– Senhorita Weasley...
– Por favor, Luccas, me chame apenas de Agatha.
– Pois não? A senhorita disse que precisava da minha ajuda.
– Sente-se. – disse ela, apontando para uma cadeira vazia que ela trouxe com a varinha.
Luccas sentou-se:
– Queria antes de mais nada dizer que eu não aprovo aquela atitude do Sr. Henri Pince.
– Tudo bem, Agatha. Andraas comentou comigo que esse Pince parece meio cabeçudo mesmo.
– Queria que você me ajudasse a dar a aula de Estudo dos Trouxas.
– Como se eu fosse algum tipo de rato de laboratório?
Agatha ficou chocada com o tipo de resposta de Luccas, ríspida e direta, mas Agatha tinha uma coisa muito especial: sem que ninguém, exceto seus amigos Sylvester, Julius e Eloise soubessem, Agatha era uma Legilimens gabaritada. E foi possível sondar com isso a mente de Luccas e ela percebeu uma mente cansada pela dor de tragédias sucessivas.
– Desculpe a falta de tato. – disse Agatha.
– Não esquenta. Estou acostumado com servir de cobaia.
– Não... Não quero que seja uma cobaia! – disse Agatha – Sei de seus "talentos", como foragido e ex-ladrão do Dragão Vermelho. E acho que serão proveitosos em minha aula de hoje. – disse Agatha, enquanto carregava com a varinha um saco de sparring para um gancho no teto da sala.
– Preciso saber se o senhor está com sua Jericho aí. – disse Agatha.
– Estou. Mas está descarregada.
– Tem munição? De verdade? Quero dizer, munição letal...
– Tenho... O que você pretende?
– Durante a aula vai descobrir. – disse Agatha – Mas não se preocupe. Não terá de matar ou ferir ninguém. – ela completou, quando passou a explicar o que queria fazer naquela aula.
Aliocha, Violette, Natasha, Luighi, Helen e Richard comentavam a aula de História da Magia, enquanto beliscavam umas torradas com geléia que sobraram do café:
– Gostei dela. É uma boa professora. – disse Aliocha.
– Eu non gostei daquela metido do Romanov. – disse Violette.
– Ele é um panaca. – disse Natasha – Descobri quem são os carinhas que estão com ele. Um é o Oliver Nott, é o baixinho mirrado. Dizem as más-linguas que o avô dele era um dos mais dedicados homens de Voldemort.
– Aquele bruxo malvado? – disse Helen.
– Esse mesmo.
– O outro você não precisa me dizer quem é... – disse Luighi – Conheço o figura. Veio de Netuno comigo.
– Você é de Netuno?
– Sou do Espaço, por assim dizer. – disse Luighi – Meu avô era nascido trouxa e depois de se formar em Hogwarts, mais ou menos na época da Queda Final de Voldemort, voltou a tocar o circo dos meus antepassados. Quando houve o Incidente do Portal, meu avô decidiu levar o circo para o Espaço. Meu pai estudou em Hogwarts na Lufa-Lufa, como meu avô. Estávamos em Netuno, quando ele recebeu pela WizNet a "coruja" da Escola. Compramos minhas coisas no Beco Diagonal de Ganimede e de lá, enquanto meu pai ia para Europa para uma turnê, eu voltei para Netuno para pegar algumas coisas lá e vir para cá... Tive a infelicidade de agüentar aquele carinha.
– O nome dele é Felicce Martin, e o cara é uma mala... Desde que me viu com a coruja e as coisas no malão, ficou me enchendo, falando que era bom nisso, bom naquilo, bom naquilo outro... Tá vendo, é o fortão ali. Ele ficou se exibindo no Expresso.
– Ele é bom mesmo ou é papudo só? – perguntou Richard.
– Na verdade é só papo... Ele é mais papudo que sei lá o que. Ele falou muito, mas na hora de mostrar algum feitiço básico para a Amundsen da Andromeda...
– A loira baixinha?
– Isso... Bem, o cara não conseguiu nada. Culpou ela e falou um monte de coisas ruins para a menina. Sabe, tipo...
– Ele a xingou de Sangue Ruim? – disse Aliocha.
– Exato.
A sirene tocou antes que pudessem continuar. Claro que o grupo de Romanov passou esnobando os alunos da Prometheus.
Agatha estava na sala, enquanto Luccas, em um canto, preparava sua Jericho. Estava preparando alguma munição, e se Richard conhecia bem as munições de seu pai, porque ele tinha visto o suficiente disso em Deimos, ele estava carregando munição letal.
– Helen...
– Eu vi! – disse Helen, assustada.
– O que ele está fazendo? – perguntou Aliocha.
– Carregando munição letal. – disse Richard.
– Munição letal? – disse Aliocha – Por que? E como a professora Weasley o deixou fazer isso?
– Não sei... Vamos ver. – disse Natasha.
No quadro, como no início da aula de História da Magia, havia algo escrito. No caso: "Humanidade".
A professora Weasley esperou todos entrarem e disse:
– Bem... Agora, vamos falar um pouco sobre o Estudo dos Trouxas. Como vocês sabem, desde 2042, com a aprovação da Resolução 25 do Escritório de Educação em Magia do Conselho Interplanetário de Magia, o Estudo dos Trouxas foi declarado matéria obrigatória, depois de algumas boas experiências no Liceu Brasileiro de Magia, na Terra.
– Professora? – disse Romanov.
– Sim?
– Por que, exatamente, precisamos estudar essa matéria?
– Bem, senhor Romanov... – disse Agatha, apontando a palavra no quadro-negro – Humanidade... nesse século em que vivemos, essa palavra tem muito mais significado do que nunca. Com a humanidade como um todo vivendo no espaço sideral, a definição de humanidade cada dia mais é complicada. Eu prefiro pensar que os seres humanos, quando dotados de conhecimento sobre a verdade, não diferem uns dos outros... Os trouxas fazem parte da humanidade. Se você acredita que os bruxos sejam os únicos seres humanos, você tem o pior erro de pensamento que você poderia incorrer: achar os trouxas inferiores.
– Mas... como eles podem se virar sem magia?
– Lembre-se, senhor Romanov, que os trouxas foram os primeiros a saírem da Terra para ocuparem o Universo. Agora, eu não sei o que você deve pensar, mas eu posso lhe mostrar que, se pensa que sempre irá pegar trouxas indefesos, você precisa repensar sua vida. Senhor Evergreen, por favor...
Luccas se aproximou, a Jericho em mão.
– Pedi ao senhor Evergreen para nos ajudar nessa aula, por ser trouxa. Alguém sabe o que o senhor Evergreen está carregando?
– Uma pistola automática Jericho 931, professora Weasley. – disse Richard.
– Muito bem, senhor Richard Evergreen... – disse Weasley – Senhor Luccas Evergreen, como combinamos.
Luccas retirou o carregador que havia preparado de munição letal e colocou um carregador vazio na arma, municiou a arma, e colocou a arma no coldre.
– Senhor Romanov, por favor.
– Mas...
– Agora... Senhor Romanov... – disse Agatha, em um tom de quem quer dizer: "ou o senhor estará em MUITA encrenca".
Mikhail pegou a varinha mágica e foi para diante de Agatha:
– Agora, se sei bem, o senhor deve conhecer o Feitiço do Desarmamento.
– Sim, senhorita Weasley. Meu pai me ensinou.
Agatha voltou-se para a classe:
– O senhor Evergreen carregou sua arma com um pente sem munição, encantado por mim com Sonorus. Tanto o senhor Evergreen quanto o senhor Romanov irão sacar suas armas, tanto a Jericho, quanto a varinha, quando eu disser "já". Vejamos se o senhor Romanov é capaz de desarmar o senhor Evergreen. – disse então voltando-se para os dois – Prontos?
Luccas e Romanov menearam a cabeça, Romanov com um tom arrogante na postura.
– OK... – disse Agatha.
– Três... Dois... Um...
Os olhos de Luccas estreitaram-se, focando a testa de Romanov. Os reflexos de criminoso da Dragão Vermelho à flor da pele, as mãos prontas para fazer o que tinha que ser feito.
– JÁ!
Antes que Romanov pudesse fazer qualquer coisa, Luccas sacou sua Jericho, deixou-a na altura da testa de Romanov e disparou. O barulho agudo "CLICK" do cão vazio da arma estava muito audível graças ao Feitiço do Som que a professora Weasley utilizara nele. Romanov estava com a mão na varinha, mas nem a retirara do porta-varinha.
– Muito bem, senhor Romanov...
– Mas...
– Se a arma tivesse carregada e fosse uma situação de perigo real, Luccas teria o matado certamente.
– Sem chance! Nenhum trouxa poderia se defender de um bruxo!
Agatha franziu a testa e estreitou os olhos de uma maneira que só significava uma coisa para os alunos da Chronos: Romanov tinha passado dos limites.
– Sente-se, Romanov! – disse Agatha, ríspida.
Romanov sentou-se, revoltado:
– Senhor Evergreen, a segunda parte da demonstração que combinamos, por favor.
– Mas...
– Por favor, senhor Evergreen. – disse Agatha, com um tom um pouco mais autoritário.
Luccas sabia que aquela parte tinha sido combinada para ser feita apenas se algum dos alunos passasse do limite. Ele suspirou e descarregou o cartucho vazio. Colocou o cartucho com a munição de alto calibre que estava preparando quando os alunos entraram e o municiou. Todos os alunos estavam apreensivos. Alguns com muito medo do que poderia vir a acontecer. Seus filhos realmente temerosos de que a professora tivesse perdido a cabeça.
Luccas apontou a Jericho contra a cabeça de Romanov. Em seguida voltou-se para o saco de sparring que Agatha havia colocado. Colocou as duas mãos na Jericho, segurando-a bem firme. Agatha, ao seu lado, meneou a cabeça.
Acionou o gatilho.
Um silêncio de horror acompanhou o primeiro de 21 estampidos.
Luccas pressionou o gatilho várias vezes. Cada estampido de uma bala parecia aumentar o silêncio da sala. Depois de deflagradas, as 21 cápsulas vazias estavam caídas no chão. Ainda podia-se ouvir ecoar pela sala o tilintar das últimas cápsulas que ainda quicavam ao chão.
Os alunos também viam o saco... Ou melhor, o que restara deles: 42 buracos espalhados pelo saco vazavam areia fina que escorria ao chão, cujo barulho torturantemente suave ecoava pela sala. Mesmo Agatha parecia levemente chocada com o experimento.
– Imaginem isso acontecendo com os corpos de vocês. – disse Agatha, apontando o saco – Romanov não foi capaz de sacar sua varinha para desarmar um trouxa. Em uma situação de perigo, como foi provado, Romanov estaria morto. A magia é poderosa, sim, e não deve ser desconsiderada nunca. Mas não se pode incorrer no erro de que, porque não podem usar magia, os trouxas não conseguem se defender.
– A premissa dessa nova grade de Estudo dos Trouxas é essa: não vamos ver algum tipo de animal indefeso, acuado, desarmado, desprotegido. Vamos ver um ser com forças e fraquezas, habilidades e debilidades. Os trouxas não são malignos, mas podem ser muito perigosos. E como lidar com eles é o assunto dessa matéria. Como entender os medos deles, como evitar que eles se voltem contra nós. Acima de tudo, como ajudá-los, e com isso nos ajudarmos. Fui clara?
O silência aterrorizado de todos parecia ser resposta suficiente.
– Senhor Romanov, pela agressão verbal, o senhor estará de Detenção...
– Mas...
– Mas nada, e são 10 pontos a menos para a Chronos.
Os demais alunos da Chronos, à exceção de Nott e Martin, olharam Romanov feio: ele havia, sozinho, perdido todos os pontos que a Casa conseguira até o momento. E o pior, com a diretora da Casa, Agatha.
Agatha consertou o saco e recolocou as balas nas cápsulas com "Reparo" e entregou as cápsulas preparadas, como se não tivessem sido deflagradas, para Luccas.
– Bem, vamos continuar nossa aula. Senhor Evergreen, obrigada pela ajuda. Pode voltar aos seus afazeres.
– Sim, professora Weasley. – disse Luccas, guardando as cápsulas "deflagradas" no bolso interno da veste de bruxo e dirigindo-se à porta – Com sua licença...
E Luccas retirou-se, enquanto Agatha continuava a dar a aula, até que o sinal fez os alunos sairem sem falar um "a" sobre o que acontecera.
