Capítulo 05: Azkaban


Severus caminhou pelo campo, sem se importar com as sombras que pareciam querer cobri-lo a cada instante. Azkaban, o campo dos esquecidos... Ele era agora um dos fantasmas que ali caminhavam, um homem sem história, sem honra, sem passado, sem futuro.

Ele sentou-se junto à pedreira, passando a mão pelo rosto, enxugando o suor. Há quanto tempo estava ali? Já tinha perdido a noção dos dias, dos meses, dos anos... O que fizera com sua vida? Em que ponto dela ele deixara o verdadeiro Severus Snape? Quando fora que se deixara levar pela mesquinhez e pela soberba de Tom Riddle, o líder dos Valetes de Copas?

Se ele tivesse outra chance... Se ele tivesse outra chance, o que faria? Deixaria o rancor dominá-lo mais uma vez? Buscaria vingança... Ou redenção?

Meneou a cabeça febrilmente. Estava ficando louco. Ele jamais deixaria Azkaban. Quando finalmente morresse, seu corpo apodreceria nas valas comuns que ficavam à oeste do vale.

Não muito longe do lugar onde Severus se deixava corroer por esses pensamentos, Peter Pettigrew observava o céu escuro sobre sua cabeça, os olhos nublados pelo temor, tão característico em sua personalidade diante de qualquer adversidade.

Peter sempre estava atrás de alguma vantagem. Desde criança ele era assim. Estava sempre junto dos mais fortes e dos mais inteligentes, disposto a se proteger atrás daqueles que eram melhores do que ele. E fora bem sucedido nisso.

Mas como poderia adivinhar que o todo poderoso Lorde Riddle terminaria se suicidando e os Valetes passariam para as mãos de James Potter, o homem que ele traíra apesar de anos de amizade na infância?


- Senhor... Está tudo pronto para começarmos. – a voz rouca do rapaz de boina soou na escuridão.

O homem passou as mãos pelos cabelos loiros, quase brancos, enquanto observava o subordinado com seus olhos gélidos. Depois de tantos planos e cuidados, finalmente estavam para começar a colocar em prática seu principal objetivo.

- Quando começarem as explosões, você já deve estar com o carro pronto, Lascelles. Abra a parte de trás da caminhonete. E instrua os outros homens a localizarem o mais rapidamente possível nossos alvos. Não quero correr o risco de sermos encontrados pelos guardas, ouviu bem?

- Sim, senhor.

O loiro suspirou, empertigando-se dentro de sua capa e apertando o cabo de prata da elegante bengala que usava.

- Vá logo, Lascelles. A qualquer momento agora... E esta missão estará completa.

O rapaz assentiu e sumiu na escuridão. A qualquer momento...


O som de uma explosão invadiu a quietude da noite. Logo, várias outras se seguiram, o fogo preenchendo o céu escuro com rolos de fumaças a esconder as estrelas. Gritos tentavam sobrepujar a confusão que logo se armara.

Severus levantou-se quando guardas passaram correndo por ele, sem notar o homem escondido nas sombras. Os estampidos das armas que carregavam falavam claramente ao ex-detetive. Aquela seria uma noite de sangue e de dor em Azkaban.

Ele observou os limites ainda negros da prisão. Se pudesse... Se quisesse... A fuga estava a poucos passos de distância. Se apenas...

O homem meneou a cabeça, sem se decidir a caminhar para a própria liberdade. Ele não a merecia. Ele deveria ficar ali, pagando por seus pecados. Encostou-se novamente à pedreira. Passos se aproximaram, mas ele não fez questão de se virar ou de prestar atenção em qualquer coisa que não fosse seus próprios pensamentos.

Algo caiu sobre sua cabeça, tapando seus olhos e quase o impedindo de respirar. Severus lutou por alguns instantes, mas alguém lhe golpeou pelas costas e, lentamente, ele deslizou para a inconsciência.


Peter encolheu-se junto às paredes do barracão onde ficava o dormitório dos prisioneiros. Ele sentiu a terra tremer sob seus pés enquanto a fumaça e o fogo tomavam conta do campo.

Azkaban estava sendo atacada.

A confusão que rapidamente se instalara no campo poderia facilmente fazê-lo passar desapercebido. Ninguém nunca o notara antes. Essa era a principal característica de um traidor e de um espião. Ele era tão insignificante que ninguém jamais o notava.

Caminhou quase trêmulo, rente às paredes, torcendo para conseguir encontrar logo uma maneira de fugir dali, de ir para longe, de desaparecer... Entretanto, antes que pudesse ir muito longe, sentiu um saco preto de pano ser enfiado violentamente por sua cabeça.

Já passara por uma situação como aquela... Muitos anos atrás, na noite em que tudo dera errado... Ele ficou quieto, receando que pudessem empregar da mesma violência de que fora alvo antes. Mas quem estaria fazendo aquilo? Será que, depois de todos aqueles anos, James e Sirius tinham decidido que apenas a prisão não era o suficiente para pagar por seus erros? Desejariam também sua morte?

- Fique quieto e ande. Se não tentar bancar o engraçadinho, não vamos machucá-lo. – uma voz rouca soou junto a ele.

Peter apenas assentiu quase imperceptivelmente e deixou-se ser guiado por uma mão forte sobre seu braço. Caminharam por um tempo que pareceu a ele extremamente curto e depois ele foi empurrado para cima de uma caminhonete. Permaneceu deitado durante todo tempo em que o ronco forte do motor atestava que eles estavam viajando. Havia cheiro de sangue junto a ele.


- Eles chegaram. - o loiro avisou, sentando-se à mesa onde um homem relativamente jovem jantava.

- Excelente, Lúcio. – o homem levantou-se, deixando o jantar inacabado e puxando para si um quepe negro, colocando-o sobre os cabelos dourados – Espero que eles realmente possam ser de alguma valia.

- Eles serão. – Lúcio respondeu simplesmente – Snape e Pettigrew não têm nada mais a perder. E, como nós, eles devem isso ao maldito Potter.

- Você nunca o perdoará por ter tomado seu lugar de direito junto a Riddle, não é mesmo? – ele sorriu sinistramente, acompanhando Lúcio pelos corredores negros da mansão Malfoy.

Lúcio não respondeu. Os dois homens chegaram afinal a um amplo salão, onde Peter e Severus estavam em pé, esperando.

Peter observou seus anfitriões. Conhecia Lúcio Malfoy, trabalhara com ele quando ainda estava a serviço de Tom Riddle. Mas o outro... Ele jamais o vira... Severus ao lado dele, ainda segurava o curativo manchado de sangue na base do pescoço, estreitando os olhos para Lúcio.

- Sejam bem-vindos, meus amigos. Peço desculpas se tivemos que tomar algumas medidas não muito lisonjeiras para trazê-los aqui... Mas foi necessário...

- Quem é você? – Severus perguntou, fechando o semblante – E o que pretende conosco aqui?

- Vocês saberão tudo o que precisam saber no devido tempo. – o homem respondeu – Não sei até que ponto posso confiar em ambos. Por isso, só o que lhes interessa nesse instante é o fato de que estamos ligados por inimigos em comum.

- Inimigos em comum? O senhor está falando dos valetes? – Peter atreveu-se a perguntar – James Potter e Sirius Black?

- Eu não tenho nada contra esse Black. – ele confessou – Ele, inclusive, é parente do nosso estimado Lúcio.

- Não que eu me sinta muito honrado com esse parentesco. – Lúcio observou.

- Eu trabalhei com James. Fui amigo dele. – Peter insistiu – Não conheço o senhor. Não acredito que seja inimigo dele. Isso é uma farsa, alguma pequena brincadeira, uma vingança...

O homem tirou o quepe negro, permitindo que os dois prisioneiros encarassem seus frios olhos azuis.

- Acredite-me, Pettigrew. Eu tenho muitos motivos para odiar o casal Potter. E não vou descansar enquanto não conseguir aquilo que desejo. Com ou sem vocês.

A voz dele era tão fria e cheia de sarcasmo que Peter se encolheu.

- Vocês têm duas escolhas. Ou se aliam a mim, ajudando-me a acabar com James e Lily Potter... Ou morrem.

Severus estreitou os olhos. Havia algo naquele homem, no leve sotaque que ele carregava...

- E então, o que escolhem? – o homem sorriu ao ver a face decidida do ex-detetive e o medo do traidor.

- Nós seremos seus aliados. – Severus respondeu pelos dois – Nos juntaremos a sua vingança.


Pessoal, estou espantada com o número de reviews... Na verdade, estou quase em choque...

Cheguei de viagem hoje e ainda estou meio zonza... Mas vim escrever esse capítulo. Como estou um tanto enjoada (quase não dormi durante a madrugada no ônibus...), não vai dar para responder a todo mundo hoje. Mas saibam que estou mais que emocionada com todos os desejos de parabéns.

Tive um aniversário maravilhoso graças a vocês. Essa é a minha retribuição. Espero que gostem.

Beijos,

Silverghost.