Capitulo 5

A chuva caia muito forte e há muito tempo, o dia já tinha se ido há muito tempo e nada do Imperador aparecer. Todos os Seishis estavam juntos na sala do trono, muito preocupados, Tasuki, sentado no trono, batia os dedos no braço da cadeira, Nuriko e Chiriko ficaram sentados num canto, um do lado do outro e de cabeças baixas, Mitsukake afagava Chichiri deitado com a cabeça em seu colo, mas ambos estavam com as caras mais preocupadas do mundo, Miaka andava de um lado para outro e comia com a desculpa de que estava nervosa.

Todos estavam lá. Todos menos um. Tamahome estava longe de tudo isso, se trancara no quarto depois do que acontecera durante a tarde e começara a arrumar suas coisas, não eram muitas e por isso não demorou mais do que minutos para deixar tudo pronto. Deitara-se na cama e inevitavelmente pensara em Hotohori. Outra vez o magoara e dessa vez a culpa não fora mesmo sua, tudo foi causado pelos outros seishis que queriam que os dois ficassem juntos. "Mas isso não vai acontecer nunca.", pensou, "Não fomos feitos um apara o outro como Chichiri e Mitsukake, somos muito diferente, muito diferentes mesmo."

O frio invadia o palácio e todos correram para pegar agasalhos, Tamahome já estava enrolado na cama e pronto para dormir quando bateram em sua porta. Nuriko entrou em prantos no quarto e se jogou nos braços de Tamahome, ele a segurou preocupado, a levou para sentar-se em sua cama e perguntou o que tinha acontecido para ela estar naquele estado.

- O Im-imperador Hotohori... ainda...inda não voltou. – ela falou entre soluços.

- Não voltou? – Tamahome não entendia direito, pois nem ao menos soubera que Hotohori havia deixado o palácio. Ele franziu as sombracelha e abraçou Nuriko para tentar acalmá-la mais. Tentou não contagiar-se pelo nervosismo de Nuriko e perguntou co calma: O que você acha que aconteceu?

- N-não sei. – respondeu enxugando o rosto. – Mas Chichiri está com um mau pressentimento, sem contar que os inimigos podem encontra-lo sozinho... – ela parou de chorar e olhou para Tamahome, queria que ele entendesse a gravidade da situação de agora, além do mais desistira de fazê-los ficar juntos, se ele era tão cabeça dura, não adiantaria mais conversar. – Frágilizado emocionalmente do jeito que ele está, não será páreo para ninguém.

- Também não é assim, Nuriko. – ele rebateu afastando-se dela. – Hotohori é fisicamente muito forte e se confrontado não seria derrotado assim tão facilmente.

- Não importa, Tamahome. – ela replicou levantando-se e ajeitando a roupa. – Vamos sair para procurá-lo, eu vim chamá-lo, mas acho melhor você nem ir mesmo, pode até piorar as coisas.

- Espere. – ele gritou quando Nuriko já saia do quarto, ele baixou a cabeça e deu um grande suspiro. – Eu vou procurar o Hotohori, sozinho, afinal parte da culpa dele ter sumindo é minha.

- Parte?

- Ora, Nuriko, não vamos discutir isso agora. – disse empurrando-a para fora e fechando a porta atrás de si. – Como você mesmo disse, Hotohori pode estar em perigo.

- Mas não é aconselhado você sair sozinho. – Mitsukake que vinha na direção deles falou.

- É melhor assim, se Hotohori aparecer não ficáramos todos perdido pela cidade. – ele disse firmemente. – A única coisa que tem lá fora é água.

- Leve pelo menos um de nós com você. – sugeriu Mitsukake.

- Não precisa. – ele disse decidido. – Eu encontrarei Hotohori sozinho.

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Tamahome deixou o palácio minutos depois. Saiu bem agasalhado e levou roupas extras para Hotohori. Estava mesmo preocupado, se Hotohori estivesse pegando essa chuva ficaria doente, descartou totalmente a possibilidade de encontrar algum inimigo, tinha certeza que ninguém enfrentaria um temporal desses para encontrar o Imperador perdido na rua.

Nem sabia por onde começar e caminhou em linha reta a partir do portão que saira, olhou para dentro de ruas estreitas apertando os olhos para enxergar por entre o véu de água, procurou debaixo das barracas que continuavam no lugar e depois do que lhe pareceram horas nada encontrou.

Estava prestes a desistir quando sentiu um ki muito fraco, o identificou imediatamente como sendo de Hotohori e correu na direção de onde sentia a energia vindo. Atravessou dois becos que deram numa rua larga, olhou em volta e viu um volume no chão na entrada de outra rua estréia, colocou a mão sobre os olhos para tentar ver melhor e seu coração deu um salto ao perceber que era mesmo Hotohori.

Ele parou na frente do corpo caído, rezando para que ele estivesse vivo e por um instante a idéia de que ele podia ter sido atacado voltou-lhe a mente e tudo o que pedia era para que Hotohori não tivesse sido violentado por algum maníaco. Abaixou-se e pôs a mão em seu braço, uma vez que ele estava deitado quase de bruços no chão. Estava vivo e quente... muito quente. Levou a mão à testa de Hotohori e sentiu um imenso calor ali apesar da chuva forte e do frio que fazia, sentiu o corpo do Imperado queimar... ele estava ardendo em febre.

Balançou-o um pouco para ver se ele reagia, mas nada aconteceu, resolveu então carrega-lo nos braços, mesmo sem saber se tinha forças suficientes para isso. Colocou-lhe o agasalho que trouxera, estava um pouco molhado, mas era melhor do que nada e virou-o de costas e pôs um braço sem eu pescoço e com o outro levantou um pouco suas pernas, pondo em seguida o braço embaixo de seus joelhos. Com uma pequena dificuldade inicial conseguiu carregá-lo e começou a caminhar de volta para o palácio.

Três ou quatro guardas estavam no portão de entrada, se protegendo o máximo que podiam, correram ao ver que Tamahome trazia nos braço o Imperador. Chichiri sentiu o ki dos dois imediatamente e quase arrancou o braço Mitsukake quando os dois entraram no palácio.

Tamahome correu o quanto pode para tratar logo de Hotohori, sentir o corpo quente dele junto ao seu era desesperador porque estava cada minuto mais quente, chegando a ponto de arder na sua própria pele. Um lampejo de culpa e arrependimento tomou conta dele, se Hotohori morresse seria o fim de tudo, as pessoas do país de Konan, a esperança de chamar por Suzako tudo morreria... ele não queria que Hotohori morresse... principalmente sabendo que era por sua causa.

- MITSUKAKE VENHA AJUDAR HOTOHORI! – gritou assim que entrou no palácio. – ELE ESTÁ ARDENDO EM FEBRE!

- Leve-o para o quarto. – ordenou Mitsukake assumindo sua função de medico do grupo. – Precisamos tirar essas roupas molhadas o quanto antes.

Assim que ouviram o nome de Hotohori, Nuriko e Miaka pularam da cama para ir vê-lo, Chiriko e Tasuki, que terminaram por dividir o quarto nessa noite correram também, mas todos foram impedidos de entrar no quarto por Chichiri.

- Deixem que Tamahome e Mitsukake cuidem do Imperador. – ele disse sério abrindo os braços para impedir que entrassem nos aposentos reais.

- Isso não é justo. – reclamou Chiriko. – Foi o Tamahome quem provocou tudo isso e vocês ainda permitem que ele chegue perto do Imperador.

- Cale-se Chiriko. – ordenou Tasuki. – Não fique falando besteiras só porque está com ciúmes.

Chiriko ficou vermelho, pois todos olharam em sua direção com cara de surpresos.

- Ah! Então foi por isso que não quis colaborar com nosso plano! – exclamou Nuriko segurando o rosto.

- Você gosta do Hotohori, não é Chiriko? – perguntou Miaka sorrindo.

- CALEM A BOCA TODOS VOCÊS! – gritou com o rosto pegando fogo e saiu correndo desaparecendo no corredor.

Os quatro riram por um breve instante, mas se calaram ao lembrar que estavam na porta de Hotohori e este estava doente. Miaka sorriu e deu uma tapinha nas costas de Nuriko.

- Não se preocupem. – disse alegremente. – O Hotohori vai ficar bem, ele é forte como um touro!

Os outros sorriram querendo que a Miko tivesse razão, mas ainda assim estavam mortos de preocupação.

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No quarto, Tamahome estava de costas enquanto Mitsukake terminava de retirar as últimas roupas de Hotohori e vestir-lhes outras enxutas e limpas. Ajudara-o nesse trabalho até restar somente as roupas intimas, então corou e saiu rapidamente de perto de Hotohori, ficando de costas e deixando o resto do trabalho para o médico.

Mitsukake sorriu da reação do amigo e voltou sua atenção para o Imperador, seu corpo estava tão quente que lhe ardia a mão se ficasse muito tempo em contato com a pele dele. Depois de ter trocado suas roupas, Tamahome o ajudou a ajeitou Hotohori na cama, então começou a examiná-lo. Foram curados alguns ferimentos nas pernas, causados pela queda que sofrera, mas fora isso a febre não baixou e Mitsukake olhou para o Imperador preocupado.

- Acho que Hotohori não quer ser curado. – ele disse gravemente.

- Como assim não quer ser curado? - perguntou erguendo as sombracelhas. – Que besteira! Como alguém pode não querer ser curado?

- Meus poderes não conseguiram fazer sua febre baixar. – explicou. – Acho que essa doença vem da alma do Hotohori e não de seu corpo. Tudo o que eu podia fazer, já fiz.

Tamahome engoliu em seco... culpa sua. Só isso vinha-lhe a cabeça, a culpa era to-di-nha sua. Não gostaria que Hotohori tivesse ouvido aquilo, ainda mais da forma que foi dito, preferia ter ido embora do palácio sem todo esse sofrimento, sem ter ao mesmo que comunicar o fato à Hotohori, bastava os outros Seishis e a Miko ficaram sabendo, iria embora sem fazer Hotohori sofrer... o sofrimento seria apenas... seu.

- Tamahome? – Mitsukake finalmente fala, depois de deixar Tamahome com seus pensamentos por alguns minutos. – Talvez você deva ficar mais alguns dias. Sua presença pode fazer o Hotohori se sentir melhor, você sabe... ele gosta de você...

- Está bem. – disse Tamahome fechando a cara quando ouviu a última frase de Mitsukake. – Mas, por favor, não mencione esse fato, eu gostaria de deixá-lo esquecido.

- Está bem. – disse o seishi médico. – É melhor você também trocar de roupas, ou será mais um doente aqui.

Quando saiu praticamente foi atacado por Nuriko e Miaka, Chichiri escorregou para dentro do quarto e fechou a porta deixando Tamahome ser interrogado pelas duas. Ele conseguiu empurra-las para longe e saiu correndo sem nada dizer, Tasuki caminhou devagar atrás dele, enquanto as duas ficaram discutindo sobre quem entraria primeiro no quarto, finalmente decidiram pelas duas e praticamente invadiram o quarto de Hotohori.

Mitsukake estava com uma cara tão triste que as duas começaram a derramar lágrimas silenciosas e Chichiri pôs um dedo nos lábios, para pedir silêncio.

- Ele está tão mal assim, Mitsukake? – perguntou Nuriko cobrindo a boca com a mão.

Miaka sentou-se ao lado do Imperador, segurou-lhe a mão e afastou um franja um pouco molhada de seu rosto. Seus dedos tocaram de leve a testa dele, mas foi o suficiente para sentir o quanto estava quente.

- Não pode fazer a febre parar? – perguntou olhando para o médico.

Mitsukake balançou a cabeça negativamente.

- O estado dele é delicado. – ele disse angustiado. – Sua febre é emocional e não ninguém alem dele mesmo que pode curar-se, por isso Nuriko, é grave sim. Depois do que houve hoje, duvido que Hotohori esteja pensando nas conseqüências do fato de ele morrer.

Chichiri abraçou Mitsukake em busca de conforto e Nuriko pôs-se do outro lado da cama, cada uma segurou uma das mãos de Hotohori e rezaram baixinho a oração que sabiam para dar forças ao Imperador.

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- O que Hotohori tem? – perguntou Tasuki, estava de costas, pois Tamahome trocava de roupas, não que fosse pensar em alguma coisa numa hora daquelas, mas tinha pudor suficiente para não ficar olhando-o enquanto estava pelado. – Se Mitsukake não pode curá-lo o que vamos fazer?

- Não pergunte para mim. – Tamahome disse terminando de amarar a roupa. – Mas eu ficarei mais um pouco, a culpa foi minha por Hotohori ter saído daquela maneira.

- Ainda bem que você consegue ver isso. – disse Tasuki mordaz.

- Não vem você também, gente demais já me encheu o saco com isso. – retrucou sentando-se na cama.

- Não entendo porque é tão cabeça dura... – comentou Tasuki baixinho. – Sei que gosta dele, mas...

- Já disse para parar com isso. – Tamahome interrompeu o amigo. – Eu não gosto do Hotohori dessa maneira e por isso não quero ficar junto dele.

- Só queria levá-lo para cama, Tamahome?- Tasuki perguntou lançando um sorriso muito irônico para o amigo.

- No começo sim. – respondeu sério. – Mas depois... depois nem mais isso eu quis.

- Não sente mesmo nada por ele?

- Eu não quero falar sobre isso. – cortou Tamahome. – Porque não vai dormir, eu vou ficar com o Hotohori essa noite.

Tasuki o fitou por um tempo e depois desviou o olhar, balançou a cabeça sem consegui entender o porque Tamahome tinha tanto medo de assumir seus sentimentos por Hotohori e saiu do quarto o acompanhando. Desejaram-se boa noite e seguiram para lados contrários.

Tamahome bateu na porta de leve e encontrou apenas Mitsukake com Chichiri cochilando em sua perna, ele acariciava o rosto do namorado de leve, mas sua visão pousava em Hotohori. Olhou para o rapaz que acabara de chegar e sacudiu Chichiri de leve, fazendo-o levantar-se.

- Nuriko e Miaka saíram ainda há pouco. – Mitsukake disse segurando Chichiri, que praticamente dormia em pé, olhou para Hotohori e suspirou preocupado. – Ele está delirando um pouco, troque as compressas quando esfriarem e o deixe bem agasalhado, pode não adiantar muito, mas é melhor do que ficar parado vendo-o dessa maneira.

Mitsukake acordou Chichiri para que ele caminhasse, mas o monge debruçou-se novamente e o jeito que encontrou foi carregá-lo no colo.

- Converse um pouco com ele, segure suas mãos e faça-o saber que está aqui. – Mitsukake disse quase implorando. – Não estou dizendo para dar-lhe falsas esperanças, mas se ele acordar podemos conversar com ele e fazê-lo entender que precisamos dele vivo.

Tamahome assentiu com a cabeça, quando Mitsukake saiu levando Chichiri ele sentou-se na cadeira ao lado da cama de Hotohori. Segurou sua mão e levou-a até seus lábios, beijando-a com carinho. Acariciou devagar o rosto dele e colocou uma compressa quente, cantarolou baixinho uma canção de ninar e deitou a cabeça na cama do Imperador ainda segurando sua mão.

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Deixar Hotohori doente. Foi a maneira que eu encontrei para fazer Tamahome demonstrar seus verdadeiros sentimentos para com ele. Uma pena que ele não possa ver isso. Não reparem se eu exagerei um pouco com a febre, mas venhamos e convenhamos, tinha que botar um pressãozinha...

Até a próxima!

Beijinhos!