Acontecimentos antes de Jupiter Jazz (Partes 1 e 2)
O homem gritava no quarto escuro. Havia recebido choques elétricos, espancamentos, queimaduras. Mas não iria se entregar. Não guardava um dos maiores segredos de Mao Yenrai à toa.
– Gosto de você, Gustavo Kanagawa. – disse a voz, no meio do escuro. – Durão, honesto, leal. Você é bem o tipo de pessoa de que Mao gostava.
– Você não vai se safar dessa e sabe bem disso, Vicious! Os Anciões do Dragão Vermelho logo irão pegá-lo...
– Os Anciões? – disse Vicious – Aqueles tolos... Creia-me, Gustavo, Mao disse exatamente a mesma coisa que você. Mas podemos lhe dar uma morte rápida: basta me dizer aonde Mao ocultou as Pedras da Lua.
Gustavo ficou chocado: como Vicious sabia! Era o segredo mais bem guardado de Mao. Apenas ele, Luccas e Spike sabiam dessas pedras, além de Mao. E ele era o último que sabia disso.
– Pode me contar agora e poupar Luccas.
– Luccas está morto! – disse Gustavo – Sei que o caçou e deve tê-lo matado.
– Infelizmente... – disse Vicious, o sorriso presunçoso que trazia em seu rosto até então sumindo – Não tive esse prazer. Luccas parece que era melhor do que você. Ele me escapou. Ou você acha que se tivesse pego Luccas, sabendo que ele tem mulher e filhos, não seria muito mais fácil extrair dele o que desejo?
"Luccas está vivo?", pensava Gustavo. A fama de Luccas no Dragão Vermelho, principalmente entre os que seguiam Mao, era grande. Luccas chegou a ser conhecido como "o Dragão das Sombras" e o "Mestre Furtivo". Nunca matara ninguém, e nem precisara: suas habilidades furtivas e seus conhecimentos de narcóticos o faziam entrar e sair quando queria de qualquer lugar sem ninguém o ver.
Gustavo riu alto e com gosto:
– O que é tão engraçado? – disse Vicious, nervoso.
– Você é um tolo, Vicious, se acha que vai conseguir as Pedras da Lua. Não sei o que quer com elas, mas Mao disse que não deveriam ser entregues para ninguém, exceto para os Anciões.
Vicious pegou a espada e cortou a perna de Gustavo, que gritou de dor.
– Você sabe que posso lhe matar dolorosamente ou rapidamente... Você decide.
– Vicious, deixe-nos ajudá-lo. – disse uma voz feminina.
– Não preciso... – ia dizendo Vicious, até que viu um homem forte surgir das sombras. Gustavo o viu e viu o que portava.
– Você se envolveu com bruxos, Vicious. Deveria ter imaginado. – disse ele, fraco, ao reparar na varinha mágica do homem nas sombras.
– Crucio! – gritou o homem, apontando a varinha contra Gustavo.
Se em algum momento de sua vida Gustavo tinha sentido tanta dor, ele milagrosamente, abençoadamente, esquecera. Pois a dor que ele sentia aquele momento era tão lancinante que ele, por um momento, quase disse o que Vicious queria saber. Mas ele voltou à si.
– Esse homem não vai durar muito tempo! – disse a mulher nas sombras.
– Não se preocupe Ananova...
– Já lhe falamos para não dizer...
– Seus nomes? Pelo menos o primeiro nome podemos dar. Assim, ao menos, ele saberá quem o mandou para o outro mundo.
– Está bem, Vicious. – disse o homem, irônico. – Parece justo.
– Pitr, você disse que era capaz de arrancar dele a informação.
– Vejamos... – disse Pitr, desconversando – Imperio!
Gustavo ergueu-se com um sorriso.
– Trouxa, diga-me aonde o trouxa Yenrai escondeu as Pedras da Lua.
– Não sei.
– Mentira! Você sabe!
– Não sei! – disse Gustavo com um sorriso ainda maior, como alguém que estava diante de um palhaço muito engraçado – E você sabe que não estou mentindo. Mao fez todos imaginarem que Spike, eu e Luccas sabíamos a localização das Pedras da Lua. Mas a verdade é que Mao não confiou esse segredo nem a mim e nem a Spike. Apenas Luccas Evergreen sabe a localização dessas pedras.
– Você está mentindo! – disse Vicious, revoltado, cortando a outra perna de Gustavo, que já não sentia mais dor. Parecia em estado de choque.
– Você vai perder tudo, Vicious! – disse ele, com voz de além-túmulo, como se estivesse usando seus últimos suspiros para forçar uma voz que pudesse amaldiçoar Vicious – Spike vai acabar com você, escreva o que estou lhe falando. Ele irá encontrá-lo e você será morto.
– Trouxa maldito! Morra! Avada Kedavra! – disse a mulher, revoltada.
O raio verde explodiu no peito de Gustavo, os olhos inexpressivos de morte, mas a boca com um sorriso de quem enganara os inimigos por muito tempo.
– De que nos serviu isso? – disse Ananova.
– Ao menos sabemos que Luccas sabia aonde Mao escondeu as Pedras da Lua. Tanto melhor que ele tenha escapado da matança.
– O que pretende fazer, Vicious. – disse Pitr.
– Isso... É assunto meu... Nos reencontraremos logo. Vocês terão o que desejam, peço apenas paciência. – disse Vicious.
– Ainda a terá... Por algum tempo. Mas lembre-se... Nossa paciência não é eterna. – disse Ananova.
– Sem sombra de dúvidas. Tenho que ir a Callisto. Parece que tem algo interessante por lá. Nos encontraremos em breve.
Vicious saiu da sala.
– Podemos confiar nele, Pitr?
– Claro que sim, Ananova. Ele sabe o que ganha se nos ajudar e o que perde se for contra nós.
Os dois desaparataram do local, deixando apenas o corpo de Gustavo... E algo que estava surgindo... Um fantasma.
– Devo procurar Luccas, onde quer que ele esteja! – pensou o fantasma, e subiu, procurando uma forma de deslocar-se até aonde ele estava.
E ele sabia, intuitivamente, aonde Luccas estava.
E não era em Deimos, como Vicious pensava.
Ele estava em Ishtar, Vênus. E ele iria para lá.
Vicious procurou o fone:
– Ryuichi...
– Sim.
– Você me disse que imaginou ter visto Luccas em Vênus, não?
– Isso mesmo. O cargueiro que vi aonde estava a pessoa que acredito ser Luccas estava indo para o continente de Ishtar, o outro continente maior de Vênus. Posso procurar ele lá. Quer que eu o mate?
– Não. Ele me interessa vivo. – disse Vicious, enquanto subia na nave que o levaria para encontrar os Anciões antes da missão em Callisto. – Procure por Luccas e se possível o capture, mas vivo. Ele me interessa vivo.
– Seria interessante mandarmos homens até a sua casa em Deimos. – disse Ryuichi. – Do jeito que ele saiu apressado, ele provavelmente não pegou nada antes de fugir, exceto roupas e armas. Podemos verificar se tem algo interessante lá.
– Certo. Mande seus homens. Quero qualquer coisa que lembre um mapa, ou desenhos de pedras. O resto deve ficar intacto...
– Mas por que?
– Isso – disse Vicious, venenoso – é assunto meu, Hanayama.
– Sim, senhor Vicious.
– Ótimo. Mande seus homens.
E desligou.
Vicious veria quanto tempo duraria o segredo de Mao Yenrai e Luccas Evergreen.
