Capitulo 6
Tamahome acordou assustado-se com os movimentos de Hotohori. Levantou a cabeça pensando que ele havia despertado, mas tudo o que ouviu foi ele sussurrar o seu nome. Tocou a compressa e como estava fria, levantou-se, constatando que também a água do balde estava fria, mandou um dos servos trazer mais água quente e voltou a sentar-se a seu lado.
A chuva caía mais leve e os pássaros já se aventuravam nas árvores ao redor do palácio. Ele olhou Hotohori ternamente, tocou seu rosto de maneira delicada e levou suas mãos aos lábios depositando um beijo de leve. Mitsukake entrou nesse momento, estava sozinho e sorriu para o amigo.
- Não entendo você, Tamahome. – ele disse tocando a testa de Hotohori.
- Não há nada para entender, Mitsukake. – Tamahome respondeu levantando-se do lugar. – Já que você está aqui, eu vou indo, preciso organizar algumas coisas.
Tamahome suspirou depois de fechar a porta, um dos guardas lançou-lhe um olhar desconfiado, mas ele o ignorou e caminhou para seu quarto, queria esquecer tudo o que tinha feito até aquele momento.
Dois dias depois Hotohori ainda estava mal, continuava inconsciente e tudo o que fazia era chamar Tamahome em seus delírios. Tamahome estava a seu lado todos os dias, nem ele sabia se era por culpa, preocupação ou um sentimento maior em seu coração.
Segurava-lhe mão e acariciava seu rosto cantarolando as mesmas canções de ninar que cantava para seus irmãos pequenos, enquanto sussurrava em seu ouvido pedidos para que ficasse bom logo. Depois de seis dias, ele constatou aliviado que a febre baixara, ele parara de delirar e seu corpo estava com a temperatura quase normal.
O sol já despontava com ferocidade e nem havia sinal da tempestade que caíra insistentemente há mais de três dias, Tamahome pôs a mão na testa de Hotohori e sentiu que a febre desaparecera, só faltava ele acordar. Debruçou-se sobre seu rosto e sentiu sua respiração delicada, beijou-lhe a testa bem de leve e caminhou em direção à porta.
Virou-se quando ouviu um resmungo do Imperador. Hotohori levantou um pouco e sentou-se na cama ainda meio sonolento, ele sorriu para Tamahome e estendeu os braços para ele.
- Tamahome... – ele disse baixinho e cheio de esperanças, mas seu rosto muda o semblante quando seu amado vira-se de costas e sai sem lhe dizer uma palavra.
As lágrimas afloram sem querer de seus olhos e seus braços penderam de volta na cama, Hotohori desmaiou novamente com o que restava de seu coração despedaçado... mais uma vez.
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Tamahome despediu-se de Miaka que praticamente implorou para que ele não fosse embora e agarrou-se em suas pernas quase derrubando-o no chão. Mitsukake e Tasuki o esperaram na saída e ficaram felizes com a noticia de que Hotohori já havia melhorado.
- Se você tivesse ido embora, não sei se ele conseguia se recuperar tão rápido. – Mitsukake disse ainda meio preocupado. – Acho que logo teremos o Imperador de volta, não é mesmo?
- E quanto a Suzako? – Tasuki perguntou desviando o rosto.
Hotohori sorriu meio sem graça e respondeu ao amigo.
- Não se preocupem vocês dois. – ele disse tentando parecer contente. – Eu só irei ver minha família e volto em alguns dias, é tempo suficiente para Hotohori se recuperar totalmente e nós podermos chamar por Suzako.
Eles assentiram e despediram-se de Tamahome, vendo-o partir do palácio.
- Cabeça dura, Hunf! – resmungou Tasuki e Mitsukake sorriu para ele.
- Talvez quando ele voltar esteja mais bem resolvido quanto a seu coração. – disse o médico. – É melhor ele pensar sozinho.
Tamahome montou no cavalo e saiu devagar sem olhar para os amigos que ficavam, seu pensamento só se concentrava em uma coisa, em um lugar. Hotohori era tudo o que ele pensava, seu coração doía quando a imagem de Hotohori de braços abertos para ele voltava sua mente, como queira jogar-se em seus braços naquele instante, como queria dizer que o amava mais do que qualquer coisa, como o queria... mas não podia tê-lo.
Seu sentimento e sua racionalidade brigavam e tinham a feroz intenção de vencer, mas os motivos que tinha para manter-se longe da pessoa que amava eram mais forte e no final sua racionalidade acabava vencendo.
Ele começou a cavalgar mais depressa, instigando seu cavalo a correr o mais rápido que podia, queria na verdade afugentar seus pensamentos com a velocidade e deixar seu coração um pouco mais tranqüilo nem que fosse no caminho para casa.
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- Como assim o Hotohori voltou a ter febre? – Mitsukake perguntou desconfiado.
- Eu estive lá logo depois que o Tamahome me disse que iria viajar. – explicou Miaka meio ofegante, viera correndo para pedir novamente que ele ficasse, no entanto, ele já havia ido. – Ele me disse que Hotohori estava bem, mas quando entrei no quarto ele estava mal novamente e parece ter chorado também.
- Tamahome... – suspirou Mitsukake voltando a ficar preocupado. – Ele fez novamente, mesmo sem querer ele fez de novo.
- E agora? – Tasuki perguntou. - O que faremos?
- Esperar. – respondeu Mitsukake sério. – Esperar e ver como Hotohori reagirá a tudo isso.
Hotohori não melhorou. Dois dias depois ele continuava a arder em febre como se nunca tivesse se recuperado. Mitsukake o examinou, mas nada pode fazer novamente.
- A doença de Hotohori é psicológica. – ele explicou. – Como eu disse antes, só ele mesmo pode curar-se.
- Mas isso é ridículo! – disse Chiriko revoltado. – Como Hotohori pode ficar doente sozinho?
- Fiquei quieto, Chiriko! – reclamou Tasuki. – O coração do Hotohori está magoado, vamos deixá-lo sozinho. – falou praticamente o arrastando para fora.
- Vocês podem ir, eu cuidarei do Hotohori por hoje à noite. – disse Nuriko tristemente.
- Eu fico com você. – ofereceu-se Miaka.
- Não precisa. – agradeceu Nuriko. – Mais tarde você pode ficar aqui se ele não estiver melhor pela manhã.
- Ela tem razão, Miaka. – concordou Chichiri. – Talvez precisemos nos revezar para cuidar do Imperador.
- Então, boa noite, Nuriko. – disse Mitsukake segurando na mão do namorado. – Vamos Miaka...
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- O Hotohori não melhorou? – Chiriko perguntou parecendo preocupado.
- Não. – Mitsukake respondeu gravemente. – Já se passaram oito dias desde que Tamahome foi para casa e Hotohori piorou, e o mais grave é que ele não dá sinas de que vai melhorar...
- Você quer dizer que o Hotohori... VAI MORRER? - Nuriko perguntou assombrada. – NÃO! Isso não pode acontecer... – ela gritou e saiu correndo.
- É inacreditável, mas é a verdade. – continuou Mitsukake. – Infelizmente Hotohori está deixando esse mundo. O estado dele é muito grave e eu não posso interferir...
Chichiri abraçou Mitsukake em busca de conforto e foi abraçado com força também e chorou baixinho no ombro do namorado.
- Me sinto inútil. – disse o médico revoltado. – Gostaria de poder fazer alguma coisa para salvá-lo, mas só posso assisti-lo morrer e ficar quieto!
- Eu também queria fazer alguma coisa... – falou Miaka. – Mas mesmo sendo a Suzako No Miko eu nada posso fazer, poderia chamas Suzako e pedir pela vida do Hotohori, mas sem ele e Tamahome...
- É ISSO! – gritou Tasuki levantando-se de repente. – Vou buscar Tamahome!
Os outros olharam para ele sem entender muito bem o que ele dissera, Mitsukake sabia que assim como da primeira vez, a presença de Tamahome poderia sim fazer Hotohori melhorar, mas sabia também que o Seishi não voltaria assim, a não ser por livre e espontânea vontade.
-Boa idéia Tasuki! – exclamou Miaka.
- Tenho certeza que com o Tamahome aqui o Hotohori ficará bom bem depressa. – Tasuki disse confiante.
- Eu não acho que será assim tão fácil. – disse Chichiri, enxugando as lágrimas. – Convencer Tamahome a voltar pelo homem que ele quer se manter afastado será praticamente impossível.
- Pois eu vou tentar mesmo assim. – disse Tasuki ainda confiante. – Não serei digno se ser um Seishi se não conseguir salvar a vida de um amigo e de um seishi como eu.
Os outros assentiram e Tasuki saiu da sala, foi ao quarto de Hotohori e encontrou Nuriko em prantos sobre o corpo do Imperador.
- Não é justo! – ela disse soluçando. – Isso não é justo. Eu amo o Hotohori mais do que tudo nessa vida e se ele me amasse também não estaria quase morrendo.
Tasuki ficou parado onde estava, Nuriko nem olhava para ele, segurava a mão de Hotohori e chorava acariciando-a.
- Por que a vida tem que ser tão injusta. – lamentou-se. – Por que ele tinha que amar o Tamahome?
- Nuriko, eu...
- Você vai salvar o Hotohori? – ela perguntou esperançosa.
- Eu... eu vou buscar o Tamahome.
- Vá Tasuki. – ela disse de cabeça baixa, enxugando o rosto. – Mas vá rápido, sinto que o ki de Hotohori enfraquece a cada momento, se continuar nesse ritmo, ele terá pouco mais de três dias.
Ele se aproximou de Hotohori e segurou sua outra mão, apertando com força.
- Resista, Hotohori. – ele disse. – Vou trazer o cabeça oca de volta para você..
Nuriko sorriu para ele, mesmo nas horas mais difíceis Tasuki conseguia manter o bom humor e fazer brincadeiras. Ele despediu-se e saiu apressado. Quanto mais demorasse mais Hotohori corria perigo.
Cavalgou o mais rápido que pode seguindo as instruções de Miaka e Mitsukake para encontrar a casa da familia de Tamahome e assim que chegou foi recebido por duas crianças que brincavam do lado de fora, ele olhou em volta e quando ia perguntar para o maior se ali era a casa de Tamahome o próprio apareceu.
- O que está fazendo aqui? – Tamahome perguntou desconfiado.
- Vim falar com você, obvio. – Tasuki respondeu meio agressivo.
Tamahome olhou os irmãos menores brincarem e chamou Xxxxx para cuidar deles.
- Vamos para outro lugar. – ele disse indicando que Tasuki o acompanhasse.
Caminharam até a beira de um rio, em completo silêncio que só era quebrado pelo barulho da correnteza que estava um pouco agitada e de crianças que brincavam longe.
- Sobre o que quer falar, Tasuki? – perguntou mostrando um completo desinteresse. – Se é sobre o Hotohori perdeu seu tempo.
Tasuki apertou os dedos contra a palma da mão para tentar manter-se calmo. Como ele podia ser tão prepotente?
- Vim pedir para você voltar realmente. – ele disse tentando manter a voz calma. – Hotohori precisa de você...
- Por que vocês não param de tentar me jogar para cima dele? – ele perguntou irritado. – Mas que droga!
- Não é nada disso, Tamahome. – Tasuki tentou explicar-se. – O Hotohori está doente novamente e...
- Só pode ser mais uma armação de vocês. – ele cortou Tasuki novamente. – Quando a Miaka estiver decidida a chamar Suzako eu voltarei, por outro motivo, não.
- Por favor, Tamahome, Hotohori ficou mais doente ainda depois que você foi embora...
- Eu já disse que só volto quando estiver tudo pronto para a cerimônia. – reafirmou.
- Pois, não haverá cerimônia se você não voltar comigo.
- E já lhe disse o que farei. – falou. – Não voltarei agora.
- Não volta nem pára salvar a vida do homem que você ama? – Tasuki perguntou com voz baixa.
- Não há homem que eu amo em K...
Não pôde terminar a frase, pois foi atingido por um sono na cara dado por Tasuki que estava furioso, ele arfava de raiva e tinha mesmo vontade de acabar com Tamahome.
- Você é um estúpido, Tamahome! – ele gritou, gesticulando e apontando para Tamahome. – Não entendo, não consigo compreender o porque duas pessoas que se amam não podem ficar juntas... e não diga que você não ama Hotohori porque isso é mentira. Eu sei disso. Não seu que motivo tão forte é esse que te mantém afastado de Hotohori, mas saiba que esse motivo acabará com a vida do Imperador, com nossa esperança e com todo o trabalho da Miaka em juntar os sete Seishis, seu cabeça dura!
Tamahome foi jogado contra uma pedra com o soco dado por Tasuki, sentiu uma fisgada no queixo e levou o mão ao lugar, que sangrava. Não reagiu as acusações e nem pretendia, sabia que tudo o que o amigo dizia era verdade, mas ele não entenderia o seus motivos, nunca entenderia o porque eles não poderiam ficar juntos.
- Então, Tamahome? Vai ficar aí com cara de idiota? NÃO VAI FAZER NADA A RESPEITO? – ele gritou.
Tasuki ofegava muito irritado, seus olhos estavam cheias de lágrimas de fúria, seu peito subia e descia em uma respiração apressada e afobada. Tamahome nada fez, continuou no chão, sentado, apenas olhando para o outro, que mantinha as mãos fechadas preparado para dar outros socos em seu amigo.
- Está bem. – ele disse suspirando, consciente de que não fora bem sucedido em sua missão. Procurou os olhos de Tamahome e falou muito seriamente. – Pelo menos tenha a decência de ir ao enterro do Imperador daqui a alguns dias.
O coração de Tamahome parou. Enterro? Hotohori estava mesmo tão doente a ponto de estar tão próximo da morte? Apesar disso continuou calado e imóvel.
Tasuki virou de costas e saiu, ficou com vontade de torrar Tamahome com o Harisem, mas montou no cavalo e fez com que ele corresse o mais rápido possível, não conseguira convencer Tamahome a voltar, então teriam de achar uma outra maneira de salvar Imperador o mais rapidamente possível.
"Eu não sou digno de ser um Seishi.", Tasuki pensou com um aperto no peito. "Nem mesmo posso salvar a vida de um outro Seishi, como poderia ajudar Miaka a salvar este mundo? Koji... me perdoe, talvez nunca mais nos veremos quando tudo isso tiver fim, não terei coragem de olhar apara você e para os outros depois de ter falhado numa missão tão importante... não sou digno."
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- Não deveria ser tão cruel com o seu destino. – disse o pai de Tamahome dando a mão para que ele se levantasse.
- Do que está falando, pai? – ele perguntou.
- Sabe, Tamahome... – ele disse com um sorriso distante. – Quando eu era mais novo conheci um homem que se apaixonou pela filha do senhor para quem trabalhava. Ela também gostava dele e se entregou a esse amor, mas devido a diferença de casta entres os dois fez com que se separassem. Depois que ele foi embora a mulher ficou tão triste que afogou-se no lago, quando soube dessa desgraça, o homem jogou-se no rio também para encontrar sua paixão e finalmente poderem ficar juntos.
Tamahome baixou os olhos tristemente. Não sabia se a história era ou não verdadeira, mas entendia bem o que seu pai queria dizer com ela, mas não sabia como agir...
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Tasuki instintivamente sentiu alguém aproximar-se e levantou de um pulo, pronto para atacar seu ofensor e ficou muito surpreso ao ver que este era seu amigo.
- Tamahome?
- Oi, Tasuki. – ele disse sorrindo. – O que está fazendo aí dormindo, temos que voltar logo para Konan.
Tasuki não sabia se ria ou chorava, se batia ou abraçava Tamahome. Havia parado para descansar, comer alguma coisa e dar uma folga ao cavalo, a noite caira e ele acabara agarrando no sono sem querer encostado numa árvore quando foi atingido por uma pedra, levantou-se pronto para usar o harisem em sua defesa quando percebeu quem o havia atingido.
- Você mudou de idéia? – ele perguntou sorridente.
Tamahome sorriu em resposta, não havia tempo para perder conversando, precisavam voltar o mais rápido possível para o palácio e salvar a vida de Hotohori.
- Te explico no caminho. – ele falou, empurrando o amigo para onde se encontrava o cavalo deste. – Pegue seu cavalo e vamos partir.
O mais rápido que os cavalos podiam agüentar correram e com mais um por do sol atravessaram os portões do palácio de Konan, Tamahome desceu do cavalo e entrou no palácio, dando rápidos "oi" para os amigos que observaram aturdidos a sua volta, correu para o quarto de Hotohori e encontrou Nuriko para variar com os olhos vermelhos e segurando sua mão. Os olhos dela se iluminaram ao vê-lo ali, sua esperança estava renovada e agora tinha certeza que Hotohori viveria.
- Oh! Tamahome! – ele disse levantando-se e o abraçando com tanta força que alguns de ossos estalaram. – Eu sabia que você o amava e que se entregaria a esse amor, obrigada por salvar o Hotohori.
- N-Nuriko... você está... me esmagando. – ele reclamou tentando soltar-se dos braços de Nuriko. – Eu voltei sim, mas você vai me matar se não me soltar agora.
- Oh! – ela exclamou e sorriu para ele, cobrindo a boca com a mão. – Me desculpe Tamahome. Ai! Estou tão feliz por você estar aqui! – disse ela dando pulinhos, então olhou para ele, que estava bem sério e em seguida para a cama, onde Hotohori se encontrava. – Ah! Vou deixar vocês sozinhos. – disse retirando-se do quarto.
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Agora a coisa vai!risos.
Finalmente esses dois vão ficar juntos, mas será mesmo? Não, é serio, vou parar de enrolar e acabar logo com essa estória. Era para ficar um pouco mais emocionante, confesso que eu chorei quando as cenas dessa fic passaram-me pela mente e se eu soubesse escreva-la mesmo faria outros chorarem também, eu juro, na verdade, era essa a minha intenção, um angst o mais deprimente possível, mas como uma coisa é você ter uma idéia, outra é escrever, terminou ficando assim...
Ai, ai... bem, vem aí o último capitulo e vamos parar de enrolar...
Beijinhos!
