Fazia apenas 3 dias que Luccas tinha chegado a Ishtar, e de criminoso da Dragão Vermelho passara a zelador da Escola de Artes Mágicas de Ishtar com muita facilidade. As roupas de bruxo ainda lhe eram estranhas, mas as normas que Agatha impusera eram rígidas e indicavam que eles teriam que vestir aquelas roupas enquanto estivessem na Escola. Isso sem falar que, como fugiram rápido demais de Deimos, nem Luccas nem seus filhos tinham muitas roupas de trouxa. Luccas vestia uma capa longa carmesim, uma camisa de algodão e calças de brim, com uma bota de cano alto com fivelas. Adaptara à roupa um coldre para a inseparável Jericho 931 e colocara facas dentro das botas. Recebera um encantamento que lhe permitia ver os fantasmas e tudo o que acontecia na Escola, junto com uma coruja, à qual chamara Aira.

Andraas também estava vestido de bruxo. Suas roupas eram incríveis: sua veste era em couro escuro, com uma camisa em estilo semi-japonês e calças pretas. Podia-se ver a varinha dentro da veste. Seu cabelo estava amarrado em rabo-de-cavalo e ele usava um diadema de metal, aparentemente prata, apenas uma fita metálica sobre a testa. Usava sapatos macios com meias de um tom verde escuro e uma gravata verde e sable.

– Está pronto, Luccas? – disse Andraas, sentando no local do Piloto.

– Meio nervoso.

– Vai dar tudo certo. – disse Andraas, decolando – Parece que você se acostumou rapidamente com as coisas na Escola, e a viver sem tecnologia ou violência.

E não deixava de ser verdade. A vida de Luccas agora era mais simples, envolvendo limpeza e cuidados gerais com a Escola, junto com os elfos domésticos, mas Luccas parecia mais contente. Menos sangue, menos morte, menos violência. Mao Yenrai parecia prever que um dia Luccas pegaria uma vida mais simples dessa e o preparara bem para aceitar uma vida simples e sem a adrenalina, rapidez e sangue da vida de ladrão e de violência.

– Então vamos! – disse Luccas.

Eles subiram no caminhão de Andraas, agora reformulado como algo similar ao Expresso de Hogwarts. Amélie iria com eles, assim como Helen e Richard.

Helen estava uma graça e Richard parecia também muito bem, Luccas pensava: as vestes de bruxo da Escola Dumbledore eram azul-marinho com uma sainha bem-comportada para as garotas e calças de oxford para os garotos. Em ambos os casos usava-se camisa de linho branco e gravata por baixo da capa de bruxo e um chapéu cônico de bruxo com abas e a ponta meio dobrada. Helen parecia bastante à vontade, com os movimentos graciosos de uma pequena fada que herdara da mãe, enquanto Richard tinha um ar sério e inteligente, como o do próprio Luccas quando estava pensando na forma de agir.

Os dois tinham conseguido varinhas com Eloise e Sylvester, que as fizeram especialmente para eles (ambos eram construtores de varinha bastante competentes, embora não fossem os melhores que existiam). A varinha de Helen era bem pequena, cerca de 28 centímetros, cedro como material e crina de centauro de cerne, gentilmente cedida por Licanor, depois que a situação de Helen e Richard foi esclarecida. "Esta é uma varrinha parra uma garrota que queirra se defender e aprrenderr muito.", disse Eloise, enquanto via Helen soltar espontaneamente da varinha pequenas fagulhas. A varinha de Richard tinha 38 centímetros, sendo muito maior que a de Helen, e era feita de mogno, com corda de coração de dragão, de um Rabo-Córneo Húngaro que não resistira às condições de Vênus e morrera. "Uma varinha para um guerreiro indomável.", foi o que disse Sylvester, que conhecia alguma coisa sobre a construção de varinhas, logo após Richard ter espontaneamente estourado um raio direto contra a parede.

Luccas ia armado com sua Jericho 931 e sua Iris 65: era meio que responsável pela segurança dos novos bruxos. Amélie e Andraas iam com suas varinhas e também carregavam armas de fogo: Andraas com uma Jericho 931 e Amélie, na opinião de Luccas, era um pequeno exército de uma mulher só, pois a meio-giganta carregava a metralhadora de assalto Tomahawk 64, duas Jericho 931 e, para pavor de Luccas, tinha dispensado o arco-e-flecha por um lançador de foguetes Hitchhiker 68. Parecia que ela ia para uma guerra nos satélites de Júpiter.

– Amélie, – disse Luccas, quando subiram no cargueiro. – acho que não precisamos de tudo isso.

– Luccas, eu sou a verdadeira responsável pelo cuidado com os novos bruxinhos.

– Acho que Luccas está parcialmente certo, Amélie. – disse Andraas – Você pode até ser responsável pela segurança, mas acho que vai acabar matando os bruxinhos de susto carregando um lançador de foguetes nas costas.

Amélie, meio contrafeita, deixou de lado o lançador de foguete e decidiu também deixar de lado a Tomahawk 64.

– Ali é o espaçoporto de Vênus. – disse Andraas, apontando uma construção ao fim do mar que separava o continente de Ishtar do continente principal.

– É verdade que vêm pais de alunos? – disse Amélie.

– Existem muitos bruxos no espaço, Amélie. – disse Andraas – Fiquei sabendo que alguns caras de comunidades esparsas de Io, Ganimede e Fobos estão vindo para cá fundar um vilarejo bruxo ao lado da Escola Dumbledore, e que Agatha teria concordado em comprar parte da produção dos mesmos.

– Eu não sabia disso. – disseram Amélie e Luccas em unissono.

– Existe muita coisa que vocês não sabem. Mas isso não importa. Vamos cumprir nossa tarefa. – disse Andraas se preparando para aterrizar.


Agatha observou Andraas decolar com o cargueiro adaptado como o Expresso de Dumbledore. Bateu nela um pânico terrível:

– Não vai dar certo! – repetia ela, desesperada – Acho que vai dar tudo errado!

– Vai dar certo sim, Agatha! – disse Julius, com energia. – Pode crer que vai dar certo!

Agatha recuperou-se e sentiu-se meio envergonhada, corando levemente pela vergonha. Sabia, pelo que lhe contaram seus tios-avôs, que sua avó Hermione quando jovem sofria de uma síndrome do pânico terrível quando coisas importantes estavam para acontecer.

– Não se preocupe, Agatha. – disse Sylvester – Está tudo bem! Tudo nos conformes. Os elfos preparando o banquete de abertura. A Seleção para as Casas preparada. Andraas, Luccas e Amélie buscando os alunos.

Agatha respirou aliviada. Tinha que admitir que, mesmo sabendo que isso possivelmente magoara Julius e Eloise, o diretor adjunto tinha que ser Sylvester: ele tinha a compostura e a praticidade necessárias para um vice-diretor, além de saber dar ótimos conselhos.

– Non se prreocupe. – disse Eloise, com o sotaque francês carregado que divertia Agatha. Nunca Agatha entendeu porque ela apreciava falar em francês, e não em inglês, mas Agatha decidiu que Eloise era uma boa amiga, boa demais para ser perdida por uma bobagem como o idioma em que ela falava e como. – Tudo vai dar certa. Lembrre-se que temas cartas de confirmason de várrios pontos do Universa, e que mesma brruxos da Terre virron parra nossa Escola.

– Bruxos da Terra? – disse Julius, estranhando – Mas por que não ir para Hogwarts? Ou para alguma das outras Escolas de Magia da Terra?

– Dizem que as escolas da Terre, à excesson de Ogwarts, eston muito destrruídas por causa dos meteoras que caem do céu, das fragmentos da Lua que caem todas os dias. Ogwarts só está inteirra por causa do escudo de protecson tecnomântica implantada em Ogwarts pela avô de Sylvester.

Sylvester corou levemente: o primeiro grande empreendimento de tecnomância na história da Magia foi feito por seu avô, Neville, e seu pai, Ignatius, ao criarem um escudo tecnomântico de proteção contra os fragmentos da Lua que caiam todos os dias contra Hogwarts. O uso de Feitiços Redutores para proteger Hogwarts estava cansando todos, professores e alunos. Alimentado por energia solar, o Escudo de Proteção era uma combinação de um Feitiço Escudo, um Feitiço Redutor e um campo de energia potencial, que, ao ser atingido, literalmente desintegrava os meteoros em poeira que ia para a Floresta Proibida. Com o tempo, descobriu-se muitas propriedades mágicas interessantes desse "pó de estrela", como era chamada essa poeira.

– Enton, – continuou Eloise – muitas escolas tiverran que fecharr as porrtes esse ano. Segundo meu tia Lia, o Palace de Beauxbatons está fechade este ano parra reconstrucson, sem aceitar novas brruxinhos, o mesmo acontecenda em Durrmstrrang e em outrras escolas. E desta vez eles irron implantar uma Escudo Tecnomântica como a de Ogwarts.

– Então, Hogwarts é, em teoria, a única escola de magia que está aberta para novos alunos na Terra. – disse Julius, com uma expressão sensata.

– Ecsato. E non podemas descartar o fato que muitos brruxos ainda morran na Terre, mesmo tendo muitos brruxos no Universa.

– Bem... – disse Agatha, respirando fundo para não entrar novamente em pânico – parece que nossa missão vai ser ainda mais importante.


Andraas estava vendo os alunos subirem aos poucos no estranho cargueiro ao lado do espaçoporto. Não era tão estiloso quanto o Expresso de Hogwarts, com a passagem para a plataforma 9 e 1/2 de King's Cross (ou o que sobrara dela, já que ela já havia sido muito atingida por fragmentos da Lua), mas era importante.

Amélie montava guarda ao lado do cargueiro, segurando as Jericho em seus coldres. Se uma ação acontecesse, Andraas sabia bem, a coisa seria feia: Amélie tinha sangue de gigante nas veias. Embora alguns gigantes tivessem sido transferidos para comunidades em outros planetas, os gigantes estavam cada vez mais raros, principalmente porque eles se matavam mutuamente sempre que se encontravam. O desejo por violência deles era muito maior do que se podia imaginar, e esse desejo por sangue poderia aparecer de uma hora para a outra em Amélie.

Luccas ia e voltava do espaçoporto trazendo pequenas levas de bruxinhos. Alguns vinham em roupas de trouxas, outros já vestindo as novas vestes da Escola de Ishtar. Todos muito nervosos: era o começo de tudo para eles. Para alguns o começo de uma nova vida. Para outros, o primeiro dia do resto de suas vidas. Para um pequeno grupo, o momento mais esperado de suas vidas.

Luccas carregou o último grupo e parecia apreensivo:

– O que foi, Luccas? – disse Andraas.

– Tive a impressão de ver um cara do Dragão Vermelho...

– O QUE?

– Acho que era Ryuichi Hanayama. Um dos homens de Vicious.

– O cara que matou Mao Yenrai?

– Segundo se diz. Mas acho que ele não me reconheceu, apesar que estou achando que ele ficou com suspeitas. – disse Luccas – Acho que as vestes bruxas o confundiram, por enquanto. Mas não é legal continuarmos marcando touca aqui.

– Certo... Já são 11 horas. Vamos partir!

Andraas puxou o cordão da buzina do cargueiro e preparou a decolagem.


Helen e Richard estavam ansiosos, quando sentiram o tranco suave do cargueiro decolando. Queriam aprender magia bem rápido, desde que viram Agatha levitando objetos, Eloise criando desenhos belos e graciosos com a varinha, Julius comentando das criaturas bizarras que já vira (ou, segundo Agatha, acreditava ter visto) e as coisas que Sylvester contava sobre a magia.

Ocupavam uma das cabines no cargueiro. Chegou um rapaz e uma menina próximo a eles:

– Podemos entrar? O resto do trem está lotado. – disse o rapaz, com um inglês ríspido e gutural.

Ele tinha sombrancelhas grandes e juntas, um nariz adunco e cabelos curtos. Era alto e muito forte. A menina que o acompanhava parecia mais leve e frágil que ele, mas tinha um olhar forte com olhos verdes brilhantes e cabelos castanho-avermelhados. Usava uma bandana por baixo do chapéu de bruxo da Escola.

Helen apontou as cadeiras vagas:

– Eu sou Helen Evergreen, e esse é meu irmão Richard.

– Eu sou Alieksei Krum, e essa é minha amiga, Natasha Ivanova.

– Olá. – disse Natasha, com uma voz perfeita. – Vocês são de onde?

– Nascemos em Deimos, mas moramos agora aqui em Vênus. E vocês?

– Eu sou de Ganimede. – disse Alieksei – E Natasha é de Europa. Nossas famílias sairam da Terra com o Incidente do Portal. Mas meu avô conhecia bem a avó da Fundadora dessa Escola e disse que seria um bom lugar para estudar.

– Entendo.

– Vocês parecem nascidos trouxas. – disse Natasha.

– Sim... Nossos pais eram trouxas, mas meu pai está trabalhando na Escola.

– E sua mãe?

– Morta. – disse Richard.

– Desculpe. Não...

– Tudo bem. Isso não interessa mais. E vocês?

– Eu sou sangue-puro. – disse Natasha – Minha família é cigana, então é difícil um trouxa casar-se com uma bruxa cigana, portanto minha mãe casou-se com um bruxo cigano de uma família amiga da minha família.

– Eu também sou sangue-puro. – disse Alieksei – Mas meu pai é mestiço. Meu avô se casou com uma bruxa nascida trouxa. Isso meio que ajudou quando aconteceu o Incidente do Portal.

– Certo.

Alieksei puxou um laptop de dentro de uma mochila de tira-colo.

– Aliocha! – disse Natasha – Você trouxe isso?

– Claro! – disse Alieksei – Links da WizNet foram autorizados e não quero perder nada. Ainda mais agora que esse ano, pela primeira vez, vai haver um campeonato interplanetário de quadribol.

– Quadri-o-quê? – perguntou Helen. Richard parecia tão embatucado quanto Helen.

– Desculpem, é que o avô de Aliocha foi um grande apanhador de quadribol.

– Continuo sem entender.

– É claro! – disse Aliocha – Vocês não entenderiam mesmo. É esporte de bruxos...

Aliocha começou a falar sobre os jogos, as vassouras, os grandes times, as posições, a posição que gostaria de jogar se pudesse. E mostrava no seu laptop, um computador tecnomântico ligado à WizNet, que por sua vez estava ligado à Internet trouxa, através do domínio '.wiz', várias imagens de partidas. Foi quando apareceu alguém:

– Olá, sangue-ruim! – disse uma voz debochada.

– O que você tá fazendo aqui, Romanov? – disse Alieksei, irritado.

O garoto que aparecera tinha cabelos escuros escorridos e um sorriso presunçoso na cara.

– Falta de opção. Se tivessem aceito, estaria em Durmstrang.

– Creia: você não faria falta.

– Se bem que, pensando bem, até foi bom. Vai ser mais divertido com você por aí... Aliocha! – disse Romanov, debochado.

– Saia... daqui... AGORA!

O grito não fora de Alieksei, mas sim de Natasha. E ela sacara a varinha e havia algo em seu olhar dizendo que ela iria usar a varinha se tivesse uma chance e um motivo. Romanov também reparou nesse olhar e decidiu dar de ombros.

– Um dia vocês vão entender que o espaço deve ser dos bruxos...

Romanov saiu, deixando Natasha e Alieksei bem irritados:

– O que foi? – perguntou Richard.

– Mikhail Romanov. – disse Natasha – Ele morava na Terra, mas já deu trabalho no Universo inteiro. Ele não... Os pais dele. São bruxos das Trevas.

– Bruxos das Trevas?

– Isso mesmo. Ainda seguem as baboseiras ditas por Lord Voldemort.

– Quem foi esse?...

– Lord Voldemort? Talvez o mais perigoso Bruxo das Trevas. Dizem que ele era tão poderoso que era capaz de separar sua alma em vários pedaços, e que isso o impediu de morrer quando tentou matar Harry Potter... E então foi necessário que Harry Potter enfrentasse Voldemort e o derrotasse novamente para que ele desaparecesse de vez.

– Ele era capaz de separar sua alma? – perguntou Helen, assustada.

– Sim... Vou contar tudo o que sei para vocês...

E passaram o resto da viagem conversando sobre isso...