Autora: Anna Lennox

Créditos à ex-autora brilhante: Camila Castle

Beta: Lanah

N/A: Donde vêm essas idéias mirabolantes? Não sei! Ao reler esse capítulo, tive a sensação de estar revivendo um fato conhecido. Acho que deve ser normal nesse período em que vivemos. Acho que darão razão a essa N/A sem sentido ao lerem o capítulo. Certo! Boa leitura! Kisus da Anna!

Capítulo 2

A conseqüência...

2 meses depois...

Se algum conhecido lhe tivesse alertado sobre a probabilidade de um homem maduro se aproveitar de sua inocência, a fim de conseguir apenas uma noite de sexo, não teria acreditado. Ou melhor, certamente teria mandado o individuo para um lugar nada agradável. Sim, conselho não era nada bom, mas quem disse que é altamente supérfluo para uma mente sem experiência?

Olha só para ela! Uma mulher cosmopolita, dinâmica, que se orgulhava da própria independência e aos 22 anos nada condiziam com seu pouco conhecimento com relação à espécie masculina. Olhando para o teclado do computador, segurou as lágrimas que ainda teimavam em cair, fazia dois meses... dois longos meses em que fora deixada sem nenhuma explicação, despedida ou, até mesmo, um agradecimento do primeiro homem carnal de sua vida.

E o que você queria, Kinomoto?

Café da manhã na cama após uma noitada? Carinhos e afagos após o sexo? Com certeza, não passara de mais uma garotinha na vida dele... Pegando o lenço de papel, enxugou as gotículas lacrimais que pesavam em suas íris.

Passaram-se dois meses. Ele se fora como uma miragem, um sonho erótico, um prazer insaciável. Ainda sentia o corpo tremer e as partes íntimas se umedecerem. Ainda o desejava...

Mas ele se fora...

Sem nenhuma explicação...

-Com a queda do dólar e a gradativa recuperação do iene, creio que as ações da empresa de software Maintains tendem a crescer no mercado europeu. É um programa de incrível ajuste e previsão, indispensável para a vida habitual. Prático, dinâmico e barato.

Sentada ao lado do poderoso Massuda, Sakura contemplava o seu azul através dos grandes vitrais, sem se importar muito com a análise do programático executivo. Merecia ser punida por estar pensando mais uma vez nele... Será que não havia aprendido um pouco com o erro? Droga, porque até mesmo a poluição sonora da cidade grande fazia com que ela se recordasse de seu nome. Devia ter cabeça apenas para o bendito software, logicamente, era seu dever anotar todos os pormenores da reunião e não olhar para o movimento dos veículos pela avenida mais movimentada de Tókio.

Um carro em contra mão, uma freada brusca, um atropelamento... um corpo estendido no chão, nem mesmo a sirene das ambulâncias pareciam ter compaixão dela. Gritavam bruscamente: Eu quero Shoran... eu quero Shoran... em vez do ruído que lhe era característico.

Desviando a cabeça da cena caótica e cotidiana que se delineava perante seus olhos, voltou-se para o jovem analista, que agora explicava como era fácil manusear o programa, com o interesse basal de conseguir mais e mais dinheiro.

-Com a conseqüente queda no poder de consumo da população mundial, adaptar-se perfeitamente ao bolso dos consumidores tanto da classe A quanto da B é necessário. As pesquisas mostram que venderá como água. - concluiu o magrelo, alto e com a ossatura parecida com a de um cavalo. - O quê acha, senhor Massuda?

O silêncio que persistira por toda a apresentação ainda reinava, ela via, na face do grande empresário, o cansaço e o desanimo. Imaginava a frustração tamanha que passava por seu peito, ao perceber que o tempo passava, deixando-o mais velho, enrugado e sem um herdeiro de seu próprio sangue. Contudo, se a face demonstrava o seu sentimento pessoal, o mesmo não podia dizer de sua mente analítica. Ele era imprevisível e sábio, mostrava que, mesmo idoso, não era fácil ser enganado.

-Embasado em que critério fez a sua análise, Petter?

-C-como assim, senhor?

-Em qual política financeira fez a sua avaliação? - repetiu serenamente, batendo com a pontinha da caneta sobre a folha em branco.

-Ora, na nossa política. Penso que a chance de um programa que substitui perfeitamente outro que custa o triplo...

-Isso me soa como similar e não como o novo. – cortou, imperioso. - Se não é novidade, não importa se o preço de tabela é menor do que o concorrente. É previsível, e, no momento, temos que focalizar o novo e não copiar um programa americano. Então, creio que ainda a empresa software Maintains tem que evoluir, caso contrário, não irei investir numa pífia imitação. – conciso, ficou de pé. – E sendo assim não há motivos para continuar com essa reunião.

Intimidador, essa era a palavra perfeita que descreveria o seu chefe com esmero e requinte. Embora se utilizasse de sinônimos, Sakura não pôde deixar de sorri. Na sua juventude, sem nenhuma sombra ou imprecisão, Massuda fora um homem bonito, e ainda era, porém, sua maior beleza residia na personalidade cogente. Não existiam semelhanças entre pai e filho, Shoran era mais alto, forte e moreno.

Droga, droga, mais uma vez pensava naquele maldito homem.

Abrindo a porta para os membros da diretoria, Sakura segurou o pequeno bloco de notas na mão desocupada. Sempre sorrindo, respondia com doçura os cumprimentos educados de cada homem que passava por ela.

-Sakura?

-Sim, senhor Massuda? – respondeu, constrangida, ao perceber que estava sozinha com o chefe na sala de reuniões.

-Necessito de apenas cinco minutos de seu tempo.

Não sei se o odeio ou repudiou...

É tão confuso...

Sinto como se minha alma estivesse perdida na imensidão da minha iniqüidade.

Seu chefe necessitava dela? Parecia piada! Pior, parecia piada feita para constrangê-la. Sentada na poltrona negra, fechava e abrias os punhos em uma técnica rústica que tinha objetivo de acamá-la.

Raios, ela estava calma! E como! Não era todo dia que o seu chefe ficava implorando por cinco minutos de seu tempo, mas tentava se consolar com a tépida certeza de que não era para demiti-la.

-Acha que fui muito duro com o analista da Maintains? - perguntou o ancião de costas para ela.

Surpresa com a pergunta, Sakura mordeu a língua para perguntar se aquele era realmente seu superior ou um clone dele. O verdadeiro Massuda não se interessava pela opinião alheia e, muito menos, media a sua rispidez. Fora desse jeito que ganhara e perdera várias contas de grandes e medias empresas durante toda a sua careira.

-O senhor foi como sempre foi com todos os seus clientes. Firme e forte... - não admitiria que não prestara atenção na reunião.

-Nunca temi perder uma conta, se tivesse a certeza de que o fracasso estava à espreita.

Desconfortável, mexeu o corpo, não gostava daquele tom na voz do chefe... Era íntimo demais.

-Senhor... sempre foi inteligente...

-É?

-Si-sim! – confirmou, erguendo o sobrolho, confusa. - É... e a sua mente é uma das dez mais brilhantes de todo o país.

-Hahaha! Você também leu aquela revistinha. - girando a poltrona de couro vermelho, o velho olhou para Sakura, sorrindo com um certo quê de carinho.

-Quem não leu, senhor?

-Sakura, se eu não a chamo por senhorita, é porque quero e espero que me trate com a mesma intimidade.

Intimidade? Deus, agora, sim, estava nervosa. E com razão, estava prestes a ser assediada sexualmente por um senhor de oitenta anos. Enfiando as unhas no braço da poltrona, suspirou fundo, tentando não encarar a face do chefe.

-Sei que é estranho, Sakura, contudo, durante todos esses anos me esforcei para nunca perder.

-E nunca perdeu, senhor...

-Massuda, por favor!

-Não me sinto bem tratando o senhor pelo seu sobrenome. – confessou, abaixando e erguendo os olhos com uma insistência irritante. - É... tão estranho. -Sim, durante todos esses anos em que substituiu a velha Hsel, jamais troquei uma palavra sequer que não fosse trabalho com você, Sakura. Compreendo o seu medo.

Será, ponderou, constrangida, voltando a mordendo os lábios com uma comissura tremenda. Se ele se importasse com o seu medo não faria tamanho mistério.

-Desculpe-me, mas não posso mentir. Estou um tanto confusa...

-Mesmo com pouca capacidade de entender a mente humana, sei que deve está se perguntando o motivo para eu pedir essa assembléia.

-Sim, estou mesmo, senhor. – respondeu, sincera, cruzando as mãos sobre a barriga.

Gargalhando, colocou meticulosamente as mãos sob queixo, apoiando-as no tampão de vidro da mesa.

-O que mais gosto em você, Sakura, é a sua lisura. E isso, para mim, é uma qualidade incomensurável. Sabia disso?

-Não...

-Sim, eu gosto de olhar para os seus olhos e ver o quão intocável pelo mundo você é.

-Desde quando foi um predicado? – perguntou, com os olhos baixos, não querendo se entregar ao pânico. Por causa de sua candura, estava ali... sendo indagada e analisada pelo seu chefe.

-É, sim, uma qualidade, e prezo isso numa pessoa. - fez uma pausa para acender o charuto. - Bem, Sakura, não quero tornar o que tenho para falar um drama, então, serei enfático e claro. Não quero que tenha dúvida ou receio, só uma pessoa que deve confiar, se não, certamente não pediria tamanha ajuda.

Pecado... estou pagando caro pelo meu pecado...

... cuja face atroz e inimiga não teme em erguer o dedo e desferir o castigo...

O carro preto esportivo parou na frente do pequeno prédio de três andares, numa das ruas mais pacatas do centro, uma área reservada para estabelecimentos comerciais e culturais de Tókio. Sakura morava ali, no último andar de um restaurante de Ramen. Um lugar simples, desprovido do luxo em que ele próprio vivia.

Naquele dia, para ser mais exato, fazia dois meses que não a via. Não era o certo, deveria ter permanecido em silêncio, deixar que ela pensasse o pior de sua pessoa. Afinal, continuava casado... e era inacessível a qualquer outra mulher, a não ser Tsui. Nem mesmo 30 dias em uma ilha paradisíaca com o cônjuge o fizera esquecer da curvas insinuantes, dos olhares ardentes, dos cabelos sedosos, do calor e maciez da pele de Sakura. Pecara por tentar dar mais uma chance à esposa, pecara por tê-la traído com uma mulher boa o suficiente para grudar em sua pele e jamais sair.

Soltando o cinto, Shoran abriu a aporta do carro e saiu, não ligando muito para os olhares curiosos que recebia. Era famigerado, então, era mais do que natural que as pessoas o reconhecessem. Assim era desde sempre... e sempre seria, de alguma forma.

Adentrando o recinto, deixou o cheiro encantador do ramen atiçar o seu apetite. Estava com fome, além do mais, ainda era cedo e tardaria para Sakura chegar. Seria uma espera silenciosa, que o levaria direto para o inferno.

Quantas decisões ainda terei que tomar...

Para ser feliz...

-Casamento?

-Sim, Sakura, após anos viúvo, resolvi que devo me casar novamente. - fitou o porta-retrato no qual a esposa figurava como modelo central. -Nessa época, Minako tinha apenas dezesseis anos e estava grávida de Shoran. Ela estava tão feliz... sempre o esperou... o meu filho, destinado a me dar orgulho, foi o único que me deu as costas.

Sakura estava sem palavras. Falar o quê, exatamente, para um homem que acabava de anunciar que ela, sim, ela, Sakura Kinomoto, era o que ele chamava de esposa perfeita. O choque era maior do que a sua vontade de chorar de raiva, ódio, humilhação.

-Desculpe-me, senhor! Mas eu não posso aceitar a sua proposta...

-Por quê? Eu não irei viver muito, então não tem o que temer, certamente não roubaria muito tempo da sua juventude.

-Isso é antitético!

-Quem se importa! Nunca dei trela para o que falam de mim e, pelo que percebi, você também não.

-Senhor, não posso simplesmente aceitar um pedido descabido desse como se fosse algo normal.

-Então, faremos um pacto nupcial, não sairá perdendo com o casamento. - usando um tom carinhoso, completou. - Você jamais será minha esposa, e sim uma filha querida, porém...

-Porém, para o resto da sociedade, serei a vadia que se aproveitou de um velho condenado à morte! Jamais terei o respeito por que tanto batalhei... Eu não preciso disso, não preciso do seu dinheiro... - ficando de pé abruptamente, Sakura cerrou os punhos. - E não preciso desse emprego. - dando as costas, Sakura se apressou em se retirar da sala.

-Mas eu preciso de você... - falou velho, colocando as duas mãos sobre a mesa - Sakura, espere!

Parando, Sakura ficou de costas, deixando que as lágrimas escorressem por sua face. Preferia morrer, mas aquele homem nunca a veria chorando.

- Não pense que só você será julgada, eu também serei taxado.

-Não importa o que pensarão de você ou de mim. Eu só não quero passar por cima do que acredito.

-Sakura, possuo idade para ser seu bisavô, e, sinceramente, jamais pensei em aliciar ninfetas, no entanto, é a mulher perfeita para carregar meu filho!

Se estou tão errada por amar...

Por que não sou condenada a viver na solidão...

Por que insiste a me manter presa a uma verdade violável...

É a hora de crescer e criar asas... Não posso ficar presa...

Não posso...

Filho? Aquilo era pior do que um pedido de casamento. Limpando as lágrimas, Sakura voltou a olhar para o senhor idoso. Desta vez, não estava acuada, já não se importava com emprego, muito menos estava indignada. A situação era tão escabrosa que era difícil de acreditar se aquilo estava acontecendo mesmo, ou se era mais uma pegadinha de sua mente.

-O senhor só pode estar brincando, não é mesmo?

-Não estou brincando, Sakura. - mostrou a poltrona em que, há minutos, estava sentada. - Sente-se, pois tenho um segredo a lhe contar.

-Não quero saber de seus segredos, Massuda.

-Mas, mesmo assim, terá que escutar. E se a sua resposta continuar sendo não, eu não tocarei mais no assunto e a deixarei em paz.

Cada resposta evasiva... Cada decisão mal tomada...

É apenas o reflexo de quem eu sou...

Digo sim ou não, sempre serei a condenada por ter faltado com a verdade de meu coração...

Contudo, se o meu amor é pecado, é profano, é horrendo... eu já não poderia mais viver. Contudo perpetuarei minha espécie... no sangue de um predestinado bebê.

Sakura subia pelas escadas que levavam a seu apartamento como se fugisse de mil demônios repulsivos, quando, na verdade, apenas um a perseguia... A sua maldita consciência. Como a face da besta, perfurava com as presas grandes e afiadas o seu coração.

Meu problema é grave. E não é facilmente curado com uma simples cirurgia. Os médicos otimistas falam de um processo cirúrgico estável, mas eu sei das chances que tenho. Sou um homem inteligente... não é mesmo?

Monstro dissimulado, ainda tinha coragem de ser cínico, mesmo brincando com os seus sentimentos. Com a sua moral e ética, que fora formada por pais severos, mas que por nenhum momento a fez ver o lado ruim da vida.

Se não tivesse a certeza dos riscos, eu jamais pediria que se cassasse comigo. Na minha vida, sempre houve uma mulher, e quando essa se foi, jurei fidelidade eterna. Contudo, em 1970, quando meu filho negou, pela primeira, vez uma proposta de trabalho vinda de mim, tomei sábia, ou burra decisão, depende do ponto de vista, de guardar meu esperma em um banco particular do governo. Era algo novo, não tinha muita informação, entretanto, parecia ser melhor do que correr o risco de não ter um herdeiro... Apesar disso, por nenhum momento, pensei em usá-la... A não ser agora...

E, justo ela, que nunca cogitara a maluca história, fora à escolhida. Olhando para a sua sombra, Sakura voltou-se para a janela pequena, cuja visão era detalhista, do sol se pondo no horizonte. Olhando para relógio, teve a certeza de que fora uma motorista imprudente. Era apenas 17h30min, fizera o percurso em tempo recorde.

Não é uma proposta a ser fazer a uma dama... Eu sei muito bem disso. É um mal necessário, não quero morrer sabendo que o meu suor, minha abdicação do lar de minha amada esposa foi em vão. Seria um peso em meu leito ver que minha empresa terminou nas mãos de um executivo qualquer.

Pousando as mãos no ventre, Sakura baixou os olhos, fixando-os nos sapatos confeccionados por sua mãe. Nascera em uma família sem luxo, porém, nunca passara necessidade. Seu pai, um trabalhador qualquer, não era um herói de contos de fadas, mas batalhava para dar a ela e aos irmãos uma condição melhor do que a dele. Fora nessa luta constante por status que ele esquecera da família, passando assim a ser apenas um "ser" que "abastecia" a casa com o seu dinheiro suado. Crescera com a certeza de que não queria ser igual a ele...

Shoran é um caso perdido, demorei a perceber isso. Se, aos 18, ele se negou há ser meu sucessor, imagine com 40, agora que tem a sua própria empresa e é estruturado na vida. Sakura, não desejo que compartilhe a minha cama, mas sim que gere meu filho... O verdadeiro sucessor desse império!

Mas era justamente isso que estava prestes a fazer. As lágrimas que caíam por sua face desciam com vontade própria. Não queria chorar... Fizera o que devia ser feito! E não teria mais volta...

E sei que tem pulso firme para administrar essa empresa até que o verdadeiro herdeiro tome posse. Terá toda a assistência prescrita no contrato pré-nupcial...

Dizer o sim, quando, na verdade, queria dizer não, era a coisa mais dolorosa de ser dita. Era passar por cima do amor próprio e tudo que cultivara como conceitos. Sua mãe morreria de vergonha quando os jornais anunciassem o seu casamento com o velho ancião poderoso... Nem mesmo a justificativa de que estava fazendo isso pela empresa, e não por ele, colava.

Ela entrara em um labirinto sem fim...

-Sakura!

Shoran..., sussurrou a sua mente, em sinal desordenado que passava do cérebro para coração. O barulho de seus batimentos poderia ser escutado a quilômetros. Encostou o corpo na parede velha, cuja pintura descascada sujava o seu terninho alinhado preto.

-É um prazer revê-la... - falou ele, descontraído, como se nada tivesse acontecido entre ambos, como se ele não tivesse sumido deixando-a sozinha com a dor da rejeição, com a vergonha manchada em seus lençóis.

-Não posso dizer o mesmo, senhor Li Shoran!

Continua...