O Sangue

Já são duas semanas...

Nós saímos em missão...

Escoltar um shogun, para uma cidade onde seria firmado um acordo sobre demarcação de terras.

Fomos emboscados diversas vezes.

Só o último ataque foi difícil.

Seis chuunins e um jounin.

Foram inteligentes. Nos separaram, e usaram sua vantagem numérica contra nós.

Manteriam Sarutobi ocupado, eliminariam os genins, e então todos atacariam ele.

Erraram no cálculo de nossa força.

Sensei derrotou três; Eu dois; Tsunade um.

Jiraiya matou o jounin.

Ele era forte.

Então Jiraiya teve que usar suas melhores técnicas.

As que têm o propósito de matar o inimigo.

Ele nunca foi muito bom em controlar a intensidade.

No final da luta ele estava ofegante, sangrando e feliz com a sua vitória.

Depois da missão, ele não parou de treinar.

Treinava, treinava, treinava...

E quando parava, agia de modo estranho.

Ficou silencioso, pensativo.

As vezes, olhava rápido por cima dos ombros.

Sarutobi-sensei está conversando com ele agora.

Estou curioso.

Então eu ouço.

"...você não teve escolha."

"...minha cabeça só para quando treino."

"...sinto como se um fantasma..."

"...também passei por isso..."

"...vou te ajudar."

Eles silenciam.

Saem para um destino que ignoro.

Eu penso sobre isso tudo.

Ninjas matam.

É normal.

Mas é tão complicado assim?


Eu não estava na vila. Tive uma missão com outro time.

Quando voltei, encontrei Tsunade trabalhando sem parar no hospital de Konoha.

Eu noto uma expressão diferente no seu rosto.

Curioso, eu pergunto...

"O que houve?"

Ela olha para mim.

Seu rosto tensiona.

Me leva para quarto sem ninguém.

E me esclarece.

Ela tinha matado.

Um pergaminho foi roubado por ninjas da nuvem.

Na batalha pela recuperação, um ninja inimigo saltou sobre ela.

Ela cravou a kunai no pescoço dele.

O sangue jorrou sobre ela.

Ela podia ter aparado o golpe e tê-lo noucateado.

Talvez prendê-lo com um genjutsu.

Ou até ter quebrado o braço dele.

Ela fala sem parar...

Chora sem parar...

E apenas ouço, amedrontado.

Pensava apenas como era parte do nosso trabalho.

Mas é tão poderoso assim?

Tão assustador assim?


È noite.

Desta vez fomos nós que roubamos.

Estamos fugindo.

O inimigo nos persegue.

Dois grupos foram feitos.

E eu me separei desses grupos.

Porque acreditam que eu sou o mais forte.

Acreditam que eu sou o mais furtivo.

Então me confiaram o tesouro, enquanto servem de iscas.

Era o mais lógico a se fazer.

Eu atravesso a noite tranquilamente.

E quase piso num fio invisível.

Paro.

Desvio dos shurikens.

Bloqueio um golpe.

Uma voz, simples e direta:

"Devolva".

Minha resposta é apenas a expressão do meu rosto.

Depois desse entendimento, começamos a lutar...

Conseguiu me seguir.

Evitou minhas armadilhas.

O olhar.

Sabia que era forte.

Movimento.

Suor.

Adrenalina.

Sangue.

Atacamos com força.

E não acaba.

Recuamos.

E nos olhamos.

Compreendemos.

O meu inimigo me matará por sua vila.

E eu o matarei por...?


Algo me chama.

Avançamos.

Sou cortado.

Mas não é o suficiente.

Perfuro seu pulmão.

Surpresa em seus olhos.

Fogo em meu sangue.

Ele cai.

Ofega.

Mas não implora.

Começa a chover.

Devo ir, completar a missão, tratar dos ferimentos.

Mas não vou.

Me aproximo.

Sangue correndo para meus pés.

Ele tenta uma última vez.

Inútil.

Tiro sua máscara.

Cabelos longos e castanhos.

Pele queimada pelo sol.

Uma mulher.

Eu observo.

Ela está morrendo.

Mas ela ainda quer me matar.

Fúria.

Apóia os braços no chão.

Cerra os dentes.

Força.

Mas perdeu muito sangue.

Tenta.

Mas não consegue.

A medida que sente a derrota a raiva verte através de lágrimas.

Eu sinto.

Vou até ela.

Pensa que vou dar o golpe final.

Mas ao invés disso, eu me sento sobre ela.

Sinto sua respiração.

Mantenho o meu olhar sobre o seu rosto.

Quero presenciar tudo.

Vejo medo.

E então ódio.

Maldições afogadas em sangue saem de sua boca.

E então tenta sentir esperança.

Pensa, "meus companheiros vão me salvar".

Mas ela sabe que não é verdade.

Pois se não, já teriam chegado.

O tempo passa.

Ela tenta gritar por eles.

Mas a garganta está cheia de sangue.

A respiração mais intensa.

Sangue e lágrimas quentes misturadas a chuva fria.

Então ela percebe que vai morrer.

E chora.

E me amaldiçoa.

E se lembra.

E lamenta.

Eu a vejo, sem piscar.

São muitas expressões.

Muitos sentimentos.

Ela até ri, algumas vezes.

E então o calor se esvai.

E suavemente acontece.

Tudo que ela era, foi e seria...

Morre.

Não há mais nada neste corpo.

Chove.

E eu.

Não sinto frio.

Não sinto culpa.

Não sinto tristeza.

Nada do que sentiram.

E nada que já houvesse sentido.

Apenas uma coisa.

É intenso.

Incrível.

Prazer.

Um fogo infernal...


Sangue.

Simples, forte, cruel.

Não por causa das missões.

Não para proteger.

E sim para sentir.

Não sou como os outros.

Amo Matar.