Capítulo 6 – Maçã da Pérsia
– Já está amanhecendo. – James estava aninhado em Severus, sua orelha colada ao peito dele, escutando as batidas ritmadas de seu coração. – Queria não ter que voltar.
– Pelo menos hoje não tem aula. É sábado. Dia de visita a Hogsmeade.
– Severus... – James ergueu a cabeça – Não precisamos voltar. Por que não passamos o fim de semana aqui?
– Ficou louco? E seus amigos? E meus amigos? Black vai ficar enlouquecido se você simplesmente desaparecer durante dois dias inteiros. Sem mencionar o pequeno inconveniente de que vai parecer muito suspeito se eu também desaparecer ao mesmo tempo.
James fez biquinho:
– Mas é que é tão difícil ficar longe de você. Sério, eu fico quase tendo um troço.
– São apenas feromônios.
– Mas eu fico mal longe de você. Olha, eu tive uma idéia: vamos para o café e aí na hora de ir para Hogsmeade a gente vem para cá. Só para... conversar.
Severus olhou para o meio das pernas de James e ergueu uma sobrancelha:
– Hum, do jeito que você quer conversar agora? Estou vendo a sua – animação expressa no seu corpo.
– Oh, você ainda vai cuidar de mim antes do sol nascer, não vai? – Os olhos de James pareciam suplicar e ele começou a acariciar a barriga de seu dominante. – Por favor, Severus, só uma vezinha... Eu não agüento mais esperar. – A mão desceu, e James começou a beijar o umbigo de Severus. – Por favor, por favor.
Naturalmente, Severus foi obrigado a satisfazer seu pêssego gigante e insaciável.
Aquele fim de semana não foi exatamente o que James tinha imaginado. Ao invés de dois dias de imersão na Sala Precisa numa orgia sem fim, sem ninguém para atrapalhar e nenhuma preocupação a não ser como apagar o fogo que parecia consumi-los, eles tiveram que improvisar.
A primeira coisa que James fez quando chegou ao dormitório de Gryffindor foi esconder o Mapa dos Marauders. Assim ficou bem mais fácil se esconder deles e dar escapulidas durante o dia. Foi literalmente consumidor para ambos gastarem o final de semana todo se esgueirando pelo castelo e tendo encontros tórridos em variados horários dos dias de folga. Ele realmente estava insaciável, a maratona sexual demorou dois dias.
Era café da manhã de segunda-feira, e Severus tentou evitar olhar a mesa de Gryffindor. O problema era que a mesa de Gryffindor estava olhando para ele – e não era James, e sim seus amigos, cada qual com o rosto mais feio. Black, então, tinha todo o jeito de quem esperava que seu puro ódio pudesse fazer Severus Snape cair morto, de preferência já meio podre e carcomido.
Seu irmão caçula sentou-se a seu lado:
– Severus, o que você foi fazer?
– Do que está falando, Regulus?
– Você sumiu o fim de semana, e meu irmão me disse que de hoje não passa.
– Seu irmão é doente mental. Eu não sei o que ele quer de mim.
– O que você fez?
– A ele? Nada. Ele está com a idéia fixa de que eu usei algum tipo de feitiço no cretino do Potter.
– E você usou?
– Não, não usei. Mas devia ter usado, já que ele parece irredutível em me atacar por algo que eu não fiz.
Uma voz feminina os interrompeu:
– Severus, posso falar com você?
Severus ergueu os olhos ao reconhecer a voz e viu o brasão de Gryffindor, os cabelos avermelhados, os olhos verdes brilhantes de Lily Evans o encarando. Ela olhou Regulus e completou:
– Em particular.
O caçula dos Black olhou para Severus, que assentiu; então ele pegou suas coisas e deixou a mesa de Slytherin.
– O que você quer, Evans?
– Severus, um dia eu e você fomos amigos.
– Não fui eu quem decidiu que isso não mais seria assim.
– Eu só estou pedindo, em nome de nossa antiga amizade, que você seja sincero comigo e diga o que você fez com James. Eu não conto nada para ninguém, eu só quero saber o que você usou.
Severus ergueu-se e estreitou os olhos:
– Foi Black quem a convenceu, não foi? Eu já falei para aquele estúpido cabeça-dura e repito para você: eu não lancei feitiço algum no seu precioso Potter. E você se diz tão talentosa em Feitiços, como não descobriu?
– Ele está magro, some durante horas, não tem estudado. E ontem ele perdeu o treino de Quidditch. Tem que ser um feitiço. Ou alguma poção. Você usou uma poção, Severus?
– Acabei de lhe dizer que não usei nada! E você devia prestar atenção no que diz. Pois agora Potter resolve bancar o gazeteiro e a culpa é minha?
– Severus, já faz dias que ele não fala comigo – Ela parecia angustiada e mais preocupada do que deixava transparecer para admitir que estava sendo abandonada. – Se você o está tentando afastar de mim, eu...
– Eu tenho mais o que fazer do que fazer inventário das conquistas amorosas de seu precioso Potter. Se você é apenas mais uma marca no cinto dele, eu lamento, Evans, mas não me culpe por seus patéticos problemas amorosos! – Genuinamente irritado, Severus juntou seus livros na mesa. – E agora me dê licença porque eu não faço parte do grupo dos preferidos do diretor, então eu tenho que prestar atenção às aulas!
E saiu esvoaçando seus trajes de estudante, tremendo, sentindo o olhar homicida de Sirius Black a acompanhá-lo.
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Naquela noite de muito sexo e pouco sono, James garantiu a Severus que iria controlar Sirius como um cãozinho de estimação. Severus desfrutou de seu pêssego gigante a maior parte da noite como sempre, mas no dia seguinte, a despeito das tentativas de manter a maior distância possível da gang de Gryffindor, é que houve mais um incidente.
Ele não soube de onde veio, mas mais uma vez ele foi pego nos corredores, desta vez no terceiro andar, perto da estátua da bruxa corcunda a quem chamavam de Grunhilda de Gorsemoor. Antes que suas retinas registrassem apropriadamente a presença de Sirius Black e sua gangue, ele se viu suspenso no ar, de cabeça para baixo. Regulus estava a seu lado, e começou a gritar:
– Não! Sirius, deixa ele em paz!
– Fica fora disso, guri! Eu quero ele confessando! Vamos lá, Snivellus!
Se Severus pudesse olhar a cena, teria visto que James estava sendo seguro por ninguém menos do que Peter Pettigrew, e que estranhamente Lupin estava ao lado de Sirius, um olhar bem hostil para Slytherin de ponta-cabeça no ar. Ele só podia ouvir a voz de James:
– Peter, me deixe passar. Eu não quero machucar você.
– Não, James, você não está bem.
– Eu te mato, seu rato!
– Viu? Você nunca falaria assim comigo se não fosse aquele nojento.
A atenção de Severus foi desviada quando Lupin chegou perto dele:
– Severus, diga logo o que você fez com James. Está ficando demais.
– Eu não fiz nada, Lupin! Mas, aparentemente, seu amigo Black é obtuso demais para meter isso naquele crânio impenetrável!
Sirius apontou a varinha, rosnando:
– Resposta errada!
– Sirius, não! – Regulus avançou para o irmão, que perdeu a mira. Um raio amarelo atingiu a estátua da bruxa corcunda, que abriu um olho e reclamou com grande veemência.
O mais velho dos Black olhou para o caçula e apontou o dedo, ameaçadoramente:
– Guri, eu estou ficando por aqui com você!
– Severus não fez nada para você! E você vive enchendo o saco dele!
Enquanto eles discutiam, Severus lançou mentalmente um Feitiço Amortecedor antes de retirar o Levicorpus a que tinha sido submetido. Antes que ele pudesse se levantar, porém, Sirius tinha caído em cima dele, derrubado-o no chão e sentado em cima de seu peito, apertando seu pescoço.
– Vamos, seu miserável! Tire agora o feitiço de James!
– Sirius! – era James, agora sendo seguro por Peter e Remus.
Sem oxigênio, Severus começou a ver as coisas se embaçando, as mãos tentando tirar as de Sirius no seu pescoço. Regulus pulou em cima do irmão, batendo-lhe com força nas costas:
– Babaca! – mas foi retirado por Lupin.
Um grito pavoroso cortou os ares:
– Arruaça! Arruaça no castelo!
Era Pirraça, se juntando à refrega, como sempre. Mas aquilo fez Pettigrew dar o alarme:
– Sirius, vamos embora! Daqui a pouco Filch estará aqui e aí vai ser detenção para todo mundo.
Lupin lembrou:
– Sem falar que se você continuar apertando o pescoço de Severus desse jeito, você vai terminar em Azkaban, Sirius.
– Remus tem razão, Sirius! – falou James. – Pare com isso agora mesmo!
– Nossa, que exagero, Remus. – Sirius afrouxou um pouco o aperto e Severus engoliu o máximo de ar que podia, quase sufocado, tossindo. – Viu? Ele tá ótimo.
– Vem gente aí!
– Fica esperto, Snivellus – disse Sirius, saindo de cima do Slytherin, que ainda não tinha recuperado o fôlego. – Até você retirar o feitiço ou poção que colocou em James, eu não vou largar do seu pé.
Os Gryffindors saíram rapidamente, James discutindo alto com os amigos. Regulus se ajoelhou no chão, batendo nas costas de Severus, que tossia ruidosamente.
TBC
