Amélie fora mandada para a Ala Hospitalar do Castelo, enquanto Dorothy ficava ao lado de Luccas, em um banquinho, verificando a gravidade do tiro que ele levara.
– Deu muita sorte. – disse Dorothy, aliviada, apontando a varinha, que parecia mostrar algo como uma ressonância magnética do braço de Luccas – O tiro não acertou nenhum nervo importante, embora tenha feito um belo estrago nos músculos. Agora vou remover a bala. Fique descansando enquanto a removo para poder usar uma magia para consertar você. – disse ela, erguendo a varinha e apontando-a para o braço ferido de Luccas – Anestesia!
O braço de Luccas ficou dormente de imediato, no mesmo momento em que um elfo chegou com um pequeno kit de cirurgia bruxo.
– Luccas, acho que precisamos conversar seriamente. – disse Agatha, observando Luccas sobre Dorothy Ponfrey. – Foi um ataque bastante sério contra a Escola, e não foi provocado por bruxos, então vieram com certeza atrás de você, já que sabidamente é o único trouxa que trabalha em nossa escola. Não vamos o expulsar nem nada, mas acho que ao menos temos o direito saber contra o que estamos lutando.
– Não é hora disso, professora! Ele está seriamente ferido e precisa ser tratado... – disse Ponfrey, bastante preocupada.
– Desculpe, Dorothy, mas não podemos esperar mais para saber o que aconteceu. Luccas poderá ficar deitado e você poderá o tratar enquanto conversamos e descobrimos o que ele está nos escondendo.
– Mas e... – ia dizer Eloise.
– Prefiro que seja o próprio Luccas que nos revele o que ele esconde.
– Eu sei disso... – disse Luccas – Mas primeiro, queria saber sobre Gustavo.
– Ele está realmente morto. – disse Agatha – Aquele era o fantasma de Gustavo Kanagawa. Decidimos que seria muito bom que ele ficasse conosco como fantasma residente da Escola.
– Ótimo... Pelo menos ele estará bem... Ou tão bem quanto se pode estar depois de morto.
– O que aquele trouxa quer com você, o tal Vicious? – disse Sylvester, enquanto via alguns livros de Luccas.
– Eu não sabia porque ele está me caçando, achava que era apenas porque era um pupilo de Mao Yenrai, mas agora eu sei que é algo mais profundo: ele quer as Pedras da Lua que meu mentor Mao Yenrai possuía.
– Os meteorras que caem da Lua todos os dias na Terre? – perguntou Eloise.
– Não exatamente, Eloise. As Pedras da Lua são o que sobra quando a Pedra cai de vez no chão.
– Non entendi...
– É uma pedra pequena, similar a um diamante, mas que não pode ser lapidada. Dizem que uma pequena pedra dessas pode explodir um castelo como este. Essa pedra normalmente vai parecer um diamante lapidado pequeno. Alguns, principalmente aqueles que mexem com Feng Shui a conhecem como "Pedra do Sol".
– E de que tamanho é essa pedra? – disse Agatha.
– Depende... Em gerla são pequenas, por causa do atrito gerado pela queda dos fragmentos de lua na atmosfera, que causa um grave atrito e que acaba meio que "lapidando" as pedras. As de Mao eram do tamanho de pequenos pingentes de brinco, mas vi uma que era do tamanho de uma bola de handebol.
– Handebol?
– Esquece...
– Mas... – disse Gustavo, aparecendo pela parede – Que interesse teria Vicious nessa pedra? Quero dizer: tá certo que ela pode detonar um castelo, mas nada que uns 100 gramas de C4 bem posicionados não façam.
– Eu não sei...
– Espera! – disse Gustavo – E se não forem os bruxos com os quais Vicious se aliou que desejam as Pedras?
– É clarro! – disse Eloise – Pedrras da Lue son muite usadas na Feng-Shui Universal, a comprrenson de come o Incidente do Portal atrrapalhou as forces cósmiques.
– Acho que tem algo maior... – disse Luccas – Duvido que Vicious mataria Mao Yenrai apenas para consultar Feng Shui. Quero dizer: os Anciões da Dragão Vermelho são conhecidos como grandes mestres do Feng Shui Universal e tudo o mais, mas...
– Acho que imagino o porque. – pensou Sylvester – Essas Pedras podem ser usadas em outros Rituais, Eloise? Especialmente Rituais envolvendo Magia Negra.
– Non sei... Muitos vêem estudanda as Pedrras, e o "pó de estrrela", mas nada que se saiba...
– Então... Vamos ter que descobrir o que ele quer fazer quando encontrar as pedras...
– As Pedras! – disse Luccas de susto, erguendo-se de chofre, assustando a Madame Ponfrey – Deus do Céu!
– O que foi, Luccas? – perguntou Agatha, ao perceber que Luccas se levantara. Logo eles saberiam o que era.
– Ryuichi?
– Sim.
– Encontrou Luccas?
– Não senhor. – disse Ryuichi no comunicador – Apenas imaginei ter visto Luccas. Não encontrei nada de excepcional.
– Estranho. Você praticamente jurava ter visto Luccas...
– Me enganei, senhor. Sinto muito tê-lo desapontado. Pode ser que ele tenha fugido. De qualquer forma, me sinto arrependido de ter o incomodado e decepcionado tão profundamente.
– Não se preocupe. Encontramos um mapa na casa de Luccas: você tinha razão, ele não pegou tudo o que podia.
– Bom saber, senhor. E a casa?
– Deixamos intacta e retiramos nossos homens das proximidades. Luccas pode voltar para apanhar suas coisas, ou pedir para alguém o fazer, e não é bom deixar ele pensar muito, agora que temos o que queremos.
– Certo.
– Ryuichi, preciso que você me encontre em Urano daqui a alguns dias.
– Mas?...
– Nada de mas. Eu preciso de suas habilidades em uma missão especial. Me encontre em Urano. Depois falarei mais.
– Certo, senhor.
Ryuichi desligou o comunicador. Tinha uma sensação estranha de que havia algo em sua cabeça que ele não sabia o que era.
Vicious desligou o comunicador:
– Ryuichi estava estranho.
– Você tem razão, Vicious. – disse o homem que estava nas sombras – Ele pode ter tido sua memória alterada.
– Bem, se isso aconteceu, pode ter sido uma organização criminosa rival...
– ... ou outros bruxos. – disse a mulher.
– Como assim, Ananova?
– Ele lhe descreveu as roupas da pessoa que ele supunha ser Luccas?
– Ele vestia uma capa longa carmesim, uma camisa de algodão e calças de brim, com uma bota de cano alto com fivelas.
– Vestes bruxas, com certeza. Mesmo um trouxa com um senso de moda excêntrico não vestiria isso.
– Então é um bruxo?
– Não. – disse o homem – Luccas Evergreen deve ter se associado a bruxos em Ishtar.
– Pitr, você acha que devo mandar os homens...
– Não, Vicious. – disse Pitr – Eles alteraram a memória de seu homem. Poderiam fazer o mesmo com outros homens seus. Além disso, vamos fazer tudo de maneira bem discreta. Traga-o para cá que nós daremos um jeito de confirmar isso.
– Annie! – disse Luccas, no comunicador.
– Luccas! – disse Annie, seu rosto gordo chocado em ver o que ela imaginava um fantasma. – Você está vivo? Que roupas são essas?
– Annie, tenho um pedido para lhe fazer! – disse Luccas – Ajunta minhas tralhas na casa em Deimos e manda para mim em Ishtar, Vênus.
– Mas, que é que tá acontecendo, Luccas?
– Encrenca feia, Annie. O Dragão Vermelho ainda tem como te encontrar, portanto quanto menos você souber, melhor para nós dois.
– Você andou?... – disse Annie, de vez reparando nas roupas de Luccas.
– Sim, andei me aliando a bruxos, mas pode crer que Vicious fez a mesma coisa. Eu sei disso!
– E os Anciões?
– Vicious não está nem azul para os Anciões!
– Tua cabeça 'tá a prêmio, sabia?
– Imaginava.
– E Spike ainda está vivo!
Spike ainda estava vivo? Luccas deu um sorriso. Se Spike estava vivo, Vicious teria encrenca. Muita encrenca mesmo. Isso lhe dava alguma folga para respirar.
– Annie, preciso que você diga a Spike que ele tá sendo procurado por Vicious.
– Isso não é preciso. – disse Annie – Vicious quase o matou em Marte, e pelo que soube em Callisto também.
– Spike não pode ser derrotado por Vicious! Vicious quer as Pedras da Lua de Mao!
– As Pedras da Lua?
– Por isso que tou ligando para você. Nas minhas coisas em Deimos deve haver um mapa das Pedras. Pegue-o e envie-o junto com minhas coisas para Vênus. Um certo Andraas Malfoy irá o retirar...
– Malfoy? Me lembro de Mao ter comentado esse sobrenome: é o de um Bruxo! Está se envolvendo realmente com bruxos? – disse Annie, assustada. Annie, como todos da Dragão Vermelho ou com amigos no Dragão Vermelho, sabia da existência dos bruxos e do Édito de Não-Envolvimento lançado pelos Anciões para proteger os integrantes do Dragão Vermelho dos mesmos.
– Annie, não posso falar muito mais, mas preciso que confie em mim! Eu estou envolvido com bruxos, mas Vicious também está trabalhando para bruxos. E pior, meus amigos supõem que são Bruxos das Trevas!
– Bruxos das Trevas! – disse Annie, chocada. Sabia das "lendas das ruas" sobre os bruxos das trevas. Sabia que esses bruxos eram o motivo do Édito de Não-Envolvimento lançado pelos Anciões. Então, entendeu que Vicious oferecia perigo não apenas a Mao, Luccas, Spike ou o Dragão Vermelho, mas a todas as pessoas do sistema solar.
– Isso mesmo! Você deve saber que Mao era um iniciado no Feng-Shui Universal.
– Sim.
– E ele me disse para guardar essas Pedras para ele, em um local secreto e me entregou um mapa para elas.
– Certo. Vou pedir para o meu pessoal procurar isso para você.
– Sabia que podia contar com você, Annie. Muito obrigado mesmo. Vou lhe dizer tudo o que me aconteceu desde que fui atacado por Vicious em Deimos, e porque tive que me envolver com bruxos. Mas espero que você avise depois Spike sobre o que está acontecendo, mas de maneira discreta.
Luccas começou a contar a Annie o que acontecera desde sua fuga de Deimos até aquele momento.
E Annie sabia o que iria fazer, mas não teria tempo.
