Capítulo 9

Lembranças do passado

Na manhã de Domingo, Juliana resolveu reunir toda a coragem que tinha e foi falar com Severo antes mesmo do café da manhã.

- Bom dia Severo. – disse Juliana entrando na masmorra dele. Como ele tinha acabado de acordar, estava apenas de bermuda, sem camiseta e descalço. – Sei que ainda é cedo, mas eu preciso muito conversar com você. Não me venha novamente com aquela estória de que foi um erro seu, e tudo aquilo que você me disse ontem. Saiba que aquilo me machucou muito. Só o que eu quero é saber o real motivo de todo aquele estardalhaço. Eu prometo que serei uma excelente ouvinte. Não irei lhe interromper em nenhum momento. Apenas quero a verdade. Nada mais que isso.

- Muito bem então, Juliana. Posso apenas me vestir decentemente? Ou vai querer que eu fique assim na sua frente o tempo todo- ironizou Severo, tentando reunir alguma força para falar tudo aquilo que, tinha absoluta certeza que iria machucar ainda mais sua amada.

- Por mim, não há problema nenhum em te ver nesses trajes.

- É, mas eu prefiro me vestir. Só um minuto, por favor.

Enquanto esperava Severo se vestir, Juliana andava pela masmorra tentando imaginar o que foi que acontecera para levar Severo a agir daquela maneira tão grosseira e rude com ela. Enquanto vestia-se, Severo pensava numa maneira menos dolorosa para contar à Juliana toda a verdade sobre o que o levara a falar e magoar tanto ela da forma que o fizera. Depois de muito pensar, só encontrou uma maneira de fazer isso. Contando-lhe a verdade. Desde que fora um comensal até o fatídico acerto com a Sra. Mill.

- Pronto. Agora podemos conversar.

- Conversar não. Eu vou apenas ouvir o que você tem a me dizer. Só quando você me disser que já acabou é que eu vou falar algo. E sim, pode começar.

- Muito bem então. Ma, preciso que me entenda: tenho que lhe contar coisas desde que eu tinha 14 anos. As causas pelas quais me levaram a lhe falar tudo aquilo ontem, remota da minha juventude.

- Tudo começa, quando eu terminei Hogwarts. Como já lhe disse, eu sempre fui quieto, calado, literalmente "na minha" gostava muito das Artes das trevas, assim como sua defesa. O que aconteceu, porém, mudou completamente minha vida depois de Hogwarts. Desde os quatorze anos, eu fui apaixonado por uma colega. Nós entramos juntos aqui. Nossa amizade começou na nossa primeira viagem para cá. Nos tornamos amigos de verdade, como eu nunca tive um na infância. Mas o chapéu seletor nos colocou em casas completamente diferentes. Eu, puro sangue, de família aristocrata, fui para a Sonserina, enquanto ela, uma trouxa nascida em Portugal, foi para a Lufa- lufa. Claro que eu não me importava com o fato de ela ser trouxa, ela sempre fora minha amiga. Ela me ensinara o verdadeiro valor de uma amizade. Fazíamos nossos deveres juntos, sempre que havia aula em duplas, todos sabiam que a dupla inseparável éramos eu e ela. Lembro até hoje das feições dela. Cabelos muito vermelhos, quase uma Weasley, seus olhos, eram azuis, assim como os seus. As mãos dela eram lindas. E o nome dela era Beatriz Corrêa. A Bia como eu costumava cham�-la. Todos pensavam que nós éramos namorados. No começo, ela era apenas uma grande amiga. Mas no nosso terceiro ano, eu descobri que o que eu sentia por ela era muito mais que uma grande amizade. Era amor. Além de estar sempre ao meu lado, ela era amiga da Evans. Que num futuro muito próximo viria a ser a Sra. Potter. Eu até hoje me pergunto se não foi por causa da amizade da Evans com a Bia que eu a perdi. Assim como a Bia, a Evans também era trouxa. Foi isso que as uniu. Com o passar do tempo, eu fui perdendo a amizade dela, pois eu tinha me tornado o alvo favorito do Potter e da sua gangue. E ela, sempre andando com a Evans, foi se afastando de mim. Aquilo me machucou muito. Ela tinha me abandonado e, um dia, ainda me lembro bem, foi uma Segunda –feira, quando eu resolvi falar tudo que eu sentia por ela, ela sentou ao meu lado na mesa da Sonserina muito feliz. Veio me dizer que estava namorando o irritante Sr. Black. Como a Evans e o Potter estavam "trocando figurinhas" o Black não perdeu a oportunidade e roubou de mim a garota que eu amava. Naquele dia, meu mundo desabou. Tudo o que eu sempre quis era que a Bia fosse a minha namorada. Como eu fiquei sem reação, ela me perguntou se eu estava bem e eu disse a ela que sim. Disse também que ficava muito feliz em saber que ela tinha encontrado um cara que gostava dela, e esperava que eles fossem felizes. Disse ainda que se por qualquer problema um dia ela viesse a precisar de um ombro amigo, que ela sempre contasse comigo. É claro que ela simplesmente adorou tudo que eu havia dito. Disse que eu ainda continuava sendo seu grande amigo, mesmo que por culpa dela própria nós tivéssemos nos afastado. Alguns anos depois, quando nós estávamos no quinto ano, o Potter me humilhou mais uma vez na frente da escola toda. A Evans veio interceder por mim, mas foi por culpa dela que eu perdi minha melhor amiga, a garota que eu amava e toda a felicidade que eu pudesse ter no futuro. No momento que ela veio falar para o Potter me deixar em paz, eu senti uma raiva imensa, que desprezei qualquer tipo de ajuda vinda da parte dela. E muitos que estavam presentes naquele espetáculo em que eu era a atração principal, passaram a pensar que eu gostava dela. E foi por causa dessa raiva idiota que eu senti pela Evans que definitivamente me fez perder a Bia. Ela passou a me odiar por eu ter ofendido a amiga dela tomou aquilo como uma ofensa pessoal. Aquilo, foi a gota d'água para mim. Minha vida mudou completamente quando Lúcius Malfoy veio conversar comigo. Ele me disse que havia uma maneira de ter a minha amada novamente. Me disse que me mostraria essa tal maneira na próxima visita que nós faríamos à Hogsmead. Eu, desiludido da vida, aceitei o convite dele. No dia da visita, ele me levou até um beco isolado. L�, eu encontrei a minha destruição. L�, eu encontrei o que poderia ter sido o fim da minha vida. Naquele beco, estava ninguém menos que o Lord das Trevas. Aquele-que-não-deve-ser-nomeado. Ou, simplesmente, Lord Voldemort. Lúcius Malfoy me apresentara aquele que viria a ser o meu mestre por aproximadamente quatro, ou cinco anos. O Lord das Trevas me prometera que assim que seu reinado das Trevas estivesse implantado, eu teria a garota que amava para mim. Com essa promessa, comprometi-me em ser seu fiel seguidor. Foi assim que tornei-me um Comensal da Morte. Por causa de Lúcius Malfoy, estraguei completamente a minha vida. Fui levado pelo coração a cometer a maior idiotice da minha vida. Fui seu mais fiel seguidor. Acreditava cegamente naquelas palavras ludibriosas, falsas e sedutoras de que um dia teria Bia junto a mim. Cumpria absolutamente tudo que ele me mandava. Fazia valer cada palavra que saia daquela boca maldita. Matei, torturei, estuprei, tudo de nojento, repugnante e mesquinho eu fiz. Tudo, por am�-la intensamente e tudo por ter acreditado naquele verme. Mas, assim como começou, teve um fim. Por ser nascida trouxa, ele fez questão de mat�-la, pessoalmente. Principalmente por saber que era aquela garota trouxa que eu amava. Era por causa aquela garota trouxa que ele encontrara seu melhor seguidor. E, por essa razão, por saber que o dia que eu tivesse aquela garota trouxa ao meu lado que eu largaria as trevas, que ele teve o prazer de mat�-la. Durante algumas semanas, eu não soube que ele havia matado a minha Bia. Só quando estava planejando a morte dos Potter é que sem querer, ou por vontade própria mesmo, ele me disse que tinha matado ela. Foi quando ele me mandou para o que seria a minha última missão como Comensal. Seria, ao menos, para mim. Pois depois que eu soube da morte dela, eu estava reunindo coragem para larg�-lo. – nesse ponto, Severo interrompeu o monólogo para tomar fôlego. E enxugar algumas lágrimas que teimavam em cair de seus olhos. – uma noite, ele me disse:

- Severo, venha cá meu rapaz. Tenho uma missão para você.

- Naquela época, o chefe dos aurores era John Stuart Mill. E a minha missão, era matar aquela família.- continuou Severo.

Nesse momento, Juliana gelou. Severo estava falando de seu pai. Ele conhecia seu pai. Com certeza conheceria sua mãe. Mas não disse nada. Apenas continuou escutando.

- Quando cheguei na casa dos Stuart Mill, John tentou me acertar. Mas, como eu estava triste e com raiva de Voldemort por causa de Bia, não cumpri o que ele havia me mandado fazer. Apenas petrifiquei o velho. Foi quando a esposa dele chegou na sala. E na minha vida. Por causa de Malfoy estraguei minha vida. Por causa de Melanie Mill, eu me livrei das Trevas. Ela que mudou minha vida. Naquela noite, ela estava grávida. E, em troca de suas vidas, me prometeu sua primeira filha em casamento. O nome dessa menina, hoje uma mulher, é...

- Mariana.- respondeu Juliana antes que Severo completasse a frase.- Mariana. O nome dessa menina, hoje mulher, é Mariana.

- Como você sabe disso? – perguntou Severo atordoado.

John Stuart Mill e Melanie Mill são meus pais. Mariana Mill. Sou eu. – respondeu Juliana saindo correndo e chorando da masmorra de Severo.


continua... by Regine Manzato


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