outro. Eu vi ali a resposta. Mas vocês não viram. Você viu o maior transtorno na sua vida e ele viu a oportunidade de se vingar. Péssimos ingredientes para qualquer receita de felicidade.

- Cale-se seu velho egoísta – sibilou – Por que você acha que conhece toda a verdade do mundo? Pois eu vou dizer o que você é: Um bastardo que gosta de controlar a vida dos outros, e que achou em mim o principal ator da sua tragédia. Tudo isso é por sua causa, tudo que aconteceu comigo teve apenas um responsável: VOCÊ. – murmurava, contorcendo-se pelo ódio.

- Eu reconheço minha culpa, Harry. Mas tive a melhor das inten...

- CALE-SE! Você acha que vai conseguir alguma espécie de perdão?Como é que vou saber se você não está por trás de tudo? Como é que você foi para minha casa no exato momento em que tudo aconteceu? É quando eu vejo você que eu sinto pena por não ter continuado dormindo no armário da casa dos Dursleys.

- Eu sei que foi uma desgraça, Harry. Mas você tem que superar, você tem uma filha! Você não pode abrir mão da sua vida assim. Quanto a eu ir para sua casa, foi Molly que pediu que eu a acompanhasse. Ela tinha um mal pressentimento...

Harry riu. Num movimento sobre-natural, jogou o velho na parede e apanhou sua varinha.

- Sabe o que me impede de te matar aqui mesmo? – ameaçou, a varinha na garganta de Alvo. - Você é o único que sabe onde o bastardo está.

- Harry, eu não posso... Não posso te dizer onde ele se esconde, seria arriscado demais para vocês dois.

- Eu não vou deixar que você interfira na minha vida mais, Dumbledore. Eu EXIJO que você me diga o paradeiro de Draco. Se você está assim tão arrependido, faça algo que me faça parar de pensar em te reduzir a pó agora mesmo.

- Eu...

- AGORA!


- Mestre...

- O que foi.

- A filha deles, mestre. A menina está viva.

Lucius torceu os punhos em fúria.

- Draco... – murmurou. – Meu próprio filho me traiu! Ele não devia ter me desafiado!

- Mataremos a menina, mestre?

- Claro que não, seu estúpido! Acha que conseguiríamos sair vivos se tentássemos encontra-la? Deve ter centenas de aurores vigiando-a. Minha busca agora é por Draco Malfoy. Vou encontrá-lo nem que seja no inferno.


Now like a bird she flew away

To chase her dreams
Of books and praise

Still I miss her, yes I miss her

Since she's gone


Não precisa dizer que no início é Romeu e Julieta, né? ;)