Segunda Chance

Parte I


Disclaimer – Não me pertencem, mas é tão divertido brincar com eles... Hum... Talvez eles não concordem com isso...

Fanfic – Naru L

Dedicado – AngelloreXx ( Limonada :P)

Uma figura esguia encolheu-se contra a parede, tentando esconder-se nas sombras, o coração batia acelerado em seu peito enquanto ouvia os estouros dos fogos no céu. Fechou os olhos, apertando a arma contra o peito, enquanto buscava uma maneira de escapar do local. Podia ouvir as vozes das pessoas a poucas quadras dali, os gritos animados com os fogos cada vez mais freqüentes explodindo no firmamento.

'Ano novo...' Suspirou ' Em qualquer outra noite eu conseguiria escapar facilmente...'

Abriu os olhos novamente, ouvindo o som de passos se aproximando. Colou as costas na parede, apontando a arma para o local do som e esperou. Se chegasse até a multidão conseguiria escapar... Chegar até o local combinado...

'Tão perto...'

Respirou fundo antes de deixar seu esconderijo e correr até outro nacho escuro. Outro som de explosão soou em seus ouvidos, acompanhado de um zumbido. Jogou-se na faixa escura, fechando os olhos quando fragmentos da parede voaram na direção de seu rosto.

'Em qualquer outra noite eles seriam mais cuidadosos...' Mais algumas balas atingiram a parede as suas costas. Respirou fundo e atirou de volta quando os tiros do outro lado cessaram.

Um gemido de dor ecoou do outro lado e a ele sorriu. 'Menos um.' Aproveitando-se daquela pequena distração, afastou-se da parede e correu até o fim da rua, virando a direita e misturando-se a multidão. Escondeu a arma sob o casaco e continuou caminhando entre as pessoas que conversavam animadamente, alheias a sua pequena fuga.

Sorrisos, abraços, gritos e olhares cheios de esperança. Isso lhe trazia lembranças... Gostaria de poder aproveitar aquele momento. Sentir-se alegre e despreocupado ao invés de caminhando rapidamente, a mão sob o cabo da arma, olhando por cima do ombro a cada passo para certificar-se que não estava sendo seguido... Mas esse tipo de coisa não o incomodara por anos...

Considerava emocionante essa vida de perseguições, planos secretos e sempre estar a um passo de ser pego... A satisfação por sempre conseguir realizar um trabalho e fugir antes que alguém sequer percebesse sua presença era boa demais... Encorajadora demais... Viciante demais...

Até o dia em que a morte tocara seu ombro e lhe mostrara que havia muitas outras coisas que podiam lhe dar o mesmo sentimento e não dependiam da sorte. Nada melhor do que acordar em um insípido e silencioso quarto, tendo como trilha sonora o irritante 'bip' do monitor cardíaco, para fazer com que alguém realmente acordasse para a vida.

Claro que um par de olhos azuis, encarando-o preocupadamente, tinha parte do mérito. Sim, havia coisas mais excitantes na vida do que brincar com a morte.

Sorriu com as lembranças e apertou o passo, vencendo os poucos metros que o separavam do ponto de encontro. Saiu da rua principal onde o movimento era intenso, entrando no pequeno e estreito corredor que levava a entrada lateral. Estendeu a mão para a porta metálica e parou, arregalando os olhos ao sentir a ponta da adaga ser pressionada em suas costas.

Quando se tornara tão descuidado?

Inclinou a cabeça para frente, pensando em uma maneira de afastar o inimigo dali. Podia perder a vida em um confronto, mas não a mulher esperando sua chegada atrás daquela porta. Ela era a razão de abandonar tudo, o mundo de ritmo louco que conhecia para um totalmente novo e incerto...

Ignorando a lamina afundando delicadamente em sua pele deu alguns passos para trás.

- Seu molenga... – A voz feminina sussurrada em seu ouvido fez com que seu corpo estremecesse de alívio. – Alguém aponta uma arma para você e tudo que faz é parar?

- Kaoru... – Girou, segurando o pulso dela antes que pudesse se afastar. – Não acha que está tarde demais para uma garota estar andando sozinha por aí?

- Cansei de esperar sozinha em um galpão escuro enquanto todas essas pessoas se divertem aqui fora.

- O galpão escuro é seguro. – Ele falou calmamente, retirando a adaga das mãos delicadas.

- Mas você não está nele! – A garota retrucou, puxando a mão e cruzando os braços. – eu pensei que a vantagem de se ter um local seguro é ficar dentro dele.

- Coisa que você não está fazendo! – Colocou a adaga no bolso interno da jaqueta de couro e estendeu a mão para a garota que se afastou. Suspirou frustrado, lançando um olhar preocupado para as pessoas que passava na rua – Vamos discutir isso lá dentro.

Kaoru respirou fundo e passou por ele sem deixar que a tocasse, podia ver por sua postura que estava irritada. Não podia culpá-la por sentir-se isolada do mundo e tentar sair, se as posições estivessem trocadas faria o mesmo.

- Kenshin! – A garota chamou a alguns passos da porta - Você não vem?

- Claro. – Sorriu, lançando um ultimo olhar para a rua antes de segui-la. Aquela era a ultima noite em que teria que fugir de balas, pessoas mal encaradas, negociar com indivíduos de reputação mais duvidosa que a sua ou fazer mirabolantes planos. Esse pensamento era o suficiente para animá-lo – Precisa de ajuda com suas coisas?

Caminhou na escuridão quase completa até o local onde havia deixado a velha mochila com os poucos pertences que levaria enquanto esperava por uma resposta ou a aparição da garota. Estreitou os olhos depois de alguns minutos de completo silêncio e jogando a mochila no ombro, caminhou para os fundos do galpão, a mão direita buscando pela arma inconscientemente.

- Kaoru? – Piscou quando as luzes se acenderam repentinamente.

- Kenshin!

O rapaz ruivo abriu os olhos depressa, arrependendo-se do fato ao sentir a luz ferir seus olhos novamente. Balançou a cabeça levemente e firmou sua atenção na figura delicada segura por um homem musculoso que agora tampava sua boca com uma das mãos.

Sentiu a própria mão segurar a arma com mais força quando outro homem sorriu zombeteiro em sua direção antes de levantar o braço e encostar o revolver na têmpora de Kaoru.

- O que acha que de fazermos um acordo? – Kenshin desviou os olhos da figura da garota com relutância e voltou-se para o dono da voz. – Você esquece esses delírios de 'vida honesta' e eu não mato sua garota... – Ele sorriu antes de completar. – Hoje.

O rapaz ruivo ficou parado em silencio, os olhos azuis levemente estreitados enquanto observava o outro homem. Devia ter esperado que algo do tipo acontecesse, fora tolice imaginar que conseguiria escapar tão rápida e simplesmente. Se fosse mais esperto nunca teria se envolvido com Hajime Saitou... Mas quem disse que fora esperto na juventude?

Os murmúrios abafados da garota fizeram-no voltar sua atenção para a figura delicada que, ignorando a arma apontada para sua cabeça, se debatia, tentando se soltar dos braços que a prendiam. Ficou os olhos nos dela e balançou a cabeça suavemente de um lado para o outro. Uma ordem sutil e clara para que ela parasse com aquilo.

- Quanto tempo vai me fazer esperar?

Kenshin continuou encarando a garota até que esta parasse de se mover, e só então virou-se novamente para o homem vestido com roupas caras. Analisou por alguns minutos a expressão fria, tentando descobrir se podia confiar em suas palavras.

- Solte-a e conversaremos sobre o assunto.

- Acha que fiquei estúpido com o passar do tempo? – O homem sorriu sem humor – No momento que você achar que ela está em segurança vai começar uma pequena batalha perdida, matar um dos dois idiotas antes de ser morto por mim.

- Sua intenção é matá-la... Mesmo que eu concorde em voltar. – Kaoru gritou algo que não passou de um som abafado e indistinto, mas isso não fez com que o rapaz desviasse a atenção do homem moreno a sua frente. – Não fiquei mais tolo trabalhando para você.

- Não, eu disse não vou matá-la se você prometer não fugir... – Deu um passo na direção do rapaz ruivo – Enquanto avalio se está me dizendo a verdade, terei prazer em cuidar da garota para você.

- Eu não... – Kenshin parou de falar quando um gemido masculino ecoou no galpão vazio. Virou-se na direção da dupla que segurava Kaoru e observou-a, congelado pelo terror, atingir o rapaz moreno entre as pernas e pegar a arma de suas mãos enquanto o outro caia de joelhos as suas costas.

'Ela não pode ter feito isso...'

- Ou esses dois são os seres mais incompetentes que eu já tive o desprazer de ter sob meu comando... – Saitou falou calmamente, apontando a arma que até aquele momento estivera sob o paletó e apontando a nuca de Kenshin – Ou, ao contrário do que eu pensava, você fez uma escolha decente.

- Solte ele! – A garota parou a poucos passos dos dois e apontou a arma para Saitou – Não vou deixar que me use apenas para obrigá-lo a obedecer você novamente!

'Isso não pode estar acontecendo...'

- Kaoru, pare com isso e saía daqui. – Kenshin falou, ignorando o cano frio deslizar por seu pescoço e parar no meio das costas – Pegue suas coisas e vá embora.

- O que? – A garota piscou, as mãos ainda segurando firmemente o revolver apontado para Saitou enquanto voltava sua atenção para Kenshin. – O que você disse?

- Foi bom enquanto durou... – Sorriu, dando de ombros, ignorando a expressão magoada que surgiu no rosto delicado – A brincadeira acabou, hora de voltar aos negócios... – Colocou o revolver na cintura , forçando-se a continuar a encará-la com a mesma expressão indiferente – Dê o fora.

Kaoru continuou em silêncio, as mãos delicadas tremendo, os olhos carregados de magoa pelas palavras que acabara de ouvir.

- Não vou deixar você sozinho. – Ela finalmente falou, a voz falhada enquanto firmava as mãos no revolver novamente. – Fale o que quiser, ainda não acabou.

'Droga de garota teimosa'

- Kaoru... – Kenshin começou novamente. Estreitou os olhos e quando sentiu a arma se afastar de suas costas, levou a mão até a própria arma e a apontou para o rosto da garota – Vá embora agora ou eu mesmo mato você.

A garota nem ao menos se moveu, sequer pareceu ouvir suas palavras, apenas deu mais um passo para frente e apontou sua arma para o peito de Saitou.

- Emocionante, mas uma grande perda de tempo. – Saitou falou lentamente, a voz cheia de desprezo. – Acho que vou matar os dois e terminar esse pequeno jogo de uma vez. – Kenshin fechou os olhos, condenando-se por sua burrice enquanto o homem a seu lado apontava a arma para Kaoru. – Vamos começar por ela.

Kenshin abriu os olhos a tempo de ver o choque nos olhos azuis a sua frente, sem outra alternativa, baixou a própria arma e em um mesmo movimento acertou as costelas de Saitou com o cotovelo e arrancando a arma de suas mãos antes de se colocar entre os dois, abraçando Kaoru.

- Sua grande estúpida. – Murmurou em seu ouvido – Devia ter fugido enquanto tinha chance.

- Não sem você. – Ela murmurou de volta. – Nunca sem você.

Kenshin a abraçou mais forte, as mãos ainda segurando as duas armas com firmeza. Desde que a conhecera não matara mais ninguém, uma pequena promessa que fizera a si mesmo já que havia recebido uma segunda chance, mas se quisessem sair dali com vida essa promessa teria que ser quebrada.

- Perdoe-me, Kaoru... – Soltou repentinamente e virou-se apontando o revolver para Saitou, os olhos brilhando com frieza ao notarem a expressão de desprezo do outro. – O jogo acabou. – Fez pontaria e fechou os olhos antes de apertar o gatilho.

O estampido pareceu um só a seus ouvidos, por isso estranhou que um gemido feminino acompanhasse o de Saitou. Abriu os olhos, sentindo o corpo feminino pressionar-se as suas costas e o liquido quente e pegajoso ensopar suas roupas.

As armas escaparam de suas mãos, os braços ocupados em segurar a garota que apoiava-se em seu corpo e teria caído quando se virou para encará-la. Os olhos azuis, sempre cheios de vida, pareciam vazios e carregados de medo. As mãos fortes que até poucos minutos seguravam a arma com firmeza, agora agarram sua camisa de forma frágil e insegura.

- Kaoru? – Ela sorriu, um gemido abafado deixando seus lábios acompanhado de um filete de sangue, enquanto seus joelhos dobravam sem forças. – Não pode fazer isso, - Continuou, abraçando-a mais forte e deslizando para o chão junto com ela - temos planos, lembra?

- Acho... – Ela parou de falar, engasgando com as palavras, os lábios tingidos com o liquido rubro, antes que ela completasse em um murmúrio que mais parecia um gemido – Que vai ter... que realizá-los sozinho...

- Não! - Continuou observando o rosto delicado, sua mão pressionando o ferimento que continuava a sangrar independente de suas tentativas de estancá-lo. – Você vai ficar bem... Eu vou... – Passou um braço sob suas pernas, levantando-a do chão – Vou levar você ao hospital e... – Eu vou... – Parou de falar, quando não ouviu outro gemido de dor por tentar levantá-la. – Kaoru...

Baixou a cabeça, sentindo os olhos arderem com lágrimas pela primeira vez em sua vida adulta. Ela não podia estar morta...

- O chefe está morto?

Apenas agora o movimento de duas pessoas chegou a seus ouvidos, Os dois bandidos que antes seguravam Kaoru tinham se aproveitado de sua distração para matá-la. Sua culpa. Era tudo sua culpa.

- Eu acho que sim, não sinto pulsação...

Fechou os olhos com força, passando a mão pelo rosto para limpar as poucas lágrimas que escaparam de seus olhos. Respirou fundo, sentindo o perfume de Kaoru preenchê-lo misturado ao cheiro de sangue. Balançou a cabeça, voltando a abrir os olhos e tirou a arma das mãos delicadas, virando-se para a dupla que continuava ocupada demais com Saitou para prestarem atenção nele.

Ergueu-se lentamente, estranhando a dificuldade que suas pernas encontraram em mantê-lo em pé e atirou no homem musculoso que segurara Kaoru enquanto o outro apontava uma arma para sua cabeça.

Viu-o tombar para o lado, enquanto o outro voltava os olhos em sua direção.

- Você deviria estar morto. – O rapaz franzino murmurou, os olhos baixando para a grande mancha vermelha na altura da barriga de Kenshin. – Você—

Um segundo estampido ecoou no galpão, calando o rapaz para sempre. Fechou os olhos, sentindo as próprias pernas falharem na simples tarefa de sustentar seu corpo, a arma escapou de suas mãos e ele fechou os olhos novamente, a visão embaçada.

Levou as mãos ao próprio corpo, sentindo-as encharcarem-se com seu próprio sangue. Encostou-se a parede mais próxima, puxando o corpo sem vida de Kaoru para seu colo, um sorriso triste escapando de seus lábios, ao menos não teria que se preocupar em viver sozinho...

Abraçou-a mais forte, ignorando as pontadas de dor que o movimento causou. Afundou o rosto na massa de cabelos negros, aspirando o perfume de flores.

'Não foi esse o final que imaginei para nós...'

Sentiu as lágrimas escaparem de seus olhos, a dor em seu peito mil vezes pior que a dor ferimento, tornando impossível segurá-las por mais tempo.

'É minha culpa... Minha culpa... Eu jurei não matar e matei... Jurei protegê-la e a deixei morrer...'

Abraçou-a mais forte, cerrando as pálpebras quando elas se tornaram pesadas demais. A dor se intensificou, tornando o simples ato de respirar complicado demais.

'Eu não devia ter deixado você se envolver comigo... Se eu tivesse uma chance... Se eu pudesse mudar tudo...'

Inspirou uma ultima vez, sorrindo da própria tolice e encostou o queixo no ombro feminino,

'Se ao menos eu tivesse uma chance...'


N.A. – Sem planos mirabolantes de assassinato da minha gentil pessoa, este não é o final.

Resposta ao desafio do fórum Mundo dos fics.

Naru