Capítulo 8 – O creme não compensa

Na noite seguinte, eles discutiram de novo. De repente, James estava muito mais irritante do que antes, sem paciência para Severus. Por sua vez, Severus também se sentiu bem menos tolerante com a mera presença de James.

Mas James começou a ficar subitamente impaciente por outro motivo, um bem mais agradável para Severus, quando ele começou a se esfregar contra seu dominante, o traseirinho rebolando. Mas desta vez Severus sugeriu uma troca de posições, alegando que James deveria ter a experiência de penetrar outro homem. O Gryffindor protestou muito, mas no final fez o que o seu dominante queria.

Ele jamais imaginou que as sensações fossem tão intensas. Primeiro ele preparou Severus, como instruído, e ficou maravilhado ao ver seu rosto mudar diante de seus carinhos. James não se deteve nas cicatrizes que cobriam o corpo jovem de seu dominante, mas sim nas curvas e na qualidade alva daquele corpo que tanto o fascinava.

Quando chegou sua vez de afundar-se no corpo de Severus, ele pensou que fosse explodir de tanta emoção. Seu corpo inteiro vibrava, as sensações se acumulando. Por aqueles minutos, James pôde entender o que Severus sentia em querer protegê-lo, querer agradá-lo também. Desfrutar daquele corpo era além de qualquer coisa de que James se lembrava. Era mais apertado e mais quente do que uma mulher, e parecia ser tão próximo. Era uma conexão indescritível.

James se inclinou para frente, para agarrar a ereção de seu dominante, e encontrou a mão dele lá. Então ele fechou sua mão sobre a de Severus e ajudou-o no movimento, trazendo-o rapidamente ao orgasmo. O prazer de Severus desencadeou o seu próprio, e James espiralou no céu de tanto prazer.

E foi em pleno estado de exaustão, quando os dois estavam tentando recuperar o fôlego, que aconteceu. James ergueu a cabeça para olhar o rosto saciado de Severus, que o encarou de volta com os olhos negros cheios de prazer. De repente, eles se aproximaram, sem dizer coisa nenhuma. E seus lábios se colaram.

Não foi um toque profundo. Mas foi demorado. James catalogou os lábios finos, macios e flexíveis contra os seus, mais cheios e encorpados. Sabia que nunca se esqueceria daquele toque enquanto vivesse.

Era o primeiro beijo entre os dois.

Assim que seus lábios se separaram, Severus o encarou, os olhos penetrantes transbordando de uma sensação intensa, uma que James não conseguiu ler completamente. Severus não sabia direito sequer o que estava sentindo.

Eles fizeram amor mais uma vez, para satisfazer as necessidades de James. E quando a manhã chegou e eles tiveram que se separar, Severus sentiu algo estranho, opressor dentro do peito. Ele sabia que estava perdendo seu pêssego gigante.

Na noite seguinte, James não apareceu. Nem na que se sucedeu. Ou na próxima.

Aparentemente, o ciclo estava completo. A época de acasalamento tinha terminado, constatou Severus, com uma ponta de frustração e dor. Mas ele era um Slytherin, antes de tudo, e como tal era um sobrevivente.

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– Você está bem?

– Sirius, quer parar de perguntar isso?

– Você deixou todo mundo preocupado. – Sirius abaixou a voz no meio da mesa do café da manhã, localizando Lily Evans na outra ponta, bem longe. – E o que aconteceu com a sua... amiga?

– Não deu certo. Agora que acabou, eu posso lhe dizer: eu saía da escola toda noite. Passava lá até de manhã cedo.

– Não! Ela mora na cidade? Por isso é que você sumiu naquele dia de visita? Eu devia ter adivinhado.

Remus lembrou, com ar de censura:

– E você insistia em dizer que era culpa de Severus, Sirius.

– O seboso me atacou, não atacou? Fui parar na enfermaria.

– Também, depois do que você provocou... – disse Peter. – E como a gente ia saber que não era um feitiço? Você estava estranho, James.

– Eu não queria dizer o que era por causa de Lily. Ela não iria me perdoar. Mas vocês pegaram pesado com Snivellus.

– Ah, tá brincando, James? O que você quer fazer? Pedir desculpas?

Os quatro se olharam e de repente explodiram em gargalhadas. Quando se controlaram, Sirius tinha uma cara realmente maliciosa e disse:

– E eu ouvi dizer que os gêmeos Prewett acabaram de conseguir um item que nos pode ser muito útil contra o seboso. O que vocês acham?

Peter riu nervosamente, disposto a concordar, mas esperou a reação de James. Este demorou a responder, mas deu um sorrisinho irônico, desarrumando o cabelo:

– O que estamos esperando?

Os quatro se ergueram, mas antes de deixar o Salão Principal, James parou para falar com Lily Evans. O movimento não passou despercebido na mesa de Slytherin. Mas foi um aluno do terceiro ano quem comentou.

– Aqueles Gryffindors estão com cara de que vão aprontar alguma – comentou Regulus. Ele se virou para o lado. – O que você está lendo, Severus?

– A correspondência – respondeu ele, sem erguer os olhos para a mesa de Gryffindor. – Meu avô me escreveu, e também um velho amigo.

– Esse não é o brasão da família Malfoy?

– Isso mesmo. Lucius é um amigo meu.

– Ele vai se casar com minha prima, você sabe.

– Sim, isso mesmo. Ela se formou ano passado. Narcissa Black. O casamento é este ano.

– Aquela irmã mais velha dela vive me atazanando. Não gosto da prima Bellatrix.

– Oh, bem – Severus deu de ombros. – Não se pode escolher família, diz o ditado.

– Não precisa me dizer isso – Regulus fez um biquinho de muxoxo. – Tanto Slytherin na minha família e meu irmão tinha que cair em Gryffindor. Sem contar que ele e a mamãe tiveram o maior quebra-pau no verão. Não quero nem ver o que vai acontecer no Natal. Se ela souber o que ele anda aprontando, ela vai expulsá-lo de casa.

– Garanto que o nome dos Black ficaria bem melhor se isso acontecesse. Bom, eu tenho que ir para Trato das Criaturas Mágicas.

– Espere por mim. Eu tenho Herbologia. Assim você pode me dizer por que agora você voltou a dormir nas masmorras.

– Acreditaria se eu dissesse que estava trabalhando num projeto por créditos extras para o Prof. Slughorn?

O menino de 13 anos balançou a cabeça negativamente:

– De jeito algum. Você ficou sem fazer seus deveres de Poções, e você nunca deixa seu dever de Poções por fazer.

– Eu fiquei ocupado – Severus desconversou. – Não vai mais acontecer.

– Você podia ter sido pego! Filch estava desconfiado de que havia alunos fora de suas casas! Eu juro que ele é paranóico. A gente bem que podia dar para ele um bichinho para ver se ele ficava mais calmo. Quem sabe um gatinho?

– Bom, faça o que achar melhor. De qualquer forma, eu não fui pego. Agora podemos deixar esse assunto de lado? Eu realmente tenho que me concentrar nessa aula.

Se Severus concentrou-se na aula do Prof. Kettleburn, ele teve que dar o máximo de si na aula de Poções, no dia seguinte. Era uma aula conjunta com os Gryffindors, e ele sempre tinha que ficar atento a cada segundo para que Potter, Black e sua turma não colocassem ingredientes para arruinar sua poção. Claro que aquela aula não seria nada diferente.

A coisa já não começou bem quando o Prof. Slughorn colocou no quadro a receita de uma Poção Desengordurante. Os risinhos e provocações rapidamente fizeram Severus ficar na defensiva.

– Professor – começou Black, com uma cara de santinho do pau oco –, essa poção pode ser usada no cabelo?

Risinhos abafados, olhares para Severus, que respondeu com uma encarada que fez um Gryffindor arregalar os olhos. Alheio ao movimento, o Prof. Slughorn respondeu:

– Não, Sr. Black, essa não é uma poção cosmética, e sim meramente um detergente. Ela contra-ataca aquele Feitiço Engordurante que o Prof. Flitwick ensinou para vocês antes do Dia das Bruxas. O Sr. Filch reclamou comigo que alguém – ele varreu os olhos proeminentes pela turma como se pretendesse intimidar os alunos – lançou esse feitiço num dos corredores perto das masmorras, durante uma recente altercação. Quem lançou poderá gostar de saber como reverter o dano que fez.

Vários alunos trocaram olhares, e Severus procurou ao máximo disfarçar o fato de que ele tinha sido o responsável por engordurar o corredor. Sempre com um olho nos delinqüentes de Gryffindor, ele preparou sua poção, fazendo anotações nas margens do livro de Poções, como sempre. Estava ficando difícil concentrar-se na poção à sua frente enquanto ele tinha que manter um olho nos Marauders e evitar olhar para James.

Talvez evitar olhar para James não fosse a melhor estratégia.

Severus estava quase no final da poção quando Sirius Black tentou disfarçar um movimento com a varinha, um que Severus só percebeu com o rabo de olho, mas já era tarde demais. Ele se virou para bloquear o movimento de Black, e jamais viu o ataque de James, que ergueu um caldeirão no ar e derramou-o inteiramente em cima do Slytherin. A confusão se formou na sala, com risos altos dos Gryffindors e mesmo de alguns Slytherins. Severus ficou totalmente ensopado com um líquido grosso, pegajoso e escuro.

– Sr. Potter! – vociferou o volumoso Mestre de Poções. – Esse ataque foi covarde e injustificável! O que o senhor tem a dizer?

Tentando sem sucesso reprimir o riso, James deu de ombros:

– Na verdade, ele ficou muito melhor agora, Professor.

Os Gryffindors riram mais ainda, exceto Lily Evans, cujos olhos verdes pareciam estar prestes a soltar raios mortíferos para James. É que a poção que eles tinham conseguido com os gêmeos Prewett começou a fazer efeito e o cabelo de Severus começava a mudar de cor. Em segundos, o Slytherin tinha seu cabelo inteiramente tingido de louro. Platinado. Era como se Lucius Malfoy tivesse emprestado sua peruca loura preferida a Severus. O resultado estava longe de ser atraente. Nem os Slytherins puderam deixar de reconhecer que estava absolutamente perturbador, ainda mais quando Severus afastou os cabelos encharcados do rosto para poder enxergar, revelando que também suas sobrancelhas tinham ficado louras.

– Aí, Snivellus, todo mundo prefere as louras, é ou não é? – Sirius debochou.

Risada geral. Severus fechou os olhos e os punhos, tremendo de ódio.

– Silêncio! Silêncio, todos vocês!– bradou o Prof. Slughorn, ficando ligeiramente vermelho em sua cabeça bem redonda e careca. A turma finalmente se acalmou. – Eu estou mais do que decepcionado com vocês. Nem alunos do segundo ano seriam tão infantis e imaturos quanto essa brincadeira de tingir o cabelo de um colega! Gryffindor não vai mais rir quando souber que perderam 50 pontos por causa dessa piadinha de mau gosto! E mais 10 pontos pela resposta debochada do Sr. Potter.

Houve alguns gemidos, e o Prof. Slughorn se dirigiu a Severus:

– Sr. Snape, pode ir trocar de roupa. Por favor, Sr. Avery, ajude seu colega.

– Aproveita e toma um banho, seu sebento! – gritou Sirius.

– Mais 50 pontos de Gryffindor, Sr. Black! – aplicou Slughorn, as grandes sobrancelhas fazendo um "V" de irritação. – E o senhor pode se juntar ao Sr. Potter nas duas semanas corridas de detenção que vou aplicar a ele. A detenção se estenderá aos finais de semana também, é claro. Durante os dias de semana, vocês a cumprirão com o Sr. Filch, e nos finais de semana, eu supervisionarei pessoalmente sua detenção.

Houve um ligeiro protesto entre os Gryffindors, que perderam rapidamente os sorrisos diante dos 110 pontos perdidos. E havia uma agravante nada desprezível.

– Mas, professor, sábado que vem é dia de Quiddtich!

– Oh, bem, Sr. Lupin, já que seu amigo Potter colocou tanto esforço e energia em elaborar essa brincadeira contra o Sr. Snape, ele deveria ter consultado o calendário, não acha?

Severus se voltou para olhar os Gryffindors. Black, como sempre, queria fuzilá-lo com os olhos, e Lupin o encarava com aquele olhar estranho que ele tinha, como se estivesse se sentindo culpado, mas ainda assim se divertindo. Então ele olhou o rosto de James. Ele apresentava um sorriso debochado como sempre, mas os olhos... pareciam implorar. Implorar perdão.

Durou apenas alguns segundos. Mas os olhos de Severus não estavam tão cheios de ódio quando ele se virou e deixou a sala de aula.

James suspirou, sentindo-se vazio e pequeno. Ele olhou para Sirius, que ainda dava um sorrisinho vitorioso e assentiu com orgulho para ele. Mas a última coisa que James sentia naquele momento era orgulho.