Capítulo III – O Pink´s Pub

Já eram 9h da noite e ansiosa Dro se olhava no espelho, espantada com o que via. Não se lembrava de ter se visto tão linda! Com a saia de Shyva, uma bata preta bem discreta que comprara na última visita ao Beco Diagonal, sandálias de couro trançadas nos tornozelos e os acessórios, tudo dentro da última moda trouxa. Os cabelos presos em uma longa trança, com alguns fios displiscentemente soltos. E o sobretudo preto que estava estendido em cima da cama caso esfriasse um pouquinho.

-Vamos, Droida! Assim vai se atrasar para o jantar, e para o seu encontro. – disse Camille, de sorrisinhos curiosos junto com as outras.

-Podem ir na frente, ainda tenho que terminar minha maquiagem.

E ela caprichou na maquiagem perfeita: sombra bem forte em preto nas pálpebras, esfumaçando para o prateado, uma leve camada de pó que ressaltava a sua lívida palidez e um brilho nos lábios que deixava toda a atenção nos lindos olhos verdes. Ela estava pronta para brilhar no Pink´s.

Na exata hora marcada, saíra na porta da Sonserina. Sirius a esperava, mostrando apenas uma das mãos por baixo da capa. Ela entrou junto com ele e seguiram invisíveis pelos corredores até o corredor lateral da Corvinal. O coração de Andrômeda batia desesperado. Não sabia se era tanto pela emoção de estar fazendo coisas escondias ou por estar ali, bem pertinho, abraçada com Sirius. Pararam no lugar combinado, onde ansiosa, Lara já se mostrava impaciente, mas estava linda com uma calça e uma bota de couro e uma bata marrom com bordados indianos, maquiagem e cabelos igualmente exóticos. Bastou um aceno e a corvinal também entrou em baixo da capa. Seguiram até um distante corredor da ala oeste, passando pelas gárgulas, até chagarem um grande e velho caldeirão bastante pesado, que escondia um alçapão. Como um bom cavalheiro, Sirius levou as meninas até a saída em um velho quartinho, ao lado da Floreios e Borrões. Como já era tarde, as acompanhou até o Caldeirão Furado. Lá, combinaram a volta. Eles deveriam estar no banheiro do Caldeirão às 4h da manhã.

Ao chegar na passagem, eles se despiram da Capa e eles puderam olhar uns para os outros. Sirius não pôde deixar de se espantar com a beleza e o visual caprichado das meninas.

-Dro, nunca te vi tão linda!

-Ah, que isso, Sirius! – respondeu a garota completamente corada

-Nossa, desse jeito vão acabar arrumando um namorado trouxa! Não que eu não ache legal, mas nossa família não vai gostar nada disso!

Foi como se um balde de água gelada caísse sobre a cabeça da prima. Finalmente ela caiu na real e resolveu que daquele dia em diante ACABARIAM suas esperanças com Sirius.

Dro desceu do táxi, Lara pagou o motorista e deram uma última checada na maquiagem e no visual.

Por fora era apenas uma portinha, com uma placa velha escrita "Pub" sem nenhuma iluminação. Abriram a porta, a meia-luz revelava a parede toda rosa pink com motivos psicodélicos e o grafitado com o nome do pub.

Foram recebidas por uma garota com roupas todas coloridas que lhes entregou o panfleto com as atrações da noite e cobrou as entradas.

Ao final do corredor, atravessaram uma cortina de veludo preta e tiveram uma das visões mais encantadoras de suas vidas. O lugar era todo colorido, com luminárias pink e atrás do palco, luzes de todas as cores se revezavam na iluminação que anunciava o começo do tributo ao Floyd.

-Lara Johnson Andrews! Que lugar perfeito! Cara, você me disse que era legal, mas eu não imaginava que seria assim tão... Magicamente lindo!

Tudo se esfumaçou, as luzes apagaram, e barulhos de relógios começaram a tocar. Extasiadas, as bruxas quase estavam explodindo de tanta alegria. As luzes focaram a banda e eis que eles começam a tocar Time. Dançando e cantando as músicas juntas, as meninas se sentiram completamente realizadas. Nunca, nenhuma festa em Hogwarts tinha sido tão emocionante.

-Vamos, tem uma bebida trouxa deeeeeliciosa, você tem que experimentar!

-Mas será que podemos? Ainda somos menores...

-Droidinha, já chegamos até aqui. Agora pare de se encanar e vamos curtir. Aqui é tudo mais liberado!

Lara pediu duas doses de Amarula.

-Hum, é mesmo uma delícia, nem parece alcoólico.

-Depois pedimos algo um pouquinho mais forte!

Continuaram dançando e cantando, agora ao som de Money. Pediram mais bebidas, margueritas de tekila. A bebida começou a fazer um pouquinho de efeito e as duas se soltaram mais. Dois garotos não paravam de admirar aquelas garotas tão diferentes ali.

-Dro, olha só aqueles carinhas. Acho que estão encarando a gente!

-Será que perceberam que somos bruxas? – disse a Black encabulada.

-Deixa de ser boba, eles só estão paquerando a gente.

-Hum, mas eu não gostei muito de nenhum dos dois. Em qual você tá de olho?

-Aquele de topete, jaqueta de couro e camiseta branca.

-Ah, tudo bem, eu te dou a maior força, mas não vou ficar com o outro só pra te acompanhar. Olha só a cara de mané dele! E essa calça colada, coisa horrorosa. Deve ser moda por aqui, né?

Faz assim, deixa eles chegarem pra conversar e de repente você dá uma saída para o banheiro. Quem sabe o outro saia do caminho.

Elas continuaram dançando e os meninos chegaram perto.

-Oi, tudo bem? É a primeira vez que vocês vêm aqui, gatinhas? – disse o garoto de jaqueta.

-É a minha segunda vez na verdade, mas a minha amiga é novata por aqui!

-Uau, que maravilha, nós podemos ser bons guias! – indagou o de camiseta e calça preta.

-Bom, acho que o pub nem é tão grande assim... E além disso, eu preciso ir ao banheiro agora. Amiga, pode ficar aí conversando com eles que eu encontro vocês depois.

E sumiu no meio da multidão que lotou o pub, que nem era tão pequeno assim. Ao invés de ir ao banheiro, Dro foi ao bar. Pediu uma cerveja amanteigada. O barman não entendeu muito, mas mesmo assim trouxe uma cerveja trouxa. Quando foi tomar sentiu que era amarga e bem diferente do que ela estava acostumada. Bebeu mesmo assim, já estava empolgada e nada poderia estragar aquela noite.

Ela foi pra frente do palco e ficou encarando o baterista, um homem barbudo, cabelos rebeldes, muito bonito, mais velho que ela. Por alguns instantes ela parecia estar se sentindo correspondida nos olhares. Talvez pudesse conversar com ele no intervalo...

Quando a banda parou, Black ajeitou os cabelos e reforçou o brilho dos lábios, foi buscar outra cerveja e quando voltava do bar, viu o baterista vindo em sua direção. Com a caneca na mão, seguiu em frente, já um pouco tonta, mas cheia de coragem. Foi quando no meio de tanta gente, tropeçou na perna de alguém e derrubou toda a cerveja, além de cair espatifada em cima de um garoto gordinho, de cabelos compridos.

-Ah, garota desastrada! Não olha por onde anda?

-Desculpa, seu grosso, como eu ia adivinhar que ia surgir uma perna na frente da minha!

-É só prestar a atenção no caminho e não ficar babando nos caras da banda, mocinha!

-Olha aqui, se você quer saber, ele tava olhando pra mim também, e se não fosse você aparatar na minha frente, eu tinha chegado até ele!

-Uahahahaha... Você, fedelha? Olha lá quem está com seu baterista...

Quando ela olhou pra frente, os músicos estavam cercados por loiras turbinadas e morenas pecaminosas, com roupas coladas e decotes impublicáveis!

Cheia de raiva no olhar, ela ajeitou a roupa levantou o dedo como se levantasse sua varinha e apontou pro queixo do rapaz:

-Escuta aqui, mocinho mal-educado... Se você soubesse do que eu sou capaz, ficava bem quietinho e parava de me provocar!

-Escuta aqui você, garota - Segurando o queixo dela e chegando bem pertinho, quase nariz com nariz. - Você não me assusta com esses olhos penetrantes e nem com essa carinha de malvada. E além do mais, vai pro banheiro se limpar, que eu vou fazer isso também. Estou todo melado de cerveja!

No banheiro, depois de lavar os braços e os pés, o que deixou a sandália toda molhada, Dro se olhou no espelho. A maquiagem já estava um pouco borrada e a trança toda espalhada. A imagem do espelho também estava um pouco desfocada... Teria bebido muito?

Se refez, retocou a maquiagem, arrumou a trança e respirou fundo, pensando no que acabara de acontecer. Que garoto intrigante, que personalidade...

Ao sair do banheiro deu de cara com o próprio! Pôde então perceber que ele vestia a camiseta com a capa do "Dark Side of The Moon", do Pink Floyd, calças jeans surradas e um tênis desbotado.

-Demorou, hein?

-Ah, você ainda, cabeludo?

-Calma, só vim pedir desculpas por ter sido grosso com você aquela hora e me apresentar: Ted Tonks. E você?

-Andrômeda Black. – disse em tom seco, mas com ênfase no sobrenome.

-Uau! Black! Bonito nome, senhorita. O nome combina com sua carinha bonitinha, e o sobrenome com sua tentativa de parecer malvada.

-Acha que eu tento ser malvada?

-Bom, o que tem feito até agora me parece uma tentativa de me afastar...

-Porque acha que eu faria isso? Olha, eu já estou confusa, é a primeira vez que eu venho aqui, me perdi da minha amiga, nem sei direito como que vou embora, acho que essa cerveja me deixou meio tonta, essas músicas são tão extasiantes, eu sou apaixonada pelo meu primo e acho que ele gosta da minha irmã, e eu to aqui, discutindo com um cabeludo em que eu caí em cima, que adora a mesma banda que eu, que me esperou na porta do banheiro e eu não to mais entendendo porque você tá insistindo em falar comigo se eu fui tão grosseira com você e você também foi comigo – enquanto isso Tonks ia chegando mais perto de Dro – e além disso essa banda parece que nunca vai tocar minha música preferida...

-Shhh... - disse ele tapando a boca da sonserina com dois dedos – Pára de falar um pouquinho e deixa eu olhar um pouco mais pros seus olhos.

-Como assim? Que tem meus olhos? Tá borrada a maquiagem? To com cara de bêbada?

-Shhh, Andrômeda Black. Quero entender o que é que você esconde de tão intrigante por trás desses lindos olhos verdes!

Cinco eternos segundos duraram até que ele tirou a mecha de cabelo que estava sobre os olhos de Dro. Passou a mão pelo seu rosto, trazendo-o pra perto do seu, envolvendo-a em um longo e carinhoso beijo. O coração da garota parecia querer pular para fora do peito. E eis que a tão esperada canção começava a tocar, embalando o casal que dançava abraçado, sem parar de se beijar e trocar carinhos durante toda a canção...

"So, so you think you can tell Heaven from Hell,
blue skies from pain.
Can you tell a green field from a cold steel rail? A smile from a veil?
Do you think you can tell?

And did they get you trade your heroes for ghosts?
Hot ashes for trees? Hot air for a cool breeze?
Cold comfort for change? And did you exchange
a walk on part in the war for a lead role in a cage?

How I wish, how I wish you were here.
We're just two lost souls swimming in a fish bowl,
year after year,
running over the same old ground. What have we found?
The same old fears,
wish you were here."

(Pink Floyd – Wish You Were Here)

Quando a música acabou, eles continuaram se olhando, sorrindo, ainda meio que enfeitiçados com aquele momento. Foi quando a sonserina se lembrou de que existia tempo, Hogwarts, bruxos, Lara...

-Por Merlin! Esqueci da Lara! Que horas são?

-Quatro e cinco. Porque?

-Ai, e agora, o que eu faço? Eu me perdi da minha amiga e a essas horas já era pra eu estar no local combinado e eu nem tenho mais dinheiro pro táxi e eu nem posso aparatar e eu vou me atrasar e vou pegar detenção e posso até ser expulsa por sair da escola em período de aulas...

-Calma, linda! Peraí...Detenção? Merlin? Aparatar?

-Ai, caramba... Falei demais... Mas isso é uma longa história e eu posso te contar depois, mas agora eu tenho que ir!

-Calma, eu te levo na sua casa!

-NÃO! Eu não tenho que ir pra casa! Tenho que ir pro Caldeirão Furado!

-Caldeirão Furado? Lá pros lados da cidade baixa? O que você vai fazer naquela biboca uma hora dessas? Tá doida?

-Por favor, não faça mais perguntas, eu juro que eu te explico depois. Mas se puder, me leve pra lá AGORA!

-OK, senhorita misteriosa, vamos! A sua sorte é que meu amigo que veio comigo está ali, beeeeeem ocupado beijando aquela loira e pode te emprestar o capacete. Eu te deixo lá e volto para buscá-lo.

Eles saíram às pressas e cortaram a cidade como uma pista de corrida na Harley Davidson de Tonks. A sensação de liberdade era maravilhosa, mas ela segurava fortemente na cintura do rapaz, enquanto sua cabeça fervilhava no que poderia acontecer dali para frente...