NA: Eventos antes de Wild Horses
Em algum lugar de Marte, Touro Sorridente observa os céus:
– O que foi? – disse o pequeno menino ao lado dele, o rosto pintado como o de Touro Sorridente.
– Os nossos antepassados coletavam a poderosa Medicina na Terra, muito antes do homem branco aparecer, muito antes do homem branco causar o Incidente do Portal, muito antes de vivermos aqui. Mas agora, parece que novamente alguém quer coletar a poderosa Medicina para fazer o mal... Como aconteceu antes, muitas vezes, envolvendo leões e cobras, raios e máscaras...
– Eu pensei que isso não fosse possível, grande Touro Sorridente. – disse o menino ao seu lado. – Não sabia que era possivel coletar a poderosa Medicina para fazer o mal...
– E não é, meu jovem. Mas o homem branco, que domina os dons da poderosa Medicina mas que não acredita no Grande Espírito, acha que pode fazer isso. Coletar a poderosa Medicina para fazer o mal, para trazer à vida os mortos. Esses são tolos, pois não entendem a Medicina, não entendem o Grande Cíclo do Grande Espírito, não respeitam o Grande Espírito. Mas existem muitos que coletam a poderosa Medicina, e que entendem a verdade sobre a Medicina, de que apenas usando a Medicina para o bem é que poderão vencer.
Touro Sorridente deu uma tragada no cachimbo que trazia e soltou uma baforada de fumaça, contemplando a fumaça que subia como se pudesse ler naquelas linhas turvas o destino do Universo:
– Eles pegaram os filhos daquele que está com a Medicina que desejam. Tentarão o roubar e o matar, mas não conseguirão. Não conseguirão realizar o que desejam.
– E o que acontecerá com eles?
– O destino reservado pelo Grande Espírito àqueles que violam a sua vontade. Um destino cruel.
Touro Sorridente começou a cantar em Sioux uma canção sobre o Grande Espírito. Enquanto entoava o cântico antígo de seus antepassados, pensava no homem que tinha a poderosa Medicina que alguns procuravam para o mal:
– Que ele seja abençoado por Wakantanka!
Luccas estava preparado para tomar uma atitude:
– O que? – disse Agatha.
– Isso mesmo. – disse Luccas, separando alguma munição e armas e as preparando – Vou dar um jeito de pegar os malditos e recuperar meus filhos.
– Eles poderão lhe matar. Pitr e Ananova Romanov são bruxos das trevas poderosos.
– Eu sei... – disse Luccas. Ele observava a foto de Mao Yenrai. Ele estava com Spike e Luccas.
– Spike... Mao... eu sei que jurei que jamais mataria uma pessoa, mas é meus filhos ou eles. Se precisar os matar, vou o fazer.
Luccas voltou a carregar as armas, preparando carregadores com tudo o que podia imaginar de munição.
– E você? – perguntou Agatha, enquanto via Luccas preparar munição.
– Não me preocupo comigo...
– Agatha... – disse Eloise, esbaforida, entrando na torre que era a casa de Luccas – Uma corruja de verdade deixou isto. Acabou de chegarr parra todes nós.
Eloise entregou o pergaminho para Agatha, que leu:
"Aos tolos da Escola Dumbledore:
Se querem os garotos Evergreen vivos, mandem o trouxa Evergreen trazer as Pedras da Lua sozinho, sem ajuda. Ele deve ir para o Espaçoporto de Vênus, hangar 26, em 24 horas, sozinho, com as Pedras, e não deve ser seguido ou ajuddado por ninguém. Senão seguirem isso à risca, mandaremos os dois garotos como Inferi contra vocês.
Pitr Romanov.
Ananova Romanov."
– Eles são loucos... Matar os garotos e transformá-los em Inferi... Que coisa doentia! – disse Agatha, quando ouviu o armário de Luccas se abrir.
– Você não... – disse Agatha.
– São meus filhos que estão em jogo, Agatha. – disse Luccas, passando os coldres das Jericho por baixo de suas axilas e os amarrando, antes de vestir a veste bruxa. – Vou pegar esses filhos da mãe e arrebentar eles.
– Eles vão lhe matar! – disse Agatha.
– Não me importo, – disse Luccas, indo para o terceiro andar, armado e com a urna com as Pedras da Lua nas mãos – desde que meus filhos saiam dessa vivos.
– Luccas! LUCCAS! – gritou Agatha, tentando correr, mas quando chegou ao hangar, Star-Ninja já tinha decolado. Ela podia sentir um pouco do ar quente que o motor do VTOL que subia rapidamente para os céus de Vênus.
Só havia uma coisa que Agatha podia fazer agora...
Luccas levou duas horas para chegar ao hangar. Ele caminhava sozinho, e via o hangar vazio:
– Pare aí mesmo, trouxa! – disse uma voz nas sombras. – Não venha para a frente, senão você e os moleques Sangue-ruins morrem!
Luccas parou.
– Quero ver meus filhos! – disse Luccas em voz alta para as sombras de onde ouvira a voz. – Não vou aceitar nada sem ver meus filhos vivos!
Um gancho desceu com os dois amarrados e amordaçados:
– Trouxe o que pedimos? As Pedras estão aí?
– Saiam das sombras e vamos conversar.
– Você não está em condição de exigir nada, trouxa! – disse a outra voz, feminina.
– Ela está certa, trouxa fedorento! – disse uma voz que Luccas conhecia bem.
– Se não sairem, vou quebrar essas Pedras e mandar todos nós para o outro mundo!
– Você não faria isso. – disse Ananova, começando a surgir. – Mataria seus filhos e você sabe disso.
– Tem certeza? – disse Luccas – Podem crer que quem perde mais são vocês! Eu estou preparado para morrer, e meus filhos prefeririam morrer a ver vocês dando-se bem.
Um momento de silêncio mortal, e então...
– O trouxa tem razão. – disse Pitr, revelando-se – Chegamos longe demais para não conseguirmos as Pedras. Bem, cumpri minha parte! Mostre-nos as Pedras!
Luccas ergueu a urna na luz e abriu a urna sobre sua cabeça. As Pedras estavam ali dentro:
– São verdadeiras? – disse Ananova.
– São... – disse Luccas – Eu mesmo me certifiquei de ver se eram as legítimas.
– Accio Pedras! – gritou a criança, quando o feitiço explodiu na urna.
– Agatha me disse que tentariam isso. Essa urna é encantada para que as Pedras só possam ser retiradas com mãos. – disse Luccas, fechando a Urna.
– Maldito! – disse Pitr.
– Mas não se preocupem, são as verdadeiras, posso garantir. Vamos combinar a troca...
– Não há o que combinar.
– Soltem meus filhos, e mandem-os para mim. Se fizerem isso, jogo a urna com as Pedras para vocês.
Outro momento de silêncio, quando Ananova se pronunciou:
– Parece justo. Mikhail, desça os garotos sangue-ruins.
– Certo, mamãe!
Mikhail desceu os dois:
– Agora não tentem nenhuma gracinha, sangues-ruins, ou então vamos mandar-lhes para o outro mundo...
Os desamarrou, mantendo as mordaças.
– E a urna?
– Está aqui. Os dois juntos... – disse Luccas.
– Certo. – disse Pitr, pegando os filhos de Luccas, que, apavorados como estavam, não falavam nada – Mas sem piadas...
Luccas colocou a urna no chão, próximo aos seus pés. Ele sabia o que fazer... Preparara a pistola com munição especial feita de uma mistura de fósforo branco e material para chuva-de-prata. E a deixara em uma posição na qual poderia sacar rapidamente.
– OK... – disse Luccas – Eu vou contar até três... Deixem meus filhos virem até mim, e no mesmo instante chutarei a Urna na direção de vocês.
– Certo...
– Um... Dois... Três!
Luccas chutou a urna, enquanto seus filhos correram na direção dele. Ele os abraçou e disse baixinho:
– Corram para o VTOL lá fora. Se em quinze segundos eu não os seguir, acionem-o. Ele está pré-programado no MONO para voltar para a Escola. Se cuidem! – e os empurrou na direção para fora.
Helen e Richard correram.
Richard entrou no VTOL e se desamordaçou:
– Não posso deixar o papai lá sozinho! – disse Richard.
– Não adianta! – disse Helen – Nós dois sozinhos não enfrentaremos eles sozinhos, mesmo com um VTOL.
– Então acho que precisam de ajuda... – disse uma voz no comunicador.
Trilha sonora da batalha: Rain (Cowboy Bebop OST 1)
– São essas mesmas? – disse Pitr.
– São verdadeiras! – disse Luccas – Podem conferir!
Pitr abriu a urna. Luccas pode ver um brilho malévolo nos olhos de Pitr.
– Não precisamos mais de você, trouxa! Avada...
Luccas foi mais rápido: enquanto Pitr invocava o Feitiço, Luccas sacou a arma com a munição luminosa e atirou tanto quanto pode no chão próximo aonde estava Pitr, voltando-se de costas para não ser segado pela luz que via sobre seus ombros:
– Desgraçado! – gritou Ananova – Crucio! Crucio! CRUCIO!
Luccas começou a correr em direção ao VTOL, quando um dos feitiços lançados por Ananova obstruiu a saída. Luccas pegou então duas outras Jericho 931 que tinha deixado preparadas, uma com munição explosiva, e a outra com munição letal.
– Você vai morrer, trouxa! – gritou Pitr.
– Quero ver vocês matarem o "Dragão das Sombras"! – disse Luccas, lembrando da alcunha dele no Dragão Vermelho.
Atirou munição explosiva contra o teto, abrindo um espaço no toldo e começou a correr na direção. Percebeu então que os bruxos continuaram a atacar com Maldições Imperdoáveis. Até que:
– CRUCIO! – disse Ananova, já com a vista parcialmente recuperada.
O suficiente para acertar Luccas com a Maldição Imperdoável da Dor.
Luccas gritou como nunca, a dor lancinante da Maldição Imperdoável parecendo consumir a mente dele.
– Sentiu dor, não é, trouxa? – disse Pitr. – Mas não vai morrer ainda...
– Eu... sei... que não! – gritou Luccas, levantando-se com energia tirada só Deus sabe de onde e atirando com a pistola de munição letal. Estava atirando apenas com uma mão: queria ganhar tempo, enquanto esquivava das Maldições de Morte que os três lançavam.
Foi quando ele ficou encurralado:
– Merda!
Os três bruxos se aproximaram:
– Gostou de brincar, trouxa? – disse Pitr – Agora vamos matá-lo e provar que somos muito superiores que você.
Andraas tinha descido da vassoura e subido na Star-Ninja. Como Star-Ninja era um VTOL normalmente para duas pessoas, ele sentara com Helen, enquanto Richard passara o VTOL para o manual.
– Agatha me mandou. Sabe guiar essa coisa, Richard? – disse Andraas, enquanto se espremia no banco que sobrara com Helen.
– Sei... Vamos tirar meu pai de lá! – disse Richard, acionando os motores do VTOL.
Eles ouviram um grito lancinante de dor:
– Pai! – gritou Helen.
– Os malditos estão usando a Cruciatus! – disse Andraas.
– Vamos! – disse Richard, decolando o VTOL e sentindo os coices da indomável Star-Ninja.
Eles subiram e viram o buraco no teto: não era o suficiente para que Star-Ninja passasse, mas era o suficiente para ver.
– Gostou de brincar, trouxa? – eles ouviram Pitr dizer – Agora vamos matá-lo e provar que somos muito superiores que você.
– NÃO! – gritou Richard, abrindo fogo com o auto-canhão.
Luccas viu o fogo do auto-canhão derrubando a viga onde ele estava. Ele então saltou para escapar da queda e agarrou-se em um ponto.
– Não o perca! – gritou Pitr.
– O trouxa é meu, papai! – disse Mikhail.
– Não dessa vez, Romanov! – disse Richard, olhos vítreos de ódio – Helen, desça o gancho aéreo!
Helen acionou o comando do gancho aéreo, que foi descendo próximo de onde Luccas estava.
– Esperei muito por isso, trouxa. Avada... – dizia Mikhail.
– Pai! O gancho aéreo! – gritou Helen, de dentro do VTOL.
– KEDAVRA! – gritou Mikhail.
Luccas se agarrou no gancho aéreo alguns milissegundos antes do Feitiço de Morte o atingir.
– Vai, Richard! Vai! – gritou Andraas, acionando o motor que recolhia o gancho aéreo.
– Maldito! – gritou Mikhail, mirando novamente em Luccas.
– Esqueça-o! – disse Pitr, pegando Mikhail pelo ombro – Temos o que queremos! Vamos embora! Temos que pensar adiante.
– Ele não vai me escapar! – disse Mikhail, desvencilhando-se dele e apontando a varinha para Luccas.
– Esqueça-o, Mikhail! – disse Ananova – Temos o que queremos! Vamos nos mandar antes que a ISSP e os Aurores apareçam!
Ananova e Pitr usavam Maldições para tentar afastar a Star-Ninja de perto deles. Luccas sentiu o cabo subir até a Star-Ninja e viu a cara furiosa de Mikhail:
– Não dessa vez! Avada... – dizia Mikhail.
– Nada disso! – gritou Richard, mirando em Mikhail e acionando o gatilho do auto-canhão.
Mikhail não teve tempo de completar sua magia de morte...
Ele próprio tinha recebido uma magia de morte. Uma magia dos trouxas.
Os tiros .50 do auto-canhão da Star-Ninja picotaram Mikhail Pitrvich Romanov como se fossem faca quente na manteiga, mas não atingindo o seu cérebro, o que tornou tudo ainda mais doloroso. Ele sentiu espasmos e caiu no chão, sentindo o sangue esvair-se rapidamente, junto com sua vida. Seus olhos viraram. Antes de morrer, ele se lembrou de uma aula de História da Magia, parecia-lhe milênios antes, aonde uma mulher, que ele não lembrava quem era, dizia: "Algumas armas poderiam lhe causar danos terríveis, que o fariam implorar pela Avada Kedavra." E era o que ele sentia, uma dor tão terrível e lancinante, mais terrível e lancinante que a Cruciatus. Tão mais terrível que ele considerou a morte uma benção dos céus... Ou de Lúcifer...
– NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOO! – gritou Ananova, enquanto a Star-Ninja sumia em direção a Ishtar.
O sol se punha, Ananova Romanov ainda estava chorando, ajoelhada aos destroços do que um dia fora seu filho:
– Pitr... – disse ela, chorosa.
– Eu sei... Mas a causa das Trevas é mais importante do que isso. – disse Pitr. – Nos vingaremos por nosso filho no momento certo. O importante é que temos as Pedras. Mikhail mesmo concordaria que isso é uma conquista maior que a vida.
– Eu juro que vou vigá-lo, filho! – disse Ananova. – Esse maldito trouxa e todos os que o ajudaram serão mortos!
Ananova não podia julgar que suas juras eram vazias.
– Eles ficaram com as Pedras e com o Livro? – disse Agatha.
– Sim... Mas eu consegui o que queria... – disse Luccas.
– E Mikhail... – disse Agatha, preparada para a terrível verdade.
– Está morto... Richard o matou. Se não tivesse feito isso, seríamos nós quem teríamos morrido.
– Por Deus! – disse Agatha.
– Ele iria usar a Avada Kedavra contra meu pai! – disse Richard.
– Rick tem razão! – disse Helen – Professora, me perdoe, mas você acha que nós iríamos deixar nosso pai morrer?
– Vocês têm razão... Mas ainda precisamos descobrir o que eles querem...
– Enquanto estávamos presos, eles falaram em Horcruxes, seja lá o que isso for e em um Lorde das Trevas... – disse Helen, aparentemente desconversando.
Agatha deixou a xícara de chá cair no chão com estrépito:
– O que! Horcruxes! Vocês não podem estar falando sério!
Em algum lugar de Marte.
– Mas... Touro Sorridente...
– Eu vi, meu jovem, uma pequena estrela no céu cruzar e desaparecer. Era uma das estrelas envolvidas nesse mistério. Mas era uma estrela escura, quase sem brilho, que brilhava o brilho de outras.
– O que isso quer dizer?
– Que um dos que coletavam a Medicina para o mal morreu...
Ele deu mais uma tragada do cachimbo:
– Posso ver pelas estrelas que os guerreiros do bem estão procurando os malignos que sobraram.
– Como? – disse o jovem.
– Todo ser vivente possui uma estrela guardiã, que nasce com ele. Esse local aonde estamos sentados, com certeza, é a estrela de alguém. O dia que alguém morre, sua estrela desaparece dos céus. È possível ver as estrelas dos guerreiros do bem formando a lança, com a qual pretendem derrotar o mal...
– E eles conseguirão?
– Isso vai depender, jovem... Que Wakantanka os abençoe!
Touro Sorridente fumou mais um trago do seu cachimbo e começou a cantar uma canção de seus antepassados, pois ele nada mais podia fazer.
