Capítulo 3 – A Poção Anti-Amor

Naquela mesma noite, estudando no Salão Comunal de Slytherin, Severus teve a concentração interrompida por um forte cheiro de pêssegos que parecia emanar da porta. Ele recolheu os livros no seu dormitório e voltou para o salão. Antes de alcançar a porta, porém, foi detido:

- Vai sair agora, Severus?

- Tenho um assunto urgente, Regulus.

- Para onde você vai?

- Regulus, acredito que sua mãe não aprovaria tanta indiscrição.

- Mas o Filch está patrulhando os corredores! Você vai ser pego!

- Tomarei cuidado. Agora vá dormir. Aproveite que amanhã não tem aula.

A contragosto, o irmão de Sirius Black aceitou a dispensa e Severus pôde sair sorrateiramente para o corredor das masmorras. Como previa, o cheiro de pêssegos se intensificou.

- Eu sei que está aí, Potter. – A voz de Severus tremeu um pouco, ele podia sentir a ação dos feromônios no seu sangue. – Venha comigo. E não se deixe apanhar.

Os dois subiram até o sétimo andar, onde Severus conjurou a Sala Precisa, guiando-se pelo retrato de Barnabás, o amalucado. Ao entrar, olhou em volta, observando a lareira com uma área de estar, a cama de casal, e viu o que queria: uma bancada de poções. O cheiro de pêssegos o inebriava, mas ele precisava fazer o que era necessário. Dirigindo-se à bancada, ele viu que havia um presente extra: a poção já pronta.

Viu James Potter revelar-se em pleno ar e colocar de lado uma Capa de Invisibilidade. Ele chegou perto de Severus:

- Eu tive que vir... Tive que vê-lo, Severus...

Oh, não. O cheiro. Potter estava tão perto, parecia ser tão delicioso, tão convidativo. Severus nunca vira James Potter daquele jeito: avançando para ele, com os olhos brilhando, um brilho diferente, faminto e sensual. Se Severus não fizesse agora, ele não iria resistir.

- Potter – ele manteve a voz baixa e neutra –, poderia me fazer um favor?

- Claro, Severus. O que você quiser.

- Passe-me sua varinha, por favor.

- Está bem. – Sem hesitar, sem nem piscar, James obedeceu. – Só isso?

- Só mais uma coisa. Tomaria essa poção se eu lhe pedisse? – Mostrou o frasquinho. – Eu também vou beber um pouco. – Tomou um gole. – Pode tomar o resto.

- Claro. – Potter obedeceu sem pestanejar. Ambos começaram a sentir os efeitos da poção quase imediatamente. Ao ver o brilho nos olhos de James mudar de intensidade, Severus deu um passo para trás.

James se segurava para não tremer, espumando de raiva por dentro, mas ainda assim incapaz de tomar uma atitude mais drástica. Ele parecia acordar de um sonho, um sonho louco em que ele estava... estava... desejando Severus Snape. O mais estranho é que mesmo agora ele não conseguia sentir exatamente nojo, apenas estava admirado com a possibilidade de ter pensado em Snivellus dessa forma. E ele nem era gay!

- Quero que você tire esse feitiço agora mesmo!

Severus não se abalou:

- Sente-se, Potter, e me escute. Não temos muito tempo.

- Antes você vai tirar esse feitiço!

- Não há feitiço, Potter. Estou tentando lhe explicar que você tem um segredo de família se não sabe o que está acontecendo.

- O que está acontecendo é que você me enfeitiçou, seu nojento! Está me fazendo... fazendo sentir... coisas! Quero que acabe com isso agora! Se for Imperius, você vai parar em Azkaban!

- Acalme-se, Potter. Já lhe disse que não é feitiço. Agora me deixe explicar sem interromper, porque nosso tempo é escasso.

James não queria se sentar, não queria passar um minuto a mais com o rapaz desagradável, mas à medida que o Slytherin desfiava sua história, o menino de ouro de Gryffindor foi sentindo um frio estranho na espinha e terminou se sentando junto à lareira até Severus concluir a narrativa assombrosa. Era difícil acreditar, mas isso explicava tudo tão bem, até o fato de ele não conseguir se desvencilhar totalmente da sensação em seu corpo, de que havia algo faltando, algo que só a pele de Severus poderia fornecer, algo tão necessário que James juraria que iria morrer se não tivesse.

Felizmente, agora James estava pensando melhor. Tinha sido tão estranho o incidente da manhã, e James tinha arrepios só de pensar. Ele parecia ter sido transportado no tempo, ou de corpo, incapaz de atacar Severus – e na verdade repugnado com a idéia. Mais tarde, ele não soubera explicar aos amigos o que tinha acontecido, e estava assustado com aquilo. Remus tentara conversar, dizer que provavelmente um dos Slytherins tinha lançado um feitiço qualquer. Sirius não tinha ajudado em nada, perguntando de instante em instante se ele estava bem, planejando uma vingança contra Severus por causa do feitiço.

Como James queria que tudo fosse apenas um feitiço.

- Como eu vou saber se você está dizendo a verdade?

- A troco de que eu mentiria sobre isso, Potter?

- Ora, para tirar uma cara com seus amigos Slytherin!

- Você está vendo algum deles aqui? Potter, gente como nós foi caçada impiedosamente ao longo dos séculos. Eu não tenho o menor interesse em divulgar minha condição para meus colegas puro-sangue. Potter, gostaria de expressar minha preocupação porque a poção que lhe dei não dura muito tempo, e é graças a ela que você está tendo seus instintos suprimidos o bastante para ter uma conversa racional. Se tiver alguma dúvida, sugiro que pergunte rapidamente.

- Não pode fazer mais dessa poção?

- A primeira dose é inofensiva, mas a segunda se torna tóxica e mortal. Pelo menos até a próxima época de acasalamento.

- E quando será isso?

- É um ciclo aproximado de nove anos.

- A gente só faz sexo de nove em nove anos?

- Não seja obtuso, Potter. Sua metade humana faz sexo como qualquer humano. Mas quando você entra na época de acasalamento Koboldine, é melhor se preparar, porque é costume compensar todo esse tempo sem atividades sexuais de uma maneira muito... intensa.

James arregalou os olhos:

- Mas... eu tinha planos... Queria namorar firme, casar e ter filhos. Tudo isso terminou? Diabos, Snape, eu nem sou gay!

- Acabei de lhe pedir para não ser obtuso, Potter. Isso não arruinará seus doces planos de constituir uma família. Case-se, tenha filhos e viva uma vidinha feliz e suburbana. Mas você deve saber que daqui a nove anos, você estará na mesma situação de hoje: entrando na febre do acasalamento. E não importa se somos do mesmo sexo: eu sou dominante, você é submisso. Como já lhe expliquei antes, o instinto é imperioso, e se você não o obedecer, você morrerá.

- Não há uma poção, um feitiço, um encantamento...? Eu não posso fazer isso, Snape. O que Lily vai dizer?

- Potter, encare o fato: se você não obedecer ao instinto, você morrerá. O salmão sobe a correnteza do rio para se acasalar, ou para morrer tentando. Não somos muito diferentes.

- Você também...?

- É claro. Estou nesse barco tanto quanto você.

- Falava a verdade quando disse que não quer que ninguém saiba sobre tudo isso?

- Certamente. Somos uma raça em extinção, Potter. Se Kettleburn sonhar com tudo isso, ele nos colocará num vidro com formol. Outros, porém, não serão tão generosos.

- Então não vai contar para os meus amigos? Nem fazer... troça?

- Ao contrário do que você possa imaginar, Potter, eu não tiro nenhum prazer dessa situação – Ele sorriu, pensando melhor. – Ao menos, não além do óbvio.

- Não vem com essa, Snape. Você deve estar adorando essa situação toda!

- Já lhe disse a verdade. Você acredita se quiser, claro.

- Hum, está bem. Mas quando estou sob efeito dos... hormônios, seja lá o que for, eu não fico muito consciente, para dizer o mínimo mesmo. E aí, você me fará fazer coisas humilhantes na frente deles?

- E arriscar atrair a atenção para nós? Pense, Potter. Seu amigo Black soltaria aquele lobisomem de estimação em cima de mim se suspeitasse de qualquer coisa – se é que já não está suspeitando. Preferia não deixar isso acontecer, se fosse possível. Além do mais, você só está sujeito a obedecer aos feromônios num raio de uns três metros de distância, mais ou menos.

- Mas se eu continuar com essa compulsão de ver você, eles vão terminar sabendo.

- Então cabe a você arrumar uma boa desculpa para que eles não desconfiem de coisa alguma.

- E Lily? Ela é esperta, vai logo perceber. E depois não vai querer nada comigo. Merda, Snape, você arruinou a minha vida!

- Isso não é minha culpa, Potter. É apenas sua biologia atuando. E a minha também. Ou você percebeu que estamos conversando, eu estou com sua varinha e você não levou uma maldição, azaração ou feitiço?

James teve que admitir que normalmente não era isso que aconteceria.

- Eu... me sinto estranho perto de você. Fico querendo... agradar, sei lá. Não quero pegar no seu pé, como a gente sempre faz.

- Mero instinto, como você deve saber. Como seu dominante, eu provoco em você sentimentos de submissão. E você provoca em mim algum sentimento de posse, mas de proteção também.

James arriscou um sorriso tímido:

- Mesmo? Proteção, Severus?

- Algo assim, parecido. Mas há posse também. Black queria defendê-lo, e aquilo me enfureceu. Você é meu, Potter, entende?

- É por isso que está me tratando com tanta consideração? Digo, você poderia simplesmente er, pegar o que quer, não poderia? Mas se deu ao trabalho de fazer essa Poção de ... de ...sei lá, de Anti-Amor...

Severus suspirou e deu de ombros, sincero:

- Não vou negar que há casos de violência sexual entre Koboldines. Mas você... Eu... não pude. Nem sei dizer por quê.

James sentou-se do lado dele e lembrou:

- E você também fez questão de me explicar tudo. Isso foi muito decente, Severus.

- Não quero ter que responder a acusações de estupro mais tarde, quando na verdade estou apenas obedecendo a um imperativo biológico. Você também não se deve sentir vítima. – O aroma na sala começou a mudar. – Se você ficar a mais de uns três ou quatro metros de mim, acho que estará seguro. Mas se você se aproximar, vai sentir a compulsão do acasalamento. E eu também. É apenas o que somos. Criaturas mágicas, como diz o Prof. Kettleburn.

- Mas como ninguém me disse isso na minha família?

- Pode ter pulado uma geração. Meu avô me explicou que isso pode acontecer. Ele me explicou tudo, na verdade. Até coisas bem embaraçosas. Não imaginei que ele faria isso.

- Severus, o que vai ser da minha vida?

Severus se aproximou do rapaz e pegou sua mão com cuidado:

- Isso não é uma doença fatal, James. É apenas sua verdadeira natureza. Não deve ter medo.

- Mas... eu nunca me senti atraído por homens antes. Só fiquei com garotas. Não sei nem como... er, fazer direito, sabe, com... com um homem. – James Potter de repente parecia frágil, olhos nervosos, como se tivesse cinco anos e estivesse muito assustado. Severus achou aquilo adorável. – Você sabe, fazer aquilo.

- Eu ensino pra você.

- Não vai doer?

- Prometo que vou tomar todo o cuidado, James.

James olhou para ele com um sorriso nos lábios e um brilho estranho nos olhos:

- Você me chamou de James.

- Eu queria te chamar de outra coisa – confessou Severus, sem saber direito por que estava fazendo isso. – Mas acho que é o efeito da poção se acabando.

- Eu também tô achando que essa poção já deu o que tinha que dar, Severus – James se sentiu meio ofegante, de repente não havia ar suficiente na sala para os dois. – Estou... sentindo umas coisas... Sabe, aquelas coisas... Eu não sei se vou conseguir me segurar.

- Então não se segure mais. Você cheira tão bem.

- Severus – James fechou os olhos, suspirando. – Eu não estou mais agüentando. Mas eu não queria parecer vulgar para você.

- James, o que você está sentindo é puro desejo, entende? Você não está desenvolvendo sentimentos por mim nem coisa parecida.

- Dá para você falar depois? – James envolveu-o nos braços. – Agora quero fazer outras coisas...

- Não, eu tenho que falar agora. Mais tarde eu vou querer fazer outras coisas com você, e a maioria delas certamente não vai me deixar lúcido o suficiente para conversar.

- O que você quer fazer comigo, Severus? – James sorriu, e era um sorriso que tentava se fazer inocente num rosto cujos olhos queimavam de lascívia.

E o cheio de pêssegos o enlouquecia.

Severus puxou o rapaz para si com determinação e garantiu, num sussurro:

- Quero fazer muitas coisas com você. O que você quer?

- Tudo... – James mal conseguia falar de tanto desejo, as mãos percorrendo o corpo de Severus – Por favor... Faz comigo tudo o que quiser... Mas faz agora... – Parecia indócil, agarrado a Severus, querendo aquelas mãos em todos os lugares de seu corpo. – Por favor, Severus...

- Então tire a sua roupa. Mostre-se para mim.

Com um fogo lento crescendo cada vez mais dentro de si, James se levantou e começou a se despir, os olhos escuros fixos em Severus.

TBC

sorry for the cliffie