N.A.: Eventos paralelos a Heavy Metal Queen
O Castelo Dumbledore, a sede da Escola de Artes Mágicas Alvo Dumbledore, estava começando a tomar forma, e animais fantásticos já haviam sido importados da Terra para formar uma população local. Inclusive um centauro, Licanor, aceitou sair da Floresta Proibida de Hogwarts e, junto com um pequeno rebanho, começar uma comunidade de centauros em Ishtar.
O Castelo estava ficando lindo. Torres altas de blocos de pedra e mármore, com vidros espelhados que lembravam os prédios das grandes metrópoles espaciais, como Marte, Ganimede e Europa, combinavam o melhor da magia e da tecnomância. Tinham tudo o que era necessário para uma sociedade agora mais "universal" do que nunca, mesmo que não fosse unida à dos trouxas: um link com a WizNet, a rede tecnomântica de comunicações foi estabelecido e outras providências foram tomadas.
Sylvester observava tudo: o Castelo Dumbledore não era o mais bonito que poderiam imaginar. Mas eles não teriam como disputar com Hogwarts, e nem era a idéia. Afinal de contas, não podiam riscar de uma hora para a outra os 1100 anos de vantagem que Hogwarts possuia em relação a eles.
– O que foi, Sylvester? – perguntou Agatha.
– Será que vai dar certo? – disse Sylvester, com um certo tom de medo e fraqueza na voz. Isso era uma das coisas que ocasionalmente irritava Agatha em Sylvester.
– Sylvester, nós juramos nos túmulos dos nossos avós que faríamos isso dar certo! – disse Agatha, com energia.
– É clarro que darrá cerrto! – disse Eloise, observando o pôr-do-sol. – Seu avô e seu pai depoiss dele forran dirretorres da Escola de Ogwarts!
O que era verdade: Neville Longbottom, avô de Sylvester, e Ignatius, seu pai, haviam sucedido Minerva McGonagall como diretores de Hogwarts. Ignatius era o atual diretor, e os quadros de Neville e de McGonagall, assim como a do lendário patrono da Escola que estavam fundando podiam sempre o aconselhar.
Eloise de repente estacou por alguns segundos. Seus olhos miraram diretamente a imensidão do céu verde-azulado acima deles. Sylvester e Agatha viam com apreensão:
– Eloise está tendo uma visão? – disse Agatha.
– Isso é meio óbvio! – disse Julius, que se aproximava.
Eloise começou a falar, uma voz grossa e arranhada, estranhamente sem sotaque francês:
"Do terror ele fugiu, do terror ele vem, de um dos filhos de Marte ele vem. Não tem herança mágica, mas seus descendentes têm. Fugitivo de seus antigos aliados, uma guerra antiga vai ressurgir. Ele será importante e seus descendentes também."
Eloise convulsionou e tossiu. Percebeu o rosto branco de Agatha e
Sylvester, e o brilho de admiração nos olhos de Julius:
– O que aconteceu?
– Você não lembra de nada, Eloise?
– Non... Non me lembrro de nada...
– Você teve uma visão, não teve? – disse Julius.
– Como assim? – disse Eloise.
– O que você viu? – disse Agatha.
– Vi um carrgueirro trrouxa, e um trrouxa, perrseguido por outrras trrouxas, e duas crrianças nascidas trruoxas... E eles eston vindo parra cá...
– De Deimos, não é?
– Como assim?
– "Do terror ele fugiu, do terror ele vem, de um dos filhos de Marte ele vem." A mitologia grega: Fobos e Deimos, Medo e Terror. Os satélites de Marte.
– Isso mesmo!
– Será que tem a ver com a construção da Escola? – perguntou Sylvester.
"Sylvester é bem diferente de Julius." pensou Agatha, o que era verdade. Sylvester era prático e resoluto, sempre inquisitivo e lidando com os fatos, enquanto Julius era "perdido nas nuvens", sonhador e visionário, mas pouco realista. E, mesmo com Sylvester tendo ocasionalmente crises de falta de confiança, em geral ele era bem confiante.
– Parrece que sim, senan... Por que eu irria ter uma vison como essa justo agorra?
– Acho que você está certa, Eloise. – disse Julius – Mas quem será esse cara, e o que ele quer?
– Breaker one nine, breaker one nine. Caminhoneiros do Espaço, aqui é o Lorde da Magia. Quero saber se algum de vocês viu alguma nave suspeita saindo de Deimos na direção de Vênus. – disse Andraas pelo comunicador.
– Lorde da Magia, aqui é a Rainha Heavy Metal...
– É um prazer conversar com a famosa Rainha Heavy Metal...
– Obrigada. O que foi? Está tendo problemas com alguém?
– Digamos que tenho uma carga que pode interessar a alguns caras em Deimos. – disse ele, com um tom inocente.
– É algo ilegal?
– Claro que não, Rainha. São uns figuras que parece que tão sendo caçados por eles que peguei no espaçoporto de Deimos.
– Não pensei que você fizesse caridade... – disse a Rainha Heavy Metal pelo comunicador, com um tom divertido. A fama de Andraas de ambicioso e gananciosos, apesar de não desonesto, era grande entre os caminhoneiros espaciais.
– Digamos que tive minhas compensações, Rainha Heavy Metal, – disse Andraas, em um tom divertido – e que, de qualquer modo, ainda tenho algum interesse de ir para um lugar legal no outro mundo... Alguma novidade?
– Faz idéia do tipo de nave que está procurando? Porque o tráfego aqui no Portal tá uma zona, e parece que vem principalmente de Deimos.
Andraas virou-se para Luccas, que lhe descreveu algumas das naves que o perseguiram em Deimos. Andraas repassou pelo comunicador as descrições:
– Eu vi uma nave estranha saindo do Portal que vem de Deimos, batendo com as descrições dessas naves que você me passou, Lorde da Magia. Acho que é a que tem o desenho de um dragão, mas não vi se eles procuravam ir para Vênus. Mesmo se estiverem, vão levar uma Era para chegar até lá. Você está aonde?
– Entrando no Portal da Terra para Vênus.
– Fez bem, é um caminho bem curto. Estou agora próxima às minas de Linus, e se eles estão saindo por aqui, mesmo que sigam pelo Portal de Io para Vênus, vão levar pelo menos uma semana para chegar em Vênus. Mas se souber de qualquer novidade, eu passo para você. Vou colocar todos os caminhoneiros do espaço em prontidão. Pode deixar comigo.
– Obrigado, Rainha Heavy Metal... Sabia que podia contar com você e com sua fama para me ajudar e às pessoas que estão comigo. Câmbio Desligo!
Andraas continuava observando o tráfego no Portal.
– Você deu sorte... – disse Andraas, tomando um gole de água – Não há nenhum inimigo seu lhe perseguindo... O mais próximo que foram vistos foi próximo às minas de Linus, mas isso fica na direção exatamente oposta para aonde vamos.
– OK – disse Luccas, sentado ao lado, de banho tomado e com uma outra camisa no corpo, mastigando alguns salgadinhos. Helen e Richard, ambos vestindo roupas limpas e também de banho tomado, dormiam confortavelmente no fundo do cockpit, cobertas com um edredon verde e prata de Andraas, aproveitando a cama com gravidade artificial para um sono confortável. Na verdade, todo o cockpit era decorado com muito verde e prata, e muito veludo, principalmente em tons escuros.
– Parece que se meteu em uma vida ruim, chapa... – disse Andraas, enquanto conduzia o cargueiro por dentro do Portal, ocasionalmente ultrapassando naves mais lentas – Trabalhar para o Dragão Vermelho não me parece uma boa idéia.
– Costumava ser... Até eles tentarem me matar.
– Imaginei... Você é de Deimos?
– Sou. Meus avós eram de um país na Terra chamado Brasil. Com o Incidente do Portal, conseguiram se mudar para Deimos, mas sobrou pouco dinheiro para eles se manterem e ao meu pai. Acabou que meu pai usava drogas e morreu quando ainda era criança. Então acabei sendo obrigado a roubar para sobreviver. Foi quando o Dragão Vermelho me encontrou. Acabei sendo treinado por um cara chamado Mao Yenrai...
– O famoso assassino?
– Isso. Mas ele não me ensinou apenas os truques do submundo. Me ensinou também filosofia, política, história... De certa forma, foi o pai que não tive. Dizia que eram tempos conturbados, e que ainda chegaria o dia em que o Dragão Vermelho seria respeitado.
– Entendo... E o que aconteceu?
– Mao foi assassinado a alguns dias, pouco antes de anteontem, quando você me pegou em Deimos. Aparentemente um cara da mesma organização chamado Vicious não gostou da idéia do Dragão Vermelho fazer negócios honestos...
– Achou que ia perder Woolongs na brincadeira.
– Isso... E você, é de onde?
– Nasci na Terra. Não conheci direito meus pais genéticos, mas quem me criou disse que eles estavam fugindo de bru...
– Bruxos! – disse Luccas, abismado. Ele já ouvira as "lendas das ruas" sobre os bruxos e o que eles eram capazes de fazer.
Andraas parecia meio perturbado, como se tivesse deixado escapar um segredo de Estado. Depois suspirou, como se tivesse cansado:
– Águas passadas...
– Seus pais estavam...
– Meus pais eram bruxos, assim como meus avós. – disse Andraas, percebendo que não iria adiantar esconder. Andraas percebeu que, se Luccas era um trouxa e não parecia ser um gênio, ele também não era nenhum idiota, ou não teria sobrevivido às ruas e à vida como criminoso do sindicato do Dragão Vermelho. Ele ainda sabia somar dois e dois e as "lendas das ruas" diziam MUITO sobre os bruxos, como o próprio Andraas veio a descobrir quando passou a viver com os trouxas – As pessoas que me criram disseram que meu avô era um dos que caçava meu pai, porque ele se casou com uma bruxa nascida trouxa...
– Trouxa?
– É como chamamos aqueles que não são capazes de usar magia... Embora alguns prefiram atualmente usar o termo "mundano".
– Espera um pouco aí! – disse Luccas – Você é um bruxo também?
Andraas abriu o porta luvas e mostrou-lhe um objeto:
– Minha varinha. – disse Andraas. Luccas pode ver um pedaço de pau, aparentemente carvalho, de uns 32 centímetros de comprimento, bem esculpido e detalhado.
Custava para Luccas acreditar que aquele cara forte e durão que falava com ele de maneira tão simples e descontraída, conduzindo um enorme cargueiro espacial, era um bruxo. A imagem que ele fazia de um bruxo era um cara franzino que usava magias esquisitas, balançando uma varinha e repetindo algumas palavras engraçadas para livrar sua cara quando recebia uma Jericho no meio da fuça.
– Meu avô não era um cara legal... Foi morto pouco depois do Incidente do Portal, quando tentou destruir uma nave trouxa em protesto ao Incidente... Muitos bruxos como ele achavam que os trouxas não deviam ficar brincando com essas coisas, mas a verdade é que, no caso dele, achava que os trouxas não deveriam sequer existir.
– E você? – disse Luccas enquanto pegava um chá gelado da mochila e jogava outro para Andraas.
– Estudei em uma escola de bruxos, Hogwarts, durante algum tempo, – disse Andraas, abrindo o chá e se servindo – até ficar maior de idade, quando decidi me lançar no espaço. Com o tempo, meio que me desgarrei: não conseguia um trampo que envolvesse magia. A vida de caminhoneiro do espaço não é mole, mas me dá Woolongs para viver e ocasionalmente me dá contato com bruxos... É o caso agora: uns caras querem construir uma Escola de Magia em Ishtar, em Vênus. Estou levando umas coisas que eles precisam de Deimos.
– Como você descobriu que era bruxo? – disse Luccas, estranhando – Você sabia sobre seus pais serem bruxos?
– Sabia, mas isso não era garantia de eu ser bruxo. Pode acontecer de um bruxo ter filhos completamente trouxas, os Abortos, como chamamos. Bem, fui criado em um Orfanato Bruxo na Terra, isso algum tempo depois do Incidente do Portal: ou seja, meteoros caindo todos os dias. Uma vez, um fragmento de meteoro quase me atingiu, não tive tempo de me abrigar, mas de alguma maneira ele ricocheteou em mim. Descobri depois que era um Feitiço Escudo.
Luccas ficou perturbado. Viu Helen gritar e os mísseis pararem no ar. Depois Richard parou os seus inimigos apenas gritando.
– Então...
– O que?
Luccas contou os casos de Helen e Richard para Andraas:
– Provavelmente são bruxos. Devem ter passado por outras experiências mágicas antes, fazendo coisas estranhas quando nervosos ou assustados. Se for isso, é fácil descobrir: na Terra, em Hogwarts, existe uma pena mágica que escreve o nome de pessoas que nasceram com magia. Não sei se funciona para pessoas nascidas em outros planetas, mas existe uma boa chance dos nomes de seus filhos estarem lá.
– Isso quer dizer que deveria voltar para a Terra?
– Mandá-los para Hogwarts? Não sei... Essa escola nova que estão criando parece interessante. Além disso, seus inimigos provavelmente não o encontrariam em Vênus. Seria menos perigoso ir para Vênus do que tentar ir para a Terra, e não estou falando apenas dos Meteoros.
– Certo.
E assim Luccas decidiu: deixaria os dois na Escola de Magia e caçaria Vicious.
