NA: Eventos antes de Bohemian Rhapsody
Nave Bebop. Ed brinca com o computador:
– Vamos... ver em que vai dar... dar sim ou dar não... – dizia Ed, fazendo gestos mirabolantes, os óculos de RV sobre os olhos. Edward Wong Hau Pepelu Tivrusky IV parecia um menino estranho, mas era uma garota ainda mais estranha do que se imaginava. – Hum? – disse Ed – Ed nunca esteve aqui... Legal! Vai ser divertido! Vejamos...
Ed começa a soltar o máximo de seus programas de invasão possível. Para a pequena Edward Wong Hau Pepelu Tivrusky IV, ou melhor, para Radical Ed, não existia limites na SSW. Nunca fora impedida de uma tentativa de invasão.
Os sistemas em que Ed tentava entrar eram bem complexos, mas isso não fazia a menor diferença para a Radical Ed. Melhor ainda, isso tornava tudo mais divertido:
– Legal, legal, legal! Um sistema durão! Um sistema durão! Agora vou poder me divertir! – disse Ed com um sorriso.
As proteções eram duronas, mas não demorou nada para que Ed conseguisse o acesso, e o que viu a deixou confusa:
– Wiz... Net... – disse Ed, aparvalhada. Em seguida, deu um grande sorriso e disse – Oba! Oba! Lugar novo na rede! Lugar novo na rede! Vou brincar bastante!
Jet Black observava Ed e pensou:
– Essa menina não toma jeito mesmo! – enquanto ia cuidar de seus bonsai.
Mal sabia ele que Ed descobriria muito mais do que se supunha.
Estava frio em Ishtar naquele fim de ano. Luccas estava degelando vassouras quando Andraas lhe chamou:
– Como ficou a questão de suas coisas em Deimos?
– Annie disse que me mandaria até o Natal por um cargueiro. Era coisa demais para mandar por um sistema normal. Ela literalmente limpou minha casa. Depois ela a vendeu e ficou com o dinheiro: acho que é justo que ela fique com uma parte de tudo, ainda mais por causa dos custos que ela teve. E eu não preciso mais de lá. Agora essa Escola é o meu lar.
– Quanto vai custar esse transporte?
– Cerca de 12000 Woolongs mais os custos do Portal e tudo o mais...
– UAU! – disse Andraas.
– Não sei não, mas acho que não vai ser qualquer que vai trazer essas coisas.
– Alguma novidade sobre a questão das Pedras da Lua?
– Não... Ela não me disse nada sobre os mapas... Mas aparentemente Vicious ficou meio silencioso nos últimos tempos. Não sei lhe dizer se acho isso bom ou ruim.
– Talvez possa ser bom... Ou não. Mas só vamos ficar sabendo quando a tal Annie lhe mandar as coisas de Deimos que você deixou para trás.
– Certo.
Andraas preferiu mudar de assunto:
– Seus filhos estão muito bem. Helen parece uma ótima preparadora de poções, enquanto seu filho Richard vem se saindo muito bem com a Defesa Contra as Artes das Trevas.
– Bom saber.
– O que está acontecendo, Luccas? – disse Andraas estranhando.
Luccas suspirou, arremessou uma das vassouras já degeladas para Andraas, que a pegou nas mãos, pegou outra e disse.
– Vamos até ali e eu vou te explicar. – disse Luccas, apontando para o Estádio ainda em construção de Quadribol.
Andraas montou a Firebolt junto com Luccas e os dois decolaram.
– O que eu não estou gostando, Andraas, é essa sensação de o cerco estar se fechando. Vicious não é um cara tão silecioso assim.
– Acho que Vicious deve estar com mais para se preocupar. Você é que está sendo paranóico, Luccas.
Luccas respirou fundo:
– Você tem razão, Andraas! Ainda não estou 100% adaptado à vida de magia, e estou sempre preocupado com os meus filhos... Assisto Big Shot e os noticiários todo dia para ver se Vicious tem ações aqui em Vênus...
– Você me parece bem adaptado à vida como bruxo... – disse Andraas, sorrindo.
Luccas vestia uma veste de cor verde-musgo, encimada por um capotão de couro pesado, botas de cano alto, quase nos joelhos, com quatro fivelas, que faziam suas calças verde-escuro parecerem um gibão. Supensórios podiam ser vistos por baixo de tudo isso, e ele vestia uma camisa de algodão pesado por baixo de tudo. Um cachecol de lã grossa que o próprio Luccas tricotara pendia em seu pescoço, encimado por uma boína à Che Guevara.
Luccas sorriu por baixo do peso todo das vestes.
– Acho que têm razão. Tenho que me preocupar apenas o suficiente com Vicious, nem mais nem menos.
Os dois voltaram para dentro da escola, ao verem o sol cair...
Os alunos da Prometheus e da Orion estavam tendo sua última aula de Herbologia do Semestre:
– Oui! – disse Eloise – Bem, vocês estan prrogrredindo ban rapidamente. Logo a jante estarremos vendo plantas muito mais interresantes.
– Esperrem um pouco. Vocês devem saberr que poderran voltar a seus larres durrante o recesso de Natal, porrtanto querro que aqueles que desejem ficarr na escola assinem seus nomes na lista que está aqui na minha mesa. – disse Eloise – Os alunos que ficarrem terran um ótimo Natal, e parra os que van parra suas casas... Feliz Natal...
– E aí? – perguntou Richard – O que vocês decidiram?
– Eu fico. – disse Aliocha – Meus pais estão em viagem de serviço em Plutão.
– Eu também. – disse Natasha – Mamãe está sob cuidados médicos em Ganimede.
– Vou ficarr tamban – disse Violette – Minha tia-avó é a dirretorra da Andrromeda. – completou, acenando para Eloise – Estarrei em boa companhia.
– Papai disse que não haveria problemas se eu quisesse ficar, que o Cirque du Systéme Solaire não teria problemas. – disse Luighi – Acho que vai ser divertido. E vocês? – perguntou, completando, para Richard e Helen.
– Bem, como vocês sabem, – disse Helen – nosso pai é o zelador da Escola, então não temos para aonde ir. De certa forma, é ficar ou ficar...
– Sem prroblemas! – disse Violette, assinando o seu nome – Vai serr ótima!
Cada um foi assinando seus nomes, e foram jantar, enquanto Luccas e Andraas voltavam da conversa que tiveram montados em vassouras.
No momento em que Luccas entrou no Saguão Principal, viu seus filhos e conversou um pouco com eles. No mesmo momento, Mikhail Romanov e sua pequena patota da Chronos desciam a escadaria, vindos da aula de Feitiços, com o professor Longbottom, e riam-se de algo. Mikhail pareceu esperar todos os alunos seguirem seu caminho para dentro do Salão Principal, incluindo o resto dos alunos da Chronos, sem a sua patota. No momento em que todos entraram, ele sacou a varinha e mirou contra Luccas.
Andraas reparou...
– Luccas, atrás de você!
... tarde demais.
De alguma maneira, Luccas foi colocado de cabeça para baixo. Uma pequena algazarra se deu, enquanto Romanov e sua patota davam risadas de Luccas...
... mas não por muito tempo.
Luccas tinha uma certa experiência com a sensação de ficar de cabeça para baixo: tinha feito alguns roubos em gravidade zero, então apenas procurou ver se sua Jericho e um cartucho de munição que ele deixou para uma ocasião dessa estava preparado.
– Romanov, desça-o já! É uma ordem, se você não quer ficar de detenção! – disse Andraas.
– Cale a boca, Sangue Ruim! Pensei que seguisse a tradição de seu nome e tivesse orgulho do seu sangue puro! – disse Romanov, descontraído, meio que não percebendo o que estava acontecendo.
– Acontece, Romanov, que não sei se você sabe, mas meus pais foram mortos pelo meu avô pouco depois do meu nascimento, porque minha mãe era uma bruxa nascida trouxa. Eu não tenho orgulho do meu nome nem do sangue puro dos Malfoy, justamente porque foi essa merda de sangue puro que matou meus pais!
Romanov pareceu chocado, depois riu-se:
– Ora... Não pensava que isso tivesse acontecido. Um Malfoy, sujando seu sangue como um traidorzinho de sangue qualquer... Seu pai bem que mereceu o que teve.
Andraas ficou revoltado, e imaginou uma coisa bem horrível para fazer com Romanov. Foi quando ele observou o teto e percebeu que tinha feito uma coisa legal.
Luccas tinha carregado a munição, e estava pronto para reagir.
– Romanov! – gritou Luccas, de cabeça para baixo.
– Ora, o que foi... trouxa! Ainda não brinquei... – foi falando Mikhail, até que voltou-se para Luccas, virado de cabeça para baixo.
Armado. Com sua Jericho. Carregada. E a segurando com as duas mãos.
– Me desce daqui agora! – gritou Luccas – Não me obriga a fazer isso!
– Ora, e por que eu deveria? – disse Mikhail, tentando parecer tranqüilidade, o que Andraas sabia que ele não tinha.
Andraas percebeu na hora o que acontecera. Mikhail escolhera o local justamente porque era amplo, e viu que os amigos de Romanov lançaram Feitiços de Imperturbalidade contra as portas, mas pareciam não ter feito o serviço corretamente. Em seguida, Mikhail usara Levicorpus, que era um feitiço que podia ser usado de maneira não-verbal, o que não dava a Luccas chances de perceber o que estava acontecendo.
Andraas não precisava ser Legilimens para perceber que Mikhail não tinha dominado totalmente o feitiço, o que o impedia de desarmar Luccas com um movimento de varinha. Além disso, seus amigos tinham que manter a concentração no Feitiço de Imperturbalidade, pois não tinham o concluído como deveriam.
– Luccas, o que você pensa que está fazendo? – disse Andraas, observando ele segurar a Jericho com as duas mãos: a última vez que Andraas viu Luccas fazer isso, ele tinha derrubado uma nave do Dragão Vermelho usando Munição Explosiva.
– Vou ensinar esse moleque a me respeitar, Andraas. – disse Luccas. Depois voltou-se para Mikhail – Romanov, você tem três segundos para me por no chão. Se não o fizer, vou atirar e o que acontecer a você será problema seu!
Andraas não podia acreditar: será que Luccas estava falando a sério? Ele estaria disposto a usar Munição Letal contra aquele fedelho?
– Luccas, você não pode estar falando a sério!
– Deixa ele comigo, Andraas!
– Você não...
– Um... – disse Luccas, abrindo a contagem.
– Luccas! Pensa bem!
A presunção de Mikhail pareceu se abalar. Andraas parecia estar percebendo que ele estava revendo a aula de Estudo dos Trouxas.
– Dois...
– Seus imbecis! – disse Mikhail – Façam alguma coisa!
– Luccas! Não faça besteira! – disse Andraas, temeroso.
– TRÊS!
Ouviu-se o barulho alguns tiros, um barulho de voz e uma fumaça levemente amarelada, a meio caminho entre Romanov e Luccas, que caiu e conseguiu virar-se para cair em pé, impedindo uma batida de cabeça:
– Luccas! – gritou Andraas, aproximando-se da balbúrdia, enquanto muita gente entrava no Saguão Principal, após ouvir os estampidos de tiros – Que merda você fez?
– Nenhuma! – disse Luccas, sorrindo. – Veja eles!
A nuvem de fumaça baixou: os três carinhas pareciam estar nocauteados, e haviam pequenos pedaços de plásticos à algum centimetros diante deles.
– Munição narcotizante. – disse Luccas – Eles usaram um Feitiço Escudo... Como imaginei.
– Como assim?
– Eu blefei. – disse Luccas, sorrindo, mostrando uma cápsula do cartucho que estava em sua arma. Era transparente e parecia conter um pó levemente amarelado – Quis que ele imaginasse que estava usando munição letal. Queria ver o que ele iria tentar: imaginei que ele ou seus colegas não usariam Feitiços de Desarmamento, então fiz eles pensar que iria atirar com munição letal. Um deles iria usar o Feitiço Escudo, o que bastaria para fazer o Feitiço de Impertubalidade cair. Eu não teria problemas: essa munição é feita para explodir ao entrar em contato com um obstáculo, espalhando um narcótico poderoso para nocautear seus alvos.
Andraas pareceu surpreso e abismado, depois sorriu, maravilhado:
– Brilhante, Luccas!
– Realmente brilhante, Luccas. – disse Agatha, se aproximando. – Mas o que Romanov fez dessa vez?
– Levicorpus, Weasley. – disse Andraas em um tom aparentemente descontraído – Isso é o que ele fez.
– Levicorpus, Malfoy? – disse Agatha, impressionada e incrédula – Ora, ele é um aluno de primeiro ano! Como ele saberia usar magia avançada desse nível?
Agatha, Sylvester, Julius, Eloise, Dorothy e Amélie se aproximaram. Dorothy foi direto nos alunos, e suspirou de alívio ao perceber que eles não estavam mortos.
– Eu não sei, Weasley, mas sei o que vi, e o que vi foi o efeito de um Levicorpus. – disse Andraas.
– E eles estan?... – disse Eloise, assustada ao ver o estado dos três garotos.
– Não... – disse Luccas, mostrando a munição que utilizara – Munição narcotizante. Estão inconscientes.
– Só há um jeito de saber o que aconteceu! – disse Sylvester, recolhendo as varinhas dos garotos. – Prior Incantato!
Na varinha de Romanov, uma cópia de Luccas, parecendo feita de fumaça, surgiu, de cabeça para baixo.
– É, Agatha. – disse Sylvester, conclusivo. – Parece que Andraas está dizendo a verdade e Luccas foi vítima de um Levicorpus.
– E vou mais longe. – disse Andraas – O fedelho o usou de maneira não-verbal. E os capangas dele usaram Feitiços Não-Verbais para Impertubabilidade.
– Mas, Sylvester, Andraas... – disse Julius – Nenhum garoto da idade de Mikhail Romanov poderia utilizar Levicorpus, ainda mais de maneira não-verbal.
– Sei disso... – disse Sylvester – Mas...
– Nenhum garoto normal poderia utilizar os Feitiços que esses três usaram, de maneira não verbal ou não. – disse Andraas – Imperturbalidade... Feitiço Escudo... Levicorpus... Casos de uso involuntário desses feitiços são bastante comuns, mas uso controlado? Isso exigiria um poder incompatível com a idade. Ainda mais de maneira não-verbal.
– Eu sei. A não ser... – questionou Agatha.
– A non serr – disse Eloise – que eles tenhan aprrendido feitiços avançades com seus pais, tutorres ou com outrros brruxes.
– Interessante. – disse Agatha, tentando não demonstrar a angústia que a conclusão de Eloise induzira nela – Sylvester, você poderia rastrear os pais desse garoto para mim? Dorothy, queria conversar com eles assim que possível.
– Farei o possível. – disse Sylvester, indo até a sua sala. – Luccas, Andraas, quero que venham comigo.
Andraas e Luccas acompanharam Sylvester.
– Dorothy?
– Pode demorar. Despertar pessoas nocauteadas por feitiços é uma coisa, agora fazer o mesmo para pessoas nocauteadas por narcóticos trouxas é outra coisa completamente diferente. Mas acho que até amanhã cedo eles deverão acordar.
– E quando eles acordarem, – disse Andraas – avise-os que os três pegaram uma semana de detenções comigo, e mais uma com o zelador Evergreen.
– Ótimo. Deixe-me ir então, se está tudo certo. – disse Agatha, se dirigindo ao seu escritório.
Agatha trancou a sala atrás da Diretoria e se atirou na poltrona próxima à sua mesa de Diretora, pensativa e angustiada. Desde a seleção de Mikhail Romanov para a Chronos, ela vinha se perguntando o que fazia aquele garoto aparentar tão pouca confiança, mesmo para ela, Diretora da Casa. E todos os professores, sem exceção, tinham reclamações dele, principalmente por indisciplina e petulância. E agora, para completar, esse ataque contra Luccas, que poderia ter tido conseqüências mais sérias se Luccas fosse menos inteligente. Não era apenas a arrogância no garoto que a perturbava: havia algo mais sinistro nele.
Ela decidiu que era hora de uma atitude mais séria. Ela correu os quadros que tinham sido dispostos ao redor da sala:
– Neville? – disse Agatha, tocando o quadro em que um senhor de meia-idade, cabelos negros e bochechas gordas e rosadas emoldurando um rosto redondo estava dormindo sentando em uma bela poltrona avermelhada. – Neville? Acorda! Preciso de você!
– Ahn... Ah, senhorita Weasley? A que devo a honra?
– Neville, preciso que me envie uma mensagem para seu filho Ignatius no seu outro quadro, em Hogwarts.
– Vai demorar bastante, e você sabe disso, Agatha. – disse Neville – Lembre-se que você está a varios milhões de quilômetros de Hogwarts, e mesmo com os quadros viajando mais rápido que o Portal, levamos bastante tempo.
– Não me importo. Quero que você o avise para me encontrar na WizNet assim que possível.
– Certo.
Agatha viu Neville desaparecer de seu quadro e voltou-se para o terminal com a SSW que tinha em sua sala, ao lado da mesa de diretora e próxima ao console com livros atrás da cadeira, e ativou o sistema de comunicação direta AV (áudio/vídeo). Nunca imaginou que precisaria daquilo. Sempre suspeitara das tecnologias trouxas: ainda ficava com um pé atrás com a tecnologia que destruira a Lua, mas agora agradecia o fato de Sylvester ter a convencido a colocar o link com a WizNet. Precisava de informações. Logo.
A Sala de Sylvester impressionara Luccas: era uma cruza de templo pagão, torre de magia de filmes ruins do século XX e laboratório de pesquisas avançadas. Haviam todo o tipo de equipamentos desmontados, e grandes diagramas mostrando todo o tipo de coisa em explosão, com alguns símbolos cabalísticos apontando para certos pontos. Uma prancheta grande tamanho A0 estava próxima à mesa de Sylvester. Ao lado da prancheta, um grande armário cheio de livros, assim como uma console acima da prancheta tinham também muitos livros, com títulos como "MagiC – A linguagem de programação bruxa", "Lógica Trinária", "Circuitos tecnomânticos" e afins... Luccas ainda ficava impressionado que coubesse tanta coisa assim na sala de Sylvester, sendo que ele, Andraas e Sylvester ainda podiam ficar razoavelmente confortáveis em pequenas cadeiras estofadas trouxas (isto é, depois de retirarem todos os livros que Sylvester deixava em cima deles).
Sylvester estava sentado em sua cadeira alta, diante de um terminal da SSW que ficava ao lado de sua mesa, mexendo alguns arquivos do sistema da ISSP aos quais tinha acesso, enquanto Andraas pegara uma garrafa de cerveja amanteigada na geladeira próxima à prancheta de Sylvester e Luccas servia-se de um chá verde trazido por Lofty, o elfo doméstico:
– Vocês devem estar cientes que, com a queda do Estatuto de Sigilo da Magia e a edição das "Diretrizes Interplanetárias para o Uso Adequado de Magia", todos os bruxos passaram a ser registrados junto com os trouxas nos arquivos da ISSP. – disse Sylvester, tomando um gole de água.
– Certo. – disse Andraas.
– O registro da ISSP de bruxos é qualificado como nível A1... alta segurança, acima do nível ISSP para trouxas, que normalmente varia de B2 a A2. No caso dos bruxos, há acesso total apenas para pessoas qualificadas: Aurores, agentes da ISSP, pessoal do registro de IDs, grandões do Conselho Interplanetário e dos Ministérios da Magia...
– Certo... E o que você quer saber?
– Bem, Andraas, quase todos os bruxos atualmente possuem IDs registrados na ISSP. – disse Sylvester, mostrando um cartão similar a um cartão de dinheiro, onde dava para ver seu nome, foto e outras informações. – Porém, alguns bruxos insistem em não se registrarem.
– Mas isso não os impediria de fazer negócios ou viajar em naves espaciais pelo Portal? – disse Luccas.
– Em certos termos sim. Mas lembre-se dos créditos anônimos: você pode fazer pequenas operações usando cartões anônimos ou pertencentes a organizações.
– É claro: eu já fiz várias operações com cartões anônimos. E algumas não tão pequenas assim.
– Exato: muitos bruxos puristas preferem isso, quanto têm que lidar com trouxas.
– Certo. E o que você...
– Como diretor adjunto da Escola "Alvo Dumbledore" de Ishtar, tenho acesso pleno aos arquivos da ISSP. Uso isso para confirmar inscrições e currículos. Posso ver se uma pessoa é bruxa, se possui algum tipo de poder especial...
– Como assim? – disse Luccas.
– Ofidioglossia: falar com cobras. – disse Andraas, listando alguns poderes especiais de bruxos para Luccas – Metamorfomagia: mudar de forma. Legilimência: sondar a mente dos outros. Oclumência: barrar tentativas de sondagem mental. Animagia: a capacidade de transformar-se em animais...
– São todos poderes que um bruxo pode ter?
– Claro. – disse Sylvester, enquanto digitava um login e senha para o sistema da ISSP – E todos são registrados na ISSP, com qualquer informação adicional necessária.
– Entendi.
– Quero ver se esse garoto possui um ID na ISSP. Se ele tiver, com certeza teremos mais informações sobre ele e seus pais.
Nave Bebop. Ed continua brincando na WizNet.
– Oba! Oba! Legal! Legal! Muito lugar novo para entrar!
Ein ficava ao lado acompanhando Ed navegar pela rede. Claro que Ein, sendo na verdade um "cão-putador" desenvolvido por pesquisas secretas de engenharia genética, percebia o que estava acontecendo, mas achava melhor fazer seu papel parecendo apenas um cãozinho fofo.
– Hã! Tráfego intenso de um ponto da WizNet para os sistemas da ISSP?
– Ei, Ed! – disse Jet, voltando para a sala – Pára de brincadeiras e vamos comer.
– Espera, Jet! Ed está vendo uma coisa estranha.
– Ahn... Coisa estranha?
– Uhum... Ed encontrou uma tal WizNet...
– WizNet... – disse Jet, pensando muito. Ele sabia da WizNet. Já trabalhara na ISSP, aonde era o Jet "Black Dog", o cão que mordia e não largava, e sabia da existência dos bruxos, mas nunca dera muita atenção aos boatos sobre seus poderes. Mas agora... Tanta coisa acontecendo. Ele observava Ed mexer quase convulsivamente, compulsivamente, no seu computador, e tinha a impressão de que, mesmo indiretamente, ele seria afetado...
Sylvester começou a lançar os comandos no terminal da ISSP. Seu rosto parecia cada vez mais sombrio conforme ia vendo os resultados, ou antes, a falta dos mesmos.
– É... Seja como for, ele não possui um ID na ISSP. Ele está zerado. – disse Sylvester, sombrio. – E isso não é uma boa coisa.
– Será que um hacker não poderia ter zerado o ID dele na ISSP? – perguntou Luccas – Essa é uma prática muito comum em algumas organizações criminosas. Principalmente para gerar IDs falsas.
– Se não fosse o fato de suspeitarmos que estamos lidando com bruxos de sangue puro, não acostumados e que não aceitam facilmente o fato de precisarem aceitar as leis dos trouxas, eu poderia até suspeitar que um hacker adulterou informações. Mas eu conheço um pouco dessas coisas...
Foi quando o terminal da ISSP de Sylvester parou e um sorriso estranho apareceu na tela.
– O que?... – disse Luccas, aturdido.
– A WizNet está sendo invadida? – disse Andraas.
– É o que aparenta. – disse Sylvester, mexendo compulsivamente nas teclas do terminal, sem nenhuma resposta – Mas hackers trouxas comuns não poderiam invadir a WizNet normalmente, as defesas são fortes demais, e pelo pouco que estou percebendo, essa invasão é externa à WizNet... E não existem hackers bruxos suficientemente competentes para violar a WizNet por fora. Só haveria uma pessoa que poderia entrar aqui... E é...
– Isso mesmo, bruxo! – disse uma voz, divertida, aparecendo em uma janela de comunicação A/V, mas com a mensagem "Audio Only" na janela da imagem – Radical Ed conseguiu entrar!
– O que você quer? – disse Sylvester, preocupado. – Não lhe fizemos nada de mal, Radical Ed! Eu não sei o que...
– Ed 'tá vendo que vocês tão precisando de ajuda.
– O que foi que você viu que eu não vi.
– Você quer a ID de Mikhail Romanov. Mas ela foi requalificada para Special A1 pela ISSP.
– Nível ultra-secreto de segurança! – disse Sylvester, surpreso – Sua ID seria percebida por sistemas de identificação como válido, mas para consulta pelo sistema de verificação...
– ... dá como não existente. – disse Ed, divertido... "ou seria divertida", pensou Sylvester. "A voz parece a de uma garota."
– Ed vai ajudar...
– Mas como?... – antes de Sylvester dizer alguma coisa, um arquivo de ID apareceu na tela.
– Mikhail Romanov, Bruxo, 11 anos. – disse Ed – Nascido em Urano, no satélite de Oberon. Pai, Anatoli Romanov e mãe, Lucca Romanov. Sem nenhum registro especial de poderes. Registro ISSP-24556GX78FF e IMC-245780000-A.
– Bem, isso quer dizer que, ao menos na teoria, ele existe para a ISSP. Obrigado, Radical Ed!
– Radical Ed quer presente... – disse Ed, brincalhona.
Sylvester pensou que seria fácil agradar Ed.
– Que tal se eu mandar-lhe umas duas caixas de Piyokos?
– Ed ADORA Piyokos!
– OK... – disse Sylvester – Conheço um lugar que faz Piyokos deliciosos. Vou lhe mandar umas duas caixas de Piyokos para onde você estiver indo. Só manda um email para Sylvester Longbottom na WizNet com um local para onde mandar.
– OK... Até mais!
Ed desligou e o terminal SSW voltou ao normal, sem a menor indicação de que acabara de ser invadido, o que não impressionava Sylvester: afinal de contas, estavam lidando com Radical Ed. Ele voltou-se para os demais, enquanto imprimia em uma impressora tecnomântica uma cópia do ID de Romanov para cada um...
– Bem, o que tudo isso quer dizer? Quero dizer, sabemos que ele tem um ID, mas qual a vantagem? – disse Luccas, recebendo a sua cópia e a lendo.
– Muita. – disse Sylvester, conclusivo – Se ele fez questão de conseguir que seu registro de ID fosse aumentado para Special A1, nível ultrasecreto, mesmo sem contar com nenhum poder especial... Isso quer dizer que ele tem alguma coisa... Algo estranho.
– Acha que o garoto tem algo que ele não deveria poder fazer e tal? – disse Andraas.
– Não acho nada, exceto que ele não é confiável. – terminou sombriamente Sylvester.
