TOMORROW

And I wanna believe you

E eu quero acreditar em você

When you tell me that it'll be okay

Quando você diz que ficará bem

Yeah, I try to believe you

Sim, eu tento acreditar em você

But I don't

Mas eu não acredito)

Gina ainda estava ali, as lágrimas escorrendo pelo rosto, odiando a si mesmo. Não podia acreditar que teria de carregar aquela sina... ter que ser morta para Voldemort ser morto... era cruel demais...

Ao seu lado, Harry piscava estranhamente.

- Mary Jane, é você? O que houve com Gina?

- Ela... vai ficar bem.- soluçou, sem conseguir largar a mão dele, apertando-a, querendo gravar aquele toque para sempre.

- O que... aconteceu?

Mas Gina não respondeu. Claramente compreendeu o que tinha que fazer. Olhou para o braço, que sangrava alucinadamente. Sentia-se estranhamente poderosa, e descontrolada também.

Sabia o que Voldemort lhe fizera. Sabia que possuía agora uma parte da alma do bruxo. Olhou para Harry ao seu lado e sentiu o coração doer com a decisão que tomara. Não podia continuar ao lado dele. Não podia mais lutar. Tinha que partir. Tinha que fazer aquilo por ele. Não conseguiria jamais continuar sem ele ao seu lado. Não poderia continuar sabendo que jamais poderiam ficar juntos.

Ela aproximou-se um pouco de Harry e sussurrou:

- Me perdoe, Harry... não queria que as coisas fossem desse jeito... eu só não consegui... eu só... não fui forte o bastante...

- Do que você está falando? O que houve?

- Eu sinto muito...

Ela afastou-se dele. Todo seu corpo doía. Era uma dor tão forte que achou que morreria ali mesmo. E então ela achou a arma do policial. Sabia que tinha que fazer aquilo. Harry devia acreditar que fora um acidente, ou qualquer outra coisa. Só não devia saber... só não devia saber que fora ela, que ela estivera lá... Não queria que ele soubesse...

A arma já estava contra seu coração. Estava com o dedo no gatilho. E então, quando começou a puxá-lo, ouviu uma voz...

- Por favor, Mary Jane, não faça isso!

Ela ergueu os olhos e viu Harry olhando-a com lágrimas nos olhos. Ela desivou o olhar e sussurrou:

- Não posso continuar assim, Harry... não posso..

- Por favor...- pediu ele- Não pode ser tão ruim assim... não faça isso...

- Não me peça isso, Harry, por favor... eu fiz tanta coisa por você que você nem imagina... foi difícil demais... não tem como continuar...

- Eu te ajudo- prometeu ele- Mas não me deixe... não há mais ninguém ao meu lado...

- Mas quando tinha você abriu mão, não é?

- Cometi um erro há tempo atrás- disse ele, chorando, os dois deitados lado a lado, olhando para o céu que escurecia ligeiro, o silêncio em volta, cheio de policiais mortos.- Não quero errar de novo... não quero cometer os mesmos erros...

Mary Jane queria gritar quem realmente era, mas não iria fazer Harry sofrer de novo. Ela tinha que morrer. Ela devia morrer para que Voldemort pudesse ser morto. Aquilo tudo tinha que ser maior que o amor que sentia por ele. Sentia a mão dele na sua, e tudo foi ficando preto.

- Não tenho nada a lhe oferecer, Harry... houve um tempo em que eu tinha... em que eu te daria os céus e os infernos... mas agora não há nada... acredite em mim... me deixe ir...

- Sempre há alguma coisa, Mary Jane...

- Não me obrigue a isso... não me obrigue a sofrer ainda mais...- as vozes não passavam se um murmúrio, ambos de olhos fechados, tudo silencioso, tudo distante.

- Só feche os olhos, Mary Jane, e segure minha mão... nós ficaremos bem... acredite em mim...

Mary Jane fechou os olhos, segurando a mão dele, e ambos adormeceram ao mesmo tempo.

When you say that it's gonna be

(Quando você disse que isso seria)

It always turns out to be a different way

(Isso sempre muda de um jeito diferente)

I try to believe you

(Eu tentei acreditar em você)

Not today, today, today, today, today

(Não hoje, hoje, hoje, hoje, hoje)

Era um pesadelo. O riso, o medo, o sangue, a maldição...

Ela abriu os olhos de supetão, como quem percebe que era só um sonho.

Não moveu um só músculo. Abriu bem os olhos e olhou em volta. Estava em um hospital. Conhecia aquele cheiro e aqueles aparelhos malucos. Era um hospital trouxa.

Ela tentou erguer a mão, mas haviam agulhas espetadas em todos os lugares imagináveis, e subitamente ela sentiu uma dor horrível por todo o corpo. E ao mesmo tempo a imagem de algo sendo fincado em seu sangue veio à mente, e ela lembrou-se da maldição. Não havia morrido? O que havia acontecido?

E então se lembrou também, de como segurava a mão de Harry, como ele havia pedido a ela para que não se matasse. Instantaneamente sentia-se acabada e destruída por dentro... parecia um sonho. Agora, pensando, era tão impossível que aquilo tivesse acontecido.

Mas podia sentir ainda aquela coisa estranha em seu corpo, como se houvesse algo dentor de si que não fosse seu. E então ela resolveu tentar novamente. Não poderia jamais ficar com Harry. Ele não iria matá-la. Ele desistiria de Voldemort, mas não deixaria que ela fizesse aquilo...

Havia algo pingando em seu sangue por um tubinho, e ela ergueu a mão,que parecia chumbo, puxando-a. doeu por um milésimo de segundo, mas então tudo ficou bem. Mas havia outros tubinhos também. Devagar, foi desligando um a um.

Quando estava no quinto ou sexto, já tonta e com suas últimas forças, ouviu uma voz:

- O que você está fazendo?

Ela não respondeu, apenas arrancou mais um tubinho, e cambaleou, caindo contra a parede.

- Gina, não faça isso!

I don't know how I'll feel

(Eu não sei como eu me sentirei)

Tomorrow

(Amanhã)
Tomorrow

(Amanhã)

E então ela ficou imóvel. Os cabelos estavam desarrumados e haviam borrões de maquiagem em seu rosto, além de muitos curativos e pontos.

- O que você está fazendo?- repetiu a voz masculina.

Gina havia reconhecido a voz do professor Lupin. De seu maior mestre. Deixou que ele segurasse seus ombros, os dois agachados num canto da sala, e então ela sussurrou:

- Voldemort me amaldiçoou, professor... ele fez mais um horcruxe...- os olhos estavam cheios de lágrimas e não havia mais que um fio de voz- Ele me destruiu... ele me amaldiçoou... isso não é justo... não é...

ela cambaleou para o lado e o homem segurou-a.

- Não pode ser tão ruim assim, Gina.

- É muito pior, Remo- sussurrou ela- Estou com uma oitava parte da alma de Voldemort em meu próprio corpo. Preciso morrer para Harry vencer...

Gina achou que Remo iria soltá-la, iria chacoalhá-la, iria fazer qualquer coisa, menos abraçá-la, chorando junto. Ela ficou lá, chorando sua desgraça, sua sina, e o homem ficou ao seu lado.

- O que eu faço, Remo?- sussurrou- Não posso continuar aqui assim. Deixe-me acabar... ninguém precisa saber de mais nada... será mais fácil assim...

- Não posso te deixar fazer isso, Gina... você é nova demais... deve haver um outro jeito...

- E se não houver?

- Então você terá que morrer... mas não faça desse modo. Não aqui... não agora...

- Porque de outro modo? Porque me fazer sofrer mais? Eu não tenho porque viver, Remo... só vou trazer mais mortes e desgraças...

- Talvez seja verdade, mas mesmo assim... não quero que você faça isso... não quero que você acabe desse jeito...

- Que motivo tenho para ficar?

- Eu ainda não sei, mas juro que vou descobrir...

Gina cobriu o rosto com as mãos, deixando as lágrimas rolarem novamente, o coração mais despedaçado do que podia imaginar.

- O que eu faço?

- Procure um jeito. Vá embora e ache um jeito de se livrar disso... eu te ajudo... vou com você... Mas não vou te deixar ir sem lutar para viver... você não pode deixar que tudo se acabe assim...

- Eu não vou ter forças sozinhas, Remo... não darei nenhum passo por mim própria... não quero continuar, entendeu?

- Só não faça nada, Gina... não faça...

ela concordou com a cabeça, e então sussurrou:

- Ninguém pode saber... ninguém, entendeu?

- Ninguém saberá, Gina. Só feche os olhos e fique boa, para podermos te curar...

Mary Jane fechou os olhos, e Remo levou-a até a cama, deitando-a lá. E então, enquanto olhava-a, só conseguia pensar em Lílian Evans. Era incrível como Gina lembrava a mãe de Harry. A mesma nobreza, a mesma força invisível e incrível que as impelia para frente, principalmente quando nem havia para onde ir.

Pensar na grande amiga que tivera e perdera o fazia sofrer. Gostava de lembrar de como fora feliz com os amigos. De como ela costumava brigar com Thiago, e de como ela havia sido amiga de Dorcas. E então pensava nela também... em tudo que haviam aprendido e descoberto tudo, e em tudo que podiam ter vivido e não viveram.

Ele ficou algum tempo vendo a punk ali dormindo, e finalmente apertou o botão que chamaria os médicos, para logo depois sair dali apressado.

I don't know what to say

(Eu não sei o que dizer)

Tomorrow

(Amanhã)

Tomorrow is a different day

(Amanhã é um dia diferente)

Tomorrow

(Amanhã)

- Bom dia, Harry!- sussurrou uma voz que Harry conhecia.

- Mi!

- Eu mesma!- disse a voz, mesmo que Harry ainda não pudesse vê-la.

- Tudo bem?

- Eu é quem deveria te perguntar isso!

Harry queria rir, mas não conseguiu. Sentia uma dor horrível no lado esquerdo do peito.

- Estou bem sim- disse ela- Você está bem também, segundo os médicos. Como se sente?

Ele fez um aceno afirmativo com a cabeça, indicando que estava legal.

- O Esquadrão te encontrou caído lá no meio da rua... o que aconteceu?

Harry forçou a memória, mas só havia um borrão preto e alguns flashes rápidos.

- Havia alguém comigo?

- Não. Você estava sozinho.

- Havia sim. Mary Jane. Ela… houve algo com ela… eu não me lembro... alguém atirou... e ela chorava...

- Não havia ninguém lá, Harry... se havia... hum... ela deve ter ido embora...

Mione estava confusa, porque Harry parecia certo demais que havia alguém lá, e ela tinha certeza de que não havia.

- Ela não iria embora assim... ela prometeu que não iria...

Harry parecia uma criança quando começou a chorar, e Mione estava ainda mais confusa e assustada. Finalmente ela aproximou-se dele e pôs a mão em seu ombro.

- Está tudo bem, Harry... não fique assim...

E então sussurrou:

- Achei que você perguntaria de outra pessoa...

- Gina?- sussurrou ele- Aquela não era Gina, Mione... achei que você perceberia...

- Mas...

- Gina não pediria ajuda. Gina lutaria bravamente ou morreria. Ela não poria ninguém em risco...

- Harry... como você pode dizer uma coisa dessas? Você nem a viu para saber!

- Eu sinti, Mione, não adiante discutir isso comigo.

- Você deixou de gostar dela, não foi? Você deixou de acreditar que ela pode estar viva!

- Me deixe sozinho, Mione.

A garota começou a chorar e disse:

- Achei que nunca ouviria nada assim de você.

- Pois ouviu- disse ele- Me deixe, por favor...

Harry estava profundamente confuso. Não queria falar com ninguém. Só queria se entender. Só queria pôr os pensamentos em ordem, o que parecia impossível naquele momento.

Its always been up to you

(Isso sempre tem estado em cima de você)

Its turning around, its up to me

(Está virando, está em cima de mim)

I'm gonna do what I have to do

(Eu vou fazer o que eu tenho que fazer)
Just don't

(Apenas não)

Foi naquele momento que a porta abriu-se novamente.

- Posso entrar?

A cabeça de Tonks surgiu ali e Harry riu.

- Entrai, Tonks.

Ela entrou silenciosa, olhar baixo, e sentou-se na beirada da cama de Harry. Ele estava estranhando não estar mais desaparecido, estar ali com todos eles...

- Que foi?- perguntou, preocupado com ela.

- Você se lembra? Que Moddy morreu...

Harry fez que sim com a cabeça, e Tonks sussurrou:

- Estou assustada. Assumi o cargo dele hoje... sou a cabeça de tudo agora... estou realmente muito assustada... E num instante não haviam esperanças, porque a gente nem sabia se... tu estava vivo... e então você volta... eu só queria conversar contigo...

Harry não podia se mexer,mas esticou a mão e segurou a mão da bruxa.

- Confie em você mesma, Tonks. Tudo dará certo!

- E se não der? O que vai ser de nós? No fundo não posso fazer nada... odeio admitir isso, mas todos esperam que você o derrote... ninguém acredita ser capaz... quando vocês foram dados como mortos, desaparecidos e tal... era como se estivéssemos destinados a perder...

Harry apertou um pouco mais a mão dela.

- Sempre há esperança, Tonks. Acredite. Não tanto em mim, mas em você também. Qualquer um pode matá-lo. Você pode, entendeu? Só tem aquela maldita profecia porque ele resolveu acreditar nela. Se não acreditarmos nela, não valerá, entedeu?

- O que você vai dizer? Por enquanto ninguém sabe que você voltou... o que quer que eu diga?

- Diga que estava me fortalecendo e que voltei. Apenas isso.

- O que você vai fazer?

- Não sei ainda. Tenho que procurar alguém. Resolver algumas histórias... não cometer os mesmo erros que antes...

- Harry... não sei do que nem de quem você está falando, mas... tome cuidado...

- Vou tomar, Tonks, confie em mim...

- Eu confio.

Era uma conversa estranha. Harry ali deitado, todo imobilizado, olhando para o teto, e Tonks sentada na beirada da cama, falando de como se sentia, de seus medos e receios.

- Tonks...

- Hum?

- Eu vou conseguir, certo? Independente do que for preciso, é minha sina... eu vou acabar conseguindo... e se eu não conseguir, paciência... vou tentar, de verdade, nem que tenha que morrer tentando...

- Eu sinto muito por ter que ser assim... sinto muito mesmo...

Harry não disse nada, mas sentiu lágrimas contra seus olhos. Finalmente, perguntou:

- Havia alguém comigo, não havia?

- Sim, Harry.

- Onde ela está? O que houve com ela?

- Não sei. Não posso te responder nenhuma dessas perguntas.

- Tonks... houve algo horrível com ela. Só sei que ela não pode morrer, entendeu?

Tonks fez que sim com a cabeça.

- E se tiver chegado a hora dela?- sussurrou Tonks, sem saber porque queria discordar de Harry.

- Não chegou... eu... tenho certeza...

Tonks então segurou a mão de Harry, apertando-a brevemente. Foi quando Harry sussurrou:

- Você precisa me cubrir.

- Do que está falando?

- Não podem saber ainda que estou vivo.

Os olhos da mulher se enxeram de lágrimas enquanto ela fez um gesto negativo com a cabeça.

- Por favor, Harry... nos deixe de ajudar...

- Esse é meu caminho, Tonks. Prometo que pedirei ajuda, que chamarei vocês... que vai dar certo...

- Eu sinto muito, Harry... só quero que você seja feliz... só queria te dar essa chance...

- Talvez eu vá ser, algum dia...

- E se não for? Então de que valerá a pena?

- Talvez simplesmente não valha...

- Porque você está fazendo assim? Porque não quer ser feliz?

- Se eu puder ser, Tonks, então tudo bem... mas não quero morrer com pensamentos sobre isso... tive amigos incríveis, amei uma garota que foi tudo pra mim, e mesmo sem conhecê-los direito amo meus pais e meu padrinho... de algum modo, fui feliz... não sei se totalmente, e se o tempo inteiro, mas tenho bons momentos...

- Eu sinto muito...- soluçou a mulher- Muito mesmo... eu também não tive pais... eu também cresci sem pais e sem amor... e sei como é ruim... sei como é solitário... saber que se tem um lugar seu, que não se pertence a ninguém... que não há ninguém que realmente se preocupe contigo...

- Você encontrou o Remo.

- Sim, encontrei. E pela primeira vez na vida me sinto completa. Queria que um dia você pudesse ser tão feliz quanto eu sou. Sei que deve parecer loucura, porque estamos no meio de uma guerra, mas nunca fui tão feliz, nunca tive tantos motivos para sorrir...

- Aproveite, Tonks... seja feliz por mim também...

Ela fez que sim com a cabeça e então levantou-se, secando as lágrimas com as costas da manga.

- Ninguém jamais saberá que você estava lá, Harry... vou te dar cobertura total. E conte comigo. Para o que for preciso, entendeu?

- Pode deixar, Tonks... e... confie em mim... no que for preciso. Sempre que for preciso. Saiba que eu não deixarei de lutar jamais... que só vou parar quando tiver conseguido...

- Eu sei... eu acredito em você.

Eles se olharam mais uma vez, e então Tonks saiu.

Give me a little time

(Me dê um pequeno tempo)

Leave me alone a little while

(Deixe-me sozinha por um tempinho)

Maybe its not too late

(Talvez não seja tão tarde)

Not today, today, today, today, today

(Não hoje, hoje, hoje, hoje, hoje)

Oh

Rony e Mione estavam sentandos no apartamento deles, em silêncio. Cada um estava perdido em seus próprios pensamentos. Fazia três dias desde o ataque ocorrera. Dois dias e meio desde que Mione deixara o quarto de Harry aos prantos.

- O que vamos fazer, Rony?

- Vamos embora. Para bem longe... longe disso tudo. Ser felizes...

- Como você pode pensar uma coisa dessas? Como pode simplesmente querer ser feliz?

- Não podemos lutar pelo Harry. Não temos mais o que fazer aqui, Mione. Voldemort foi mortalmente ferido. Você ouviu a declaração da Tonks. Por enquanto vamos ficar esperando. Só isso que eles vão fazer. Esperar!

- Talvez devêssemos esperar também!

- esperar para que? Para sermos felizes? Para morrermos? Para não sermos felizes? Não entendo, Mi... sinceramente... eu não entendo...

- Não vou ser feliz sabendo que Harry está aí, sozinho, esperando para matar ou morrer!

- Então vá lutar com ele, droga! Se é ele que você tanto ama!

- Rony, por favor! Não diga isso! Não aja como um completo idiota! Temos que ficar por aqui! temos que estar aqui para se... precisarem de nós!

Rony levantou-se com raiva.

- Isso não vai acabar hoje ou amanhaã, Mi... vão ser meses, talvez anos! Pense com cuidado.

- Não quero deixar este lugar, Rony...

- Harry pôde nos deixar.

- Não, ele nunca nos deixou realmente. Ele sempre contou com nós. Às vezes só com um pensamento positivo. Mas sempre contou com nós. E sempre estava lá quando nós precisamos dele, não foi? Como pôde dizer que ele nos deixou?

Rony olhava para Mione e os dois choravam agora. Ela foi até a janela e apoiou os cotovelos nela, olhando para a cidade quase completamente escura agora.

- Desculpe, Rony...- sussurrou ela, de repente- Só não quero sair daqui... só quero estar por perto pra se precisarem de nós...

- Tudo bem, Mi... eu também quero estar por perto...

Os dois se abraçaram e ficaram assim por muito tempo, contra o sol, sem dizer nada, apenas tentando esquecer a dor e o medo. Tentando acreditar que poderiam, algum dia, ser felizes.

I don't know how I'll feel

(Eu não sei como eu me sentirei)

Tomorrow

(Amanhã)
Tomorrow

(Amanhã)

Tonks chegou em casa e encontrou Remo deitado no sofá. Aproximou-se dele e beijou-lhe carinhosamente os lábios:

- Oi, amor!

- Já chegou?

Ela riu e ele puxou-a carinhosamente pela mão.

- Como foi seu dia?

- Tranqüilo.

- Me conte.

- Recebemos uma carta. De Voldemort!

Remo primeiro riu.

- Sério?

- Aham... ele dizia que quer uma trégua. Disse que ficou muito ferido no ataque e blá, blá, blá. Não acreditei muito naquilo, mas o pessoal já anunciou feriado no resto da semana...

- Será que é uma jogada? Mais uma das artimanhas dele?

- Acho que sim.- ela suspirou- Deve ser... Voldemort não pediria trégua... não admitiria que está sem forças...

Nenhum dos dois disse nada. Ela apoiou a cabeça no peito dele, ambos respirando ao mesmo tempo, no mesmo compasso. Ela fechou os olhos e murmurou, sonolenta:

- E a Gina?

- Está se recuperando ainda...

- O que houve com ela, Remo? Porque ela tentou...

- Não sei, Ni...- mentiu ele, num sussurro- Só sei que vou ajudá-la.

- Sim... ajude ela...

- E o Harry...

- Vai sair amanhã, tão silencioso quanto entrou. Não sei porque ele não desiste de lutar e resolve ser feliz...

- Porque se ele não lutar ninguém mais o fará no lugar dele.

- Eu faria- sussurrou Tonks. – Acho que eu tentaria...

- Por favor, amor, não faça nenhuma besteira.

- Não farei nada- sussurrou- Eu prometo.

- Você é a única coisa que eu tenho.

- Você também, Remo... é o que me mantém viva... é o que me dá forças... sem você eu não seria nada...

- Sem você eu não seria nada...- sussurrou ele, ficando sonolento- Você é tudo pra mim...

- Eu te amo... muito... infinitamente...

- Eu também...

Ela aconchegou-se mais nele, ambos abraçados, os olhos fechados e, lentamente, vestidos e exaustos, eles adormeceram.

I don't know what to say

(Eu não sei o que dizer)

Tomorrow

(Amanhã)

Tomorrow is a different day

(Amanhã é um dia diferente)

Tomorrow

(Amanhã)

Gina Weasley recebeu alta do hospital dez dias depois de ser internada. Remo Lupin estava ao seu lado quando ela levantou-se da cama, ainda fraca, mas muito bem disposta. Ele segurou-a quando ela vacilou nos primeiros passos, e ambos riram. De repente, ele era o pai dela.

- Para onde vamos?

- Paris- sussurrou Remo- Lá você começa a pesquisar.

- Por onde?

- Bibliotecas, livros de famílias, tudo o que conseguir. Vamos achar um modo de você sair dessa, Gina!

Era estranho ser chamada de Gina, porque ainda estava com as feições da garota punk. Mary Angel. Remo sorriu e sussurrou:

- Vá como você mesma, Gina! Não esconda mais isso! Não tenha mais medo!

- E se Harry aparecer?

- Então você se esconde, você foge, você faz o que quiser. Mas não se esconda... isso só vai trazer mais medo...

- Ele jamais vai me perdoar... eu... eu simplesmente fingi que estava morta e agi como se fosse outra pessoa! Sou horrível, não sou?

- Ele terá que te perdoar, Gina. Quando ele disse que vocês não poderiam continuar juntos, abriu o caminho para você decidir o que fazer com sua vida. Você pode ter escolhido o caminho errado, mas todos erram.

- O meu erro foi horrível... foi estúpido e... infantil...

Ela ia começar a chorar, mas Remo sacudiu-a pelos ombros fracamente, dizendo:

- Não vai adiantar ficar se lamentando! Mostre sua cara e vá à luta!

- Remo... se não houver cura... me prometa que irá me matar... que não vai deixar que Harry saiba ou tenha que fazer isso...

- Gina... eu não posso te prometer uma coisa dessas!

- Preciso disso pra continuar. Preciso ter a certeza de que... se não conseguir me curar... o mundo poderá viver em paz...

- Você não pode me pedir isso, Gina...

- Não só posso como estou! Me prometa...

- Tudo ficará bem, Gina... é a única coisa que posso te prometer.

Ela fez que sim com a cabeça e encarou-se no espelho.

Hey, yeah, yeah
Hey, yeah, yeah
And I know I'm not ready

(E eu sei que eu não estou pronta)

Hey, yeah, yeah
Hey, yeah, yeah
Maybe tomorrow

(Talvez amanhã)


Harry estava caminhando pela rua, em silêncio, sozinho. Não sentia mais desespero, medo ou preocupação. Era apenas uma falsa sensação de liberdade e domínio sobre sua vida.

As mãos nos bolsos, a cabeça erguida, um semi-sorriso no rosto, ele seguia caminhando. Calmamente, no mesmo ritmo, na mesma direção. Rumo à rodoviària. Tinha algumas coisas a resolver o mais rápido que podia.

Levava um endereço anotado apressado num pedaço de guardanapo. O endereço de Victoria Sommer. O endereço de uma mulher que havia estudado em Hogwarts na mesma época que os marotos. O endereço da melhor amiga de sua mãe. O endereço de alguém que poderia lhe contar tudo. Responder-lhe perguntas.

Tomou o ônibus em silêncio. Cinco horas depois, quando o sol estava alto no céu, ele desceu na pequena cidadezinha litorânea. Saiu do ônibus e procurou um táxi. Sentou-se no banco de trás e informou o endereço ao motorista.

- A Srta. Sommer não recebe visitas, Senhor.

- Ela está me esperando- garantiu Harry.

- Se o Senhor diz...

O táxi parou numa casa pequena, com jardim grande e uma varanda. Harry segurava uma pequena sacola e pagou ao motorista e desceu. O motorista não se afastou, e esperou Harry abrir a porteira de madeira com a mão livre. Caminhou pela grama e subiu na varando. Ergueu a mão e bateu na porta.

- Victória Sommer?

A porta abriu-se brevemente. Harry pôde ver apenas olhos muito azuis e cabelos loiros, num corpo não muito comprido mas não baixinho, e uma voz jovem sussurrou:

Hey, yeah, yeah
Hey, yeah, yeah
I'm not ready

(Eu não estou pronta)
Hey, yeah, yeah
Hey, yeah, yeah
Maybe tomorrow

(Talvez amanhã)

- Quem é você? O que quer aqui?

Ela ia fechar a porta, mas então Harry também respondeu, num sussurro:

- Sou Harry Potter... quero falar com você...

A mulher hesitou por alguns instantes, mas então abriu a porta:

- Achei que não viria nunca...

- A senhora estava me esperando?

- Há dezessete anos, menino... você cresceu! Entre...

Ela deu um passo para o lado, permitindo que ele entrasse. Ele entrou sem hesitar, e ela apontou para o lado da porta para ele largar a sacola.

- Sente-se, menino- sussurrou Victoria Sommer- E fique à vontade. Temos muito o que conversar.

Ela sorriu docemente. E era como se o sorriso da mulher de no máximo quarenta anos fosse quebrá-la. Os olhos dela pareciam brilhar de tristezas e saudades, e ela irradiava calma.

- Você é igual ao Tiago, Harry... igualzinho... Mas tem os olhos de Lily.

Ele concordou com a cabeça.

- Nem me apresentei, não é? Sou Victoria Sommer. Mas já fui conhecida como Dorcas Victoria Meadowes.

Ela esticou para ele uma xícara de chá e disse:

- Você pode ficar o tempo que quiser. Há muitos anos eu já sabia que seria esse meu destino. Curá-lo, para você cumprir seu destino...

- Eu vim em busca de respostas- disse ele- Sobre meus pais.

- E você terá todas elas. Agora se sente. E tome um chá comigo. Nós temos muito tempo, menino. Muito tempo...

Ele aceitou um pedaço de bolo que ela lhe estendeu. E então ela disse:

- Já vão se fazer dezoito anos, menino, que seus pais se foram. Mas eles nunca deixaram de existir em nossos corações...

- Me disseram que Dorcas Meadowes estava morta- sussurrou Harry- Sirius me disse!

- Não, Harry. A verdade era que Dorcas Meadowes era boa demais para morrer.

- Porque a senhora se escondeu?

- Porque eu jamais poderia ficar novamente com o homem que amava. Porque fiquei sabendo que havia uma profecia idiota. E eu acreditei e achei que devia me proteger, achei que estava fazendo a coisa certa. A profecia dizia que se ficássemos juntos um de nós morreria. Há alguns anos atrás descobri que era tudo mentira. Eu fiz minha propria profecia... eu escolhi abandoná-lo. Talvez apenas não o amasse o suficiente para desafiar tudo e todos... Nunca mais o vi, mas fiquei sabendo que está feliz... é melhor assim...

- Quem?- perguntou Harry- Um dos marotos?

- Sim, Harry, um dos marotos.

- Remo?- sussurrou o menino que sobreviveu.

- Exatamente. O único que sobrou, não é?

- Mas e Pedrinho?

- Morreu.- disse ela- Está morto, como Sirius e Tiago.

Harry abaixou a cabeça, perguntando-se se Remo saberia daquilo. O último dos marotos, o único que restara de quatro amigos que, outrora, haviam sido felizes.

- Minha mãe e meu pai foram felizes?- perguntou Harry.

- Muito. Foram muito felizes. Todos nós fomos felizes, pelo menos por algum tempo.

- O que fez quando soube das tais profecias?

- Eu simplesmente vim para cá. Dumbledore me procurou algum tempo depois. Disse que sabia o que havia acontecido e revelou partes de profecias que envolviam meu nome. Eu disse a ele que estava desistindo de tudo. E ele me pediu para não desistir de viver, que um dia alguém precisaria de minha ajuda para viver. E eu disse que estaria aqui esperando.

- Você se casou?

- Sim, me casei e tive um filho e duas filhas. Estão em Beuxbatons agora.

- E você, foi feliz?

- Sim, Harry, fui muito feliz. Não do jeito que eu imaginava, mas de um jeito muito melhor do que achei quando soube que precisaria desistir de tudo e de todos.

Harry ficou algum tempo em silêncio. A mulher sorriu docemente, e disse:

- Tome um banho. Vou arrumar um quarto pra você. Sinta-se em casa, meu filho.

E, de repente, aquela era como uma mãe para Harry, o sorriso bondoso, o jeito calmo.

- Obrigado...- sussurrou ele.

And I wanna believe you

(E eu queria acreditar em você)

When you tell me that it'll be okay

(Quando você me disse que tudo ficaria bem)

Yeah, I try to believe you

(Sim, eu tentei acreditar em você)

Not today, today, today, today, today

(Não hoje, hoje, hoje, hoje, hoje)

Um rosto estranho. Feições estranhas, cabelos estranhos. Pensou em tudo que vivera. Como Mary Jane, como Marie Sands. Pensou nos encontros com Harry, na forma como ele a beijara naquela noite, na forma como haviam se encontrado diversas vezes por acaso. Fora tão difícil continuar, tão complicado... e agora ela não achava nenhum motivo suficientemente bom para ter feito qualquer uma daquelas coisa.

Havia acabado tudo errado. Ela estava amaldiçoada. Carregava em seu sangue e em seu coração um pedaço, talvez o mais poderoso, da alma de Voldemort. Harry jamais conseguiria derrotá-lo enquanto ela estivesse viva. Era como quando tinha onze anos e começara a escrever em um diário.

Mas desta vez não cometera nenhum erro crucial. Só achara horrível demais ficar sozinha em Hogwarts enquanto os outros lutavam. Só não queria ficar esquecia, rezando para que Harry não morresse, pois era só nele que conseguia pensar.

E aquele rosto amassado, aqueles cabelos escuros, aquele olhar que Gina não conheciam acusavam-na por todas aquelas desgraças. Podia ter sido tudo diferente. Harry agora podia ter matado Voldemort...

Ele estaria indo buscá-la em Hogwarts... na vassoura. Chegaria lá e os dois ririam, chorariam, se beijariam. Seria apenas um reencontro cheio de emoção e de alívio. Mas agora não havia porque esperar. Voldemort não se fora completamente. Tinha certeza que o bruxo ficaria parado por um longo tempo. Mas não sabia quanto tempo seria.

Quanto tempo teria para descobrir uma forma de se desamaldiçoar? Quanto tempo teria para fazê-lo? E se não conseguisse? Conseguiria ela tirar a própria vida? O que se sentia quando se morre? O que ela sentiria? Como Harry ficaria? Seria aquilo realmente a saída? O que ela devia fazer.

Cobriu o rosto com as mãos e deixou as lágrimas escorrerem livres, e seu corpo era sacudido pelos soluços, enquanto chorava descontrolada. Não podia achar um motivo pras coisas terem dado tão errado... porque ela e Harry não haviam simplesmente sido felizes? Teria sido tão mais fácil, tão mais seguro... agora nem sabia se o olharia novamente...

E se ela achasse um meio, e então Harry morresse? De que adiantaria? Valeria realmente a pena lutar? O que ela tinha que pesar na balança? O que realmente tinha valor pra ela?

Lentamente, os cabelos foram voltando a ser ruivos, as feições mudaram, ficou um pouco mais baixa e mais magra, e não tinha mais piercings e tatuagens. Era novamente apenas Gina Weasley. Ergueu os olhos e encarou suas feições.

E, de repente, descobriu que não se conhecia mais. Não conhecia mais aquele rosto, aquele olhar triste e perdido, aqueles ombros meio caídos, aquela pose de derrotada. Já não conhecia mais a verdadeira Gina. Eram completas estranhas. Não tinha mais falsas forças, esperanças fantasmas, nem nada. Não havia que lhe ajudasse a enfrentar o que teria que enfrentar.

Estava ferida. Outrora fora uma ave bela, rara e preciosa. Mas agora suas asas estavam feridas, e não podia voar. Era como se toda sua energia vital essencial tivesse sido tirada...

- Eu não vou conseguir, Remo...- sussurrou.

- Sim, você vai.

- Não... é demais pra mim... é muito... não vou conseguir...

Remo puxou-a pela mão, empurrando-a em direção à porta.

- Você é forte, Gina. Erga a cabeça e vá à luta. Todos irão torcer por ti em silêncio.

Ela deu um passo vacilante. Era como se tivesse que recomeçar tudo de novo, desde o primeiro passo.

Porém, a cada passo que dava, era como se percebesse que podia andar, que não estava tão ferida assim, que talvez, muito talvez, tivesse força para não se deixar morrer.

Quando saiu do hospital, quando olhou para o Sol brilhando alto no céu, ela olhou para Remo:

- Eu posso ir sozinha daqui para frente. Vou estar bem!

Ele sorriu e entregou-lhe uma bolsa com seus documentos e dinheiro.

- Eu confio em você, Gina. Que Merlim esteja contigo.

Tomorrow it may change

(Amanhã isso pode mudar)
Tomorrow it may change

(Amanhã isso pode mudar)
Tomorrow it may change

(Amanhã isso pode mudar)
Tomorrow it may change

(Amanhã isso pode mudar)

Harry Potter acordou no dia seguinte cedo. Tomou café com a mulher e, timidamente, perguntou onde estava o marido dela.

- Ele faleceu há três anos, Harry- disse ela, suavemente.

- Sinto muito.

- Eu também.

Ela sorriu docemente de forma quase nostálgica e muito melancólica, para logo depois perguntar:

- Quer caminhar pela praia comigo?

Ele concordou.

Saíram pouco depois das nove e meia da manhã. O sol brilhava pálido, e eles caminharam por algum tempo. Sentaram-se no meio da praia deserta. Um vento frio soprava. De repente, Harry olhou para o lado e viu Vitória chorando.

- Você... está bem?

- Estou sim, Harry. Só estou com saudades. Só estou me lembrando... isso acontece às vezes... e você é tão parecido com ele, mas tem esses olhos tão lindos e tão tristes... e eu quero te ajudar, mas não sei como...

Harry baixou a cabeça.

- Quer que eu vá embora?

- Não. Só quero que você seja feliz.

Harry não disse, mas desejou com todas as suas forças que Gina estivesse viva, que ainda o amasse, que estivesse disposta a ficar com ele. sem aquilo, nada teria propósito.

- Pense nisso amanhã- sussurrou Vitória- Amanhã...

Genteeee... muito obrigada mesmo pelas reviews!

Mais uma vez desculpa a demora para atualizar, mas terceirão é complicado!

Prometo que vou tentar não demorar tanto pro próximo! Dexem MUITAS reviews e façam essa autora HAPPY!

(Talvez ela possa ter um final feliz, dependendo do número de pedidos, aushausha – risada sádica, muuuuuuito sádica)

Mais uma vez, obrigada pelas reviews (sem demoras porque amanha tenho prova de Biologia e tenho que estudar aushausauh): Carol Malfoy Potter, Miaka, Lisi Black, Michelle Granger, Tats, Ninnie, Mah Potter e Luisa "Weasley". OBRIGADA!

E deixem review, mais uma vez...

No próximo capítulo - um reencontro de Harry e Gina (depende da quantidade de reviews auhsaushauhsauhsauh)

BEIJOS E FUI!