Star Trek: Degeneration

No capítulo anterior...

A Comandante Kira Nerys arrisca sua carreira para cumprir uma velha promessa. B'Elanna Torres reencontra um antigo companheiro Maqui com inesperadas conseqüências. Enquanto uma Estação Vorta confronta a insubordinação de seus soldados Jem'Hadar. O Quadrante Alfa nunca passou por um perigo tão extremo.

In the previous chapter...

Commander Kira Nerys risks her career to fulfill an old promise. B'Elanna Torres has a reunion with an old Maqui comrade with unexpected consequences. Meanwhile, a Vorta station confronts the insubordination of its Jem'Hadar soldiers. The Alpha Quadrant has never faced such extreme danger.

Translated by Shawn Klein

Episódio I – Presságios – Parte III

Data Estelar: 58217.5

Quadrante Alfa – Sistema Lazon - Território Cardassiano.

Daniel Sullivan ainda não acredita em sua situação atual. Kira provou ser uma excelente aliada, reuniu seu grupo de resgate, fingiu que iria prendê-lo, mas, na verdade, o levara para a nave Defiant e agora seguem para resgatar um amigo comum.

- Comandante Kira, devo pedir desculpas. Fui muito rude, e ainda assim, você me ajudou. Nem sei como agradecer.

Kira reflete a imagem da mulher decidida, determinada e grande líder, sentada no posto de comando na ponte da nave sem tirar os olhos do monitor a sua frente.

- E nem pode. Ainda não concluímos a missão. Seu pessoal está pronto?

- Sempre esteve e sempre estará.

- Ótimo, porquê já estamos no Sistema Lazon. Logo alcançaremos nosso destino.

O alerta sonoro chama a atenção de Kira. Inquieta, a Primeira Imediata Goian tenta interpretar as leituras na tela do seu painel de controle. O corte de cabelo masculino não tira a sensualidade de seu rosto delicado e intrigante.

- Comandante, nossos sensores de longo alcance captaram um cargueiro cardassiano saindo do segundo planeta do Sistema vindo em nossa direção.

- Obrigada, Goian. O rato saiu da toca. Rápido, todos sabem o que devem fazer.

Sullivan não compreende a tranqüilidade de Kira. Se a Defiant detectou o cargueiro, eles também podem detectar a Defiant.

- Onde vamos esconder nossa nave? Será que eles já não nos viram?

- Impossível ver o que não há para ver...

- O que quer dizer com isso? Não entendi sua resposta.

Kira sorri, olha ao redor para os membros de sua equipe e volta-se para Sullivan.

- A Defiant está camuflada. Invisível aos olhos e aos sensores.

Sullivan continua reticente.

- Uma nave da Federação não poderia ter essa tecnologia, violaria o acordo com os Romulanos. Engraçado, sua Federação exige o cumprimento das regras, mas quando é conveniente... Típico.

- Não vim aqui para discutir ideologias, mas saiba que, graças a Federação, você vai poder cumprir sua missão e nem percebeu isso. Ou seja, quando é conveniente...

Sullivan afasta-se irritado e cruza os braços. Kira volta-se para o Maqui e insiste.

- Daniel, precisamos estar prontos e concentrados na missão. Se você acha que, por algum motivo, não tem condições de cumprir com sua parte, fale agora. Não pretendo arriscar a minha tripulação, se um dos integrantes não consegue controlar suas emoções.

- Estou pronto para a missão. Pode prosseguir.

- Era isso o que eu queria ouvir de você.

O monitor a frente mostra o cargueiro bem próximo, revelando ser uma nave muito maior que a Defiant. A trajetória firme indica que seus sensores não captaram nada nas proximidades. Collin, o piloto, precisa manobrar para sair da frente do cargueiro.

- Goian, sonde a nave e informe situação.

- Sim, Senhora. Comandante. Cargueiro Cardassiano a deriva. Sinais de vida espalhados por toda a nave. Sinais de movimentação incomum para as atividades de um cargueiro, Comandante.

- Alerta amarelo. Emparelhe com o Cargueiro e aproxime-se bem, Collin. Goian, aproveite a manobra e faça contínuas sondagens. Não queremos surpresas. Reunir equipe avançada! Peguem seus phaseres e calibrem para tonteio. Vamos para a sala de teletransporte. Goian, a ponte é toda sua.

Kira levanta-se de sua cadeira e acena para aqueles que vão acompanhá-la. O grupo designado sai da ponte de comando liderado pela Comandante.

- Obrigada, Comandante. Collin, manter curso atual.

- Ei! Não precisa gritar perto do meu ouvido!

- Parece que você está querendo uma advertência.

- Poderíamos resolver isso num jantar em seus aposentos na Estação Nove.

Kira retorna a ponte sozinha.

- Não é hora para isso. Sugiro a vocês concentração total na missão.

Os dois respondem afirmativamente ao mesmo tempo. Kira sai apressada para a sala de teletransporte. A equipe aguarda com ansiedade. Sullivan regula seu phaser e olha para Dareth, seu velho mentor. Tenan Lu, a jovem bajoriana, usa um brinco com o símbolo Maqui, ao invés do símbolo de sua família, o que desagrada a Comandante. Da equipe de Kira, o oficial de ciências, Balik Meron, o engenheiro chefe George Gamound e o oficial médico de Kobliade, Rune Perath estão prontos. Kira aciona o comunicador.

- Kira para Goian. Estamos prontos para o teletransporte. Contagem em 10.

- Entendido, Comandante. Vamos descamuflar por 1,2583 segundos.

- Gamound! Acionar! Que os Profetas nos acompanhem.

Gamount apreensivo despede-se dos amigos. Os seis membros da equipe deixam a Defiant. Num piscar de olhos, encontram-se num corredor do Cargueiro Cardassiano. Rapidamente apontam suas armas para todas as direções. As luzes foram destruídas e funcionam apenas as de emergência, criando um clima hostil para o ambiente. Soldados Cardassianos lutam para sobreviver contra prisioneiros mais numerosos e de várias raças, principalmente de Bajor. A chegada dos intrusos surpreende a todos. Balik não demora a perceber a situação.

- É um motim. Os prisioneiros estão tomando o Cargueiro.

Kira não pensa muito e reage com um grito.

- Todos parados! Larguem os phaseres. Eu assumo o comando agora.

Uma arma chega por trás e encosta o cano na cabeça dela.

- Acho melhor você e seus amigos seguirem o próprio conselho e largarem as armas. Deixe que eu assumo o comando. Fico lisonjeado que não tenha esquecido a promessa que fez para mim, Kira. Mas como eu não sabia se você viria, tomei a liberdade de começar a festa antes.

- Thomas Riker! É bom saber que você está vivo e bem.

Kira volta-se para abraçá-lo, mas ele se esquiva.

- Vivo? Estou com certeza. Bem? Não sei se posso chamar uma década de cativeiro numa colônia penal Cardassiana como estar bem. Mas tento sobreviver, obrigado.

- Eu não pude vir antes, aconteceu uma guerra devastadora...

- Você esqueceu sua promessa! Sua posição e seus contatos no governo de Cardassia poderiam ter informado onde eu estava há muito tempo...

- Capitão Riker? O senhor precisa vir à ponte de comando. Fomos cercados por uma frota Cardassiana.

- Muito obrigado, Kira. Você trouxe os lobos. Mas não me entregarei tão fácil. Eles vão entender porquê sou um Maqui. Levem todos como prisioneiros.

Data Estelar: 58217.6

Quadrante Alfa – Planeta Terra – Base da Federação em São Francisco, EUA.

Depois de aguardar por mais de duas horas, Tom Paris levanta-se da cadeira impaciente e volta a falar com a assistente Ch'lilah. Mesmo com o ambiente climatizado, ele puxa a gola de sua camisa verde de lã para reduzir o calor e o desconforto.

- Ele ainda vai demorar muito? Não posso aguardar tanto tempo assim, Sheila.

- Meu nome é Ch'lilah, Sr. Paris. Não adianta insistir. O Embaixador encontra-se em reunião no Conselho da Frota e não tem hora para retornar. O senhor gostaria de falar com o Cônsul G'Trok? Talvez, ele pudesse ajudar de alguma maneira.

A jovem assistente Klingon é muito bonita e atraente apesar da testa peculiar a sua raça e dos cabelos embaraçados e espetados para várias direções. Mas Paris sente antipatia pela falta de colaboração da jovem, dona de uma voz irritantemente aguda.

- Entenda. Tenho um assunto delicado para tratar e gostaria de conversar apenas com o Embaixador Worf. Minha amiga me recomendou...

- Essa sua amiga... Geanine. Ela não conhece outra pessoa de confiança?

- O nome dela é Janeway, senhora Ch'lilah. E ela me assegurou que eu preciso encontrar o Embaixador Worf. Apenas ele pode me ajudar.

- Então, chame sua amiga aqui e nós vamos...

- Não posso! A Almirante Janeway no momento está muito distante...

- Eu é que não posso fazer muita coisa pelo senhor.

- Estou vendo que está dificultando as coisas. Poderia, pelo menos, tentar comunicar-se com o Embaixador e avisar que eu o aguardo.

- Minha assistente já fez isso, Senhor Paris. Uma amiga sua me alertou de suas dificuldades em lidar com autoridade, burocracia e hierarquia.

O Embaixador Worf chega por trás assustando Tom Paris. Eles se conheceram num jantar concedido no Templo Milenar Rav'leh, um ano atrás quando Paris vivia com sua esposa no Planeta Boreth. Mas tiveram pouco contato desde então.

- Embaixador, sinto muito pela minha impaciência. Mas estou muito apreensivo.

- Estou ciente de seu problema, Janeway me explicou a situação. Ela também está muito preocupada com vocês. Tomei a liberdade de entrar em contato com alguns amigos. Vamos entrar na minha sala para ficarmos a vontade, Sr. Paris.

- Agradeço toda e qualquer ajuda sua, Embaixador.

Worf indica o caminho de sua sala para Tom Paris e volta-se para a assistente.

- Obrigado, senhora Ch'lilah. Se alguém quiser entrar em contato comigo, diga que não poderei atender no momento porque estou numa reunião muito importante.

- Sim, senhor Embaixador.

Ambos entram no gabinete de Worf. A sala é espaçosa e acolhedora. Worf aponta para um grande sofá em formato de L e Paris prontamente se senta.

- Um minuto, por favor.

Worf caminha até sua mesa de mármore cinzento e alcança um computador de mão que estava sobre a mesa. Depois de ler algumas informações, ele respira fundo enquanto admira a paisagem da baia de São Francisco através de sua janela. Um planador atravessa a cidade em direção a Golden Gate e distancia-se com o tempo.

Paris continua impaciente e pela terceira vez procura ajeitar-se no sofá. Ele nota um porta-retratos sobre a mesa com a foto de um jovem klingon e tenta puxar conversa quebrando os pensamentos de Worf.

- Seu filho?

- Eh, sim, sim. Esse é meu filho Alexander Rozhenko. Atualmente, ele serve como Oficial de Armas na Ave de Rapina Klingon, IKS Ya'vang.

- Deve ser um pai orgulhoso. Devo supor então que o senhor seja casado?

Worf demonstra desconforto com o assunto.

- Já fui casado. Não sou mais...

- Desculpe-me se toquei num assunto delicado. O senhor deve entender minha aflição para saber notícias sobre minha esposa. Não sei mais o que dizer a nossa filha, Miral. Nos sentimos muita falta de B'Eleana. Gostaria de saber qualquer coisa...

- Senhor Paris, recebi notícias de sua esposa, mas não são nada animadoras.

Data Estelar: 58217.9

Quadrante Alfa – Sistema Lazon - Território Cardassiano

O grupo, liderado por Thomas Riker, avança em direção a ponte de comando do cargueiro. Os companheiros de cela seguem suas ordens em respeito ao homem que planejou a fuga de todos. Até o momento, o plano segue conforme previsto, mesmo havendo uma intromissão inesperada de seis estranhos na nave. Mas eles foram logo subjugados e juntaram-se à guarda Cardassiana como reféns. Daniel Sullivan protesta.

- Riker, como pode fazer isso conosco. Nós viemos para resgatá-lo.

- Como não o conheço, peço que me chame de Capitão Riker, por favor.

- Você deve estar brincando. Como pode tratar assim seus companheiros Maquis?

- Que me consta, os Maquis foram dizimados. Exceto pelo brinco da orelha esquerda da jovem bajoriana, todos me parecem membros da Federação. Quem garante que não vieram aqui para me matar? Ainda estou tentando entender como chegaram nessa lata velha voadora, meus amigos não localizaram qualquer nave nos arredores a não ser a frota Cardassiana. Vocês vieram juntos com os Cardassianos?

Kira toma a frente de sua equipe.

- Não temos nada a ver com essa frota Cardassiana. Chegamos aqui por outro meio e quer você acredite ou não, viemos aqui para resgatá-lo.

- Você me conhece sim, Thomas Riker. Eu sou Daniel Sullivan, irmão de Rebbeca.

Thomas para de caminhar e detém todo o grupo atrás dele.

- Daniel? Irmão de Rebbeca? Você está bem diferente quanto à última vez que o vi. Mas você pode ser um agente disfarçado. Preciso conferir com umas perguntas.

Thomas aponta uma arma para a cabeça de Daniel. Aumenta a tensão de todos.

- Não pense para responder. Qual a idade de Rebbeca quando ela morreu? Qual o nome do marido dela? Qual o posto dele na Federação antes de se revelar Maqui?

- O nome dele era Michael Eddington, ex-oficial de segurança de Deep Space Nine. Rebbeca casou-se com Eddington em 2373, tinha então 23 anos. Ele deu sua vida meses depois para salvar a de minha irmã. Mas ela continuou com os Maquis, sendo assassinada em 2375, portanto com 25 anos. Nunca esquecerei nenhum dos dois. Assim como não esqueci de você, Riker. Alguma outra pergunta?

Thomas baixa sua arma visivelmente emocionado. Ele olha para os companheiros de cela e baixa a cabeça. Os amigos relaxam a guarda diante do grupo de Kira e avança arrastando os guardas Cardassianos. Em silêncio, Thomas abraça Daniel.

- Eu sinto muito, amigo. Sinto muito.

Kira observa os amigos ao redor e depois olha impaciente para Thomas Riker.

- Teremos tempo para apresentações depois. É bom lembrar que estamos sendo aguardados. A Frota Cardassiana lá fora quer entrar para a festa.

Data Estelar: 58218.3

Quadrante Gama – Órbita de Kurill Prime – Nebulosa Omarion

Os sensores de longo alcance do Cruzador de Batalha Jem'Hadar identificam a aproximação de uma nave de configuração desconhecida, chamando a atenção do imediato Piler'kara. Deve ser de alguma raça que não sabe onde está se metendo.

- Oficial Koder'Rax, marcar curso de interceptação para a posição da nave intrusa.

- Sim, Senhor Imediato. Curso traçado. Cruzador a caminho.

- Oficial Yak'Ramah, realizar sondagens em nave intrusa e coletar o máximo de informações táticas possível. Informe.

- Nave de configuração incomum, Senhor Imediato. Origem desconhecida.

- Configuração incomum? Como assim?

- Sua aerodinâmica não favorece a navegação. Ainda assim, a nave parece capaz de deslocar-se a grandes distâncias em velocidades consideráveis. Lembra um cubo.

- Cubo ou pirâmide. Não importa. Eles estão invadindo nosso território e devem ser detidos a todo custo. Pontos fracos?

- Sensores incapazes de identificar. A nave tem cerca de três quilômetros de altura, quanto de largura e comprimento. Não há qualquer sinal de ponte de comando, setor de engenharia ou de controle de armas. Escudos de grande potência, distribuídos sobre a nave uniformemente. Armamentos variados de curto e de longo alcance. Indícios de comunicação subespacial. 181.856 formas de vida a bordo. Eles perceberam nossa presença e alteraram ligeiramente o curso. Entraram no perímetro de alcance visual.

- Na tela...

Uma nave em forma de cubo surge na tela com toda a sua imponência. As cores sombrias sobre a superfície irregular e caótica assustariam qualquer testemunha. Mas os guerreiros Jem'Hadar não se assustam com facilidade. O máximo que sentem é curiosidade e ódio.

- Estão entrando em contato.

- Receba o sinal.

A tela apresenta um ser humanóide com o rosto integrado a vários implantes eletrônicos. Outros seres semelhantes aparecem por trás. O imediato Piler'kara levanta-se de sua cadeira irritado com a ousadia e aparente arrogância de seus oponentes.

- Vocês escolheram o território errado para invadir. Preparem-se para morrer.

- A morte é irrelevante. Sua cultura arcaica será aprimorada quando absorvermos suas características biológicas e tecnológicas. Vocês serão adaptados para nos servir.

- Ahahah! Nunca ouvi nada tão absurdo. Somos leais a um só povo e assim continuaremos. Nada do que vocês fizerem vai mudar isso. Vocês é que serão capturados ou mortos e não mais conhecerão a liberdade.

- Liberdade é irrelevante. Sua tentativa de nos capturar vai falhar. Deixem para trás suas vidas egoístas e rendam-se aos Borgs. Resistir é inútil.

Continua...