NA: Eventos antes de Black Dog Serenade

Com o reinício das aulas, a normalidade da vida em Ishtar retornou. Luccas voltou aos afazeres normais de zelador. O tempo ficava mais quente, mas ainda havia muita neve, e pior, lama. Luccas sempre acabava o dia cansado, mesmo considerando que ele tinha a ajuda dos elfos domésticos. Mas isso não era nada comparado com a sensação de que estava inútil, incapaz de entender o que estava acontecendo.

Então ele decidiu:

– Mas você tem certeza? – disse Andraas. Agatha estava chocada com a decisão tão em cima da hora de Luccas.

– Preciso pegar essas pedras e trazer elas para cá.

– Mas aonde elas estão? – disse Agatha.

– Pelas coordenadas espacias, em algum lugar aqui mesmo em Vênus, mas não parece ser em Ishtar, e nem no continente principal de Afrodite. Vou precisar de uma carona até o continente de Afrodite e lá vou comprar um MONOracer com o dinheiro que ainda tenho para ver isso o mais rápido possível.

– Mas...

– Eu quero saber o que há de tão importante nessas malditas Pedras que pudesse custar as vidas de Mao e de Gustavo, e de muitos outros.

– Eu irei com você também! – disse Andraas – Posso lhe ajudar...

– Não, Andraas, você não pode ir comigo. Você tem que dar aulas. Posso me ausentar por alguns dias sem problemas, apenas deixando ordens para os elfos cuidarem da Escola enquanto eu me ausento.

– Bem, então... Tenho uma moto planadora que lhe poderá ser útil. Ao menos poderia a levar emprestada até comprar o MONOracer.

– Bem, é que...

– É que nada, Luccas! – disse Andraas, em um tom conclusivo.

– Tudo bem. Aceito! – disse Luccas, sorrindo.

No dia seguinte, Luccas tinha empacotado suas coisas e pegado a moto planadora de Andraas no depósito da Escola. Ele estava vestido como trouxa, pronto para decolar. A única concessão para o seu estilo bruxo de vestir foi a inclusão de um capotão escuro sobre tudo. Seus filhos foram se abraçar a ele.

– Se cuidem, garotos. – disse Luccas. – Qualquer coisa errada, contem para os professores, principalmente os professores Malfoy e Weasley, e no caso o professor Potter, diretor da Casa de vocês. Não saiam de perto dos seus amigos Aliocha, Natasha, Violette e Luighi.

– Sim, papai! – disse Helen.

Os garotos começaram a se afastar. Agatha se aproximou e entregou para Luccas um pequeno bracelete de couro:

– Leve isso. É um bracelete-escudo. Possui um Feitiço Escudo ativado pela voz. Diga "Escudo!" e ele erguerá um escudo mágico e invisível para o proteger. Deve segurar um pouco tiros que você possa vir a levar.

– Certo. Espero realmente NÃO precisar do bracelete, mas ele é realmente bem vindo. – disse Luccas sorrindo, e Agatha entendeu aquilo como um elogio.

Luccas decolou, deixando para trás Ishtar, em direção do continente principal.


– Sou grato pelo serviço. – disse o homem na sombra, chutando uma bolsa de dinheiro na direção do outro homem, na luz.

– Sem problemas. Apenas quero que morra aqui a coisa toda. – disse o homem de cabelos castanhos levemente grisalhos, o rosto encovado. Vestia ternos impecáveis e tudo o mais, o que não condizia com o seu salário de agente da ISSP.

– Não se preocupe. Se você permanecer com o bico fechado do seu lado, do meu eu permanecerei.

– Ótimo. São 25 milhões de Woolongs, como combinado, certo?

– Claro. – disse o homem. – Honro meus contratos. Você deve saber que o Dragão Vermelho tem honra.

– Certo. Então, até mais.

Fad foi se afastando. Foi talvez um dos serviços mais lucrativos e fáceis que ele poderia imaginar receber: mudar um ID de um bruxo de A1 para Special A1 e alguns extras. Ele conhecia sobre os bruxos: já trabalhara com Aurores, bruxos treinados para combater os crimes que involvia magia. Sabia que os bruxos tinham suas IDs qualificadas como A1: aumentar para Special A1 não era difícil. E valeu-lhe 25 milhões de Woolongs.

Quando Fad saiu, o homem nas sombras saiu: carregava uma katana, vestia-se em preto, com cabelos brancos e olhos avermelhados pelo ódio.

– Ele não irá nos denunciar, Vicious? – disse uma voz nas sombras.

– Não. O dinheiro faz o mundo girar. Esse é um dos ensinamentos que aprendi com o tempo. Não existe nada que se compre com dinhero...

– ... exceto Pedras da Lua. – disse a voz de uma mulher.

– Bem, isso está sendo resolvido, imagino eu.

– As forças do Dragão Vermelho foram deslocadas para Vênus?

– Não todas as que poderia. Os Anciões suspeitariam se eu agisse com muitos homens, então preferi agir com menos homens.

– Teme tanto assim esses Anciões trouxas?

– Não. – disse Vicious, resoluto – Apenas não é conveniente despertar suspeitas deles, não no presente momento.

– Você está certo... – disse a voz de mulher – Mas espero que tenhámos o que queremos.

– Logo... Logo vocês terão.


– Pensei que tu tinha morrido, Luccas. – disse o vendedor, seu velho conhecido.

– Digamos, Chavez, que fiquei na moita por um tempo. – disse Luccas.

Chavez Ramirez Oxahaca era amigo de longa data de Luccas. Ex-agente da Dragão Vermelho, ganhava a vida negociando (legalmente ou não) MONOracers, as naves trouxas com o sistema MONO. Era moreno forte e usava uma bandana com uma bandeira estranha, do país da Terra que era conhecido como Venezuela. Carregava um sotaque espanhol forte e estava naquele momento comendo um taco, enquanto oferecia um para Luccas, que decidiu comer.

– Sabe que tua cabeça 'tá a prêmio, não, Luccas?

– Quer perder um negócio lucrativo, Chavez? – disse Luccas, enquanto começava a comer o taco.

Chaves adorava isso em Luccas: ele era objetivo.

– Nah... Teu prêmio é ninharia comparada com um bom negócio que podemos fazer. Tem alguma idéia do que você quer, Luccas?

– VTOL... Não precisa muito armamento, mas quero escudos e contramedidas eletrônicas de ponta. Não preciso de muita velocidade dentro do Portal, prefiro a manobrabilidade e velocidade na atmosfera. E quero legal.

– Legal! – disse Chavez – Normalmente você compra frio. O que tá pegando?

– Quanto menos o Dragão Vermelho souber sobre mim, melhor. E eles não procurariam compras de naves legais, sabendo que eu costumo comprar frio. Principalmente que vou fazer isso anônimo.

– Por que?

– Posso te adiantar que quanto menos você souber, mais seguro será para você e para mim. – terminando o taco e aceitando um suco de manga.

– Certo... Bem, é um pedido top, e como todo pedido assim, vai custar bem caro...

– Tenho uns cartões anônimos recheados de dinheiro. Muito dinheiro. – Luccas colocou uma forte conotação na última frase.

– Em quanto estamos falando? – disse Chavez.

– Dez milhas... Quinze se a nave for boa, e vinte se você ficar com o bico calado.

Chavez arregalou os olhos. Ocasionalmente Luccas comprava naves para missões da Dragão Vermelho, mas normalmente era econômico. Agora ele estava disposto a gastar vinte milhões de Woolongs por uma nave e pelo silêncio dele? Bem, se era para depenar Luccas e o obrigar a torrar tanta grana, Chavez achava que tinha que o fazer com estilo:

– Venha comigo! Tenho o que precisa! É uma gracinha, una chica muy buena!

Enquanto desciam ao pátio de estacionamento de naves, Chavez ia cantando uma música que Luccas já ouvira antes:

"Solo voy con mi pena/Sola va mi condena/Correr es mi destino/Por no llevar papel/Perdido en el corazón/De la grande Babylon/Me dicen el clandestino/Yo soy el quiebra ley"

N.A.: Manu Chao – Clandestino, do álbum honômino

Luccas não costumava gostar dessas músicas em Espanhol que ouvia Chavez cantar, mesmo o próprio Luccas tendo o costume de cantar músicas em Português.

Chavez chegou ao hangar e mostrou a menina dos olhos dele. Uma grande nave branco e cinza com muitos detalhes e um acabamento de encher os olhos:

– Star-Ninja. – disse Chavez – É um VTOL originalmente para exploração de minas, tem um manipulador de carga que pode lhe ser útil e muito espaço para carga. Adaptei um auto-canhão .50 e um sistema de contramedidas eletrônicas de ponta. O motor possui velocidade para atravessar de Vênus a Marte no Portal em 4 horas. Ainda tem um gancho para fugas rápidas. Dois lugares, se você remover o espaço de carga cabem quatro pessoas. É uma nave duca, gastei uns quatro anos melhorando ela, esperando um comprador para essa gracinha, mas ninguém conseguiu se adaptar a ela. É como um cavalo chucro: coiceia e tudo o mais, mas se você conseguir a domar...

– Certo. – disse Luccas, entregando uma carteira com vários cartões de dinheiro anônimo. – Isso é teu. Pode conferir.

Chavez conferiu e se impressionou: eram realmente vinte milhões de Woolongs e dinheiro quente, limpinho, sem problemas. Como Chavez sabia ser o esquema de Luccas: nunca usar dinheiro frio e sempre contar com uns bônus por privacidade. E essa era outra coisa que Chavez gostava em lidar com Luccas: negócios lucrativos, sempre.

– OK... – disse Chavez, sorrindo. – É por isso que eu adoro fazer negócios com você, hermano.

– Certo. Posso subir? – disse Luccas.

Chavez abasteceu a nave e jogou a chave para ele:

– Toda sua...

Luccas acionou o motor. Chavez falara a verdade: a bendita nave era que nem um touro bravo. Mas logo Luccas domou os movimentos da nave, e ela lhe pareceu dócil como um pônei treinado.

– Obrigado, Chavez! – disse Luccas, pelo comunicador, enquanto saia pelo teto aberto do local. – Bem, tenho que ir. Valeu!

– Certo, grande! Hasta luego!

Luccas decolou e colocou as coordenadas anotadas no papel no sistema MONO.

– Tempo de chegada: 15 minutos. – anunciou o sistema MONO.

– Putz! Tá muito fácil! – disse Luccas, preocupado.

-X–

As coordenadas indicavam a pequena ilhota, a mais ou menos uns duzentos quilômetros tanto de Ishtar quanto de Afrodite, os continentes venusianos. A coordenada estava exatamente abaixo, e Luccas escavava vigorosamente. Podia perceber que havia algo ali: em várias missões, Luccas escavara locais onde tinham lhe sido deixados itens úteis: dinheiro, IDs falsas, armas. Ele era razoavelmente capaz de identificar que um lugar havia sido escavado. Enquanto escavava, lembrava das palavras de Mao Yenrai quando lhe fez jurar guardar segredo sobre a localização das Pedras da Lua:

"Essas pedras são muito poderosas, e não estou falando aqui apenas de poder de destruição ou do Feng Shui. Tive uma intuição depois de fazer um Feng Shui que dizia que essas pedras eram capazes de sentir o Rei-Ki e o Mai-Ki, o Ki do bem e o Ki do mal, e os focalizar. E essa combinação é perigosa."

"O que será que Mao quis dizer com isso? Será que na Escola me darão informações sobre isso. Será que Agatha ou algum dos outros poderia me informar sobre isso?", pensava Luccas, quando sentiu a pá batendo em algo sólido. Varrendo o local com as mãos, achou uma pequena urna de madeira, com detalhes em chinês, bem trabalhado, como Luccas sabia ser o estilo de Mao.

– Deve ser essa a urna. – disse Luccas. Abriu-a e, dentro, dispostas de uma bela maneira, seis pedras de cor azul-cobalto, semi-transparentes e bem brilhantes. Luccas percebera que Mao encaixou cada uma daquelas pedras em uma espécie de pingente.

Luccas fechou a urna e subiu no VTOL. Decolou rapidamente e marcou coordenadas para a Escola de Magia. O sol daquele dia agitado estava descendo e Luccas percebeu que não comera nada, à exceção do taco e do suco na loja de Chavez...


– Lofty está contente que está de volta! – disse Lofty, o elfo doméstico, servindo um bom jantar no quarto de Luccas.

– Obrigado, Lofty. – disse Luccas, servindo-se do pão, da sopa quente e do cozido de batatas e carne que Lofty lhe trouxera. Luccas, mesmo a contragosto de Agatha, aterrizara o seu novo VTOL, Star-Ninja, sobre o quarto andar de sua torrinha, agora que o segundo andar tinha sido erguido com magia para cima e o novo segundo andar transformado em um quarto para Helen e Richard – Lofty, sabe aonde está a professora Weasley ou qualquer um dos professores?

– Estão em reunião.

– Ótimo... Amanhã eu converso com eles. Hoje quero comer e descansar... – terminou Luccas, vorazmente servindo-se da comida trazida por Lofty.