Minutos depois...

"O quê houve lá em cima?" perguntou Clark, enquanto Lois abria a caixa de comando no painel de controle do elevador pela terceira vez, na esperança de encontrar algum botão que não tivesse visto antes.

"Já falei, Smallville" respondeu Lois, impaciente. "O sujeito se desesperou ao ver que eu não era a Chloe. De repente, ele deu uma de esquilo voador e saltou de um prédio a outro"

"O quê será que ele queria com a Chloe?" perguntou Clark, curioso. Não conseguia imaginar que a amiga ainda fosse alvo dos Luthor, afinal, os tempos sombrios para Chloe já haviam passado. Ou não?

"Eu sei o quê você está pensando" respondeu Lois. "Mas pode esquecer. Ele não parecia um mercenário contratado pelo magnata dos fertilizantes. Acho que ele realmente pode nos ajudar a desmascarar Lex e tirá-lo de uma vez por todas da corrida ao senado"

Clark ficou pensativo. A crença de Lois era otimista demais até mesmo para ele.

"Não conseguiu mesmo ver o rosto dele?" perguntou.

"Nadinha" respondeu ela, olhando para ele, e desistindo de mexer no painel. "Achei mesmo que fosse algum contato da Chloe. Já que até mesmo ligou no celular dela"

"Não foi o que ela disse" comentou ele.

"Pois é. Felizmente descobri isso bem a tempo"

"Descobriu?" perguntou ele, irônico, imaginando se ela teria 'descoberto' quando ele apontou uma faca no seu pescoço ou quando tirou a arma de fogo da cintura.

Lois não respondeu.

"Acho que não devemos confiar muito nesse sujeito, seja lá quem for ele" comentou Clark, olhando para os lados. Não havia muito que pudesse fazer naquela situação sem se expor. E isso o irritava imensamente.

"Não é questão de confiar ou não confiar, Smallville" disse Lois. "Se existe alguém por aí com provas contra o Lex, temos uma chance de finalmente mostrar quem ele realmente é"

"Tá, mas o sujeito não parece muito disposto a se expor" retrucou Clark.

Dando-se por vencida, Lois se sentou no chão do elevador. E Clark aproveitou que ela não estava olhando para usar sua visão de raio-x para ver se havia alguma outra coisa que pudesse fazer para tirá-los dali. Mas não havia jeito. Estavam presos entre dois andares, e a menos que ele arrebentasse a porta com a sua super-força e fizesse o elevador descer com as suas próprias mãos para o próximo andar, onde Lois poderia descer com segurança, nada mais podia fazer.

Olhou então para Lois, e se abaixou, sentando-se no outro canto do elevador, o mais longe possível dela. Havia uma hostilidade imensa entre os dois. Lois o encarou e depois procurou desviar o olhar, como se o culpasse pela situação.

"Achei que já tivesse desistido dessa coisa de tentar encontrar alguma sujeira do Lex" comentou ele, então, na tentativa de tornar o ambiente mais amigável.

Lois o fitou.

"Nunca, Smallville" disse ela com um pequeno sorriso no canto dos lábios.

"Por quê isso?" perguntou ele. "Não sabe que é perigoso?"

"Olha, se você se conforma com o modo como o mestre da fraude lida com sua sujeira, envolvendo pessoas inocentes, eu não" completou ela.

Clark sorriu um sorriso amargo. Aquele era um lado de Lois que ele ainda não conhecia.

"Não é questão de me conformar" tentou explicar.

Mas Lois não lhe deu ouvidos, e disse:

"Não entendo como você, que foi amigo dele por tanto tempo nunca enxergou. O cara tem sujeira do tamanho do estado do Texas. Se não for mais"

"Você está exagerando, Lois" replicou Clark.

Lois sorriu.

"Sabe, Smallville, eu admiro muito essa sua coisa de enxergar o bem nas pessoas, principalmente quando elas pisam em você, só que isso não funciona com o Sr. Prepotência" continuou ela.

"O Lex só está perdido" disse ele.

"Não acho" discordou Lois. "Ele sabe muito bem o caminho que está trilhando"

Clark nada disse. De certa forma, ela estava certa, pois, já há algum tempo vinha observando Lex, e sabia que ele parecia ter plena consciência das coisas que fazia.

"Então talvez seja o caso da polícia investigar, antes que alguém acabe ferido" advertiu ele.

Lois sorriu ironicamente.

"Acha mesmo que o Tio Fester se deixaria atingir pela polícia? Ele tem dinheiro, Clark. E dinheiro compra pessoas"

"Existem pessoas honestas que não se deixam vender" discordou ele.

"Smallville, não estamos mais no Kansas" explicou ela. "Isso é a cidade grande. Já devia saber que as coisas por aqui são bem diferentes"

"Hum, então está querendo dizer que um sujeito armado e mascarado pode ser mais confiável que a própria polícia?" perguntou Clark.

"Isso só prova que ele está desesperado" justificou Lois. "Pensa bem, Smallville. Quem mais marcaria um encontro com uma estagiária do Planeta Diário que já andou se metendo em confusão com os Luthor no terraço de um edifício abandonado num dos lugares mais perigosos de Metropolis?"

"É exatamente o que eu estou tentando dizer!" exclamou ele. Clark até entendia o ponto de vista de Lois, mas não conseguia conceber que coisa boa podia sair daquele encontro inusitado.

"Bom, então quem você acha que armou tudo isso?" perguntou ela.

Clark deu de ombros.

"Não faço a menor idéia" respondeu.

"Isso mesmo. E por sua causa deixamos a única pessoa que podia responder nossas perguntas escapar!" protestou ela, finalmente.

"Por minha causa?" repetiu Clark, surpreso.

"Eu estava muito bem por minha própria conta até você aparecer" disse ela.

"Ah, tá" disse Clark, no limiar da sua paciência. "Então me corrija se eu estiver errado. Ele não estava com uma faca no seu pescoço, não apontou uma arma de fogo pra você, e claro, o mais importante: ele nem estava usando uma máscara, e nem havia marcado um encontro num lugar suspeito"

"Eu não preciso de herói algum pra me salvar, Smallville" disse ela, encarando-o. "Sei exatamente o que fazer em situações extremas"

Clark sorriu, inconformado. Lois era mesmo incrível. Ele havia acabado de salvá-la de um maníaco mascarado, e era rechaçado por tê-lo deixado escapar?

"E quer saber?" perguntou ela, levantando-se. "Não vou ficar aqui nem mais um minuto"

"O quê você está fazendo?" perguntou ele, vendo que ela tentava mais uma vez sair pela portinhola superior. Tentou impedi-la, já que o elevador parecia estar prestes a sucumbir. Mas ao tentar fazê-lo, Lois já estava no teto. Surpreso, Clark também subiu, logo atrás dela. De repente, o elevador estremeceu novamente, e os dois se entreolharam, apreensivos. Mais do que depressa, Lois tentou abrir a porta do andar superior. Mas estava travada.

"Deixa eu tentar" disse ele, então, afastando-a.

Foi então que o elevador novamente estremeceu e desceu alguns palmos, abruptamente.

"Eu acho que essa coisa não vai agüentar por muito tempo" disse Lois, preocupada.

Clark então usou sua super-força para abrir a porta do andar superior. Ao fazê-lo, olhou para ela, e disse:

"Ferrugem"

Lois saiu por primeiro, e logo atrás dela, Clark. Assim que os dois desceram em segurança no décimo primeiro andar, o elevador despencou, para surpresa de ambos.

"Foi por pouco, hein, Smallville?" disse ela, sorrindo. Clark a encarou, sem achar a menor graça.

Após dez lances de escada, Lois e Clark saíram do edifício abandonado. Já havia escurecido, e não havia mais qualquer chance de encontrarem o misterioso homem mascarado. Caminharam, então, em direção ao beco onde Lois havia deixado seu carro. Todavia, o automóvel não estava mais lá.

"Não acredito!" exclamou ela.

"Deixou mesmo seu carro aqui?" indagou Clark, perplexo. "Nesse beco? E pensou que não seria roubado?"

"Você está vendo algum estacionamento cinco estrelas aqui por perto?"

"Bom, o jeito é pegarmos um táxi" disse ele.

"Em Suicide Slum?" indagou ela. "Até os taxistas evitam esse bairro"

"Bom, devia ter pensado nisso antes de estacionar aqui" comentou ele.

Lois lançou um olhar furioso para Clark, e desconversou:

"Você tem algumas moedas?"

"Alguns centavos" respondeu ele.

"Centavos, Smallville? Você vem a Metrópolis carregando apenas alguns centavos?" indagou ela, indignada, pegando as moedas que Clark tirou do bolso e indo na direção de um telefone público à esquina. "Espero que Chloe ainda esteja no jornal" disse, enquanto discava.

Mas ninguém atendia. Lois então pegou as moedas de volta e tentou ligar no celular da prima. Mas estava fora de área.

"Droga!" exclamou ela.

"E agora?" perguntou ele.

Lois colocou as mãos nos bolsos, e olhando para as ruas escuras de Suicide Slum, disse:

"Vamos achar um taxista tão louco quanto nós"

"Nós?" indagou ele, indignado.

Lois virou os olhos e com as mãos nos bolsos do casaco, caminhou à frente, na esperança de encontrar logo um táxi que pudesse tirá-los dali.

Continua...