DDT.1: PÁGINAS PERDIDAS

Capítulo 5

AUTORAS: Lady K & Towanda BR

DISCLAIMER: Todos os personagens da série Sir Arthur Conan Doyle's The lost world não são nossos (infelizmente), então não venham nos encher o saco.

SPOILERS: Vários episódios de todas as temporadas, especialmente HOTS e, claro, minha fic "Depois da tempestade" (DDT), já que esta aqui é uma continuação.

COMMENTS:

Nessa: Obrigada por deixar review nos 2 capítúlos! A Towanda acha chato o episódio das bruxas e eu tbem, mas por motivos diferentes (eu acho chato por não ter 100 R&M rs...). Estamos procurando ser o mais pontuais possível, esperamos que goste do novo cap ;-)

Jess Nobre: Tah pensando o que? Meus cães são mto chics rs... Na verdade, descendentes de R&M hahaha Nós estamos enlaçando todos os personagens, de forma q todos se unem no final, mas isso só mais para a frente he!

Rafinha: Agora vc vai se divertir! Esse capítulo ficou bem grandinho, muitas emoções p/ vc!

Cris: Não está sendo fácil trabalhar com a Towanda. Ela simplesmente queria q a Marg tivesse câimbra na boca, assim ela pararia de beijar o Roxton, pode? Sorte q eu não deixei. É R&M na veia p/ sempre! Ficar na agonia de esperar cap é agonizante, mas ser EASI tbem é :-( Agora a Si puxa minhas orelhas p/ eu não parar rs...

Obrigada a todos que estão deixando review e p/ quem não tah tbem he! Feliz 2006 ;-)


Capítulo 5

Quinze dias haviam se passado desde a chegada de Abigail à casa dos Mayfair. Com a ajuda de Anne, já aprendera a se locomover independentemente pela cidade, mesmo a residência ficando bem afastada. Juntas, visitaram as melhores lojas de Londres. Além disso, haviam descoberto terem mais em comum do que pensavam: a curiosidade e a sede pelo conhecimento.

Entretanto, Abigail se manteve firme a seu propósito: descobrir o Velho Mundo sozinha. Apesar do profundo carinho que sentia pela jovem, Anne respeitou sua decisão, mas não sem antes lembrar infinitas vezes de que se precisasse de qualquer coisa, não hesitasse em procurá-la.

Anne fez questão de acompanhar a escolha da nova moradia de Abigail em Londres. Um pequeno, confortável e arejado quarto em uma pensão. Anne teria preferido que a moça escolhesse acomodações maiores, mas tinha que admitir: a localização, bem próxima à universidade, era perfeita para que Abigail pudesse desfrutar de um ambiente saudável.

Mas só ao levar os pertences de Abigail para sua nova moradia, Anne percebeu que chegara a hora de se despedirem. Deram-se as mãos e passaram alguns minutos contemplando-se, como a adiar o momento do adeus.

"Anne eu não tenho palavras para agradecer tudo o que fez por mim. Jamais vou me esquecer da nossa amizade e se permitir, gostaria de visitá-la sempre que possível."

"Você sabe que sempre haverá um lugar para você na mansão Mayfair."

"Tenho certeza disso."

"Diga-me, Abi. Algum dia você voltará para o platô, não é?" Anne agora se tornara mais séria.

"Com certeza. Lá é o lugar ao qual pertenço e onde está o meu legado. Mas por que pergunta?"

Anne tirou de dentro da bolsa uma pequena caixa de madeira. Dentro havia algo embrulhado em um lenço: a metade de um medalhão.

"Esta é a metade de um medalhão que confere muitos poderes a quem o carregar, como viajar no tempo e no espaço, desde que unido à outra metade. Em mão erradas, pode tornar-se uma arma perigosa. Está na família há séculos! Mas nunca soubemos o que foi feito da outra metade, e nem quando se perdeu. Dizem que foi entregue a uma outra família, mas sinceramente não sei se isso é verdade. Eu deveria dar este amuleto à minha filha... E ela não está aqui. Minha irmã, Charlote, e sua filha não são confiáveis! E eu jurei a mim mesma que elas podem até ficar com toda a fortuna da família, mas ser um Mayfair é muito mais que uma herança. É uma grande responsabilidade para a qual ela não foi escolhida e usou de meios sujos para consegui-lo. Tenho muito medo que alguma coisa me aconteça e acabe caindo em mãos erradas."

"Nada vai lhe acontecer, Anne."

"Por favor, deixe-me continuar. Preciso de um favor. Esteja à vontade para recusar."

"Mas do que se trata?"

"Eu lhe agradeceria imensamente se o levasse com você e o deixasse em um lugar onde não possa ser encontrado. Nunca!"

"Eu entendo o que quer dizer". E quem melhor que Abigail para entender? Ela mesma era a herdeira de uma grande responsabilidade. "Ele estará seguro comigo, não se preocupe, Anne. E vou torcer para que um dia sua filha volte e eu possa devolvê-lo a ela".

"Obrigada, Abi, de verdade. Nada de adeus, apenas 'até breve', ok?"

"Até breve, Anne"

Anne sentiu-se leve após a despedida de Abigail. Agora tinha certeza de que Charlote jamais colocaria suas mãos no medalhão. No fundo, ainda mantinha viva a esperança de que, um dia, a metade do oroborus chegasse às mãos de sua filha.


Ned e Challenger pretendiam chegar à aldeia Zanga ainda com o dia claro. Lá pediriam uma canoa emprestada e seguiriam rio acima em direção ao local em que Verônica fora acolhida da vez anterior.

"Sabe, Malone," – começou Challenger – "há algum tempo queria lhe perguntar... e por favor, não pense que estou lhe pressionando...mas eu nunca entendi realmente o que há entre você e Verônica."

"Digamos que eu me preocupo profundamente com ela. Sempre seremos grandes amigos – mas romanticamente, acho que ela procura por alguma outra coisa." – respondeu resignado.

"Como o que?"

"Bem, digamos que ela ama minhas histórias – não a mim. Acho que ela precisa de um homem de ação. Assim como Roxton."

Challenger riu colocando a mão no ombro do jornalista.

"Sabe Malone. O brilho que vejo nos olhos de Verônica quando vocês estão juntos não é de alguém que gosta apenas das suas histórias."

"Você acha?"

"Eu não acho, Malone. Tenho certeza."

"Mas eu perguntei a ela."

"Malone, Malone, Malone. Alguma vez você se questionou que ela apenas podia ter medo que um relacionamento romântico poderia acabar com a amizade de vocês?"

"Foi isso que ela me disse. Ou quase."

"Acho que vocês terão muito a conversar, meu jovem." – riu o cientista.

Nenhum dos dois percebeu que estavam sendo observados. Atrás dos arbustos duas bruxas o seguiam. Quando a mata ficou mais fechada, não puderam evitar serem descobertas.

"Quem está ai?" – chamou Challenger, enquanto ele e o jornalista apontavam suas armas.

"Por favor, não atirem." – disseram as vozes femininas.

"Saiam para onde possamos vê-las" gritou Challenger.

As moças saíram dos arbustos e Ned ficou surpreso. Conhecia as duas.

"Abaixem os rifles, está bem? Temos procurado por vocês dois" disse a loira.

Challenger hesitou, mas Malone sinalizou para que o cientista mantivesse a posição.

"É mesmo?" – o jornalista adiantou-se dando uma piscadela para Challenger, que entendeu que o amigo estava no controle da situação.

"Eu sou..." – começou a moça loira.

"Não me diga." – interrompeu Ned – "Narina, certo?"

"Como você sabe?"

O jovem ignorou a pergunta, apontando para a outra mulher – "E você é... Brywik. Vocês estão perdidas?"

As duas estavam tão surpresas quanto Challenger.

"Não… quer dizer… sim… quer dizer… moramos em um castelo aqui perto."

"Um castelo?" – Challenger duvidou.

"Sim, muito antigo e construído na montanha. Gostariam de vê-lo?" ofereceu Narina.

"Talvez... mas temos muitas coisas a fazer" começou Ned. "Este é o grande mago branco, George Edward Challenger, e eu sou seu aprendiz, Ned Malone. Estamos recolhendo algumas ervas para nossos feitiços e, além disso, estamos procurando uma amiga que desapareceu."

As duas estavam surpresas. Lady Alice não as havia avisado de que o tal mago era tão poderoso; se apenas o aprendiz era capaz de ler suas mentes, imagine o que o mago não seria capaz de fazer? Claro que elas não sabiam que o tempo retrocedeu, por isso não se lembravam de Ned, que agora usava essa vantagem a seu favor.

"Uma amiga?" questionou Brywik.

"É. Jovem, loira, voando num balão!" respondeu Ned.

Narina deu um cutucão em Brywik. "E como se chama essa sua amiga?"

"Verônica" Challenger respondeu, procurando entender que diabo estava acontecendo, afinal, essa conversa lhe pareceu, no mínimo, sem sentido algum.

"Ora, mas ela está em nosso castelo! Podemos levar vocês até ela, não é uma feliz coincidência?" disse Narina, enquanto Brywik balançava a cabeça positivamente.

"Fantástico! Mas antes temos que recolher, como lhes disse, algumas ervas para nossos feitiços. E faltam muitas! Se vocês esperarem…"

"Nós podemos ajudar! Entendemos alguma coisa de ervas, é só dizer o que precisam!" ofereceu Narina.

O rapaz rascunhou uma lista de folhas e flores que sabia ter visto pelo caminho, já bem distante de onde estavam. Também incluiu um desenho de cada, só para 'facilitar'.

Quando as duas já estavam a uma distância razoável, Challenger, pela primeira vez, abriu a boca:

"Malone, acho que me deve algumas explicações! O que está havendo aqui?"

O jornalista fez um resumo da aventura que tivera com Roxton e as duas bruxas, na vez em que Lady Alice tentara matar Challenger e seus amigos, por causa de que ele, com todo o seu racionalismo e cientifismo, era uma ameaça à magia.

"Certo, meu rapaz. Mas o que pretende agora? Sabe que mesmo que saiamos agora, essas moças podem perfeitamente nos alcançar de novo em alguns dias, e o que faremos? Não acho que protelando a situação iremos nos livrar desse problema".

"Não se preocupe com nada, mago branco!" brincou Ned. "Está tudo sob controle. Hoje você mostrará seus magníficos poderes e essas duas irão aprender uma lição da qual jamais esquecerão! Enquanto preparamos tudo, deixe que lhe explique..." O jornalista gargalhava enquanto contava seu plano para Challenger. Se desse tudo certo, se livrariam das duas e ainda se divertiriam muito.


Marguerite entregou-se de corpo e alma aquele beijo. Sentia-se envolver pela paixão que lhe invadia o corpo todo, impregnando-se na pele, impossível escapar.

Lentamente, o beijo foi ficando mais e mais suave e agora se olhavam, fascinados, admirando-se.

"Oh Roxton, não sei no que você está pensando! Onde pretende chegar afinal?" perguntou quase num suspiro.

Roxton voltou a ficar sério. Agora iria falar o que lhe estava enroscado na garganta desde muito tempo.

"Será que ainda não percebeu, Marguerite? Quero o que todo homem quer: uma esposa, filhos, uma família. Essa é a única segurança que um homem pode ter na vida, é seu porto seguro. E eu quero isso com você!"

Surpresa, a herdeira já procurava se livrar dos braços fortes do caçador. "Pare, Roxton, eu não posso permitir que..."

"Não, agora você vai escutar. Não me importam os segredos que você ainda possa ter, não me importa que pessoas queiram lhe fazer mal em Londres e tampouco se você não conhece sua família verdadeira. Eu a protegerei, sabe que sou capaz. E coloco minha fortuna à sua disposição para procurarmos sua família. Mas seremos 'nós', você e eu, juntos!"

"Mas..."

"Marguerite, não quero que me responda nada. Não costumo traçar metas distantes. Hoje nós estamos aqui e não sabemos quando voltaremos a Londres, e nem se voltaremos. Quando sairmos, se sairmos, minha palavra continuará de pé: eu não vou deixar que você fuja. E quanto ao agora, vamos vive-lo!"

A morena agora sentia-se extremamente orgulhosa de Roxton. Ele quer se casar! Ajudar a procurar sua família! Temia que se ele descobrisse certas ações de seu passado, seus sentimentos mudassem. Entretanto, ele mesmo havia ido preso para salvar Parcifal, sem saber que estava salvando a sua Marguerite, no futuro; mesmo com esse segredo, nada mudou. O que mais temia era que tentassem fazer mal a esse homem maravilhoso, isso sim seria o pior que poderia acontecer. Mas não poderia viver fugindo para sempre e nem deixar sua vida ser conduzida por pessoas como Xang. Finalmente, a possibilidade de abrir seu coração foi criada.

"Você não desiste mesmo de sua presa, não é caçador?" ela perguntou agora mimada e carinhosa.

"Eu disse a você que só se encontra uma mulher de ferro e fogo uma vez na eternidade. E não se pode deixá-la escapar quando a tem nas mãos!"

Marguerite lembrou do dia em que Roxton proferiu essas palavras pela primeira vez, há três anos. Às vezes, sentia que fazia tanto tempo que estava no platô que até mesmo chegava a acreditar que sempre viveu ali, esquecendo-se dos luxos e maravilhas da civilização. Obviamente esse era o tipo de pensamento que não revelaria nem a sua própria sombra.

Então ela deu-lhe um tapinha no ombro, fingindo estar brava. "Chega de boa vida, Lord Roxton, me ajude a levar as roupas e a garrafa lá para cima."


Thomas Layton gostava de freqüentar os eventos da universidade. Ampliava assim o círculo de amigos além de seus conhecimentos.

Chegara a Londres três anos atrás, vindo de New York, pronto para o concluir os estudos e para seu futuro profissional.

Agora estava ali, procurando um lugar no auditório lotado. Avistou uma cadeira vazia bem no canto e foi se esgueirando e abrindo caminho. Já ia sentar quando ouviu o alerta.

"É melhor ter cuidado. O encosto está quebrado."

Sentou devagar, tomando cuidado para não apoiar as costas.

"Muito obrigado. Seria muito constrangedor cair aqui no meio de tanta gente. Com certeza me tornaria o centro das atenções." – sorriu – "Thomas Layton."

Ela devolveu o sorriso.

"Abigail. Se caísse, certamente atrasaria o início da palestra do professor Summerlee, e estou esperando este evento há mais de uma semana."

"Isso seria péssimo." – ele olhou mais atentamente para a moça, parecendo lembrar de alguma coisa – "Já não nos vimos antes?"

"É bem provável, considerando que freqüentamos o mesmo campus."

"Minha lógica foi estupidamente óbvia não é?"

"Bem, eu diria óbvia, mas não estupidamente."

"Você é gentil. O que está cursando?"

"Na verdade nada. Tenho grande interesse em história natural e vou sempre à biblioteca. Também costumo freqüentar todos os eventos acadêmicos abertos. E você?"

"Engenharia. Me formo em breve."

"Tentando me impressionar?" – brincou ela.

"Se estivesse tentando impressionar teria dito que já tinha me formado... pensando bem eu realmente deveria ter dito isso. Vou me lembrar da próxima vez."

Após a palestra Thomas quis acompanhá-la até a pensão, mas ela recusou educadamente. Diante da insistência dele em fazer-lhe companhia, chegaram finalmente a um acordo negociando o almoço do dia seguinte no café da universidade.


Thomas estava fascinado com a possibilidade de participar da construção de ferrovias na África assim que terminasse os estudos. Viera dos Estados Unidos, sua terra natal, para concluir sua formação em Londres. Seus avós de origem irlandesa haviam feito fortuna na América. Seus pais deram continuidade aos prósperos negócios e agora na Europa ele tinha uma vida tranqüila e totalmente voltada para seus objetivos. Alugava um excelente e espaçoso quarto em uma das melhores pensões, usava os serviços de coche para se deslocar pela cidade, freqüentava bons restaurantes e podia ir as estréias dos espetáculos mais disputados. Gostava de esportes especialmente de tênis e remo, mas sentia falta dos esportes típicos de seu país como beisebol e futebol americano. Embora apreciasse um bom vinho e eventualmente provasse alguma bebida mais forte Thomas era um péssimo bebedor. Duas ou três doses de uísque ou canecas de cerveja, já eram o suficiente para deixá-lo embriagado.

Abigail escolheu um sobrenome, o que foi muito estranho para ela. Ninguém de sua família jamais precisou de um, contudo não teve duvidas de que era necessário. Se ia passar algum tempo vivendo naquele mundo tão diferente, então seguiria as normas do lugar. Escolheu um antigo nome francês, Foster, cujo significado, guardiã da floresta, lhe pareceu apropriado. Com as muitas pedras que trouxera consigo ao sair de Avalon e do platô não teve nenhum problema em manter-se de forma confortável. Mantinha o pequeno quarto na pensão próxima ao campus para o caso de assistir a alguma palestra à noite e ficar sem opção de retornar para onde realmente morava. Alugara o ateliê uma semana após ter ficado sozinha em Londres. Localizado na periferia da cidade, lá tinha mais privacidade e espaço. Não contara a Anne a respeito de seu verdadeiro local de moradia, pois achava desnecessário preocupá-la. Abigail tinha um imenso desejo de conhecer o mundo fora do platô, e no geral gostava das coisas novas que via todos os dias. Embora percebesse que muitas vezes era alvo de olhares e comentários maldosos, procurava não se aborrecer afinal, pelos padrões daquele mundo as mulheres da era Vitoriana deveriam ser inocentes, virtuosas, obedientes e submissas além de não terem qualquer opinião intelectual e decididamente ela não queria tentar ser daquele jeito.

Aos poucos foram passando cada vez mais tempo juntos. Dividiam a mesma mesa na biblioteca, estudavam sentados na área verde do campus, enquanto partilhavam o lanche. Caminhavam discutindo os assuntos lidos nos folhetins semanais. Parecia que se conheciam a vida inteira.

Abigail ensinou-lhe sobre os animais, as plantas e as estrelas, sobre filosofia e arte. Guiado pela moça, Thomas habituou-se a freqüentar museus e exposições. Apresentou-o a talentosos e pobres artesãos e falou a respeito de técnicas e artistas que admirava. O levou a quermesses e feiras que aconteciam no Hyde Park onde todos os tipos de objetos eram vendidos, de fitas para os cabelos até pias. Ela adorava caixas de música, espetáculos de circo e ver as crianças soltando pipa. Omitindo algumas coisas, contou sobre o lugar em que nasceu, a Amazônia, onde as poucas expedições que ali conseguiram chegar, deixaram livros e despertaram nela a sede do conhecimento. Abigail tinha curiosidade e energia inesgotáveis.

Thomas por sua vez a conduzia pelas ruas de Londres mostrando as construções cada vez mais ousadas da cidade. Explicou-lhe a base da política e da diplomacia. A levou a teatros, concertos e as mais luxuosas festas de Londres e depois de ensinar-lhe a dançar os dois flutuavam pelos salões de baile. Nos melhores restaurantes ela aprendeu com ele a arte dos grandes chefes de cozinha e da degustação de vinhos. Ensinou-lhe a respeito do beisebol e ficou irritado ao perceber que ela rebatia melhor do que ele. Também tentou ensina-la a andar de bicicleta, mas entre risos e algumas quedas Thomas descobriu que jamais teria êxito nessa empreitada e desistiu.


"Gostaria que conhecesse algumas pessoas." – Disse Thomas após almoçarem juntos no campus.

O rapaz a levou a uma espaçosa casa.

Abigail observou o grande número de pessoas de várias idades. Desde as muito jovens, até muito idosas. A grande maioria era homem, mas a moça observou duas senhoras na casa dos 30 anos entre eles.

"Quem são Thomas? Seus Amigos?"

"Muitos deles, sim. Todos são cientistas, estudantes, muitos autodidatas como você. Alguns com muito potencial, mas, sem dinheiro para pagar uma universidade, freqüentam a biblioteca. Nos reunimos regularmente aqui, para discutir, estudar, desenvolver projetos."

Acomodaram-se em duas cadeiras vazias bem no fundo da sala onde evitaram chamar a atenção. Na frente um homem bem vestido falava a respeito da descoberta do primeiro crânio de Neanderthal em 1852. Abigail observou fascinada. Em seguida um senhor idoso colocou-se à frente onde discorreu a respeito da passagem do cometa Halley que cruzara o céu da Terra em 1885.

Morando em Avalon, sabia da existência das comunidades do platô, mas pouco ou nada convivia com elas ou sabia de suas reais dificuldades ou a respeito de seus hábitos. Ao conhecer aquelas pessoas, Abigail começou a entender as alegrias e desventuras de participar das coisas que a rodeavam.

Passou a acompanhar Thomas nas reuniões onde, pouco a pouco, foi conquistando o respeito dos sisudos e moralistas homens que freqüentavam o lugar. Envolveu-se principalmente em projetos relacionados a História Natural, contribuindo com seus conhecimentos sobre a flora e fauna sul-americana.

Tudo que aqueles homens e mulheres desejavam era poder praticar a ciência sem que o estado direcionasse suas pesquisas de acordo com seus interesses. Ao mesmo tempo, se não cedessem a essas exigências, jamais teriam dinheiro ou facilidades desenvolver para qualquer projeto.

Abigail começou a refletir em seus quadros as novas impressões a respeito de sua terra natal. E refletir seu desejo de sair de Avalon e realmente conhecer seus vizinhos Zangas, Amazonas, Hagans, ...


Ao chegar ao ateliê Thomas encontrou Abigail cercada de pedaços de madeira, martelo, pregos, tecido grosso e gesso.

"O que você está fazendo?"

"Telas. Quero pintar e não tenho mais nenhuma."

"Não tem ninguém que possa fazer isso em seu lugar?"

Ela olhou para ele inquisitivamente.

"Alguém?... quer dizer?..."

"Quero dizer... isso não é trabalho para uma dama."

"Sempre fiz as minhas telas." – disse pegando uma armação retangular de madeira e começando a estender o tecido grosso sobre ela. Em seguida pegou alguns pregos pequenos e o martelo. Layton imediatamente empertigou-se.

"Sempre fazia senhorita." – Tirou o paletó arregaçando as mangas da camisa – "Por favor, afaste-se."

"Thomas..."

"Não seja teimosa. Terminarei isso na metade do tempo e assim poderemos ir à biblioteca mais cedo."

Abigail afastou-se sabendo que era inútil argumentar. Confiante o rapaz posicionou o prego na madeira e ergueu o martelo para em seguida com toda força atingir o... A moça o viu trincar os dentes, ficar vermelho de uma só vez e apertar os olhos.

"Ugh..." – gemeu baixinho. Abigail já ia rir, mas viu o sangue escorrer do polegar dele. Rapidamente ela envolveu um pedaço de pano limpo na mão de Thomas.

"Segure isso. Eu já volto." - Correu procurando a caixa de primeiros socorros.

Estancou o sangue e lavou com cuidado, enquanto ele gemia.

"Ai!"

"Fique quieto."

"Está doendo." – reclamou.

"Parece um tomate amassado. Fez um belo estrago." – concentrou-se na colocação do anti-séptico, e ao fazer o curativo tentou ser o mais delicada possível. Não percebeu que ele não mais prestava atenção à dor.

Thomas aproximou lentamente seu rosto do dela para finalmente após tanto tempo sentir o sabor de seus lábios. A jovem não ofereceu resistência. Quando se afastaram ela disse simplesmente.

"Isso não vai ajudar em nada a melhorar o machucado."

"Que machucado?" – o olhar dele não se desviava da moça.

"O que foi?"

"Nada, só quero olhar para você."

Abigail sorriu – "E o que está vendo?"

"A mulher mais bonita do mundo."

"Acho melhor chamar o médico. Você está enxergando coisas."

"Não estou... Eu te amo."

"Com certeza não sou a mulher mais bonita do mundo, mas com certeza sou a de mais sorte." – Estavam com os rostos tão próximos que podiam sentir a respiração um do outro.

"Pode dizer que sou louco, mas assim mesmo vou perguntar." - Fez uma pausa e engoliu em seco - "Quer se casar comigo Abi?"

Ela foi pega de surpresa, mas não conseguia afastar-se. Segundos antes haviam se beijado pela primeira vez e agora ele a pedia em casamento. Embora repentino sabia que ele falava sério. E mais do que qualquer coisa, ela queria aceitar.

"O que está dizendo Thomas?"

"Case comigo."

"Você mal me conhece. Há tantas coisas que não sabe a meu respeito."

"Então me diga. Sou um bom ouvinte. Mas antes preciso que você me responda..."

Abigail nem pestanejou ao responder a pergunta que ele sequer precisava ter feito.

"Mais do que qualquer coisa Thomas."

Thomas beijou-lhe as mãos longamente.

"Quem é você, Abi?"

"É uma história muito longa."

"Tenho todo o tempo do mundo."

"Você nunca vai acreditar."

Ele sentiu o nervosismo dela.

"Faça com que eu acredite. Por favor, Abi." – implorou – "Apenas conte tudo."

Ela suspirou pesadamente.

"Está bem. Mas antes vou terminar o curativo."

"Eu devia ter deixado você fazer o trabalho." – sorriu encabulado – "Fui um bobo."

"Não. Você foi um perfeito cavalheiro... Prontinho. Não molhe por alguns dias."

"Certo."

Fizeram uma chávena de chá acomodando-se na pequena mesa da minúscula cozinha. Aquela seria uma conversa muito, muito longa.

CONTINUA...