N.A.: Eventos após Ballad of Fallen Angels
Luccas Evergreen corria pelas ruas sujas, quentes e fétidas de Deimos. Mesmo acostumado com o mau-cheiro, seu coração batia rápido. A pistola Jericho 931 estava em sua mão, a faca na cintura. Seus perseguidores tinham sido despistados, mas por quanto tempo? Ele já gastara mais munição nessa perseguição do que em toda a sua vida de crimes.
"Filhos-da-puta traidores! Os anciões ficarão sabendo disso rapidamente! Eles irão se arrepender amargamente de me perseguirem" – pensou Luccas. Ele estava sendo perseguido por homens da mesma organização criminosa que ele, o Dragão Vermelho. O que queria dizer que algo estava errado. Muito errado.
Ser do Dragão Vermelho não era saudável, mas dava certo estilo. Luccas era casado com Hannah, uma bela mulher, que conheceu dentro do Dragão Vermelho. Treinado por Mao Yenrai, o lendário assassino do Dragão Vermelho, Luccas conhecia metade do Universo, realizando missões menores e mais sutis, como seqüestro e roubo, enquanto os principais treinandos de Mao, Spike Spiegel e o homem conhecido apenas como Vicious eram mandados para missões mais perigosas, em geral de assassinato, principalmente envolvendo organizações criminosas rivais.
Luccas chegou em casa e entrou rapidamente, Hannah estava assustada:
– Luccas, o que está acontecendo? – disse Hannah, assustada, armada com a sua pistola Black Magician 72.
– Não sei... Fui perseguido sem motivo... E por pessoas do Dragão Vermelho...
– Mao foi morto! – disse Hannah, com um tom de urgência na voz – Annie disse isso para mim agora a pouco pelo telefone! Mataram-o a alguns dias atrás!
O coração de Luccas parou por um instante: Mao estava morto? Anastasia era o principal contato de Luccas com o Dragão Vermelho, por esta saber muito das informações do Dragão Vermelho graças a Mao, então ela não poderia mentir para ele. Mas quem...
– O pior: parece que o assassino de Mao foi ninguém menos que Vicious!
Vicious... Essa palavra, esse nome, ecoou como uma paulada na cabeça de Luccas.
"Devia ter imaginado!", pensou Luccas enquanto praguejava baixinho.
Luccas vira apenas duas vezes Vicious, pois ambos tinham "áreas de trabalho" diferentes. Em ambos os casos, Luccas ficara com uma má impressão de Vicious: Luccas jamais esquecera que perdera dois de seus melhores homens em ações comandadas por Vicious.
– Então, deve ser por isso que estou sendo caçado... – pensou Luccas. Lucas era muito fiel às filosofias e métodos de Mao Yenrai. Se Vicious havia assassinado Mao, provavelmente iria tentar fazer o mesmo com todos os que tivessem as mesmas idéias, filosofias, ideais... como Luccas. Vicious com certeza parecia descontente com a possibilidade do Dragão Vermelho começar a se envolver com negócios mais honestos (e menos lucrativos na opinião dele).
Quando pensou isso, os reflexos de Luccas correram para o quarto: os seus dois filhos, Helen e Richard estavam bem ...
... mas não por muito tempo.
O barulho de metralhadoras foi o alerta que Luccas não queria. E pior foi a visão de sua mulher, subindo, gritando aterrorizada, e o cheiro acre e metálico que subiu às suas narinas antes de a ver:
– Luccas, corra! Leva as crianças! – gritou Hannah, ensangüentada pelos buracos de bala.
Luccas pegou uma bolsa e agarrou o máximo de roupas que pode, enquanto Hannah atrasava os perseguidores. Em seguida pegou sua bolsa com armamentos e munição extra, e correu com Helen e Richard para a saída de emergência. A Jericho estava nas mãos, e ele pode ainda ver o corpo ensangüentado de Hannah despencando para a morte.
– HANNAH! – gritou Luccas. Mas não havia tempo para sentir a dor de perder a companheira: Luccas tinha que fugir com os filhos. Subiu alguns andares até o deck de naves do prédio aonde vivia e jogou a bolsa de roupas no fundo de sua nave, Nagô II. Colocou os filhos e subiu no lugar do piloto.
– Se segurem! – gritou Luccas. E decolou.
Sua mente estava focada em chegar até o espaçoporto de Deimos o mais rápido que possível, esquivando das naves inimigas e dos prédios com o máximo que sua perícia e sorte lhe davam de garantia. Configurou os escudos para a retaguarda, mas tiros certeiros foram minando os escudos com facilidade:
– Papai, o que está havendo? – disse Helen.
– A mamãe vai ficar bem? – disse Richard.
– Uns homens maus estão caçando o papai, e a mamãe... – pela primeira vez Luccas se deu conta que sua companheira de longos anos, acabara de perder a vida. E foi quando ele sentiu um tranco terrível.
Um míssil enviado por seus perseguidores destruiu os giroscópios, e ele começou a cair. Ele não teria a menor chance de estabilizar... Mas parece que a sorte ainda não havia deixado Luccas Evergreen: por alguns milissegundos salvadores a nave se estabilizou e Luccas conseguiu corrigir o ângulo de decida.
– SE SEGUREM! – gritou Luccas.
O atrito da nave se espatifando no chão foi terrível, mas ele estava vivo... Pelo menos por enquanto.
Mas alguns mísseis estavam vindo para cima da nave, para terminar o serviço:
– PAPAI! – gritou Helen, desesperada.
E, de alguma forma, incrível, milagrosa, que Luccas não conseguia explicar, os mísseis pararam no ar, como se uma grande mão estivesse tentando os empurrar para trás. Ele não sabia o que havia feito aquilo, e tampouco estava preocupado. Pegou rapidamente os filhos, as bolsas e tirou-os da nave. Assim que se afastaram um pouco, os mísseis voltaram a se mover, explodindo a nave em alguns zilhões de minúsculas fagulhas. Luccas não pensava mais em nada, exceto em chegar ao espaçoporto de Deimos. Pegou da sua mochila a metralhadora Iris 65 e a preparou, ao mesmo tempo que entregou a mochila de roupas para Helen:
– Papai, para onde vamos? – disse Helen, colocando a mochila às costas.
– São do Dragão Vermelho, papai? – perguntou Richard.
Luccas não conseguia mais esconder a verdade:
– Sim, filho, e você também já deve ter percebido que o papai e a mamãe trabalhavam para eles.
– Mas então por que eles o estão caçando?
– Não sei... Mas não quero descobrir! – disse Luccas, ainda correndo.
Enquanto corria, Luccas deu uma ordem para Helen e Richard:
– Se algo me acontecer, corram. Corram como nunca para o posto da ISSP mais próximo que puderem. Digam que vocês viram pessoas da Dragão Vermelho e apontem na minha direção.
– Mas...
– Nada de mas! – disse Luccas – Não quero que vocês morram.
Algumas esquinas depois, porém, os seus perseguidores os encontraram:
– Ali! É Luccas! – disse um deles, e começou a atirar.
– SE PROTEJAM! – gritou Luccas para os filhos.
Luccas jogou Richard e Helen para atrás de uma mureta com uma mão, colocando seu corpo entre eles também, e abriu fogo com a metralhadora na outra mão. Seus perseguidores não sabiam (ou talvez soubessem), mas Luccas nunca foi treinado para tiro letal. O que ele apenas queria foi o que conseguiu: os perseguidores se abaixaram da rajada de fogo, desperdiçando tempo precioso, enquanto Luccas recuava para dentro do beco escuro.
Continuaram a correr. De tempos em tempos, abria uma rajada de fogo contra as costas ou trocava o carregador da metralhadora. Assim continuou, até que vários perseguidores fecharam o cerco contra eles, assim que sairam de uma viela:
– NÃO! – gritou Richard, quando os homens prepararam-se para atirar. E novamente algo estranho aconteceu. As balas pararam em um escudo de luz que apareceu diante deles. Luccas nem se preocupou em esquentar a cabeça tentando imaginar de onde ele veio. Ele apenas percebeu que seus inimigos estavam paralisados, como se tivessem sido embrulhados em papel pega-mosca, por alguns segundos salvadores, que foram mais do que suficiente para ele dar no pé, enfiando-se em uma viela escura e fugindo da vista.
Luccas estava cansado, física e mentalmente, conforme se aproximavam dos espaçoportos de Deimos, duas submetralhadoras Mistral, uma em cada mão. A metralhadora Iris foi guardada dobrada dentro da mochila com as outras armas. Sua mulher estava morta, e quase ele estivera. E não poderia escapar pelo espaçoporto, pois sabia muito bem que os homens de Vicious o encontrariam, cedo ou tarde. Ele próprio estava pronto para morrer: sua "profissão" sempre o preparou para isso, morrer em ação. Mas não queria deixar seus filhos órfãos, ou pior, mortos.
Então decidiu guardar as submetralhadoras, correu para o espaçoporto de carga, fingindo comprar (na verdade, usando a compra como desculpa) alguns pacotes de fritas, doces e salgadinhos em geral, cerveja, chá, água e refrigerantes, guardando-os em uma bolsa que achou largada ao chão no meio do caminho, enquanto observava os cargueiros estacionados. Foi quando ele encontrou um caminhoneiro espacial pronto para decolar:
– Ei, amigo! – disse Luccas.
O caminhoneiro era forte, baixo, atarracado, uma cara de buldogue, cabelos louro-acizentados e olhos cinzas. Usava roupas rasgadas e um colete de couro, uma bandana verde na cabeça e algum tipo de distintivo às costas que Luccas não podia ver:
– Que foi? – disse o caminhoneiro, com tom de poucos amigos, observando Luccas como se estivesse medindo uma roupa de uma liquidação. Luccas estava cansado, suado, sujo, e seus filhos não estavam nem um pouco melhor.
– Preciso sair de Deimos, eu e meus filhos.
– O espaçoporto é logo ali.
– Não posso ir pelo espaçoporto. Estou com problemas, se é que você me entende...
– Sinto muito, meu chapa, mas aqui não é casa de caridade...
– Eu pago!
Os olhos cinzentos brilharam ao ouvir o som dessa frase:
– Quanto? – disse ele, com um sorriso irônico e interessado.
Luccas sacou um dos vários cartões com créditos disponíveis de sua carteira e o mostrou:
– O que estiver nesse cartão é seu, se tirar a gente daqui de Deimos sem muitas perguntas...
O caminhoneiro pegou o cartão e foi até uma máquina próxima e consultou o saldo do cartão...
– 17 milhões de Woolongs? – perguntou ele abismado – E é do Dragão...
– Olha, não interessa de quem é. E não quero nem saber para aonde você tá indo! Eu quero sumir de Deimos!
– OK... Acho que é realmente bom eu não perguntar sobre isso, e provavelmente não é saudável... Subam!
Os três subiram no espaço apertado do cockpit do cargueiro espacial:
– Qual é o seu nome, chapa? – perguntou o caminhoneiro. Nesse momento Luccas viu o distintivo da jaqueta do caminhoneiro: era uma serpente verde sobre um fundo verde-e-prata, com a palavra "Slytherin" escrita. O mesmo distintivo podia ser visto na bandana do caminhoneiro.
– Evergreen... Luccas Evergreen...
– Sei... Já ouvi falar de você no Big Shot. Ah, mas não esquenta a cabeça: o que você me pagou é mais do que o suficiente para livrar sua fuça. – disse o caminhoneiro segurando, com um sorriso sardônico, o cartão que Luccas lhe dera.
– Sei... E o seu nome? E para onde vamos?
– Malfoy. Andraas Parkinson Malfoy. – disse ele, decolando. – Estou indo para Vênus.
