Todos na Escola Dumbledore se consideraram de folga. Principalmente porque apenas alguns poucos de cada Casa ficaram em Ishtar. Tanto isso, que não havia muita sujeira, e Luccas podia dispensar ocasionalmente os elfos, em especial Lofty, com quem criara afeição, e Kraken, que enchia tanto a paciência dele que ele preferia longe.
Os filhos de Luccas também pareciam felizes, ainda mais quando descobriram que Romanov e sua patota não ficariam em Ishtar, voltando para seus planetas de origem. Um pentelho a menos, era a opinião deles.
Na manhã de Natal, o sol apareceu grande e belo no céu azul-esverdeado de Vênus.
Richard, Aliocha e Luighi acordaram animados para abrirem seus presentes e encontrarem as garotas. Richard desceu vestindo um belo colete que seu pai dera, enquanto Aliocha carregava um estojo de bolas de quadribol bem refinado. Luighi vinha fazendo som com um oboé que lhe fora dado pelo pai, e que antes tinha sido de seu avô.
Desceram e viram as meninas, que estavam muito bonitas: Natasha usava uma bela bandana verde e brincos de ouro puro em suas orelhas, enquanto trazia um pequeno pufoso que ganhara de seus pais. Helen vestia as vestes da escola, mas amarrara os cabelos em maria-chiquinhas, dando-lhe um ar de criança levada e feliz que Richard gostava de ver em sua irmã, que vinha usando também belos sapatos vermelhos e uma echarpe azul, dadas por Violette. Já Violette, tendo um pouco de sangue Veela em suas veias, vestia um vestido leve e gracioso, que a deixava com uma bela aparência, usando um colar bonito dado por Helen.
O café da manhã foi bem animado. Pela primeira vez desde que entraram para a Escola Dumbledore, Richard e Helen viram seu pai sem usar um avental. Vestia uma capa de cor amarelo-canário, dada por Sylvester, e uma boina Mao Tsé-Tung azul. Por baixo usava uma camisa branca de algodão, sapatos macios e calças marrons.
– Então, Sylvester não sabe nada sobre esse garoto, Agatha? – disse o senhor grisalho na tela da WizNet.
– Não, professor Longbottom. – disse Agatha – O que ele levantou na ISSP é meio suspeito. O ID do garoto foi para um nível ultrasecreto, que mesmo os Aurores não podem acessar habitualmente. Então tem algo muito suspeito e Sylvester disse que as informações sobre ele não são confiáveis, pois o nível parece ter sido alterado propositalmente, então as informações também podem ter sido alteradas propositalmente...
– Hum... Você me disse que o sobrenome do garoto é Romanov, não?
– Isso, ou ao menos é o que sabemos. A pena mágica transcreveu esse nome para nós. Mikhail Pitrvich Romanov. Nascido em Oberon, Urano. Tudo casa com as informações do ID dele na ISSP. Mas tem algo errado. Bem, não sei quanto ao nome dos pais, pois não são registrados pela pena mágica...
– Eu lembro de ter dado aula a um Romanov anteriormente. Posso dar uma olhada nos registros aqui em Hogwarts, mas isso vai levar algum tempo. Espero que não esteja desesperada por informações.
– Quero-as o mais rápido possível, mas não mais rápido que isso. Sou grata por qualquer informação que você possa me passar, o mais rápido possível.
– Vou mandar-lhe uma coruja urgente assim que tiver algo.
– Obrigado, professor Longbottom...
– Me chame apenas de Ignatius, Agatha.
– Obrigado, Ignatius. Deixe-me ir almoçar. Queria também pedir perdão por estar atrapalhando o seu Natal. – disse Agatha, agradecendo e desligando o link da WizNet.
"Mikhail Pitrvich Romanov, qual é o seu segredo? O que você esconde tanto que o seu ID tem que ser Special A1, mais alto que o nível dos IDs dos Aurores?", perguntava-se mentalmente Agatha, enquanto descia para o almoço de Natal.
Luccas agora estava sentado à mesa da Prometheus. Normalmente um professor ou funcionário não se sentava às mesas das Casas durante uma refeição, mas Agatha abrira a exceção a Luccas e Eloise, que tinham parentes na Prometheus (ele os filhos, Richard e Helen; ela, a sobrinha Violette), durante os feriados.
Estava sendo um ótimo almoço. Luccas se habituara rapidamente aos banquetes enormes da Escola Dumbledore, mas nunca tinha visto nada como aquilo: muitos perus recheados, arroz-à-grega bem preparado, alguns panettones muito bem feitos, e, de tempos em tempos, as impressionantes bombinhas de bruxo. Luccas tinha ganhado em uma delas um boné camuflado, estilo militar, e um jogo de go com pedras de cristal brancos e pretos. Talvez aquelas bombinhas soubessem que, entre os principais passatempos de Luccas, estava a prática do go, jogo que aprendera com Mao Yenrai.
Todos divertiam-se bastante com a comida monstruosa e tudo o mais. Mesmo a questão das Pedras da Lua se esvaiu da mente de Luccas, que pensava apenas no que estava acontecendo naquele momento, em como estava sendo feliz com seus filhos. Queria ainda vingar-se de Vicious, mas seus filhos eram o que ele tinha de mais importante no momento.
Depois disso, todos foram ver a torrinha que fora anexada ao Quinto Andar para Luccas, projetada pelo próprio Luccas e cujo projeto final foi feito por Sylvester. A torrinha tinha quatro andares: o andar inferior, no nível do Quinto Andar, era o escritório para as punições dos alunos, aonde um terminal de computador (idéia de Luccas) armazenava as informações sobre cada aluno que passara por sua sala e sobre as punições que tiveram (no momento, Luccas não tinha muito disso). Além disso, era aonde Luccas deixava suas vassouras e produtos de limpeza.
Os três andares superiores eram o lar de Luccas, com um acesso oculto por um quadro que obedecia apenas a uma senha estabelecida e oferecida por Luccas apenas para pessoas de sua confiança. Isso fora idéia de Agatha, que achava que magia e tecnologia podiam coexistir, cada qual em seu lugar.
O primeiro desses três andares era uma espécie de sala de estar de Luccas, aonde estava a TV e o terminal pessoal de Luccas, além de uma grande coleção de DVDs antigos de filmes de pancadaria que comprara em uma missão na Terra, junto com um aparelho e um televisor capaz de exibir as imagens do mesmo (Luccas era um aficcionado, como muitos agentes do Dragão Vermelho, por Bruce Lee, embora preferisse o estilo de luta sutil e direto de Steven Seagal, e Jackie Chan, com sua característica de improvisar as armas do que estava próximo). Muitos livros, tanto de História da Magia quanto de filosofia, história e política dos trouxas estavam sobre consoles de madeira ao redor da sala, aonde também havia uma lareira aonde um fogo crepitava com força.
O segundo andar era aonde ficava o quarto de Luccas: ainda a cama espartana, mas o armário grande que tinha em Deimos estava lá, e nele ele guardava suas roupas trouxas. No armário menor, do seu antigo quarto, ficavam as roupas bruxas: as várias vestes, capotões, botas e camisas e as boínas que substituiam o chapéu de bruxo para Luccas. Claro que haviam também os chapéus pontudos, alguns levemente dobrados, como os chapéus dos alunos da Escola Dumbledore. Muitas fotos de Luccas com sua esposa Hannah podiam ser vistas, assim como um belo poster do Chicago Bulls e vários tipos de tapeçaria e artesanato chinês dados a ele por Mao Yenrai. Também podia-se ver a porta a uma suíte completa contígua ao quarto, e a lareira do quarto também com o fogo crepitando. Em cima de um criado mudo ao lado da cama, um quadro mostrava a única foto bruxa que Luccas tinha, aonde Luccas se abraçava e afagava seus filhos.
O terceiro andar, que ficava em um nível quase igual ao da torre aonde estudava-se Astronomia na Escola Dumbledore (Luccas podia ver os alunos estudando apenas saindo e permanecendo em pé no teto da torrinha), era grande e vazio. Tinha pedido a Agatha para construir um piso grande o suficiente para ter um ponto de pouso de MONOracers VTOL. Agatha fora contra, mas como a torre em baixo acabou tendo que ficar grande para caber as coisas de Luccas sem precisar aumentar mais andares, Luccas sabia que, se precisasse, poderia usar aquele andar como um hangar para um MONOracer, mesmo à contragosto de Agatha.
Helen, Richard e Luccas se sentiam mais do que nunca uma família.
– Gostei da decoração. – disse Agatha, entrando na torre.
– Desculpe, senhorita Weasley...
– Sem problemas. Acho até que ficou muito bom como residência de sua família durante as férias. Claro que precisaremos de um novo andar, mas a Torre de Astronomia precisa ficar mais alta, de qualquer forma.
– Obrigado, professora Weasley! – disse Helen, por quem Agatha desenvolvera uma certa afeição.
– Sem problemas. – disse Agatha – De certa forma, para todos nós que vivemos aqui na Escola, principalmente professores e alunos, essa Escola é um lar para nós.
Mal sabiam eles que esse lar estava mais ameaçado do que nunca.
– Então entendeu, Mikhail?
– Sim senhor, entendi. – disse Mikhail, com um sorriso tétrico nos lábios.
– Ótimo. Espero que faça tudo como mandou.
– Sim.
O comunicador foi desligado. Um link não registrado com a WizNet: arriscado e fedorento, mas útil.
Mikhail odiava tudo que lembrava os trouxas, e aquela escola, com sua balela de Estudo dos Trouxas e tudo o mais fedia. Mas ele iria limpar aquela Escola. O Lord das Trevas viria para vencer sobre os trouxas.
E Mikhail teria honras que superariam a de muitos bruxos.
