Mais alguns minutos de caminhada por ruas e becos de Suicide Slum, e Lois e Clark começavam a dar sinais de cansaço. Pelo menos, Lois. Clark, todavia, estava visivelmente irritado.

"Lois, eu não posso ligar para meus pais pois eles foram a Greenville nessa tarde para uma feira agropecuária" disse ele. Lois então o encarou, imaginando o que ele estava sugerindo. "Por que você não liga a cobrar para o General? Ele pode mandar alguém vir nos buscar"

"Nem pensar, Smallville!" exclamou ela. "Se ele souber que eu andei por esse lado da cidade me manda para uma Corte Marcial!"

Clark suspirou.

"Por que você é tão exagerada quando o assunto é seu pai?"

"Espera!" disse ela, parando num beco, e olhando para a esquina.

Clark olhou na mesma direção. Um grupo de rapazes com armas nas mãos discutia com outro grupo, quando um deles começou a erguer a voz. Outro, que parecia ser o líder do grupo contrário, também começou a levantar a voz, quando o que estava à sua frente levantou a arma e disparou um tiro.

"Ah, meu Deus!" exclamou Lois, horrorizada.

"Temos que fazer alguma coisa!" disse Clark, preparando-se para interferir.

"Ei!" disse ela, puxando-o pelo braço. "Você está maluco?"

De repente, os rapazes ouviram Lois e Clark e antes que começassem a descarregar suas armas uns contra os outros, resolveram eliminar as testemunhas. Correram na direção do beco, e Lois puxou Clark pela mão. Era um beco sem saída, com uma grade alta, da qual não teriam tempo de transpor. Havia então uma porta. Lois correu até ela, e tentou abri-la, mas estava trancada.

"Clark!" chamou ela.

Ele correu e a arrombou. Entraram rapidamente, e Lois começou a puxar o que parecia ser um armário, e Clark travou a porta com o mesmo. Do outro lado do beco, os rapazes viram que os dois entraram pela porta, sem se aproximarem dela, e um deles disse:

"Aí eu não entro!"

"Nem eu!" disse outro, e todos saíram o mais depressa que podiam dali.

"Acho que eles foram embora" disse Lois, aliviada, tentando escutar por trás da porta.

"Huh, Lois -" chamou Clark, olhando para onde estavam.

Lois se virou e viu que estavam num depósito cheio de caixas. Havia uma mesa e o que mais a chocou: uns vinte homens armados, com pistolas e metralhados apontadas para eles. Ao se virar para vê-los, todos destravaram as armas ao mesmo tempo.

Clark já pensava que era tarde demais, e que teria que cobrir Lois para protegâ-la com seu corpo dos disparos, quando, de repente, algo aconteceu:

"Esperem um instante! Esperem um instante!" disse um homenzinho com cabelos escorridos que emergiu entre todos aqueles sujeitos bem vestidos e armados.

"Você é a Condessa?" perguntou ele, olhando para Lois.

Lois e Clark se entreolharam.

"Huh... bem eu -" disse ela, apreensiva, com um sorriso nervoso no canto dos lábios. Não sabia se era bom ou não ser a tal Condessa naquela situação. Clark a encarou com um olhar, na esperança que ela não dissesse nada inpensado.

O sujeito sorriu e gesticulou para que todos abaixassem as armas.

"Claro que é!" exclamou ele, abrindo um grande sorriso de satisfação. "Que bom que você conseguiu vir antes!" continuou ele. "Eu sou Vincent"

Lois aceitou o aperto de mão, sem saber o quê dizer.

"E ele?" perguntou Vincent, olhando para Clark.

"Ele?" indagou Lois, virando-se para Clark, que lhe lançou um olhar apreensivo. "Huh, bem..."

"Já sei" interrompeu Vincent. "Seu guarda-costas!"

Lois o encarou com surpresa.

"Isso!" confirmou ela, aliviada.

"Só podia... com essa tamanho!" disse ele, encarando Clark de cima a baixo. "Tudo bem. Vamos ao trabalho!"

Vincent se virou a caminhou até a mesa. Clark olhou para trás, para a porta por onde entraram, e não havia tempo de removerem o armário e saírem fugidos. Não com aqueles vinte homens armados até os dentes. Se tentassem escapar, Lois certamente seria ferida. E ele não podia arriscar.

Lois e Clark trocaram olhares.

"Quero ver você sair dessa agora" murmurou ele.

Lois sorriu.

"Fica frio, Smallville"

"Algum problema?" perguntou Vincent se virando para vê-los.

"Não" respondeu ela, prontamente.

"Achei que você fosse inglesa" disse ele, curioso.

"Ah, sim! Sou mesmo" disse ela, forçando um sotaque britânico.

Vincent levantou as sobrancelhas. Agora parecia convencido de que ela era mesmo inglesa.

"Cheguem aqui!" chamou ele.

Lois e Clark caminharam apreensivos até a mesa, sob o olhar atento dos homens armados naquele galpão.

Ao se aproximarem, Vincent pegou um envelope amarelo, tirou de dentro dele algumas fotos e entregou a Lois:

"Esse é o cara!" disse ele.

Clark se inclinou para ver. Eram fotografias tiradas às escondidas em frente a restaurantes e hotéis de um sujeito que nunca viu antes na vida. Era bem vestido e estava sempre próximo de uma limusine.

"Bruce Wayne?" indagou Lois, tentando não demonstrar a surpresa.

Vincent sorriu.

"Quando o Vito disse que você era a melhor, resolvemos chamá-la" disse ele, sorrindo.

Lois e Clark se entreolharam. Finalmente desconfiavam do que se tratava.

"A boa notícia, é que não vai precisar fazer parecer que foi um acidente" continuou Vincent. "Ele nem faz idéia de quem está por trás disso"

"Você quer que eu -" balbuciou Lois.

"E para quê mais teríamos chamado a Condessa?" interrompeu ele, sarcasticamente.

Vincent riu e todos os homens naquele depósito riram. Lois e Clark estavam sérios, e perplexos. De repente, Vincent parou de rir e a encarou de cima a baixo.

"Por que não veio armada?" perguntou ele.

Lois sorriu um sorriso nervoso.

"E precisava?" indagou ela.

Vincent continuou então a rir, acompanhado de todos os demais.

Lois se virou para ver Clark, que estava confuso. Ou eram todos imbecis acreditando que aqueles dois garotos eram assassinos profissionais, ou estavam prontos para surpreende-los com uma rajada de balas a qualquer momento.

"Sabe" disse Vincent se virando e apoiando a mão no ombro de Lois, que esticou os olhos para ver as unhas sujas e os dedos repletos de anéis de ouro, e também para evitar o seu mau hálito. "Quando me disseram que você era a única capaz de fazer esse serviço, quase não acreditei! Pensei, finalmente vou conhecer a famosa Condessa! E qual não foi minha surpresa ao ver que você é bem mais jovem do que diziam!"

Lois sorriu.

"Que coisa, né?"

"Pois é..." continuou ele, secando-a, enquanto caminhavam em direção à porta. "Quem sabe, depois que você voltar de Gotham para pegar o seu pagamento, podemos dar uma voltinha"

"Quem sabe" disse ela, sorrindo.

Clark os observava, cauteloso.

Vincent se virou para vê-lo, e depois se aproximou do ouvido de Lois:

"Vocês dois não são -?"

"Não!" exclamou ela, antes que ele terminasse a pergunta. Lois se virou para ver Clark, que os fitava, com os braços cruzados. "De jeito nenhum!"

Vincent sorriu, satisfeito.

"É que eu ouvi dizer que você gostava de garotões fortes" justificou ele.

Lois sorriu e trocou um olhar embaraçoso com Clark.

"Então está combinado!" completou Vincent. "Quando voltar da sua missão, vou levá-la para jantar no melhor restaurante de Metropolis!"

Vincent gesticulou para que seus homens retirassem o armário que bloqueava a porta. Quatro sujeitos largaram suas armas sobre a mesa e correram para atendê-lo.

"Só mais uma coisa" disse Lois, quando a porta finalmente estava aberta, e não havia mais sinal dos marginais no beco. "Quem é o mandatário dessa missão"

Vincent então ficou visivelmente abalado com a pergunta. Ficou sério, e deu dois passos para trás. Lois achou que se arrependeria amargamente da pergunta, mas a julgar pela imbecilidade de Vincent, imaginou que teria uma chance de descobrir quem estava querendo a cabeça de um dos homens mais importantes de Gotham City. Clark, que agora estava ao lado de Lois, deu um passo ao lado, meio que cobrindo-a, protegendo do que poderia ser uma retaliação.

"Você é muito engraçada!" exclamou ele, rindo.

Lois e Clark também riram, nervosamente.

"Para uma assassina profissional, você devia saber que o seu contato aqui em Metropolis é o tio Vito, e na sua ausência, eu" respondeu ele, encarando-a de cima a baixo, visivelmente interessado nela. "Os mandatários somente são do conhecimento meu e do tio Vito"

Então, ele se aproximou do ouvido de Lois, e tocou as pontas dos dedos nos cabelos dela:

"Isso é um negócio, meu bem. E ninguém precisa de nome. Exceto o alvo"

Lois sorriu.

"Tem razão" concordou.

Clark a pegou pelo braço, na esperança de que ela não dissesse mais nada e que pudessem sair logo dali.

"Lembre-se" chamou Vincent da porta do depósito, enquanto os dois caminhavam apressados pelo beco. Lois e Clark se viraram, e ele continuou: "Você tem um mês"

Lois assentiu e os dois continuaram a caminhar.

"Esperem!" chamou ele, novamente, caminhando logo atrás.

Lois e Clark mais uma vez se viraram, apreensivos, para vê-lo.

"Como chegaram até aqui? Não têm um carro?"

"Huh... bem, eu, nós - Nada de pistas, Vincent!" respondeu ela.

"Por isso você é a melhor! Nada de pistas!" exclamou ele, sorridente.

Lois sorriu.

"Pois é... nada de pistas!"

Clark também sorriu.

"Adorei conhecê-la" disse ele, então, pegando a mão de Lois para beijá-la.

Clark enrugou a testa. Aquilo tudo era patético.

Lois fez uma expressão de nojo, e até pensou em puxar a mão. Mas pensou novamente. Faltava pouco para se livrarem dele.

Depois, Vincent sorriu e piscou para ela, certo de que voltaria a vê-la em outras circunstâncias, e voltou para o depósito, satisfeito. Lois e Clark se entreolharam e saíram dali o mais depressa que podiam.

Continua...