WHO KNOWS?

Why do you look so familiar

(Porque você parece tão familiar?)

I could swear that I have seen your face before

(Eu poderia jurar que já vi seu rosto antes)

Marie – Jane parou algum tempo depois e olhou para o homem caminhando lá atrás. Havia algo nele muito estranho. Mas a verdade é que não queria pensar naquilo. Só queria ficar sozinha, em silêncio. Só queria poder pensar em paz.

Foi naquele momento que se deu conta que não tinha para onde ir, onde sentar, onde descansar, onde pensar em paz. Sem ter para onde ir, sentou-se no cordão da calçada e ficou ali, parada, pensando.

Ficou ali até sol subir no céu. Ela ficou lá por mais algum tempo, até que pensou: "Preciso tomar uma atitude. Preciso fazer alguma coisa". Mas ela não queria fazer nada. Não queria tomar uma atitude. E ao mesmo tempo queria. Queria poder fazer tudo, mudar o mundo, acabar com a Guerra.

Ela não chorou. As lágrimas não vieram aos olhos, mas enquanto pôs-se a caminhar em direção ao desconhecido, sentia um vazio no coração que nunca sentira antes.

James Evans afastou-se rapidamente da garota. Ela o deixava nervoso. Lembrava demais Gina. Havia algo na forma como ela se virara que o fazia lembrar-se da ruiva. Quando ela olhara-o, fora como um lampejo do passado, algo que o fazia perceber que a perdera para sempre, não importa o que fizesse, ela não iria voltar.

Ele ficou caminhando sem rumo até que se cansou. Foi quando ele viu um homem se aproximando. O homem mancava e estranhamente Harry achou que o conhecia. E não deu outra. O homem velho parou diante dele e disse:

- Harry Potter?

James piscou aturdido, até responder:

- Não. James Evans. Em que posso te ajudar?

- Prince deseja encontrar-se com Harry Potter. Hoje, à meia noite, na ponte.

- Que ponte?

- Essa.

O homem deixou um cartão postal de uma grande ponte em Londres e afastou-se sem dizer mais nada. James Evans observou-o caminhando e pensou. "O que tenho a perder?" E sorriu. Estava sozinho, não tinha perspectivas de futuro, não tinha nada por que ansiar. Mas se ele estava no mundo era por algum motivo, e por todos que haviam sido tirados dele, iria acabar com o Lord das Trevas.

Ele foi para um hotel onde estava hospedado algum tempo depois. Almoçou muito bem e à tarde ficou deitado na cama, segurando entre as mãos aquela folha já tão riscada, amassada e suja.

Só havia duas coisas que não estavam riscadas. Um ponto de interrogação seguido pelo nome de Snape dentro de parênteses, e o nome de Voldemort. Harry ficou por muito tempo ali pensando sobre aquilo, lembrando-se de Dumbledore e de tudo que ele lhe ensinara.

Jantou no quarto, tomou um longo banho e então ficou um tempo na frente do espelho. Perguntou-se porque estava indo, porque estava fazendo aquilo. Podia morrer àquela noite. Lembrava-se de tudo que Snape lhe dissera. Que Dumbledore obrigara-o a matá-lo. Mas se fora aquilo, porque o diretor obrigara-o a assistir à cena? Porque não preferira fazer com que Harry acreditasse que tivera sido Malfoy? Que motivos tinha para acreditar no ex-mestre de poções? Seu pai nunca confiara nele, nem Sirius...

Mas, estranhamente, naquele momento, o que eles achavam já não importava mais. não estavam ali naquele momento, quando Harry precisava. Mas ele não queria admitir aquilo. Não queria admitir que odiava estar sozinho, ter que decidir sozinho, ter que arcar com todas as conseqüências de seus atos.

De repente, Harry levantou-se, não agüentando mais aqueles pensamentos solitários. Olhou-se no espelho novamente e então, com a varinha apontada para si mesmo, transformou-se novamente em Harry Potter. Ele pôs uma capa negra longa sobre a calça jeans e o blusão de linho, e um chapéu inglês para cobrir os cabelos e fazer sombra na cicatriz.

Saiu do quarto exatamente às onze horas e vinte minutos. Seguiu caminhando pelas ruas desertas, sentindo o vento frio da cidade contra o rosto. Vinte minutosdepois, havia chegado no local do encontro.

Marie Jane seguiu caminhando até parar, sonolenta, diante da maior ponte de Londres. A Torre de Bridge erguia-se gigantesca e monumental, suas luzes cintilando assustadoramente. Quase não havia carros passando por ali àquela hora. Tudo estava silencioso.

I think I like you seem sincere

(Acho que gostaria que você fosse sincero)

I think I'd like to get to know you

(Acho que gostaria de te conhecer)

A little bit more

(Um pouco mais)

Gina não soube porque suas mãos suavam, nem porque ela se sentia estranhamente calma, ao começar a caminhar pelo lugar. Era como se sempre soubesse que tinha de estar lá, naquela noite, naquele momento, vestindo ainda bonitas punks, com os cabelos morenos escorrendo pelas costas, uma blusa preta, munhequeiras de couro, muitos anéis e correntes, parecendo muito jovem e muito perdida.

Ela sentou-se num canto escondido nas sombras, no meio da ponte, o vento forte batendo contra seu rosto. Ela ficou lá, olhando a cidade ir mergulhando cada vez mais na escuridão, com medo demais para fechar os olhos, batendo o pé ao som de uma música trouxa que ouvira no shopping.

Foi quando viu. O vulto caminhando. A capa voando com o vento. Ela estava assustada, com frio, com fome, com medo. Achava que estava ficando louca, que ia morrer; achava mil coisas ao mesmo tempo. Mas só tinha certeza de uma: daquela pessoa que caminhava sozinha na ponte, com as mãos no bolso, um chapéu cobrindo os cabelos.

Enquanto ela o via se aproximar, seus pensamentos voltaram a Harry e, num turbilhão, seus olhos se enxeram de lágrimas. Era difícil segurá-las agora, sozinha na calada da noite, sem ter para onde ir, para quem olhar, para quem sorrir. E então sentiu um desespero, uma solidão, uma vontade de se tocar do alto daquela ponte.

Sem entender o que estava fazendo, ela levantou-se e foi até a grade que a separava de se tocar no rio muito metros abaixo. O vento fazia seu cabelo voar e as lágrimas teimavam em escorrer por sua face. Sentiu uma saudade insuportável dos irmãos, dos pais, dos amigos que deixara para trás. Ter abandonado tudo de repente não fazia o menor sentido, e tudo o que ela queria era voltar atrás no tempo e consertar os erros.

Foi naquele momento que ela ouviu a voz:

- Então, Potter, você veio.

Era a voz inconfundível de Snape, do assassino de Dumbledore. Sem pensar duas vezes, Gina escondeu-se nas sombras, perto o suficiente para ouvir a conversa entre os dois.

- Sim, Snape, eu vim.

E aquela era a voz inconfundível de Harry. Ela forçou-se a parar de chorar, agachada no chão, olhando os dois, segurando a varinha, pronta para avançar caso alguma coisa acontecesse.

- Porque me chamou aqui?- era Harry, estranhamente controlado.

- Para te ajudar.

Gina não estava entendendo nada. Não podia se mexer muito, pois os dois haviam se aproximado, e não queria ser vista.

- Você matou Dumbledore, Snape. Nada vai mudar isso.

- Sim, Potter, não nego que matei, mas a hora dele já chegara. Ele me obrgou a fazer isso.

- Eu não acredito.

- Talvez apenas nâo queira acreditar.

- O que isso muda?

Gina pôde ver, pelas sombras,que eles estavam muito próximos, como se fossem partir para a pancadaria a qualquer instante.

- Nega que o matou?

- Você mesmo o viu, Potter.

- Então? Isso é tudo o que preciso sair.

Gina viu Harry cambalear para trás depois de ter recebi um soco.

- Você é idiota e estúpido, Snape!- disse Harry, com a mão no rosto- Você não vai conseguir nada de mim, e sabe disso.

- Quer deixar de ser arrogante, garoto?

Houve um silêncio.

I think there's something more

(Eu acho que há algo mais)

Life's worth living for

(A vida vale a pena ser vivida)

- Você traiu a Ordem, Snape. Dumbledore era o único que sabia realmente o que fazer...

- Sim, Potter. Mas era a sua hora, entendeu? Dumbledore não pode matá-lo. Ninguém mais pode matá-lo além de você, entendeu?

- Não é tão simples assim!

- Você não pode falhar, entendeu? Você não pode...

- Eu sei, porra!

Gina estava ficando nervosa. O que os dois faziam ali, àquela hora da noite.

- Eu não posso fazer mais do que estou fazendo.- e então, entredentes, completou- Ainda falta um, sabia?

- Não, Potter, não falta.- e então Gina viu Snape estendendo a mão para Potter- Aqui está, Potter...

- O que é isso?

- É o horcruxe que você e o Dumbledore foram buscar. Eu te disse. Ele me deu o horcruxe verdadeiro e dei a ele um colar falso.

- Por que?

- Porque tinha que ser você daqui pra frente.

- Não, não tinha!

Os dois se encaravam. Gina olhava-os assustada.

- Porque está fazendo isso, Snape? Como eu posso confiar em você?

- Dumbledore salvou minha vida mais de uma vez, Potter. Eu devia muitas coisas a ele. Tive que matá-lo, destruir um horcruxe e, agora, estou aqui para você acabar com isso de uma vez.

Harry não queria acreditar, mas pegou um medalhão que Snape lhe estendia.

- Deixe-me ver sua cicatriz.- pediu Harry, sabendo que se Snape tivesse destruído um horcruxe haveria uma cicatriz.

Snape hesitou por um momento. Finalmente levantou a mão e mostrou algo a Harry, que concordou com a cabeça.

- O que você vai fazer, Snape? Continuar do lado deles?

- Talvez.

Who knows what could happen

(Quem sabe o que pode acontecer)

Do what you do

(O que quer que você faça)

Just keep on laughing

(Apenas continue sorrindo)

Marie Jane viu Harry começar a se afastar. Estava com o coração batendo forte e tremia, tendo consciência de tudo o que ouvira. Foi quando ouviu Snape dizer, a voz alta e firme.

- Pare, Potter.

Marie Jane gelou. Começou a tremer ainda mais, se é que isso era possível, e então viu Harry parar.

- Que foi, Snape?

- Temos um problema.

- Qual?

Os dois se aproximaram e Gina não pôde ouvir o que eles diziam. Aproveitou a trégua e foi um pouco mais para trás. De repente, não queria mais vê-los. Não queria mais saber o que eles iam falar. E, enquanto ficava lá contra a parede, ficou estranhamente calma, a expressão decidida.

E, enquanto estava ali, ela fechou os olhos por um momento. Quando abriu-os novamente, foi para dar de cara com Snape, com uma expressão demoníaca. Num segundo estava ali agachada e encolhida, e no outro ele agarrou-a pelo braço, tocando-a contra a luz.

Ela caiu no chão, encarando os dois.

- Diga! Como Voldemort soube que estaríamos aqui?

Marie Jane olhou-o, e não disse nada. Não queria falar. Não queria falar nada por causa de Harry. Estava olhando-o, enquanto ele fazia a mesma coisa, com um olhar estranho.

Então, teve uma idéia louca. Podia dizer que realmente era espiã e dar um jeito em Snape, de modo que encontrasse Voldemort. Seria perfeito. Ela poderia descobrir segredos e, finalmente, contar a Harry o que fazer.

Era uma idéia louca,mas a única que tinha.

Harry olhou para a garota punk que conhecera como James Evans, sentindo um embrulho no estômago. Ela era uma espiã. Era isso.

Aquele pensamento revirou em sua mente, enquanto via Snape levantá-la do chão, puxando-a pelo braço, e sacudindo-a violentamente:

- FALE! DIGA! PORQUE VEIO ATÉ AQUI?

Harry ouviu a resposta dela com o coração batendo forte.

- Você já sabe todas as respostas, Snape.- disse ela, fria.

- Quero ouvi-las de sua boca.

Harry observava tudo imóvel.

- Não ouvira nada, Snape! Não sou traidora como você é! O Lord ficará sabendo!

Harry desviou o olhar quando Snape deu-lhe um soco. A garota cambaleou para trás, parecendo muito indefesa e assustada. Mas quando ela olhou novamente na direção de Snape, tinha a varinha apontada para ele.

- Revoltado porque descobri o que todos já desconfiavam?

Mas ele não respondeu, e de um movimento empunhava sua varinha também.

- Deixe-a, Snape- disse Harry, finalmente.

- Como? Para mim ser descoberto?

Snape riu, e a garota de repente ergueu a voz:

- Fique fora disso, Potter. O assunto é entre eu e o Potter.

Harry fez menção de avançar, mas então sentiu que ela o parasilava. Aquilo lhe parecia muito familiar, e olhou para Snape avançando em direção à ela com medo.

- Ajudando o inimigo, nao é, Snape? De onde tirou essa idéia?

Ele não respondeu nada. Conhecia aquelas feições de algum lugar, e concentrava-se nisso. A verdade é que nunca a havia visto.

- Talvez.- respondeu, cauteloso.

- Ah, qualé, Snape, você primeiro traiu eles, agora nos traiu! Ainda não decidiu de que lado está, não é?- ela queria enfurece-lo, queria vê-lo descontrolado agora.- Qual é o seu problema? Não é capaz de fazer nada direito? O Mestre disse matá-lo, e não ajudá-lo?

Ela estava avançando no escuro, sabendo que à sua frente havia um precipício, mas parecia não saber.

Foi de repente que ele moveu a varinha ligeiro demais e ela voou. Caiu de costas no meio do asfalto, e logo ouviu a buzina. Rolou para o lado a tempo de escapar do carro, e então estava assustada. Ergueu-se e encarou Snape.

- Quer duelar, é?

O duelo começou veloz e ela sentia dificuldade em acompanhá-lo. A mão esquerda estava imóvel por causa da queda, e uma dar pernas também doía mais do que queria admitir. Snape duelava muito melhor do que queria admitir, e sabia que não aguentaria muito tempo.

Ela já estava quase no meio da rua de novo quando foi atingida novamente. Ela ficou lá caída no chão, com lágrimas nos olhos, tremendo, embora sua expressão serena não demonstrasse isso.

Ficou lá, com medo, olhando Snape se aproximar, como um assassino. Ficou com medo de morrer, de nunca mais beijar Harry, de muitas coisas. Foi erguida do chão pelas mãos nojentas do Comensal, que sacudiu-a com violência.

- VOCÊ NÃO VIU NADA, ENTENDEU?

Ela não conseguia responder. Ele sacudiu-a com mais força. Ficou com dor de cabeça. A mão dele bateu em sua cabeça uma, duas, três, quatro vezes. Ela nem conseguia pensar direito.

Foi quando ouviu uma voz...

- Deixe-a comigo daqui para frente. Vá tranqüilo. Nada irá acontecer com você.

Snape olhou-o.

- Isso é assunto entre comensais.

- Não. Vá embora. Eu cuido disso. É minha hora agora, entendeu?

One thing's true

(Uma coisa é verdade)

There's always a brand new day

(Sempre há um novo dia)

I'm gonna live today like it's my last day

(Vou viver hoje como se fosse meu último dia)

Mary Jane sentiu as mãos que a seguravam soltarem seus braços, e caiu inerte para frente, esparramada no chão, um filete de sangue escorrendo pela boca.

- Você... está bem?

Mas ela não conseguiu responder. Apenas abriu os olhos um segundo, para descobrir Harry agachado ao lado dela. Fechou os olhos de novo.

- Você não é Comensal, não é, Mary Jane?

Ela não queria responder. Nem perguntou-se como ele sabia seu nome. Não queria nem pensar.

- Fale comigo, Mary Jane.

Mas ela não queria falar com ele.

- Quero te levar pra sua casa... onde você mora?

Ela continuou de olhos fechados. Finalmente, fez que não com a cabeça. Houve um silêncio longo e estranho. Finalmente, ele segurou-a por um braço e puxou-a para cima.

- Onde você mora, Mary Jane?

Ela cabaleou, enquanto ele segurava-a pela cintura, mantendo-a bravamente em pé, lutando contra a tontura e a fraqueza dela.

- Não quer dizer?

Ele olhava-a com o canto dos olhos. Secou o sangue que escorria pelo canto da boca dela com a mão e, então, ela sssurrou:

- Não tenho para onde ir...

Ele pareceu ficar com pena da garota abandonada, e então teve uma idéia:

- Vou cuidar de você.

Ela pareceu querer protestar, mas não tinha forçar nem para abrir os olhos. Parecia que tinha tirado todas as forças de seu corpo. Ele apalpou os bolsos e viu que tinha dinheiro. No instante seguinte, parou um táxi que passava pela ponte e entrou, levando-a junto.

Deu ao motorista o endereço no hotel e deixou que Mary Jane ficasse deitada com a cabeça apoiada em seu ombro, parecendo estranhamente pálida. E ali, mais do que nunca, ela lembrava Gina. Tinha a mesma expressão que a ruiva tinha depois de ser salva da Câmara Secreta.

Ficou ali a observando, lembrando de como Gina fora e de como nunca mais seria, porque não estava mais ali. De repente não conseguia mais parar de olhar para ela, e era só nela que conseguia pensar... Em sua Gina.

Todos os momentos bons que viveram voltavam à sua mente em flashes dolorosos e tristes, mas que lhe diziam que fora muito feliz com ela. Então, de repente, a garota punk de cabelos revoltos abriu os olhos. Harry viu-se então encarando aqueles olhos castanhos tão bonitos, cheios de maquiagem, meio borrada, um borrão de rímel no olhos esquerdo, a parte direita da face cheia de hematomas, parecendo extremamente frágil e abandonada.

O motorista do táxi olhou-os pelo retrovisor, uma dupla tão estranha, ele com aquela capa maluca. "Deve ter ido a uma festa a fantasia". Mas então se lembrou que os apanhara em cima da Torre de Bridge. Aquilo parecia muito louco, algo de filmes. E os machucados dela, o sangue que manchava a blusa e secara em seu queixo. E ainda tinha aquela cicatriz estranha no meio da testa do rapaz.

Harry não conseguia tirar os olhos dos olhos dela. De repente, era a própria Gina ali em sua frente. Os mesmos olhos, as mesmas feições, os mesmos lábios pedindo para serem beijados. E de repente aqueles olhos tão lindos se enxeram d lágrimas e ela ergueu uma das mãos, começando a chorar.

- Mary Jane... você está bem?

Ela fez que não com a cabeça, mas logo parou porque todo seu corpo doía. Tudo o que queria era ficar sozinha, longe de Harry, longe do homem que tanto amava... Estava tão perto dele e, ao mesmo tempo, tão longe, tão distante, tão ausente. Ele estava ao seu lado e ao mesmo tempo não estava.

O táxi parou alguns minutos depois e ela não desceu, ficou ali dentro, esperando ele pagar a corrida. Ele desceu primeiro, e puxou-a para fora. Ela cambaleou e ele segurou-a pelo cotovelo.

- Você está bem, Mary?

Ela tentou responder alguma coisa, mas ao invés disso apenas deixou-se cair nos braços dele, sentindo-se mal novamente. Ele conduziu-a pelo salão do hotel, levando-a até seu quarto.

Quando chegou lá, deitou-a em sua cama e ficou olhando-a, ali deitada, inerte, os olhos fechados. Foi então que viu de novo os machucados dela. Sem pensar duas vezes, ele foi até ela e tirou-lhe a blusa preta, e depois as calças. Vestiu nela uma de suas camisetas velhas e depois cobriu-a com um cobertor.

Depois, ficou lá observando-a dormir, revirando-se na cama, serenamente.

Finalmente, também adormeceu.

How do you always have an opinion

(Como você sempre tem uma opinião)

And how do you always find

(E como você sempre acha)

The best way to compromise

(O melhor jeito de comprometer)

Mary Jane acordou sentindo-se muito doída. Tivera um sonho estranho. Sonhara que estava indo para casa com Harry... e outras coisas ruins também, mas não importava com aquelas...

Foi quando abriu os olhos que percebeu Harry sentado numa cadeira, dormindo todo torto, a cabeça pendendo contra a parede, a boca meio aberta, roncando baixinho.

Ela ficou muito tempo ali apenas observando-o, sentindo aquele cheiro familiar, olhando para aquela face que tanto gostava... Ela mexeu-se e então sentiu aquela dor no rosto. Levantou-se, meio cambaleante, a perna direita doendo muito, e foi até uma porta, que devia ser o banheiro.

Estava certa. Ela apoiou-se na pia, mas um braço doeu demais. Ligou a torneira e molhou o rosto. Porém, tudo ardeu. Ela ficou tonta novamente, enquanto se lembrava de tudo que acontecera na noite anterior... Snape e Harry, o ex-professor batendo nela, ela mentindo ser uma Comensal, voltando com Harry para um hotel barato...

Olhou-se no espelho, os olhos arregalados, vendo os hematomas gigantescos no rosto, e então começou a chorar, enquanto olhava o rosto de uma desconhecida. Haviam ainda suas feições, mas o cabelos era moreno bem desfiado, amassado e revolto, e seus olhos haviam estado tão maquiados que o rímel escorria por suas maçãs do rosto numa linha desgovernada.

Foi então que viu pelo espelho Harry parado na porta do banheiro, uma cara de sono.

- Você está bem, Mary Jane?- já estava até cansado de perguntar aquilo...

Ela virou-se para Harry, e perguntou:

- O que você acha?

Ele ignorou a ironia e a raiva que estavam presentes na voz dela.

- Precisa de um médico?

Ela riu.

- Nenhum médico conseguirá me curar, Potter.

- São só alguns arranhões, Mary Jane.

Ela riu novamente.

- Porque me trouxe aqui?

- Não sabia onde te levar...

Ela encarou-o, sentindo uma vontade cada vez maior de contar quem era, de jogar tudo para o alto. Antes que o fizesse, porém, ele disse:

- Você já ouviu tudo, sabe que preciso só matar Voldemort... não tenho ninguém. Mas preciso que alguém esteja ao meu lado...

Ela olhou-o durante algum tempo. Seu coração batia cada vez mais forte. "Ele quer minha ajuda..." Mas não era a ajuda de Gina Weasley. Para ele, era a ajuda de uma garota punk que dissera ser comensal da morte. "Ele desprezou a ajuda de Gina, mas quer a ajuda de uma Comensal". E então, de repente, a garota ali diante de Harry não sabia se ria ou chorava.

Acabou escolhendo nenhum dos dois.

Apenas perguntou, num fiapo de voz:

- Por que?

Ele deu de ombros.

- Sei lá. Só sei que você não tem cara de Comensal... quer saber a verdade? Não parece ter mais do que quinze anos.

- Vou fazer dezesseis daqui a três semanas.

Ele sorriu.

- Você quer ou não quer?

Ela olhou-o por um longo tempo, os olhos cheios de lágrima, sentindo-se estúpida e perguntando-se porque não tinha coragem de dizer que era Gina.

Finalmente, sussurrou:

- Eu tenho escolha?

- Vejamos... eu sei que você é uma Comensal.

"Porque ele tá fazendo isso? Porque eu não posso simplesmente ir embora? Eu quero ir embora, não quero mais olhá-lo! Socorro, alguém me ajude..." E quanto mais ela suplicava por ajuda, mais ela sabia que era inútil, porque ninguém iria lhe escutar.

We don't need to have a reason

(Nós não precisamos ter uma razão)

We don't need anything, we're just wasting time

(Nós não precisamos de nada, nós só estamos perdendo tempo)

Harry virou-se de costas para Mary Jane, que sentia vontade de tocar-se pela janela e sair correndo. "Ele prefere essa punk maluca do que a Gina..." E de repente sentia raiva. Não sabia o que estava acontecendo consigo mesmo, só sabia que tinha horas que a única coisa que queria era conseguir odiar Harry com todas as suas forças.

E o que mais odiava em si mesmo era que não conseguia odiá-lo. Enquanto ele virava de costas, a única coisa que queria fazer era abraçá-lo, dizer que tudo acabaria bem, que ele poderia ser feliz...

Sem conseguir evitar, deu um passo à frente e pousou a mão no ombro dele. O rapaz virou-se de supetão, e Mary Jane até sentiu medo da fome que viu nos olhos dele. Era como depois daquele jogo de Quadribol, quando ele simplesmente fora até ela e a beijara.

E então, enquanto ele olhava-a, ela sentiu o que iria acontecer. Tinha certeza do que iria acontecer. Podia ter impedido, podia ter desviado o rosto, ter iniciado uma conversa, ter simplesmente dito que era Gina, e não uma punk perdida no mundo.

Mas tão logo quanto ela pensara isso, os lábios dele pousaram sobre os seus. Não mais que um toque, não mais que uma descarga elétrica. Ela continuou de olhos fechados, bem apertados, não querendo ter que olhar para ele.

A mão dele pousou em seu rosto como quando ela era Gina. O mesmo jeito de tocar, a mesma tremura nos dedos, as mesmas unhas roídas. Ela não queria chorar, não queria deixar aquilo ir mais longe. Mas de repente era como se aquilo fosse o máximo que ela podia ter. era como se nunca mais fosse poder beijar Harry como Gina, e então, por mais que não fosse a mesma coisa, queria senti-lo novamente, queria ser abraçada por ele...

- Mary Jane...

Ela não respondeu nada, apenas abriu os olhos e encarou os olhos muito verdes de Harry. Havia algo lá que não conseguiu entender o que era, só soube que no instante seguinte as mãos dele abraçaram-na pela cintura, colando os dois corpos, e as bocas uniram-se novamente, as línguas buscando-se com pressa, como se o mundo fosse acabar no instante seguinte.

Ela podia sentir a urgência dele, quando ele puxou-a ainda mais para perto dele, os corpos quase como num só.

Mas de repente ela não podia continuar com aquilo, não podia fingir que era outra pessoa, não podia estar tão perto dele e ao mesmo tempo tão longe. Afastou-o de si com lágrimas nos olhos e sussurrou, prestes a chorar:

- Eu não posso fazer isso, não posso...

Ele deu um passo para trás, sem encará-la, sabendo que era encarado. A verdade é que só conseguia pensar em Gina. Era como uma obsessão. Era como um castigo. Ele finalmente decidiu olhá-la.

- Sim, Mary Jane, você pode.

- Você não sabe nada sobre mim!- não era uma pergunta.

- Talvez não.

- Porque quer que eu te ajude nisso? Por que não posso continuar dormindo na rua e acordando com o sol nascendo? Porque não pode me deixar sozinha?

- Não sei, Mary Jane. Houve algo em você que me chamou a atenção.

- Sim, deve ter algo mesmo. Mas eu não me importo!

Ela agora já chorava.

- Sinceramente, não quero te ajudar!

- Eu não te entendo, Mary Jane.

- Não me entende mesmo.

- Você podia tentar explicar!

- Não, eu não posso.

- É. Talvez não possa mesmo.

Ele virou de costas para ela, e então disse:

- Eu não sei porque pedi a tua ajuda...- admitiu- Só sei que agora que você está aqui, que percebi que posso contar com alguém, não quero continuar sozinho...

- Não, Harry... não é isso. Você sempre disse que precisava continuar sozinho.

- Talvez tenha dito mesmo, merda, mas não quero mais!

Gina virou-se para a parede, batendo a cabeça contra ela e ficando assim, como uma derrotada.

- Por que eu devia fazer isso? O que vou ganhar com isso?

I think there's something more

(Eu acho que há algo mais)

Life's worth living for

(A vida vale a pena ser vivida)

Harry ficou um longo tempo apenas olhando-a. havia tanto de Gina nela, que às vezes perguntava-se se Gina não estava novamente fingindo ser outra pessoa. Mas tinha certeza de que, se fosse ela, iria dizer. Iria se mostrar. Ela não teria coragem de fazer aquilo com ele.

- Porque eu não quero mais continuar sozinho.- repetiu ele, bem baixo.

- Porque está fazendo isso comigo?

- Talvez também me importe com você.

- Ninguém nunca se importou comigo. Estive sozinha por muito tempo, Harry. Já sei me virar.

- Talvez seja hora de dar algo a alguém... de ajudar alguém...

"Eu tentei te ajudar como Gina e você não deixou, escrápula!" Mas Gina não estava ali. Agora era ser Mary Jane a agarrar aquela chance de estar com Harry ou seguir perdida. Talvez pudesse dizer quem era, talvez tivesse coragem uma hora de falar. Mas talvez para o próprio Harry fosse melhor aquilo... fosse melhor beijar alguém que talvez não gostasse, ter ao seu lado alguém que não se importaria de perder. Doía pensar naquilo, porque se alguém morresse não seria apenas Mary Jane, mas Gina também. Mas naquele momento aquilo era a única coisa que podia dar a Harry, e de repente era o que queria fazer por ele.

- Tudo bem.

- O que?

- Eu vou ficar com você. Vou estar ao seu lado. Vou fazer tudo o que me pedir...

- Está falando sério?

Ela concordou com a cabeça, sem chorar mais.

- Estou, Harry.

Ele sorriu e abraçou-a, como para dizer que estava tudo bem. Mas Gina não queria que ele a consolasse, que ele lhe ajudasse. Gina Weasley já fora morta há muito tempo. E o pouco de vida que restara daria agora para aquele rapaz à sua frente. Fizera sua escolha. Mais uma vez.

Who knows what could happen

(Quem sabe o que pode acontecer?)

Do what you do

(O que quer que você faça)

Just keep on laughing

(Apenas continue rindo)

One thing's true

(Um coisa é verdade)

There's always a brand new day

(Sempre há um novo dia)

Tonks terminou de contar os trouxas mortos, informou o cruel número de 53 a um assistente jovem de Moddy e depois sentou-se um pouco afastada do local. Haviam bruxos correndo e berrando por toda a parte, mas ela só queria fechar os olhos por algum tempo. Só queria mais um pouco de forças para continuar naquilo. Às vezes parecia tudo o que tinha nunca era suficiente.

Foi pouco tempo depois que Mione sentou ao lado dela.

- Você está bem, Tonks?

A bruxa de cabelos roxo escuro fez que sim com a cabeça. Ergueu os olhos e encarou Mi.

- E você, Mi? Quando vai parar de lutar? Já te disse que precisa falar com o Rony sobre isso...

- Eu sei... mas quero adiar isso o máximo que puder...

- Não sei, Mi. Acho que você já percebeu que não pode deixar as coisas para depois. Você pode não estar mais aqui daqui a pouco. Isso é uma guerra, Mi.

- Talvez seja, Tonks... Mas isso é minha vida também. Eu quero fazer as coisas direito.

- Mas e se ele opu você morrerem amanha?

- Aí será porque Deus quis.

Tonks não disse mais nada, apenas fez um gesto de "você quem sabe".

- Bem... eu vou lá, Mi... tenho mais o que fazer. Qualquer coisa me procura.

- Você também.

Mione viu Tonks se afastar, sentindo-se nauseada. Tudo o que queria era ir para casa. Há quase uma semana não tinha notícias de Harry. Queria pelo menos saber se ele estava vivo. Ficar assim na sombra era cruel demais. E se Harry estivesse morto? Como ela saberia quando ainda podiam ter esperanças?

Enquanto pensava aquelas coisas, Rony sentou-se ao seu lado.

- E então, está bem?

- Sim.

- Vamos pra casa? Não precisam mais de nós por aqui.

- Vamos.

- O que vamos jantar?

Ele abraçava-a pela cintura, ambos já sem suas capas de bruxo, enquanto caminhavam pelas ruas.

- Eu? Sei lá... escolhe você que eu cozinho!

- Não!- Rony quase gritou- Não precisa... o que acha de jantar fora?

- Você tem algo contra minha comida?

- Não... eu... é claro que...

- Rony! Por que quer jantar fora?

Tonks podia ouvir os gritos dos dois na frente do hotel, os dois se afastando rua adiante. Teve que rir, enquanto pensava no quanto os dois eram perfeitos, apesar das briguinhas. Também sentiu vontade de ir para casa. Não era mais noite de lua cheia e queria ver Remo. Sentia falta dele nas noites de lua cheia.

Foi até Moddy e perguntou:

- Você pode me liberar? Queria ir para casa...

- Algum problema?

- Não... só queria ver o Remo.

O olhar de Moddy demorou-se no dela.

- Vá logo, Tonks. Esteja amanhã às oito.

- Pode deixar.

Ela tropeçou antes de conseguir rumar praguejante para casa. Na verdade, aparatou pouco depois. Quando entrou na casa, sentiu cheiro de comida.

- Hum!- disse em voz alta- Que cheirinho bom!

Uma risada na cozinha e no instante seguinte Remo surgiu diante dela, que tirava um casaco grosso na sala. Ele abraçou-a pela cintura, beijando-a com carinho.

- Como foi seu dia?

- Tivemos um ataque horrível.- disse ela, sombria, enquanto ele abraçava-a por trás, beijando-a no pescoço- 53 mortos...

- Bruxos?

- Trouxas. Um hotel trouxa incrível. Os trouxas acham que foi um atentado terrostista. Vários trouxas famosos morreram... eu inclusive já tinha ouvido falar de muitos deles...

- Sinto muito- disse Remo, parando de beijá-la.

- E você, Remo, como foi seu dia?

- Foi bom... eu descansei. Li alguns relatórios da Ordem, enviei algumas cartas... e agora estou fazendo uma comidinha!

- O cheiro está bom!- disse ela, rindo- O que você está fazendo? Quer ajuda?

Remo imediantamente agarrou-a pela cintura, quando a aurora fez menção de ir ver oq eu tinha na panela.

- Nem pense nisso, Nin!

Ela caiu na risada e eles ficaram beijando-se por um longo tempo, até que ele foi ver terminar de fazer o jantar enquanto ia tomar um banho.

Who knows what could happen

(Quem sabe o que pode acontecer?)

Do what you do

(O que quer que você faça)

Just keep on laughing

(Apenas continue rindo)

One thing's true

(Uma coisa é verdade)

There's always a brand new day

(Sempre há um novo dia)

Rony deixou que Mione subisse primeiro no apartamento. Os dois haviam brigado o trajeto inteiro do hotel atacado até o apartamento. Bem típico do casal. Ficou algum tempo parado contra a porta, recuperando o fôlego, até que ouvisse a voz de Mione:- Corre aqui, Rony!

Rony nem pensou duas vezes antes de entrar correndo no apartamento. Encontrou Mione parada diante da mesa, segurando uma carta. "Droga, ela ta parecendo a Cho! Uma mangueira humana! Só sabe chorar... e gritar! O que será que houve agora?"

- Rony... meus pais foram assassinados...

Ele olhou-a e surpreendeu-se a não vê-la soluçando desesperada. Até já se acostumara a ela chorando... mas estranhamente, naquele momento, ela apenas olhou-o. e era como se houvesse sido atingida por um furacão. O lábio tremia e os olhos estavam sem brilho, e ele podia perceber como aquilo parecia doer.

- Você está bem?

Ela fez que sim com a cabeça, e então ele sentiu o coração se partir com a forma que ela olhou-o, como quem tenta ser sofre, como quem tenta erguer barreiras para não ser ferido por tudo. Ele deu dois passos rápidos em direção à ela e abraçou-a. sentiu os braços delas em volta de seu corpo tão, segurando-o como se fosse a única coisa que lhe restasse. E sabia que era.

- Mione? Tá tudo bem mesmo?

- Dói tanto, Rony...

- Vai passar, Mi... vai passar...

Ela não queria chorar. Só queria acreditar que tudo ficaria bem. Finalmente, sussurrou:

- Preciso te contar uma coisa, Rony...

- O que houve?

- Eu estou grávida… você vai ser pai... eu...- ela deixou escapar uma única lágrima- Eu sinto muito...

Rony afastou-se dela, surpreso, os olhos arregalados, e virou de costas para ela.

- Você... tem certeza?

- Tenho... eu... por favor... não vá embora...- ela parecia desesperada, e a última coisa que queria era ficar sozinha- Não me deixe...

Também virou de costas para Rony, com medo, para ele não ver que ela chorava. De repente estava com medo, e saber que os pais estavam mortos doía muito mais do que queria admitir...

Foi quando sentiu os braços de Rony abraçarem-na pela cintura, puxando-a para perto de si e virando-a ao mesmo tempo, dizendo:

- Nunca vou te abandonar, Mi... vou ficar sempre com você, e prometo que vou se rum pai maravilhoso... e vamos criá-lo com muito amor... e...

Ele foi interrompido pelo beijo de Mione. Num minuto estava ali fazendo promessas, e no outro se beijavam como se fossem morrer no minuto seguinte, e ela não chorava mais, só pedia que Deus os mantivesse vivos, que cuidasse de Rony, que cuidasse dos três.

- Eu te amo, Mi- sussurrou ela- Vou casar com você.

Não fora um pedido, não fora um convite. Fora uma afirmação.

Find yourself

(Encontro você mesmo)

Cause I can't find you

(Porque eu não consigo te encontrar)

Be yourself

(Seja você mesmo)

Who are you?

(Quem é você?)

Mary Jane terminou de tomar um banho longo e vestiu um roupão, enquanto esperava a roupa punk secar. Saiu do banheiro e encontrou Harry sentado num canto do quarto, comendo alguma coisa. De repente, sentiu muita fome. Enquanto olhava para ele, suas pernas tremiam, e ela sentia que lhe devia alguma coisa.

- Está com fome?- perguntou ele.

- Estou.

- Vem aqui comigo...

Ela aproximou-se, lutando para não demonstrar como se sentia ao lado dele. Se sentia novamente com doze anos, enfiando o cotovelo no pote de manteiga.

- Você está melhor?

- Sim...

Ela sentou-se no braço da poltrona dele, e pegou um sanduíche que tinha ali.

- Quais são seus planos?- perguntou, casualmente.

- Ainda não sei.- admitiu ele.

Ela continuou ali ao lado dele, sentindo o calor do corpo dele contra o seu, uma vontade louca de beijá-lo. Há muito já decidira não revelar nem morta a ele que era Gina. Foi de repente que a mão de Harry segurou-a pela cintura, fazendo com que ela caísse sentada no colo dele. De repente tinha consciência de tudo o que perdera como Gina, de tudo que nunca mais teria.

Mas não podia ficar pensando naquilo. Os lábios do rapaz correram pelo seu pescoço, e a respiração dela estava intercortada, os olhos fechados.

- Mary Jane...

- Hum?

- Você se importa?

Ela virou-se para ele. "Ele precisa se sentir amado...", ela tremia quando inclinou-se sobre ele, beijando-o, querendo que ele pudesse se sentir melhor por um momento que fosse.

Find yourself

(Encontro você mesmo)

Cause I can't find you

(Porque eu não consigo te encontrar)

Be yourself

(Seja você mesmo)

Who are you?

(Quem é você?)

Mary acordou algum tempo depois. Estava deitada na cama de casal do quarto de hotel, coberto por um edredon. Não havia ninguém ao lado dela, mas não se importou. Apenas continuou lá, sentindo o coração apertado, mas sem demonstrar nada. Finalmente resolveu levantar-se e vestiu-se. Quando ele voltou, lá fora já era noite novamente.

Ele entrou no hotel e tocou-se sobre a cama. Nenhum beijo, nenhuma satisfação. Mas ela não perguntaria nada.

De repente, ele tocou um sobretudo pesado em direção à ela:

- Vista isso, está nevando lá fora.

- Para onde vamos?

- Atrás do Cara.

- Já?- de repente, a possibilidade de perdê-lo era grande demais...

- Eu estou aqui para isso.

Ela olhou-o, segurando o casaco, e viu-o vestindo um casaco do mesmo tipo, pondo lego depois luvas, um cachecol e uma touca.

- Você não vai, Mary Jane?

Ela apressou-se em vestir o casaco, que ficou estranhamente bem nela. Depois, viu que ele também deixara separadas luvas, touca e cachecol. Ela pôs tudo e apressou-se atrás dele, que já saíra do apartamento.

- Porque está fazendo tudo tão depressa?

- Porque não tenho tempo a perder.

- Eu não sei o que estou fazendo ao seu lado, Harry.

- Eu só não quero estar sozinho...

Ao contrário do que achava, porém, sentia-se infinitamente feliz e satisfeita consigo mesmo, caminhando ao lado daquele rapaz bonito e legal, a quem amava tanto. A verdade é que não se importava mais. Se morresse naquele momento, ou no segundo seguinte, morreria feliz.

Who knows what could happen

(Quem sabe o que pode acontecer?)

Do what you do

(O que quer que você faça)

Just keep on laughing

(Apenas continue rindo)

One thing's true

(Uma coisa é verdade)

There's always a brand new day

(Sempre há um novo dia)

I'm gonna live today like it's my last day

(Vou viver hoje como se fosse meu última dia)

Nenhum dos dois notava-o. Snape sentia-se satisfeito por isso. Estava satisfeito também que os dois pareciam não ter nada a dizer. Assim, podia prestar atenção nos pensamentos de cada um deles.

Havia sido daquele modo que Snape crescera. Todas suas conquistas foram por aquele dom aperfeiçoado ao longo do tempo. Ler mentes. Fechar a mente. Abrir a mente quanto quisesse. Escolher pensamentos. Pensar a coisa certa.

Não era tão simples quanto os outros acreditavam. Era um modo de vida. Era um jeito de caminhar. Era o jeito de mover o rosto, o jeito de pisar no chão. Era um jeito de sobreviver. Era um jeito de poder continuar em cima do muro.

Até aquele momento não escolhera nenhum lado. E nunca escolheria. Receberia as honras pelo lado que vencesse. Gostava de pensar assim. Lucracia um posição privilegiada ao lado de Voldemort, ou seria salvo pela Ordem de Fênix. Podia nem lucrar, mas não perderia nada, também.

Ele voltou a prestar atenção nos pensamentos. Gostava de ouvir o que as pessoas pensavam. Fora assim que descobrira sobre os horcruxes, segredos íntimos de Voldemort, através de Comensais desavisados de seus poderes. Fora assim que descobrira inúmeros segredos da Ordem. Fora assim que continuara de agente duplo para ambos os lados, favorencendo quem quisesse no momento que quisesse.

Fora através desse "dom" que descobrira que a garota escondida nas sombras era Gina Weasley, e que precisava juntá-la com Potter. Seria uma arma para um dos lados. Ou para Harry ou para Voldemort.

Mas a verdade é que já não se importava mais. Há muito já deixara de se importar. Nem Voldemort nem Potter poderiam vencê-lo. Podia enganar os dois. E aquele jogo há muito já perdera a graça...

Agora, tudo estava chegando ao final. E tudo o que ele queria era morrer, independente de quem vencesse, porque não poderia continuar sozinho. Não tinha nada na vida além daquela maldição de ler mentes e do muro, de sobre o qual não saía.

So you go and make it happen

(Então vá e faça isso acontecer)

Do your best

(Dê o seu melhor)

Just keep on laughing

(Apenas continue sorrindo)

I'm telling you

(Estou dizendo a você)

There's always a brand new day

(Que sempre há um novo dia)

Remo e Tonks estavam deitados no sofá do apartamento dela, abraçados, ela por cima dele, como "cobertor", como ele gostava de dizer.

- E então... o que você acha?

- Acho que vai dar tudo certo, Tonks. Eu sempre acredito em finais felizes...

Ela sorriu triste.

- Como naqueles contos de fadas?

Remo caiu na risada.

- Talvez. A Lily tinha teorias malucas sobre eles, mas eu gostava, não importava que ela dizia. E o Tiago dizia que elas eram bonitinhas, mas que não acreditava muito naquele negócio de "amor eterno" e "feitos um para o outro".

- Você sente muita falta deles, não é?

- De todos. Até mesmo de Pedrinho.

- Você acha que, se tivessem feito algo diferente, teriam sido mais felizes?

- Talvez- sussurrou ele, os olhos brilhando.

- Você queria ter feito algo diferente?

- Acho que não. Aqueles foram os melhores dias de minha vida... Ter amigos incríveis, ser rodeado de pessoas incríveis... sempre achei que não merecia aquilo, mas sempre que eu falava isso Lily me batia com um pergaminho e dizia "não fale besteira, Remo, é claro que você merece esses amigos!",- Remo imitou uma voz feminina fingindo estar braba.

- Você teve alguma namorada na época do colégio?- perguntou ela, curiosa. Não havia ciúmes, não havia nenhuma cobrança.

- Tive sim... ela era incrível... estranhamente não se importava por eu ser um lobisomem. Era linda. O Sirius costumava perguntar pra ela o que ela tinha visto em mim.

- Eu sei muito bem o que ela viu!- disse Tonks, fazendo Lupin cair na risada.

- Eu era muito diferente naquela época, querida...

- Não consigo imaginar como... oh, sim- ela riu, brincalhona- Talvez você ainda não fosse tão velho!

Remo riu junto.

- Só ela?

- Sim. Nós ficamos juntos por seis anos. Até hoje me pergunto porque não nos casamos...

- O que aconteceu?

- Ela morreu. Voldemort pegou-a. Ela se tornou uma aurora. A melhor, como sempre. Ela era incrível. Nunca foi pega. Assistiu a dezenas de reuniões de Comensais escondida, como ela mesmo, e ninguém nunca a viu, nunca a sentiu... nunca foi torturada, nunca foi quase morta. Quase todos os planos de Voldemort que acabamos naquela época foi por ela. Por ela e por Lily. As duas costumavam andar juntas. Nós as chamávamos de louca.

Tonks riu.

- E então Voldemort pegou-a, não é?

- Sim. Pedrinho contou a ele que era ela a espiã, e ele pegou Dorcas uma noite quando estava vindo para minha casa...

- Sinto muito...- sussurrou Tonks.- Deve ter sido horrível.

- Mas já passou- disse ele- Costumo me lembrar às vezes dos velhos tempos. Das nossas conversas no sétimo ano, depois que Lily e Tiago se acertaram... Ficávamos numa rodinha em frente ao fogo no salão comunal da Grifinória. Dorcas ficava deitada, a cabeça no meu colo. Sirius ficava sentado, de costas para o fogo. Pedrinho ficava escondido nas sombras, nunca falava muito. E Lily deixava que Tiago deitasse em seu colo... então ficávamos horas falando besteiras, rindo. Sirius costumava nos contar sobre suas namoradas...

As lágrimas brilharam nos olhos de Tonks.

- Ele nunca se apaixonou de verdade, Remo? Nunca teve uma namorada séria, com a qual talvez se casasse um dia?

- Muitas, Tonks. Na verdade, acho que ele pensou em se casar com quase todas que ele beijou...

Os dois riram, mas então Remo ficou sério:

- Sirius foi muito infeliz em sua família, e nunca quis tentar algo diferente do que seus pais haviam sido com nenhuma mulher. Acho que ele morria de medo de fracassar.

- Você acha que ele foi feliz?- perguntou Tonks.

Era uma pergunta cruel. Remo pensou durante algum tempo, até que respondeu:

- Sinceramente, querida, eu não sei. Acho que foi. Com nós. Nos momentos que passava com nós, marotos. E na época que esteve com a Amélia Bones, depois do colégio, acho que também foi bem feliz. Eles chegaram a morarem juntos por algum tempo.

- Sério? Não sabia que ele tinha morado com nenhuma mulher!

Os dois riram novamente.

- Sirius costumava dizer que ela era muito sem graça, mas um dia, depois de um ataque, eles foram tomar um drik e depois daquilo ela passou três meses na casa dele...

- Jura? Que engraçado...

- Sim...

Tonks correu os dedos pelo rosto de Remo, que fechou os olhos.

- O que houve com ela?

- Caiu fora...

- Você porque?

- O Sirius dizia que não dava certo. Ela dizia que ele gostava de outra.

- E gostava?

- Talvez. O Tiago sempre concordou comigo que Sirius devia ter uma queda pela Marlene... eles se conheciam desde que nasceram. Aquelas famílias amigas. Ela às vezes nos acompanhava numas aventuras. Mas então arranjou um namorado e ficou mais distante. Estávamos final do quarto ano... e foi a partir daí que o Sirius começou a sair com as garotas. Mas nunca ficamos sabendo se algo rolou ou não entre eles...

Tonks ficou em silêncio. Gostava de ouvir sobre os marotos. Ela fazia parte de uma geração intermediária entre os marotos e Harry Potter. Tinha doze anos quando Voldemort fora derrotado, mas nunca se esquecera que o "Cara Malvado" levara seus pais e toda sua família. Decidira ser aurora, porque sabia que ele retornaria. E quando aquilo acontecesse, gostaria de estar preparada.

- Sabia que eu te amo, Aluado?- perguntou ela, beijando-o levemente nos lábios.

- Não mais do que eu a amo, Desastrada!

Ela riu, antes de inclinar-se e beijá-lo.

Who knows what could happen

(Quem sabe o que pode acontecer?)

Do what you do

(O que quer que você faça)

Just keep on laughing

(Apenas continue rindo)

One thing's true

(Uma coisa é verdade)

There's always a brand new day

(Sempre há um novo dia)

I'm gonna live today like it's my last day

(Vou viver hoje como se fosse meu última dia)

Gina E Harry finalmente pararam. Era uma rodoviária. Mary Jane, os olhos maquiadíssimos olhando em volta, perguntou:

- O que estamos fazendo aqui?

- Vamos para Godric Hollows, onde meus pais foram assassinados.

Mary Jane concordou com a cabeça.

- Você está bem?

- Porque não estaria?

- Não sei- admitiu ela- Só queria saber... está tão silencioso...

Harry deu de ombros e subiu no ônibus. Ela seguiu-o rapidamente, sentando-se ao lado dele. Ele estava muito estranho. Não um pouco, mas muito. Continuou em silêncio até o fim da viajem... e quando o ônibus estava quase parando, ele disse:

- Mary Jane...

- Hum?

- Se eu morrer aqui, hoje... quero que procure Ron Weasley e Mione Granger...

- Sim.

- Quero que lhes diga que tudo o que eu fiz foi por causa deles... que eles são tudo para mim...

Ela concordou com a cabeça. Havia lágrimas em seus olhos. "E Gina, Harry, ela não foi nada? Ela não significou nada? Ela foi só um corpo para você beijar, como Mary Jane foi ontem?"

- Diga a eles que sinto muito, por tudo...

- Eu direito, Harry.

- E se eu não conseguir matá-lo- sussurrou Harry- Quero que diga a eles para fugirem daqui, para o mais longe possível, e para não esperarem nenhum segundo antes de fazer isso... e você também, Mary Jane, tem que fugir... o mais rápido possível.

- Pode deixar...- sussurrou ela.

Ele saltou do ônibus rpimeiro, e estendeu-lhe a mão para ajudá-la a descer. Naquele momento, as mãos permaneceram unidas, e Mary Jane sorriu-lhe:

- Vai dar tudo certo, Harry... você ainda tem muita vida pela frente, ao lado das pessoas que ama...

- Não há nada esperando por mim, Mary Jane. Eu perdi a única pessoa que realmente havia para amar...

E para Mary Jane, foi como uma facada.

- Talvez não tenha perdido tanto quanto acha.- sussurrou- Acredite, Harry.

Ele não respondeu. Já anoitecia. Ela estava num estado de nostalgia enquanto eles caminhavam pelas ruas do vilarejo. As ruas estavam desertas, a neve caía vagarosa, as casinhas simples e com jardins bonitos faziam o lugar parecer adorável. Tudo era mágico, como se fosse sagrado.

Finalmente, eles pararam. Estavam diante de uma casa semidestruída. Devia ter tido dois andares, mas do andar de cima só restavam as paredes erguidas, e o telhado desabara. O andar debaixo estava com as janelas trancadas. No jardim pequeno e aconchegando a grama estava alta e as árvores não pareciam ter sido podadas há muitos anos.

- É aqui...- sussurrou ele- O lugar onde meus pais morreram.

Ele fez menção de entrar na casa, mas uma risada o interrompeu. Uma risada alta, fria e cruel. A risada que já ouvira tantas vezes, enquanto tentava se lembrar como seus pais tinham morrido. A lembrança da morte deles... uma risada e um clarão verde...

- Achei que iria te encontrar aqui, Potter- disse Voldemort.

Harry virou-se de supetão, e Gina gelou. Voldemort iria reconhecê-la. Ela conversara come lê durante meses por um diário. Ele usara-a para abrir a maldita câmara secreta. Ele iria ler seus pensamentos.

- Sabe...- continuou Voldemort- Tenho lembranças boas e ruins deste local... tentei te matar aqui, há mais de dezessete anos atrás... mas não consegui...

- E não vai conseguir agora, Voldemort, você sabe.

- Está errado, Potter... não há mais nada que me impeça de te matar!

Voldemort voltou a rir, e Gina teve de se virar. De repente, não podia deixar Voldemort matar o homem que amava. Não podia deixar Voldemort matar Harry. Ela podia morrer, mas o homem ao seu lado não seria morto. Não seria...

E quando Voldemort olhou-a, seus olhos brilharam um pouco mais, e ele parou de rir. Harry olhou para Mary Jane, e fez menção de ficar na frente dela, protegendo-a, mas ela fez um gesto impedindo-o.

- Mentira, Voldemort.

E sorriu também. Quem não tinha nada a perder era ela. E, pelo olhar que Voldemort lhe lançou, ele parecia saber disso.

E então o que acharam/

Deixem muitas reviews"!

Desculpem a demora pra atualizar, mas é que ando estudando muuuuito... vou começar a fazer os capítulos menores, para atualizar com mais freqüência? Ou vocês preferem capítulos compridos e um pouco mais de demora?

Bom... espero que tenham gostado... foi muito complicado escrever esse capítulo, porque tenho que "ligar os pontos..."

Valeu pelas reviews do capítulo passado: Alicia Spinet (se aquela hora já foi angustiante, imagina agora... hehehehe... pior ainda né?), Cristina Melx (eu também ri muito escrevendo aquela parte... achei bem típico do "surto de felicidade dela" aushauh), Patty (Bom... é uma honra pra mim ler que essa é a melhor fic pós HBP! Fiquei muito feliz mesmo! E sobre os dois... o que achou desse capítulo?), Miaka (bom... a situação mudou um pouco agora, não é? E se você parar de ler essa fic, vou ficar muuuuuuuuuito chateada, ta legal?), Michelle Granger (eh... esse também deve estar bem louco né? A principio a fic vai ter 15 capítulos! A partir do próximo vão acontecer algumas mudanças! Aushausu – risada sádica!), Lucius (bem... que bom que melhorou. E o enredo é devagar... HG ta indo né... aushauhsauh espero que tenha gostado desse também!), Line Potter Black (que bom que ta adorando... e não ta quase acabando... não sei ainda se eles vão ficar juntos... e o resto tu vai ter que ler pra saberrr!), Carol Malfoy Potter (estamos quase lá! E não se preocupe, garanto um pocuo de felicidade ao menos para os dois... como HG ! aguardem aushauh), Lisi Black (sem comentários neh mana), Tats (eh... eu tambéms ou HG loucaaa! Espero que goste deste capítulo!

Gente... estou com idéias sádicas! Aushaushauhsu

Me aguardem...

E deixem reviews...

Bjos pra todos que comentaram!

XD