Capitulo 4

Foi a vez do coração de Hotohori parar, as mãos de Tamahome afastando a sua do corpo dele, suas palavras... sempre suas palavras a machucá-lo, a feri-lo mais do que uma espada atravessando-lhe o corpo. Sentiu tudo escurecer a sua volta e de repente todo o mundo pareceu cair em sua cabeça. Não resistiu e desfaleceu.

Tamahome correu para ampará-lo, não deixando que ele caísse não chão. Carregou-o no colo e colocou-o na cama. Ficou a olhá-lo. "Meu Deus, ele é tão bonito... Eu vim aqui para pedir desculpas e olha o que eu fiz? Só piorei a situação entre agente. Mas que droga! Por que ele tinha que dizer aquilo?".

Colocou um cobertor sobre Hotohori e suspirou profundamente. Saiu e fechou a porta atrás de si. Começou a caminhar sem rumo através dos corredores do palácio, perdido em seus próprios pensamentos. "E agora como eu vou encará-lo? Como? Deus! E porque eu me sinto assim? Por que eu me sinto tão triste por ter dito a ele que não sentia o mesmo? Eu nem sei o que eu sinto por ele de verdade... isso tudo é muito estranho para mim... "

- Tamahome? – Mitsukake, Chichiri e Nuriko o olhavam com cara de culpados.

Ele olhou para trás e estranhou os olhares dos amigos, estreitou os olhos tentando adivinhar o que esses três queriam fazer, mas Nuriko pulou para frente e segurou-o pelo braço, arrastando-o para um cômodo vazio.

Chichiri foi empurrando Mitsukake que ainda resistia envergonhado e também foi jogado para dentro da sala. Nuriko saiu da frente, pois quase Mitsukake se chocara com ela e fechou a porta deixando os dois a sós.

- Mas o que diabos está acontecendo aqui, Mitsukake? – Tamahome perguntou irritado olhando para Mitsukake. – Seu amante e a Nuriko ficaram loucos?

- Calma, Tamahome. – disse Mitsukake agarrando-o pela cintura para impedir que ele saísse da sala. – Eles querem que agente converse.

- Converse? Sobre o quê?

- Sobre Hotohori. – Mitsukake o soltou e com o susto de ter ouvido o nome do imperador caiu de bunda no chão.

- Ai meu traseiro! – ele reclamou alisando os quadris doloridos. – O que o Hotohori tem com isso?

- Bem, é que... o pessoal acha que... – Mitsukake corou ao ter que explicar o verdadeiro motivo de estarem ali conversando sobre Hotohori. – Você e Hotohori deviam ficar...

- Não. Eu não quero ouvir mais. – Falou Tamahome interrompendo Mitsukake. – Já sei o que você quer e não quero ouvir e nem falar sobre isso.

Mitsukake ficou parado, surpreso com a reação dele, então percebeu um olhar de tristeza que não era habitual a ele.

- Aconteceu alguma coisa, Tamahome? – ele perguntou sentando-se no chão ao lado do amigo.

- Hotohori. – Tamahome disse de cabeça baixa. – Hotohori disse que me ama e eu não sei o que fazer agora.

- Ele disse que te ama? – perguntou empolgado. – E você o que fez?

- Disse que não gostava dele. – respondeu de cabeça baixa. – Mas eu não sei o que sinto.

Mitsukake já ia gritar com ele pelo que dissera a Hotohori, mas suas últimas palavras o fizeram parar.

- O que você sente?

- É. Eu me sinto estranho quando estou com ele. – Tamahome falou continuando a fitar o chão. – Sinto alegria e meu coração se enche de felicidades. Sinto vontade de abraçar-lo e de estar com ele...

Mitsukake começou a rir alto e Tamahome corou, depois se levantou irritado.

- Por que esta rindo? – perguntou quase gritando e com cara de quem estava muito aborrecido.

- De você, meu amigo e dessa sua inocência. – Mitsukake disse enxugando as lágrimas que saiam dos olhos depois rir tanto. – Você... você está apaixonado pelo Hotohori.

- APAIXONADO? – ele grita e depois cai na risada. – Não me faça... não me faça rir, Mitsukake. De onde você tirou essa idéia absurda?

- Como assim absurda? – retrucou Mitsukake parecendo irritado. – Você é quem acabou de dizer que sentia vontade de estar perto dele e de abraça-lo...

- EU NÃO DISSE NADA DISSO! – gritou novamente.

- Claro que disse. – replicou Mitsukake. – Está ficando louco? Você me disse tudo isso agora.

- Ora, Mitsukake, chega dessa conversa! – disse Tamahome recompondo-se e indo em direção à porta. – Eu não estou apaixonado e muito menos por Hotohori. Me deixa em paz!

- Mas Tamahome...

- Tchauzinho, Mitsukake!

Mitsukake suspirou e sentou-se no chão novamente. Tamahome estava mesmo apaixonado por Hotohori, mas tinha que enxergar isso, e se ele não visse sozinho, ele e os outros fariam com que visse.

Tamahome entrou no quarto e olhou para sua cama. Quantos e quantos soldados já não passaram por ali, quantas vezes Hotohori já não chorou vendo-os entrar e sair. Promíscuo. Era o que era realmente. Deu de ombros para aquela idéia, não ligava se era assim que pensavam sobre ele, estava vivendo num palácio e era um Seishi de Suzako, sua missão era proteger a Miko, mas ninguém disse que ele não poderia se divertir.

Dois dias se passaram e o imperador não saiu do quarto, somente Mitsukake sabia o verdadeiro motivo e não contara nem para Chichiri, não era segredo para ninguém que ele gostava de Tamahome, mas ninguém precisava saber que ele foi dispensado de forma tão rude pelo homem que amava.

Tamahome fingia não ver o estado do Imperador ou fingia não ligar e quando Nuriko ou Chichiri se aproximava dele, fugia dizendo ter alguma coisa para fazer. Chiriko não saiu do quarto real, ficava o tempo inteiro tocando sua flauta e dizendo que isso era para alegrar-lo. Só saia arrastado por Nuriko, que morria de ciúmes por não ter o que fazer para alegra-lo também. Tamahome também tinha ciúmes de Chiriko, mas fazia de tudo para não demonstrar isso, pois nem mesmo conseguia admitir que era ciúme o que sentia.

Na manhã do terceiro dia Miaka pulou na cama de Hotohori levando muita comida para ele, ofereceu e como ele recusou ela mesmo devorou tudo. Chiriko, que estava tocando sua música e foi derrubado por ela e sua gula. Começou a brigar com ela e Hotohori riu dos dois, eles pararam para olhar para ele.

- Vocês dois me divertem sabia? – Hotohori disse contendo discretamente o riso.

- É bom ver você sorrindo Hotohori. – Nuriko acabava de entrar no quarto trazendo uma bandeja com o café da manhã. – Trouxe seu café. – Ela disse colocando a bandeja ao lado da cama.

- Não precisava se incomodar, Nuriko. – ele disse sorrindo para ela. Chiriko olhou-a com cara feia e Miaka ficou com cara de quem não tava entendendo nada. – Eu já me sinto melhor e vou tomar café com todos hoje.

- Ah Que bom! – Ela disse juntando as mãos e dando um pulinho de felicidade.

- Se vocês me deixaram trocar de roupa, é claro. – ele comentou sorrindo ainda.

Imediatamente Nuriko, Chiriko e Miaka ficaram vermelho-pimenta, olharam-se e os dois últimos levantaram no mesmo instante da cama do Imperador. Nuriko olhou para ele com uma certa tristeza e foi a primeira a deixar o quarto. Chiriko voou em direção a sala de refeição e Miaka já ia atrás dele quando viu que Nuriko ficara para trás.

- Está triste por causa de Hotohori, Nuriko? – ela perguntou mantendo-se séria. - Você gosta dele, não é mesmo?

Nuriko sorriu meio sem graça, mas não respondeu.

- Acho que Hotohori tem o poder de fazer as pessoas se apaixonarem por ele. – ela disse olhando para o chão.

- Você também, Miaka? – ela perguntou assustando-se.

- Não, lógico que não. – Miaka apressou-se em responder. – Eu gosto do Tamahome. – ela disse voltando a olhar para o chão corando. – Mas ele parece gostar do Hotohori.

- Tá falando sério? – Nuriko ainda estava impressionada pelo jeito que a, sempre tão infantil, Miko falava agora. – Por que você acha isso?

- Quando eu falo sobre o Hotohori ele fica tenso. – Miaka respondeu. – Sei que ele gosta de homem e por isso não tenho chance, mas eu queria que eles ficassem juntos. Já que Hotohori gosta dele também.

- É tem razão. – Nuriko concordou suspirando.

Ambas ficaram a fitar o chão em silêncio por alguns minutos, Hotohori chegou assustando-as quando perguntou do que estavam falando.

- N-Nada. – elas falaram em uníssono.

- Então o que estão esperando? – Ele falou sorrindo. – Vamos tomar café.

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Tamahome não tomou café com o grupo, quando viu que Hotohori estava ali, voltou sem ser visto, pegou algo para comer e se trancou no quarto. Pouco depois bateram em sua porta, abriu de mau-humor e já preparado para mandar o intruso embora, mas quando viu o sorriso malicioso de um dos soldados do palácio, seu humor mudou totalmente e ele saiu do caminho para deixar o rapaz entrar.

Mais tarde, nesse mesmo dia, ele foi novamente arrastado para uma sala vazia por Nuriko. A maioria dos Seishis estavam decididos a fazer ele e Hotohori ficaram juntos de uma vez por todas. Nuriko e Miaka foram quem deu esta idéia, Nuriko apesar de muito triste, sabia que nunca seria amada por Hotohori e Miaka sentia o mesmo em relação a Tamahome. Quem não estava gostando muito disso foi Chiriko, que recusava-se a "participar dessa palhaçada toda" e não estava na sala.

O plano era fazer Tamahome e Hotohori se confrontar e se declararam um para o outro. Mitsukake não compartilhava do otimismo das duas "garotas", pois sabia bem que Tamahome estava confuso com relação a seus sentimentos e não seria numa pressão dessas que ele riria se decidir, mesmo assim aceitou permanecer na sala.

Chichiri também estava apreensivo, estava na verdade com medo que Hotohori se machucasse, sentia também que esse plano não parecia muito seguro, mas não disse nada ao outros para não parecer do contra e ficou aliviado ao saber que o namorado sentia o mesmo que ele. Decidiu ficar na "armação" para confortar Hotohori se algo saísse errado. Tinha quase certeza que sairia.

Tasuki partilhava do otimismo das garotas e só queria que o seu amigo ficasse feliz (e parasse de dar em cima dele, de quebra), sabia que apesar de ele não admitir gostava do imperador.

Quando Tamahome se rendeu, Nuriko parou de empurrá-lo e os dois entraram calmamente na sala. Sentiu que estava sendo colocado numa armadilha, deu meia volta, mas foi impedido de sair por ela e Miaka que o agarrou pelos braços.

- O que estão armando dessa dez? – ele perguntou cruzando os braços fingindo estar bem aborrecido. Miaka saiu e piscou para Nuriko que deu um sorrisinho bem discreto e virou-se para responder a Tamahome.

- Armando? Nós? – Disse fazendo cara de ingênua. Mitsukake e Chichiri deram as mãos e se abraçaram, virando de costas para ele. Tasuki assobiou e foi para o lado contrário ao do casal. – Como assim armando? Imagina!

- Está bem. Mas é bom que estejam aqui reunidos. – ele falou suspirando. – Pelo menos me poupa o trabalho.

- Trabalho? Do que está falando? - pergunta Tasuki voltando-se para ele.

- Eu estou indo embora do palácio. – disse sério e descruzando os braços

- COMO É QUE É? – todos gritaram ao mesmo tempo.

- Você não pode fazer isso. – disse Nuriko cruzando as mãos.

- Posso e vou. – ele retrucou. – Quando precisarem de mim, sabem onde me encontrar.

- Mas e a cerimônia para Suzako? – perguntou Miaka.

- Está demorando demais. – ele respondeu. – Se demorar mais dois dias eu vou embora e quando decidirem fazer a cerimônia, eu volto.

- Você não pode fazer isso! Vai estragar todos os nossos planos! – gritou Tasuki.

- Plano? Que plano? – perguntou curioso. – Nuriko!

Nuriko começou a andar devagarinho para longe de Tamahome, mas ele a puxou pelo braço.

- Me fala logo sobre esse tal de plano.

- Tá bom Tamahome, eu conto. – Nuriko falou suspirando e lançou um olhar assassino para Tasuki que se encolheu assustado. – Queremos que você se entenda com o Hotohori.

- É o que? – ele perguntou um tanto atônito.

- Calma, Tamahome! – pediu Tasuki. – Nós só queremos que fiquem juntos já que se gostam tanto.

- E quem disse que eu quero isso? - Retrucou Tamahome pulando em Tasuki e começando a enforcar-lhe e nisso quase caíram por cima de Mitsukake e Chichiri. Nuriko correu para separar a briga e praticamente jogou Tamahome para o outro lado.

- Hotohori gosta de você Tamahome. – Chichiri tentou dar uma força.

- E você parece gostar dele. – disse Mitsukake apoiando.

- Por que não param com isso? – Tamahome disse tentando acalmar-se enquanto ofegava da briga.

- Cansamos de ver você e Hotohori triste, cada um em um canto. – confessou Nuriko. – Você precisa admitir que gosta do Hotohori... não, que o ama.

- EU NÃO AMO HOTOHORI! – ele gritou a plenos pulmões.

Nesse momento, Miaka abre a porta e o grito de Tamahome ecoa através de seus ouvidos, ela vira para trás e vê Hotohori correr desesperado na direção contrária. Todos ficam paralisados por um momento, inclusive Tamahome que não sabia que Hotohori ouvira o que ele dissera.

Os outros pareciam ter entendido o que acontecera, uma vez que Miaka deveria entrar com Hotohori. Chichiri levantou-se correndo ao ver que o Imperador não estava ali e no mesmo instante sentiu o ki de Hotohori enfraquecer-se terrivelmente.

- Eu vou atrás de Hotohori. – ele disse deixando a sala.

- Alguém pode me dizer o que está acontecendo aqui? – perguntou Tamahome com cara de paspalho.

- Hotohori ouviu o que você disse. – Miaka falou. – Dessa vez você o magoou profundamente, Tamahome.

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Hotohori correu desesperado pelos corredores do palácio pensou em se trancar no seu quarto, mas desistiu da idéia, logo alguém chegaria ali para falar com ele, mas não estava a fim de ver ninguém nesse momento. Resolveu então deixar o palácio, engoliu os soluços e enxugou as lágrimas, passou por um guarda dizendo que não era para o seguirem e saiu da proteção do castelo de Konan.

Ele começa a caminhar pelas ruas, quase inconsciente do mundo a sua volta, só no que conseguia pensar era no grito de Tamahome e em suas terríveis palavras. Ele dissera com todas as letras e na frente de todo mundo que não o amava... não o amava. Caminhava pelas ruas da cidade, incógnito, pois estava com as roupas informais, que apensar de parecem finas, nem de longe lembravam as usadas pelo Imperador do país de Konan. Ninguém poderia reconhecê-lo, ainda mais pelo estado em que se encontrava.

"Ele não me ama. Não me ama e jamais vai me amar", pensou enquanto andava sem saber aonde ia, mal conseguia enxergar o caminho a sua frente por causa das lágrimas que vertiam de seus olhos. "Tamahome não foi feito para amar alguém. Ele prefere continuar na promiscuidade com os guardas do palácio a ter um relacionamento sério comigo. Ele não me ama... não me ama... por que ele não me ama? Por quê? "

Uma chuva fina espantou os vendedores da feira mais cedo, que resmungando sobre um temporal que viria, recolheram suas coisas. Uma senhora viu Hotohori sentado e de cabeça baixa no chão perto de sua barraca e recomendou que ele fosse para casa ou para um abrigo para proteger-se da chuva. Ela balançou a cabeça quando percebeu que ele nem ouvira e foi embora, reclamando da falta de educação e postura dos jovens.

Alheio a chuva fina e a rua que se tornara deserta, Hotohori continuava sentado no chão, seus cabelos, agoras soltos, cobriam seus rosto e costas como um manto de seda negro e molhado. A noite chegou e com ela a chuva cada vez mais forte, quando um pedaço de madeira caiu perto de si, Hotohori se deu conta que estava no meio de uma tempestade e num lugar que não fazia idéia onde era.

Começou a caminhar assustado, a chuva se tornava mais intensa a cada minuto e formava ao redor uma cortina de água tão forte que bloqueava-lhe a visão. Ele começou a rodar ao redor de si mesmo, procurando entender o que estava acontecendo e como fora perder-se na cidade e ...sozinho. O grito de Tamahome voltou-lhe a mente e ele começou a corre tapando os ouvidos na vã esperança de cessar a insistente voz.

Quando escorregou no chão molhado, começou a chorar compulsivamente chamando baixo por Tamahome. Minutos depois levantou-se e tornou a caminhar, mas não havia ninguém na rua, todas as janelas e portas em todos os lugares estavam fechadas. Estava perdido na capital de seu país. Sem saber onde estava ou em que direção seguir. Cansado, com fome e com as roupas pesadas de tanta água, desabou no chão na entrada de um beco onde procurava abrigo. No lugar onde desmaiou uma poça de água começou a se formar, a chuva não diminuía e seu corpo caído no chão quase não podia ser visto através da chuva, mesmo que alguém viesse procura-lo não conseguiriam encontrá-lo naquele lugar.

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Tcharans! Mais sofrimento para meu bichinho. Se eu fosse rejeitada dessa maneira já teria me matado, com certeza, mas como Hotohori é mais forte do que aparenta vai resistir a mais essa, lógico, não vou matar um Seishi de forma tão estúpida... morrer afogado numa poça d'água é humilhante.

Bem aguardem e verão em quantos pés essa estória vai andar.

Beijinhos!