Tradições
Por Doom Potter
Capítulo Dois – O Azar Foi Meu
Abri os olhos e tudo o que consegui enxergar foi um borrão vermelho enrolado no lençol branco andando pelo quarto. Apanhei meus óculos no criado mudo ao lado e vi Ginny abrindo as portas dos armários freneticamente, com certeza a procura de algo.
- Gin, o que está procurando? – perguntei e uma brisa gelada passou ali, me fazendo arrepiar os cabelos (mais ainda) e procurar algo para me cobrir. – Volte aqui com esse lençol, está frio. – falei com a voz tremida.
- Não tem lenha, Harry, é por isso que está frio. – informou ela indicando a lareira apagada com a cabeça.
- Mas há outras formas da gente se esquentar... – sugeri maliciosamente e Ginny sorriu abismada se aproximando num andar delicadamente sensual, típico dela.
- Quando foi que você ficou tão cheio de segundas intenções, hein?
- Desde que te conheci, - respondi simplesmente – Minha musa inspiradora. – e puxei-a na cama abraçando-a e nos enrolando no lençol embaraçosamente.
- Hum... Harry? – ela perguntou incerta, encarei-a com atenção, mas ela desviou o olhar.
- O que? – não gostava daquele tom inseguro, Ginny era muitas coisas: linda, sexy, divertida, amistosa, apetitosa, Opsy! Bem... Hem hem, medrosa ela não era.
- Eu hum... Queria taaaanto chupar sorvete. – ela fez uma voz bem dengosa e eu suspirei aliviado, porém estranhei o pedido.
- Sorvete, Gin? – ela balançou a cabeça positivamente como uma criança a quem você faz a pergunta "Quer?" enquanto segura um doce em sua frente. – Nesse frio?
- É! Por que? Não pode? – Weasleys! Não gostam de ser contrariados, e eu bem sabia disso, tentei consertar.
- Não falei isso, é que... Onde vamos arranjar sorvete uma hora dessas? – eu parecia um trouxa. (nos dois sentidos). Sou um bruxo ora bolas, posso conjurar algo assim em questão de segundos.
Além disso, se Ginny pedir sorvete, dê um jeito de conseguir. É sua esposinha querida (Isso foi um tanto gay), ta bom... Ela é a mulher com quem você acabou de fazer...(forte demais!) Ela é o amor da sua vida! Pare de pensar e vai logo arrumar esse sorvete.
- Harry? – chamou ela suprimindo um risinho ao me olhar, devo ter feito uma cara muito idiota ao ficar pensando essas coisas, bem... É que eu me preocupo sabe? Finalmente minha vida está rumando como eu gostaria e... – Harry?
- Já vou, já vou. – resmunguei me levantando e colocando um roupão felpudo, presente de casamento do irmão mais velho de Ginny, Carlinhos.
- Você poderia ir cortar um pouco de lenha depois? – Traiçoeira! Ela sabe que eu não resisto aquele olhar, me abaixei para beijá-la, mas ela indicou algo na parede – Obrigada, querido.
Odeio quando ela me chama assim, mas ao passar por várias experiências com apelidos dos quais não revelarei à ninguém (não adianta insistir), decidimos que querido se encaixava melhor no nosso contexto.
O objeto que ela indicou foi um machado, encostado bem ao lado da lareira, eu dei uma risadinha desdenhosa antes de apanhar minha varinha no bolso do roupão.
- Varinha?
- Você prometeu! – ela praticamente me obrigou a concordar com aquela tradição bruxa estúpida.
"Sem magia em lua-de-mel", dizia Molly após contar um caso de uma prima sua que incendiara uma floresta inteira ao acender uma fogueira durante sua lua-de-mel. Pessoalmente eu não acreditava em nada daquela bobagem, mas não queria fazer desfeita. Às vezes era bom ceder um pouco. Mesmo assim: Que tipo de hábito era aquele?
- Ok, - respondi num gemido e apanhei o machado.
- Não esqueça de vestir um casado mais quente, Harry querido. Está frio lá fora. – Por um momento eu achei que tinha ouvido a Sra. Weasley falando, me virei, mas era Ginny quem estava ali (Ufa!). Temos que mudar esse apelido urgentemente!
Desci as escadas praticamente me arrastando desgostoso e quando abri a porta lembrei de algo que não deveria ter feito, arrombado-a. Quero ver consertar isso sem magia. Praguejei baixinho a prima de Molly por ser tão descuidada e ajeitei o casado antes de me embrenhar naquela tempestade de neve.
Cheguei a uma árvore que se tivesse boca gritaria "me transforme em lenha", bem...Talvez não gritasse. Será que elas gostavam de permanecer intactas? Talvez não o salgueiro lutador, eu suponho... Meu cérebro só pode estar congelado, pensei afastando aquelas insinuações estúpidas sobre árvores e salgueiros da minha mente.
Levei pouco mais que vinte minutos cortando aquela árvore sem ajuda da minha varinha, mas a pilha de lenha ainda não era o bastante (dois pedacinhos, mas quem está contando?). Sentei num tronco e limpei meu suor frio na manga do casaco, sorte minha ter essas pantufas extra-quentes dadas pelos gêmeos, do contrário eu provavelmente congelaria.
Encarei o chalé um pouco ao longe, fumaça saía da chaminé exatamente como na ilustração que vi num livro infantil bruxo. Gui sugerira passarmos nossa lua de mel ali, após ter passado a sua própria com Fleur no mesmo lugar. Um chalé aconchegante eu diria, pouco usado e precisava de alguns reparos, mas ainda sim... Durante o período que passaremos ali, reparos era a última coisa que eu pensaria em fazer.
Ouvi Ginny gritar algo debruçada sobre o parapeito da cozinha, distingui apenas as palavras "Logo, tempo cortar e lenha?"... Mas quando ela alterou a voz "QUERIDO!", me aborreci e levantei para terminar logo o viera fazer. Logo nada, aquilo já estava ficando ridículo! Tirei a varinha do bolso e fitei-a por um momento, me perguntando se deveria arriscar.
Olhei por cima do ombro confirmando que Ginny não estava mais na janela, e me preparei para quebrar a tradição. Um certo receio me ocorreu antes de sacudir a varinha, mas espere! Eu sou Harry Potter!(Ok, não tem nada demais no meu nome, ainda sim) Eu sou o Menino-que-lutou-para-sobreviver (sim, pior que meu nome, a questão é que), eu venci! Posso impedir qualquer incendiosinho que tentar atrapalhar minha lua-de-mel, isso se realmente precisar. Bobagens... É isso! Decidi-me.
Olhei de esgueira para o chalé novamente antes de apontar a varinha para a árvore e fazê-la se cortar sozinha, com muito mais facilidade e rapidez... Apanhei a pilha não ligando muito para os pedaços que eu próprio tinha cortado anteriormente e comecei a caminhar de volta para o chalé. A neve estava fofa e meus pés afundavam até quase chegar no joelho, com certa dificuldade eu consegui me equilibrar sem derrubar nada antes de ver algo que fez toda a lenha desmoronar dos meus braços.
Não devia ter tomado tanto fire whiskys durante a festa, pensei comigo mesmo quando um Ford Anglia pareceu estacionar bem na porta do chalé. Aquela visão confirmava minha completa insanidade, "Só pode ser uma miragem!" Pensei, mas quanto mais me aproximava, menos certeza eu tinha disso. "Tem que ser uma miragem" falei quando finalmente alcancei a porta de entrada, mas não era isso. Era algo muito, muuuito pior!
- Primo! – exclamou a cara gorda de Duda Dursley e foi a última coisa de que me lembro antes de tudo ficar verde... (Já mencionei que nem o preto parecia conveniente naquele momento? Era pouco assustador comparado ao verde-Avada-Kedavra que quase causou a minha morte). Espera, será que agora morri de vez?
Pelo jeito não, porque mesmo desacordado eu consigo pensar coisas idiotas como essas, devo estar sonhando. É isso! Duda Dursley é apenas um produto da minha imaginação, assim como aquela desconhecida ao seu lado e o pára-choque amassado do carro do tio Valter... E aquele vulto preso no banco de trás, só podia ser um monstrinho! Era isso, afinal pesadelos estão cheios de monstros né?
- Harry...? – que bom! Ginny veio me acordar...
