N.A.: Eventos pouco antes de Waltz for Venus

Andraas viu o jovem Romanov ser mandado para Chronos e sentiu um estranho arrepio. Aparentemente Romanov o reconhecera e parecia muito interessado. E seja qual for o interesse dele, Andraas parecia não gostar nem um pouco, Luccas notou:

– O que houve? – perguntou Luccas baixinho para Andraas.

– Não sei porque, mas não consegui gostar desse garoto... – disse Andraas, que reparou que Agatha também, apesar de ser a Diretora da Casa Chronos para a qual Romanov havia sido mandado, e ter aplaudido quando o mesmo foi selecionado, parecia estar pouco à vontade com a Seleção.

– Eu também não gostei muito dele. – disse Luccas – E reparei que Amélie também não gostou.

Luccas observava a meio-giganta. Se havia uma vez em que Amélie tinha ficado mais tensa e brava do que estava agora, Luccas nunca tinha visto: os olhos de Amélie acompanhavam Romanov o fuzilando, e havia em seu rosto uma expressão de tal ódio que parecia que Amélie iria avançar no garoto naquele momento. Mesmo as belas roupas que vestia não escondiam um quê do sangue gigante que parecia querer explodir em fúria violenta.

Sylvester também parecia perturbado, e Luccas se perguntava porquê:

– Espero que Amélie mantenha a calma e a compostura.

– O que aconteceu? – disse Andraas, que ficou muito tempo afastado da atividade bruxa. – Por que Amélie parece tão nervosa?

– Malfoy, durante o tempo em que você viveu com os trouxas, muitas coisas aconteceram no nosso mundo.

– Imaginei... Apareceram muitos bruxos das Trevas no Big Shot. Eu mesmo peguei alguns, para fazer grana quando estava apertado... – disse Andraas, fazendo referência ao famoso programa onde criminosos procurados eram anunciados em um tom de programa de domingo pelos apresentadores Judy e Punch.

– Então... – continuou Sylvester – Lembra-se de Hagrid e sua família?

– O antigo guarda-caça e professor de Trato de Criaturas Mágicas de Hogwarts? Ele se aposentou quando entramos na Escola, se lembro bem. O pessoal da Sonserina adorava tirar uma com ele. – disse Andraas.

– Você entre eles... – disse Sylvester sem se conter, e depois, ao ver a cara feia que Andraas fez, disse – Desculpe, Andraas. Enfim, depois que Rúbeo se aposentou, o filho dele e pai da Amélie... Acho que você lembra dele, estudava na Lufa-Lufa...

– Josiah? – disse Andraas – Aquele que era um baita batedor e depois acabou sendo o primeiro meio-alguma-coisa a jogar na Liga de Quadribol? Jogava pelo Cruzadores de São Paulo, no Brasil, e depois passou a bater para os Wigtown Wanderers? Ele era realmente bom em bater um balaço.

– Ele mesmo. Bem, ele acabou sendo assassinado depois de algum tempo... Se me lembro bem, isso foi depois que você começou a trabalhar com os trouxas em Ganimede.

– Como?

– Parece que conseguiram azarar um balaço durante uma partida contra os San Antonio Hobbits, que acabou se concentrando em Josiah, esquecendo os outros jogadores, e antes que pudessem fazer qualquer coisa, Josiah despencou para a morte. Antes haviam matado o Hagrid e a mulher dele, Maxime.

– Mas o que isso tem a ver?

– Parece que os assassinos eram os pais desse moleque. – disse Sylvester, quando a Seleção acabou com Zacharias Zabini sendo mandado para Chronos.


Quando Zabini se sentou à mesa de Chronos, Agatha se levantou e, depois de ajustar os óculos com o dedo, disse.

– Bem-vindos, alunos da primeiríssima turma da Escola de Artes Mágicas Alvo Dumbledore, de Ishtar. Antes de começarmos nosso Banquete de Recepção, gostaria de apresentar o corpo docente e funcionários de nossa escola.

– Primeiramente, Sylvester Longbottom, Diretor da Casa de Orion, – os alunos dessa casa bateram palmas quando Sylvester se levantou e fez um meneio respeitoso com a cabeça em gratidão – Diretor Adjunto dessa Escola e professor de Feitiços e Tecnomância.

– Eloise Delacour, Diretora da Casa de Andromeda, – foi a vez dos alunos de Andromeda se levantarem para bater palmas para a diretora de sua Casa, que agradeceu os aplausos com uma reverência clássica, segurando a saia do vestido azul decotado que usava – nossa professora de Adivinhação e Herbologia.

– Julius Potter, Diretor da Casa de Prometheus, – Richard, Helen, Aliocha e Natasha se levantaram e bateram palmas para o Diretor de Prometheus, que usava uma espécie de cruza de sobretudo com jaqueta e apresentava um ar de birutice total e irrestrita – nosso professor de Transfiguração e Vôo em Vassouras.

– Andraas Malfoy, – disse Agatha, quando Andraas levantou-se e foi apresentado aos alunos, que aplaudiram educadamente – nosso professor de Poções e Defesa Contra as Artes das Trevas.

– Amélie Maxime, – e foi a vez de Amélie, em sua beleza e porte de gigante se levantar de uma maneira surpreendentemente graciosa para o seu porte e se ser aplaudida educadamente – nossa guarda-caça e professora de Trato das Criaturas Mágicas, assim que essa turma alcaçar o nível para tal.

– Henri Pince, – disse Agatha, apontando o cara que Luccas não conhecia, e que se levantou e fez um cumprimento de cabeça aos aplausos dos alunos e companheiros de Escola. Ele parecia ter uma cara de urubu, usando um pince-nez extremamente antiquado e vestido em vestes azul-marinhas que pareciam propositalmente feitas para serem desagradáveis – nosso biblotecário.

– Dorothy Ponfrey, – apontou a Diretora da Escola de Magia, mostrando uma moça, talvez não mais do que os 29 anos de Luccas, mas levemente envelhecida, de bochechas rosadas, usando um toucado sobre os cabelos fartos e castanhos lisos, cobrindo-os totalmente, sua veste grená encimada por um avental branco com um osso e uma varinha nele, a varinha guardada no bolso do avental – nossa medibruxa e Enfermeira mandada pelo Conselho Interplanetário de Magia para cuidados médicos gerais.

– E eu, Agatha Weasley, Diretora da Casa de Chronos, – os alunos de Chronos, inclusive Romanov, se levantaram e aplaudiram Agatha – professora de História da Magia e Estudo dos Trouxas e primeira diretora da Escola de Magia "Alvo Dumbledore", de Ishtar.

– Além de nós, temos como funcionário Luccas Evergreen, – Luccas se ergueu e seus filhos e os amigos dele aplaudiram profusamente Luccas, os demais alunos apenas sendo educados, aplaudindo quando Luccas fez uma saudação para eles – nosso Zelador. Agora, antes de qualquer coisa, queria deixar claro que o Senhor Evergreen é trouxa, e que por motivos diversos, que não são importantes e nem tampouco relevantes, gentilmente aceitou o convite de ser o zelador da Escola de Artes Mágicas "Alvo Dumbledore". Mas se eu ficar sabendo que qualquer um de vocês, qualquer um mesmo, – disse Agatha, olhando nos olhos de todos os alunos possíveis – quis comprar encrenca com ele ou ofereceu-lhe motivo para desagradar-lhe, nem eu nem nenhum dos demais professores ou funconários irão os ajudar. Ele está autorizado a tomar qualquer atitude e dar qualquer detenção e tirar pontos das Casas como qualquer outro funcionário. Portanto peço encarecidamente que o respeitem e o tratem bem como a qualquer outro de nós, professores e funcionários, não dando-lhe motivos para o desagradar.

– Bem, queria dizer apenas mais uma coisa antes do banquete começar: Bom Apetite!

Todos aplaudiram e a comida começou a aparecer na frente deles. Rapidamente Helen e Richard começaram a comer tudo o que podiam: havia todo o tipo de prato, até mesmo o saboroso sushi do rato-do-mar de Ganimede, um peixe parecido com uma foca de carne razoavelmente saborosa quando bem feita:

– Mas por que pediram que não provocássemos o zelador? – disse Aliocha. – Quero dizer, o que alguém ganharia provocando ele?

– Acho que é para que não atormentem meu pai... – disse Helen.

– Ele é pai de vocês? – disse Natasha – E como...

– História complicada... Nós já vamos contar...

E eles contaram toda história de como haviam chegado a Ishtar, antes de Agatha mandar todos para a cama.


Nave Bebop... A TV ligada no Big Shot:

– AMIGOS! E continuamos com o Big Shot, o programa para todos os cowboys do Espaço! E agora, nosso Especial do Dia! – dizia Punch, um dos apresentadores.

– UAU! – disse Judy, a loira peituda sua companheira – E o que será que temos para hoje?

– Essa mina é um saco! – disse Faye Valentine, morrendo de tédio e de inveja, falando, claro, da deliciosamente peituda Judy. Seus cabelos negros espalhados, enquanto seus seios fartos apareciam pelo decote de suas roupas, seus pés dentro de botas de cano alto e confortável.

– Cale-se, Faye. – disse Jet Black, seu braço biônico atrás da cabeça quase totalmente careca e seu braço orgânico com o controle remoto da TV, estirando a bota por cima da mesa, enquanto aconchegava o cão Coghi Ein, com quem criara afeição. – Temos que pegar algum criminoso para comprarmos comida... A despensa está quase vazia... Vamos ver se conseguimos uma boa caçada agora...

Jet observava o cara que estava estirado no sofá, os cabelos black-power ocultando o rosto, sua camisa amarela coberta por um terno azul, como sua calça, sapatos pretos nos pés displicentementes colocados sobre o sofá. Spike era de certa forma um bom amigo, mas se tinha uma coisa que ele achava um saco era o completo desinteresse de Spike pela vida em certos momentos. Era largadão, comilão e dorminhoco, exceto quando precisava pegar alguma pessoa para conseguir Woolongs para sustentar-se. E, depois de planejarem como pegariam Dewey, Huey e Louey, terroristas espaciais, ele se atirara no sofá e parecia cochilar.

– Nosso Especial do Dia é Luccas Evergreen! – disse Punch. Quase que instantaneamente Spike reagiu, com uma cara de incrédulo, segurando a TV nas mãos, como se achasse que fosse defeito de sintonia.

– Nem a pau! – disse Spike – Por que Luccas?

– O que foi, Spike? – perguntou Jet, assustado com a reação rápida e incrédula de Spike.

– Conhece esse cara? – disse Faye. – Bem, seja como for ele vale uma boa grana, pelo jeito.

– É Faye, acho que você está certa. E ele não parece ser tudo isso...

– Nada feito, Faye! E isso vale para você também, Jet! – disse Spike, veementemente.

– O que é que você tem, Spike? – disse Jet.

– ... procurado por assassinato e roubo, sua captura vale 100 mil Woolongs. – disse Punch, ignorando (obviamente) a briga na Bebop.

– Nossa, Punch, esse cara parece ser muito durão mesmo! – disse Judy, com seus comentários típicos e "inteligentes" – E até que parece ser bem jeitosinho...

Spike não conseguia acreditar que via Luccas pelo Big Shot. Reconhecia aquele rosto escuro, aqueles braços escuros e fortes e os cabelos com dreadlocks, aquele boné do Chicago Bulls e tudo o mais...

– Spike, o que você sabe sobre ele? Fala logo de uma vez, Spike! – perguntou Jet.

– Esquece... – disse Spike, tentando desconversar.

– Spike, abre o jogo! – disse Jet, irritado com a cabeça dura de Spike. – Você conhece esse sujeito? Diga de uma vez, Spike!

– Só se você abrir o jogo sobre como conseguiu esse braço biônico. – disse Spike, escolhendo muito bem as palavras.

– Isso é jogo sujo, Spike! – disse Jet, que detestava referências ao seu braço e ao fato de como ele conseguira-o.

– OK... Jet, digamos que conheci esse cara. E seja o que for que o Big Shot tenha dito, eu não acredito que ele seja um assassino. Talvez um ladrão, mas se for o mesmo Luccas que conheci, ele não mataria nem uma mosca. Ele ladrava alto, mas não mordia.

– Ele tem a ver com aquele tal de Vicious, Spike? – disse Faye.

Spike sabia que Faye sabia sobre Vicious. Era uma intrometida de marca maior, aquela garota, e muito bocuda, mas Spike decidiu que era uma boa idéia dar um pouco de informação para ela pensar e, com isso, tirá-la do seu pé.

– Sim... Tem a ver com Vicious. E comigo. Mas é só o que vão conseguir arrancar de mim. – disse Spike, se espreguiçando como se a conversa fosse apenas tediosa.

– Spike, aonde está indo? – disse Jet, bravo.

– Ué, não vamos capturar aqueles tais Dewey, Louey e Huey? Então... – disse Spike, com aquele sorriso esquisito e maroto que Jet amava odiar – Faye, te encontro na nave que iremos tomar.

– Spike! SPIKE! – disse Jet, enquanto via Spike sair da sala da Bebop. Quando Spike fechou a porta por trás de si, com um aceno, Jet suspirou, deu de ombros e disse, saindo da sala em direção à cozinha da Bebop – Definitivamente não consigo entender esse cara. Faye, se apronte para ir. Vou fazer algo para você comer...

Spike saiu. Foi para a Swordfish II. Enquanto decolava, ficou pensando: Mao Yenrai morto, Vicious com poder no Dragão Vermelho, Luccas com a cabeça a prêmio no Big Shot... Com certeza tinha algo acontecendo... Algo grande. Lembrava do confronto com Vicious em Marte. De como sobrevivera por pouco ao combate com Vicious na Igreja. De como Anastasia estava deprimida sobre o assassinato de Mao Yenrai, de ela lhe dizer para não ir atrás de Vicious. De ela não ter lhe falado nada sobre Luccas. Por que?

Depois de razoavelmente longe da Bebop, Spike ligou para Anastasia:

– Spike! – disse Annie no fone – Pensei que dessa vez Vicious tinha realmente te matado. Fiquei sabendo do que aconteceu...

– Não esquenta... Vicious não é capaz de me matar.

– Continua egocêntrico como sempre, Spike. Isso sempre foi maior seu defeito... Acho que talvez por isso Mao achasse que você iria morrer de algum modo violento por causa dessa sua cabeçona cheia de ar, diferentemente de Luccas... – disse Annie, então ela percebeu, pelo fone, a cara feia que Spike fez para ela à menção do nome de Luccas. – O que foi?

– Annie, por que você não me falou de Luccas? – perguntou Spike, a voz sombria e o rosto mortiço.

Um momento de silêncio tenso ficou marcante, e então Anastasia disse:

– Spike, achei que ele estivesse morto. Descobri que Vicious espalhou gente por todo o Universo para matar todos os que ele dizia serem "seguidores de Mao". E eu mesma pensei que ele tava morto. Mas agora eu sei que ele não está. Eu sei, acabei de ver o Big Shot também. Mas creia, ele nunca matou ninguém. Nunca! E você sabe disso.

– Sei... – disse Spike, enquanto pensava no que estava acontecendo. Decidiu então ver até aonde Annie estava sendo sincera – Você sabe que Mao o treinou para ser furtivo. Você sabe que Luccas conhecia todo o tipo de narcóticos e técnicas de furtividade que poderia o ajudar a neutralizar resistência sem a matar. Sabe que Luccas daria um jeito de desaparecer aonde quer que estivesse. Que Luccas é um mestre em Do-In e Aiki-Do, o que o ajudava a nocautear seus inimigos sem os matar. Além disso, diferentemente de mim, Luccas era o homem das missões furtivas. Mao deve ter lhe contado isso.

– Sei muito bem disso.

– E como ele não morreu? Aonde ele está? Sabe de algo que eu não saiba?

– Quer o capturar, é isso, Spike? Já não basta o que aconteceu a três anos, de como você deixou Mao chateado, ainda por cima quer entregar um dos pupilos de Mao para a ISSP como um cão sem dono? Ou você acha que Vicious não sabe disso? Quem garante que não foi Vicious que colocou a cabeça desse cara a prêmio?

– Não é nada isso! Não é nada isso e você sabe bem que não é, Anast...

– Eu já lhe disse, Spike: apenas duas pessoas podem me chamar assim! E você não está entre elas!

Spike percebeu que na briga e na tensão de ver o nome de mais um amigo da Dragão Vermelho anunciado no Big Shot, quase passara uma barreira que Annie não admitia que fosse trespassada...

– OK... Annie, você faz alguma idéia de onde ele esteja?

– Sinceramente... Achava que ele estava no outro mundo. Pelo que fiquei sabendo, ele estava agindo para o Dragão Vermelho em Deimos, mas acho que no mesmo dia em que mataram Mao ele teve que fugir. A mulher dele, Hannah, foi encontrada morta.

– Eu simplesmente...

– Spike, você deve agora saber o tipo de pessoas que Vicious é!

Spike ficou em silêncio e disse:

– OK, Annie. Obrigado pela ajuda...

E desligou.

Spike sabia que nada poderia fazer para ajudar Luccas. E desejou-lhe, do fundo do coração, boa sorte.

Mal sabia Spike que ele poderia encontrar facilmente Luccas, se quisesse.