DISCLAIMER (que eu esqueci de escrever no prólogo): eu não sou dona dos personagens do anime nem nada que esteja diretamente relacionado a ele.
Era muito estranho depois de tanto tempo estar simplesmente em paz. Hiei ainda achava confuso não precisar desembainhar sua katana em todos os momentos do dia. Tinha escolhido continuar no mundo dos humanos após as batalhas do torneio das Trevas e relutava em assumir que ali, debaixo de um generoso sol entre as pedras de uma praia vazia, aquele mundo chegava a ser incrivelmente agradável.
As feridas haviam cicatrizado por completo e o braço direito parara de arder e, vez ou outra, latejava como se pedisse mais lutas. Mas, ele achava, que elas estavam simplesmente distantes.
Encostou-se numa pedra sentindo os respingos frios no rosto e o cheiro salgado no vento. Ele gostava do vento e pensava em ficar no mundo dos homens mais tempo que o esperado, ali era estranhamente agradável. Sozinho e agradável. Porém, algo lhe disse que era hora de voltar ao Makai.
Shuichi Minamino havia voltado para casa deixando sua mãe muito feliz, apesar de saber que o filho tinha algo de especial que o arrastava para longe dela e que o retorno não seria tão longo quanto gostaria, ela aproveitava os dias sem reclamar.
"Então, é aqui que você estuda?" – a voz soou do meio dos alunos num tom irônico e Shuichi duvidou do que ouvia – "Se eu te chamar de Kurama você vai me responder, amiguinho?" – a voz sussurou.
"É claro." - Shuuichi sorriu e olhou para trás vendo Yusuke e Kuwabara – "Que bom ver vocês."
"Eu não entendo como um ladrão frio e calculista do Mundo Inferior pode gostar de vir a um lugar tão sem graça como esse!" – Yusuke resmungou bocejando.
"Como você está, Kurama?" – Kuwabara perguntou vendo uma certa preocupação nos olhos verdes do amigo.
"Muito bem. Mas eu acho que vocês não vieram aqui só para ver onde estudo."
"Sempre observador. Koenma quer falar conosco, algo está acontecendo no mundo das trevas."
"E o que é?"
"Então, todos prontos? Podemos ir?" - a voz de Botan surgiu detrás dos meninos com a doçura habitual. Ela vestia jeans e camiseta e não era em nada diferente das meninas humanas, excetuando aquela sensação de brisa fria que se tinha quando se aproximava dela.
Kurama olhou os amigos tentando adivinhar o que podia estar acontecendo, mas sabia que o quer que fosse ele acabaria sendo arrastado de volta a sua vida de demônio.
"Vamos?" - Botan piscou sem entender porquê Kurama estava parado olhando Yusuke e Kuwabara.
"O que está acontecendo, Botan?" - ele perguntou.
"Ah não, não, não! Eu não posso falar, o senhor Koenma pediu que eu não comentasse nada antes dele!"
"Então, acho que não tem outro jeito a não ser ir com vocês." - ele deu de ombros. Já sentia que estava sendo arrastado...
As portas do salão de Koenma se abriram majestosamente para os convidados. As janelas grandes deixavam entrar uma luz amarela e o lugar cheirava a flores. A grande mesa estava, como sempre, atulhada de papéis e atrás deles só se podia ver o chapéu azul do filho de Enma-Daio, o grande Senhor de tudo. Koenma mordia sua chupeta furiosamente enquanto carimbava as folhas e as jogava no chão para que um ogro as catasse obedientemente.
"Senhor Koenma, nós já chegamos!" - Botan anunciou.
Ele ergueu os olhos para os convidados e fez um barulho entre o enfado e o alívio, jogando alguns papéis para o alto.
"Feioso, tira esse monte de papel daqui!" - ordenou e o ogro correu, empilhou todas as folhas e saiu deixando uma ou outra voar pelo caminho.
"Grande Koenma! Pode falar que estamos todos aqui!" - Yusuke falou.
"Não tem porquê estar feliz Yusuke, o que eu preciso que vocês façam não é nada agradável."
O humano fechou o rosto diante da seriedade de Koenma.
"Ih... que estresse! Então, o que é?"
"Os espiões de meu pai descobriram que certas coisas vêm acontecendo no Makai"
"Certas coisas?" - Kurama franziu a testa.
"Na verdade, uma coisa só: o Guardião Kayo está morto."
Os olhos impassíveis de Kurama se arregalaram e ele não conseguiu impedir que seu queixo caísse.
"O quê! Kayo está... morto? Mas e os...?"
"Os Tesouros? Estão desprotegidos!" – as folhas restantes voaram quando Koenma abanou os braços.
"Opa, opa! Vamos devagar que a gente não tá acompanhando! Quem é esse tal Kayo e que Tesouro é esse?"
Koenma suspirou nervoso com a pergunta, mas sabia que Yusuke não tinha como saber do que estava falando. Então, juntou todos os cacos de tranqüilidade que podia ter naquele momento e tentou explicar:
"Quando o Mundo dos Homens não tinha nem mesmo homens, o rei do Mundo Espiritual criou 6 artefatos poderosos para proteger seu reino de qualquer ameaça do Mundo das Trevas. Para não ficar em desvantagem, o chefe do Makai fez o mesmo e confeccionou 6 objetos capazes de rivalizar com os Tesouros Espirituais."
Koenma parou para ter certeza que os humanos acompanhavam a história e Yusuke sacudiu a cabeça:
"Estou acompanhando, estou acompanhando..."
"Então, estourou uma guerra entre os dois mundos foi inevitável e como ambos os lados estavam em pé de igualdade, o massacre produzido pelos objetos foi tão monstruoso que não foi possível decretar um vencedor. Tudo estava destruído, milhares foram mortos e a guerra não passou de um empate. Depois disso, os dois reis sentaram-se frente a frente e decidiram que suas armas seriam guardadas e lacradas para impedir outro caos. Kayo era um guerreiro na época, o mais forte dos sobreviventes e foi escolhido como Guardião e a ele deram um 13º Tesouro que é a única coisa que pode abrir o lacre dos Antigos Tesouros. Kayo está morto e o 13º Tesouro foi roubado."
"Hum..." – Yusuke murmurou coçando a cabeça: sua capacidade de agir rápido era bem maior que sua capacidade de seguir uma linha de raciocínio.
"Hum, nada, Yusuke! Você quer fazer o favor de prestar atenção!"
"Calma! Você quer o Tesouro? É só nos dizer quem roubou que nós iremos atrás!"
"Vocês deviam perguntar isso ao amigo de vocês, o Hiei." – ele resmungou carimbando uma folha com força.
"O que você quer dizer com isso?" – as sobrancelhas de Kurama se ergueram interrogativas.
"Ele foi visto seguindo para o nosso principal suspeito."
"Quem?"
"Lyn, a dama dos ladrões."
"Ele nunca faria isso." – Kurama cruzou os braços ressentido.
"Não estamos discutindo o que ele faria ou não, e sim, que ele achou uma passagem para o mundo das Trevas e está indo na direção de um suspeito apenas alguns dias após um dos maiores roubos do Makai! Vocês precisam achar o Tesouro roubado. Ele tem o poder de conceder desejos a quem o carrega, o desejo de vocês, ao resgatá-lo, deve ser saber onde estão os outros Tesouros do Makai. Entenderam? Achem os Tesouros e não quebrem o lacre de forma nenhuma!" – carimbou novamente com o som ecoando – "Botan vai levá-los até o Makai."
Kuwabara e Yusuke assentiram com olhos arregalados, quase hipnotizados pelos braços nervosos de Koenma que abanavam para os lados e da chupeta que pulava de um lado para outro em sua boca.
"O que os Reis do Makai acham disso, Koenma?"
"Você acha que eu faria algo assim sem consultá-los? Eles não querem mais um para ameaçá-los, melhor que as Armas fiquem guardadas do que um outro tome o lugar deles. Todos concordaram comigo quando disse que enviaria uma equipe mista: meu detetive sobrenatural e um youkai... ou quase isso."
"Ei! E eu?" – Kuwabara protestou.
"Cala a boca, Kuwabara!" – Yusuke lhe deu um tapa – "Você vai de assistente e vê se não me enche!"
