N.A.: Eventos paralelos a Waltz for Venus

De manhã, Richard e Helen observaram a bela torre de mármore branco da Chronos, antes de descerem para o café da manhã, junto com Natasha e Aliocha. Encontraram seu pai varrendo parte das escadarias e espanando os quadros, vestido com um jaleco azul escuro, calças jeans surradas e camisa de algodão branca, e uma boína à francesa azul escura e o cumprimentaram. Duas vezes, os quatro, Helen, Richard, Aliocha e Natasha, se perderam com as escadarias que se mexiam, enquanto desciam junto com Luccas.

Foi quando chegaram ao Salão Principal da Escola de Ishtar, cujas mesas estavam cheias de pratos para o café da manhã: ovos com bacon, tiras de rato-de-ganimede frito, mingau de aveia, torradas e outras coisas mais. Enquanto Richard e Helen iam até a mesa de Prometheus, Luccas seguia para a Mesa dos Funcionários.

Ao sentarem-se, encontraram também Violette Delacour, a sobrinha da Diretora da Casa de Andromeda, Eloise, e Luighi Andreotti.

– E então, quando vamos começar? – disse Helen, aparentemente doida para começar a usar magia.

– Paciência. – disse Aliocha – Vocês precisarão aprender muito antes de começar a usar magia para valer.

– Bem, vamos começar logo então.

Julius passou entregando a todos os seus horários. Ao ver de perto o seu Diretor de Casa, todos tiveram uma impressão de birutice completa que ele provocava, principalmente porque ele usava uma munhequeira com fivelas muito estranha no braço direito, e essa munhequeira estava armada com relógios de todos os tipos, cada um acertado em um horário.

– Bem, vamos ver. – disse Aliocha – Durante a manhã vai ser História da Magia e Estudo dos Trouxas com a professora Weasley, e vamos estudar essas matérias com os alunos da Chronos. Depois almoço, Feitiços com os de Andrômeda e Herbologia com o pessoal da Orion.

– Entendi. – disse Richard. – Então vamos terminar o café e ir para a aula.


Luccas estava comendo algumas porções de tiras de rato-de-ganimede fritas em molho de soja quando Agatha o procurou:

– Luccas, gostaria que me ajudasse na aula hoje...

– Como, se não sei nada sobre magia?

– Não... Na segunda aula minha com o pessoal, a de Estudo dos Trouxas. Além disso, depois vou falar com Julius e quero que você aprenda a voar em vassouras. Você irá ter aulas com junto com os demais alunos.

– Ahn... Mas...

– Acho que poderá ser útil. – disse Agatha, em um tom levemente mandão. Luccas percebeu que era melhor não discutir. Afinal de contas, uma das coisas que sempre aprendeu na Dragão Vermelho foi obediência aos superiores, e Agatha era a sua Chefa agora. – Me encontre na sala de aula durante o intervalo que vou lhe dar maiores detalhes.

Agatha voltou para seu prato de ovos com bacon, quando Andraas chegou ao seu lado:

– E então? Como tá?

– Ainda meio confuso. – disse Luccas – Mesmo com o encantamento e com o uso de Aira para me ajudar, ainda estou me sentindo meio perdido...

– Pode crer que logo você se acostuma.

Andraas puxou um prato e começou a se servir de sanduíches de bacon:

– O que foi?

– Agatha disse que quer que eu apareça na aula de Estudo dos Trouxas. E disse que quer que eu aprenda a voar de vassouras.

Andraas deu um sorriso descontraído.

– Não esquenta. Acho que ela quer que você fique o mais "bruxo" possível, sabe, para ninguém te perturbar por você ser trouxa.

– Certo... – disse Luccas comendo as tiras de rato-do-mar.

– Isso é gostoso? – perguntou Andraas.

– Não tanto quanto aparenta... Mas é meio que uma relíquia do meu passado. Bem, parece que os elfos domésticos sabem fazer isso ficar bem gostoso.

– Parece que está gostando de trabalhar com os elfos domésticos... – disse Henri, sarcástico.

– Algo contra?

– Bem, não sei porque Agatha o contratou, – disse, e seguiu baixinho – mas não precisamos de gente da sua laia, que destruiu a Terra...

Luccas estava com a Jericho na cintura. Ela não estava carregada, mas quase pensava em dar um susto naquele metido, quando Andraas se aproximou, sentindo o perigo.

– Luccas, pode me ajudar na minha sala, por favor? – disse Andraas, percebendo a agitação. Depois virou-se para o bibliotecário – Henri, cuida da sua vida!

Sylvester e Agatha viam as atitudes de Andraas e Henri. Agatha se aproximou deles. Por algum motivo, Andraas ficou meio receoso.

– Luccas, lembre-se que eu preciso de você na minha aula de Estudo dos Trouxas, OK? Pode ajudar Malfoy. Não se preocupe, Andraas... Acho que você pode liberar ele para mim depois disso, não? – disse Agatha – Acho que você quer aproveitar e organizar sua sala de aula antes da Aula de Poções com o pessoal da Chronos à tarde. – completou Agatha, dando um sorrisinho para Andraas, que entendeu que estava tudo certo.

Luccas e Andraas se retiraram. Agatha então disse baixinho para Henri:

– Henri, queria deixar claro que o que eu disse antes quanto a Luccas também vale aos demais funcionários. Ele pode ser o que for, mas é tão funcionário dessa Escola quanto o senhor e deve receber o mesmo respeito de todos, inclusive dos colegas de serviço. Fui clara? – disse Agatha, com um tom baixo e venenoso.

– Sim, Madame Weasley. – disse Henri, temeroso.

– Ótimo. Se estamos entendidos, vou voltar a tomar o meu café da manhã e acho que o senhor deveria tomar o seu. De qualquer forma, acho que vai apreciar o chá preto. – disse Agatha, voltando para a mesa e servindo-se de uma grande xícara de chá preto.


Depois de tomar o seu café, Helen, Richard, Aliocha e Natasha subiram para pegar seus livros. Aliocha havia reclamado com Richard e Luighi de não poder utilizar os computadores para gravar as aulas e que só poderiam usar os links WizNet no Salão Comunal: Natasha contara depois que Aliocha sempre gostara de tecnologia trouxa, e que ele queria estudar Tecnomancia. Violette se aproximou deles e eles desceram da Torre de Prometheus. Chegando na escadaria, encontraram os alunos de Chronos: Romanov parecia já ter formado uma turminha, o que não parecia nem um pouco legal.

Descendo as escadas, encontraram a sala da "Professora Agatha Weasley – História da Magia/Estudo dos Trouxas". Todos se sentaram, sendo que Aliocha e Natasha estavam abrindo filas, com Helen e Richard atrás, e Luighi e Violette em seguida.

A professora Weasley entrou logo em seguida. Antes de começar a aula, escreveu na lousa: "Estatuto de Sigilo da Magia".

– Bom dia. Antes de entrar no estudo da História da Magia, queria começar discutindo um assunto que irá se encaixar em nossa próxima aula, a de Estudo dos Trouxas. Alguém se lembra que Estatuto é aquele que eu mencionei no quadro? – disse Agatha, sentando-se descontraída na quina da mesa de mogno, apontando o quadro com uma varinha. Vestia vestes verdes amplas, uma camisa amarela encimada por um colete de couro de dragão, calças amarelas e sapatos macios.

Um garoto da Chronos sentado ao lado de Aliocha ergueu a mão, baixo e moreno de cabelos bem curtos, mas foi um comentário bem audível no fundo da sala que chamou a atenção de Agatha:

– Talvez a lei mais inútil criada na história da bruxaria.

Agatha observou quem teceu o comentário infeliz com uma cara brava e, por algum motivo, não se surpreendeu de ver que fora Mikhail Romanov. E ao invés de o repreender, apenas sorriu debochadamente na direção dele e perguntou:

– Então, senhor Romanov, você afirma que uma lei que garantiu a sobrevivência da magia durante quase 500 anos é algo inútil. E poderia dividir conosco o motivo dessa sua opinião tão intrigante, sendo que mesmo Bathilda e Rolanda Bagshot, as autoras de nosso livro-texto, concluiram que foi uma lei importante em seu tempo?

Romanov pareceu um pouco preocupado:

– Ahn... Bem... – pensou, e voltou-se, falando com certa arrogância – Bem, professora, é que podemos alterar magicamente as memórias dos trouxas, ou até mesmo lhe causar sérios ferimentos, sem a menor chance dos trouxas revidarem, não? Quero dizer, não dá para levar os trouxas a sério, dá?

Agatha sorriu, mas não de contentamento:

– Talvez, senhor Romanov, você estivesse certo se esta aula estivesse sendo em Hogwarts, e se estivéssemos no século XVII ou XVIII. Porém, estamos no século XXI, em Ishtar, Vênus. As coisas mudaram muito. Os trouxas criaram armas incríveis, tanto no seu funcionamento quanto na sua capacidade de dano. Algumas armas poderiam lhe causar danos terríveis, que o fariam implorar pela Avada Kedavra. Tenho de lhe lembrar que os trouxas viajaram para o espaço quase um século antes do primeiro bruxo sair da Terra. Eles comunicavam-se com velocidade estonteantes quando ainda usávamos nossas corujas. Tinham técnicas maravilhosas para curas de doenças consideradas fatais entre os bruxos. Criaram coisas fantásticas e realizaram grandes feitos, para o bem ou para o mal. Será que fui clara?

Romanov apenas meneou a cabeça, em respeito:

– E vou retirar 2 pontos da Chronos por comentário desproposital e desrespeito ao colega de sua própria casa que iria responder... Senhor?...

– Barreto, professora Weasley. O Estatuto de Sigilo da Magia, criado em 1692 e revogado em 2035, determinava que qualquer tipo de atividade mágica diante de trouxas deveria ser proibida, exceto em casos extremos de necessidade.

– Muito bem, senhor Barreto. Cinco pontos para Chronos. Agora, como o senhor Barreto disse anteriormente, esse Estatuto foi revogado em 2035, portanto há apenas 36 anos. Qual foi o motivo para isso?

– Foi o fato de o Incidente do Portal – começou Alieksei Krum, depois de ser apontado pela professora Weasley – ter começado a causar efeitos estranhos nas regiões anti-trouxas, imapeáveis e anti-aparatação.

– Muito bem, senhor Krum. São cinco pontos para Prometheus. Mas acho que faltou um pouco da resposta. Outro motivo importante foi a criação da primeira nave Spelljammer capaz de atravessar o Portal trouxa, Galilei, embora sua resposta tenha demonstrado o motivo principal. O que o senhor Krum disse é verdade. Por que?

– Porque, professora, os trouxas começaram a perceber os fragmentos de lua caindo em locais aonde, ao menos em teoria, nada deveria existir e começaram a investigar, até que, em 2030, foi causada uma violação do Estatuto tão patente que denunciou completamente a existência da Magia para os trouxas, que foi o encontro e revelação da existência da Ilha de Drear e dos quintúpedes, após um meteoro atingir violentamente a região. – disse Barreto.

– Exato. E esse evento também motivou muitas outras coisas, pois os quintupedes foram extintos com o choque do meteoro. São mais cinco pontos para a Chronos. Foi um grande erro da comunidade bruxa acreditar que, porque os trouxas não eram capazes de ver os locais anti-trouxa e imapeáveis, eles deixavam de ser sólidos. Uma tolice imensa, que poderíamos creditar a séculos de isolamento de nossos antepassados da comunidade trouxa, ou mundana, como alguns dos nossos preferem chamar atualmente, somada à falta de tentativa de atravessar-se esses locais por pessoas mundanas ou casos de eventos naturais trespassando esses locais. Importante notar que, devido ao Incidente do Portal e ao grande número de incidentes criminosos trouxas, esse evento passou razoavelmente incólume, sem as esperadas perseguições contra os bruxos. Mas ele não deixou de ter conseqüências. A primeira foi de que muitos bruxos, principalmente aqueles já mais habituados com as coisas dos trouxas, começaram a deixar a Terra, embarcando em naves trouxas, antes mesmo da construção da Galilei. A segunda, e mais impactante, foi o começo de ações conjuntas entre os trouxas da força policial do sistema solar, a ISSP, e os Aurores dos diversos Ministérios e Presidências da Magia.

– Com tudo isso, e a captura de muitos bruxos das trevas, principalmente ex-seguidores de Voldemort e pessoas que se uniram a eles, pela ISSP, Aurores e por Caçadores de Recompensas, conhecidos entre os trouxas como cowboys, o fato de que a magia existia começou a tornar-se mais patente entre os trouxas, ainda que a maioria dos trouxas não conheça pessoalmente um bruxo, ou Magista, como alguns trouxas gostam de chamar. Foi quando, em uma reunião polêmica e histórica em 2035, – disse Agatha, enquanto dirigia-se ao quadro negro e o apagava – a antiga Confedereção Internacional dos Bruxos, reunidos com alguns representantes das comunidades bruxas já estabelecidas fora da Terra, principalmente em Marte, Ganimede, Europa e Urano, tomaram algumas atitudes. Uma delas foi a mudança de nome da organização e sua associação ao governo conjunto do Sistema Solar proposto pelos trouxas, sob o nome de Conselho Interplanetário de Magia. A mais polêmica, porém, foi a revogação do Estatuto Internacional do Sigilo da Magia, que foi substituído pelas – enquanto dizia, Agatha escrevia no quadro – Diretrizes Interplanetárias para o Uso Adequado de Magia e para a Relação entre Bruxos e Trouxas.

– Muito bem, alguém pode resumir como funcionam basicamente essas Diretrizes?

– Eu, professora. – disse um garoto miúdo, de cabelos baços.

– Pois não, senhor?...

– Creevey, Richard Creevey. – disse o garoto, que era da Casa Prometheus de Helen e Richard. – Professora, as Diretrizes dizem claramente que a magia não deve ser usada para fins criminosos, que bruxos devem respeitar as autoridades e leis trouxas, mas que os bruxos têm total direito de caminhar abertamente com suas varinhas, vassouras e animais fantásticos. Além disso, diz que a magia pode ser usada para defender-se e capturar-se criminosos trouxas sem nenhum problema. Também autoriza o uso de tecnomância, a arte mágica de encantar-se coisas dos trouxas e também desobrigou o uso de Feitiços Desilusórios e Feitiços de Memória para impedir que trouxas vissem os locais e criaturas mágicas.

– E por que motivo?

– Bem, – disse Richard, erguendo a mão – acho que, em primeiro lugar, porque os trouxas tinham formas de se defender da magia, caso preciso, e em segundo lugar, porque os trouxas não pareciam se incomodar mais com gente "estranha", enquanto respeitasse a lei.

– Muito bem, senhor...

– Evergreen, Richard Evergreen...

– O filho do trouxa zelador! – disse em um sussurro muito audível Mikhail Romanov.

– São 5 pontos para a Prometheus. – disse Agatha, sorridente, para Richard – E, senhor Romanov, você acaba de perder 5 pontos para a Chronos...

– Mas, professora, o que eu disse? – disse Mikhail, despeitado.

– Ofensa gratuita a um aluno da Escola. E se você não permanecer calado, será detenção para o senhor, senhor Romanov. Estou muito desapontada com o senhor. – disse Agatha, em um tom sério – Pensei que tivesse algum respeito pelo esforço de seus companheiros de Chronos e pelos demais alunos dessa Escola.

Mikhail ficou vermelho de raiva. Seu amigos de Casa o miravam com cara de "faz burrice agora, retardado!"

– Bem, com o tempo, entenderemos muito mais do que sabemos agora, e vamos entender que, em seu tempo, o Estatuto do Sigilo da Magia era realmente importante, mas que agora ele não faria mais sentido. E que foi sábio a revogação do Estatuto, quando isso aconteceu.

A sirene tocou:

– Bem, podem sair para o intervalo e descansarem um pouco. Logo voltaremos para a nossa aula de Estudo dos Trouxas.


Andraas recolheu os últimos frascos de ingredientes de poções para dentro do armário.

– OK... Isso parece tudo. E você, Luccas?

Luccas apontou para a estante onde uma coleção sortida de livros de poções estava exposta:

– Está tudo aí. – disse ele, quando a sirene tocou o intervalo.

– Luccas... – disse Andraas, antes de ele sair. – Eu sei que o que o Henri disse não foi muito legal, mas esquece isso... São águas passadas. Provavelmente Henri tenha uma mentalidade como a...

Andraas engasgou:

– De seu avô?

– Exato. Esquece aquilo. Agatha e os demais o tratam bem... Deixa as coisas acontecerem.

– Certo. Bem, deixa eu ir que a Agatha precisa de minha ajuda.