Capítulo 06: O baile de inverno


- O que houve? – Harry perguntou quando Ron se jogou na cadeira ao lado dele.

A biblioteca estava relativamente vazia e o sol do começo de inverno brilhava através das vidraças. Pouco depois, Hermione chegou, sentando-se de maneira um pouco mais delicada que a de Rony, embora seu semblante não fosse muito diferente.

- Vocês brigaram de novo? – Harry perguntou, largando a caneta na mesa e observando os amigos atentamente.

- Tivemos uma reunião da monitoria agora há pouco. – Hermione respondeu.

- E isso é motivo para esse humor? Pensei que gostassem de ser monitores. – Harry observou.

- Draco Malfoy é monitor. Isso te diz alguma coisa? – Ron respondeu, cruzando os braços numa atitude claramente defensiva.

Harry suspirou, passando as mãos pelo cabelo, numa atitude muito parecida a do pai quando estava nervoso.

- O que aquela serpente fez dessa vez?

- Lembra do baile de inverno no final do mês, antes das férias de Natal? Nós estávamos discutindo os últimos detalhes acerca dele. – Hermione respondeu – E Malfoy fez algumas gracinhas acerca da presença de pessoas como nós na festa. Nada que mereça ser relembrado.

- Esse cara está começando a me irritar de verdade. – Harry tamborilou com os dedos na mesa – Ele continua perseguindo a Lyn pelos corredores, mesmo depois de ter apanhado dela.

Ron riu de leve.

- Essa era uma cena que eu pagava para ver. Uma pena a Lyn não fazer esgrima conosco...

Harry também sorriu.

- Ela não precisa ser da nossa turma para duelar com ele. Não duvido que qualquer dia desses ela decida empalá-lo com o florete dele... Lyn prometeu isso a ele da última vez que ele se ofereceu para ensiná-la. Quem aquele idiota pensa que é afinal?

Hermione balançou a cabeça, embora houvesse uma sobra de riso em seus lábios.

- Muito bem, Lyn sabe cuidar de si mesma, nós já sabemos disso. Mas vamos voltar à história do baile. Temos pouco mais de uma semana para organizar tudo.

- Vai ser divertido. – Ron observou – Um baile de época. Quem você vai convidar, Harry?

Harry corou ligeiramente, ficando pensativo. Ele costumava acompanhar Lyn nos bailes. Mas havia Ginny agora... O que ele deveria fazer?

- Creio que sei quem ele vai chamar, Ron... E ela certamente vai aceitar... – Hermione sorriu para o moreno.

O rapaz sentiu-se um pouco mais encabulado. O que Hermione saberia?

- Malfoy certamente vai chamar a Lyn. E levará mais um homérico fora. – Ron sorriu – E você, Mione?

Foi a vez da garota corar e Harry sorrir misteriosamente.

- Eu... Eu não sei ainda.

Ron mordeu os lábios, enquanto suas orelhas ficavam repentinamente muito vermelhas. Ele e Harry tinham conversado na noite anterior sobre o baile e Harry acreditava ter conseguido convencer o amigo a convidar Hermione. Talvez aquele fosse o momento...

Harry levantou-se, recolhendo seu material. Talvez fosse melhor deixar os dois sozinhos para ver se Rony tomava coragem de convidar a amiga. Entretanto, tão logo se voltou para os amigos para se despedir, percebeu que os dois também tinham levantado e o observavam quase aterrorizados.

Ótimo... Agora eles estavam até com medo de ficar sozinhos... Ninguém merecia aqueles dois indecisos... Quando é que eles finalmente iriam superar a timidez e se acertar?


- E então, priminha, o que acha de ir comigo ao baile? – Draco voltou a perguntar, acompanhando sem esforço algum os passos apressados da morena.

- Escute, Malfoy, nada me dá mais desgosto do que ser sua prima, então, por favor, pare de me lembrar disso constantemente, sim? – Lyn parou, encarando o rapaz nos olhos cinzentos – Segundo, coloque nessa sua cabeça platinada de uma vez por todas que eu não vou sair com você. Esse laço de sangue não nos une sob nenhum aspecto. Será que deu para entender agora?

O rapaz apenas sorriu em resposta.

- Eu sempre consigo o que quero, Black. E eu quero você.

- Pois vai ficar querendo. – ela respondeu, violenta – Porque não vai atrás da Zabini ou da Parkinson agora e me dá um pouco de paz?

Ele abriu ainda mais o sorriso, os olhos cinzentos brilhando. Lyn bufou em resposta e deu as costas a ele, disposta a sumir em seu dormitório e só sair de lá quando Draco Malfoy estivesse morto e enterrado.

Porém, para sua infelicidade, esse não era o desejo de Draco.

Lyn fechou os olhos ao sentir o impacto contra a parede. Ao mesmo tempo, sentiu os lábios do rapaz sobre os seus, tentando forçar passagem.

Segurando o fôlego, ela tentou lutar contra Draco, mas ele prendera seus braços em suas costas, segurando-os firmemente pelos pulsos.

Sentiu vontade de chorar, mas antes que perdesse completamente as esperanças, ela viu-se subitamente livre do peso de Draco. E, ao reabrir os olhos, para sua surpresa, encontrou Harry engalfinhado com o loiro no chão.

- Lyn! Você está bem? - Hermione perguntou, correndo na direção dela para abraçá-la.

A morena observou Ron aproximar-se também, tirando Harry de cima do outro rapaz com algum esforço.

- Nunca mais encoste nela, Malfoy. - Harry sibilou, os olhos brilhantes de ódio.

Draco limpou o sangue que escorria pelo nariz e sorriu.

- Não pode ter todas as garotas aos seus pés, Potter. Decida-se de uma vez quem você quer.

- Não nos provoque, Malfoy. - Ron ameaçou.

Com um último olhar de desprezo, o loiro deu as costas a eles. Harry respirou fundo, soltando-se do amigo e caminhando até as duas garotas.

- Aquela cobra te machucou?

Ela deu um meio sorriso nervoso.

- Ele me pegou desprevenida. Da próxima vez...

- Não vai haver próxima vez. - Harry retrucou sério - Vamos, é melhor você ir para o seu dormitório.

Lyn arqueou a sobrancelha, mas assentiu. Hermione continuava abraçada a ela, guiando-a pelos corredores enquanto os dois garotos conversavam em voz baixa.

- Você está bem? - Hermione voltou a perguntar.

- Estou sim, Mione. - Lyn sorriu - Harry é muito exagerado.

Hermione apenas sorriu em resposta, parando diante do dormitório que a morena dividia com Ginny.

Lyn abriu a porta, encontrando a ruiva deitada, completamente cercada de livros. Ginny imediatamente se levantou ao ver o grupo à porta.

- O que aconteceu? - ela perguntou, notando os semblantes carregados do irmão e de Harry - Harry, você está machucado!

Mione virou-se para o amigo, percebendo o pequeno corte no supercílio que ele ganhara na briga.

- Não é nada. - ele murmurou, corando quando Ginny aproximou-se com uma caixa de primeiros socorros.

Lyn sentiu um súbito mau humor quando Ginny fez Harry se sentar em sua escrivaninha, começando a limpar o sangue no rosto do moreno.

- Eu vou escovar os dentes. – ela resmungou, trancando-se no banheiro sem esperar resposta. Afinal de contas, o que estava acontecendo com ela?

Um pequeno grito de surpresa veio do quarto e, mesmo abafadas pela porta, ela pôde ouvir as vozes de Harry e Ginny.

- Então, você aceita ir comigo ao baile? – a voz do garoto parecia meio assustada.

- Claro que sim!

Lyn suspirou. Estava com dor de cabeça agora. Talvez fosse melhor entrar com tudo sob o chuveiro e esquecer do resto do mundo. Sentou-se no chão de ladrilhos, observando o espelho, que refletia os olhos azuis. Os mesmos olhos de seu pai.

O que Sirius estaria fazendo naquele momento? E Susan? Provavelmente correndo atrás de Órion depois de ele ter explodido o quarto com mais uma de suas invenções malucas. Sorriu a esse pensamento. Tinha saudades da família... Queria tanto o colo da mãe em situações como aquelas...

Um toque leve na porta fê-la despertar de seus pensamentos. Ela levantou a cabeça no mesmo instante em que Hermione abria a porta silenciosamente, deslizando para dentro do banheiro e trancando-se com a amiga em seguida.

- Lyn, você realmente está bem?

A morena sorriu tristemente.

- Já estive melhor, Mione, mas vai passar.

Hermione sentou-se no chão ao lado dela.

- Harry e Ginny saíram para passear. Ron estava muito contente. Tão contente, na verdade, que acabou me chamando para o baile.

Lyn riu sinceramente dessa vez.

- E eu perdi essa cena? Que coisa, não?

- Ron adora o Harry. E a recíproca é verdadeira. Acho que eles se vêem quase como irmãos. – a moça observou.

- Conseqüentemente, Ron adoraria se tornar cunhado do melhor amigo. – Lyn completou.

As duas ficaram em silêncio por alguns instantes até Lyn soltar mais um profundo suspiro. Hermione virou-se para ela, encarando-a por alguns instantes.

- Lyn... Você gosta do Harry?

- Como! – Lyn sentiu o rosto arder, e não precisava olhar para o espelho para saber que estava completamente escarlate.

- Eu quero saber...

- Claro que não! Nós fomos criados juntos, Mione! Quase como... Quase como irmãos!

Mione sorriu, levantando-se.

- Como queira então. Mas se precisar conversar, sabe onde me encontrar.

Lyn assentiu e logo se viu novamente sozinha no banheiro. Hermione estaria certa? Não era justo... Ela não podia gostar de Harry! Só estava com um pouco de ciúmes do rapaz porque... porque eles sempre tinham sido como unha e carne! Ele nunca tinha prestado atenção em nenhuma outra garota além dela – não até ter conhecido Ginny.

- Droga! O que está acontecendo comigo afinal?


Lyn respirou fundo, tentando se acostumar com o aperto do espartilho. Simplesmente impossível... Quanto mais respirava, mais apertado aquela coisa ficava! E, como se não bastasse estar quase sem ar, ainda havia o peso de todo o veludo e o brocado e as rendas do próprio vestido.

Como é que as mulheres conseguiam usar aquilo o tempo todo em sua época? Se vestida com todo aquele aparato por pouco mais de duas horas ela já sentia como se fosse sufocar!

Ela balançou a trança negra para um lado e para o outro, observando os pares que já dançavam no salão. Harry e Ginny ainda não tinham chegado. Ron e Mione, entretanto, estavam no baile desde a abertura, visto que eram da equipe responsável pela festa.

Reclinou-se em sua cadeira, cerrando os olhos de leve, lembrando-se dos exercícios que praticava com o pai quando ele a ensinava a lutar. Aos poucos, conseguiu afinal relaxar o corpo e o aperto passou.

Alguém se sentou ao seu lado e ela suspirou resignadamente antes mesmo de se virar para ver quem era.

- Malfoy...

- Boa noite, Black. – ele a cumprimentou em um tom educado – Por que está sozinha?

- Por que quero ficar sozinha? – ela perguntou, em um tom um pouco mais rude.

Draco apenas sorriu. Sabia que Lyncis recebera vários convites durante a semana, alguns dos quais ele mesmo presenciara enquanto a perseguia com os olhos pelos corredores. Mas ela não aceitara a companhia de ninguém. Estaria ainda irritada por ter sido trocada pelo Potter?

- Paz, priminha. Não quero irritar você hoje.

- E o que quer então?

- Conversar. – ele respondeu, dando de ombros.

- Temos pontos de vista muito diferentes, Malfoy. Qualquer conversa certamente resultaria em uma discussão. E eu não estou com vontade de discutir com você hoje. Além disso, ainda não esqueci de como me atacou nos corredores semana passada.

Ele esboçou um meio sorriso ao se lembrar de como experimentara afinal os lábios da teimosa morena, mas manteve-se sério ao encarar os olhos dela.

- Sinto muito por não ter agido como um cavalheiro, Black. Mas você não me deu escolha.

- Eu não te dei escolha? – ela riu ironicamente – Malfoy, eu já disse...

- Porque se importa tanto com o que eu penso de gente sem classe, como a Granger e os Weasley? – ele a cortou, olhando fundo nos olhos dela – O que eles significam para você? Você não os conhecia, mas tomou as dores dele quase imediatamente quando eu me aproximei pela primeira vez.

- Você não entenderia, Malfoy. – ela respondeu simplesmente – Está tão mergulhado no mundo aristocrático de nossa sociedade que seria incapaz de compreender.

- E você compreende, Black? – ele perguntou de volta – Você me condena por eu assumir minhas posições. Mas você pertence ao mesmo mundo de títulos e de sangue que eu. O que realmente faz para mudar isso? Seria capaz de renunciar ao conforto que sua posição te dá por conta desses ideais tão elevados que prega?

Lyn estreitou os olhos.

- Não me compare a você, Malfoy.

Ele sorriu, levantando-se.

- No fundo, você compartilha da mesma visão que eu, minha cara prima. Você não acha que eles tenham capacidade de se defender sozinhos e arroga para si uma posição de suserana, de rainha cheia de compaixão. Mas eles ainda são seus vassalos, seus súditos.

Nesse momento, Harry e Ginny entraram no salão. Lyn imediatamente percebeu o olhar de Harry pousar sobre ela e adivinhou, embora tivesse se levantado e dado as costas ao salão para encarar Draco, que o rapaz encaminhava-se para junto dela.

- Lyn, o que esse idiota... – Harry começou, puxando a morena pelo ombro, de modo a colocá-la atrás dele.

Ginny observou, aturdida, a amiga soltar-se bruscamente da mão de Harry e posicionar-se de modo a encará-lo sem perder o Malfoy de vista.

- Eu não preciso que você me defenda, Harry. Quanto a você, Malfoy, mesmo que estivesse certo, ainda prefiro ser a rainha piedosa à cobra cheia de fel. Agora, com licença. Esse baile acabou para mim.

Lyn saiu rapidamente, a saia farfalhando ao seu redor, chamando a atenção de algumas pessoas ao seu redor. Harry encarou Draco com ódio por alguns instantes e, em seguida, sem palavras, saiu atrás da amiga, deixando Ginny sozinha no salão.

Alcançou-a pouco antes de Lyn entrar no corredor que levava ao dormitório que ela dividia com Ginny.

- Lyn, o que está acontecendo afinal?

Ela bufou, tentando passar por ele.

- Lyn!

- Nada, Harry. Não aconteceu nada.

- Mas então...

- Olhe, volte para o salão, sim? A Ginny está te esperando. Me deixa sozinha.

- O que aquele idiota fez dessa vez?

- NADA! – ela gritou, perdendo de vez as estribeiras – Harry, eu agradeço sua preocupação, mas eu sei me cuidar sozinha. Eu não preciso de você. Eu não preciso de ninguém. Então, por favor, volte para os braços da ruivinha e me deixa em paz!

E, passando por ele, Lyn entrou em seu quarto, fechando a porta com estrépito. Harry observou em silêncio, sentindo-se estranhamente magoado com as palavras dela.

- Muito bem, então, Lyncis Black. Como queira. – ele resmungou para si mesmo em um tom raivoso, dando as costas à porta pela qual ela passara e rapidamente sumindo no corredor.


Bem, dessa vez vamos fazer os agradecimentos direito, não? Um grande abraço para mamma, Lily Dragon, minha filhota, Tha, maninha Dynha, Mari-Buffy, gaby-fdk-black, Helena Black, Bárbara, Bella Lamounier, Gi Foxter, Moony Ju, Nany Potter, pekena, Paula Dani, Thaizinha-Potter-Black, That Potter, minha nova sobrinha Bebely Black ou Belle Belle, Luci Potter, Belle Aurore, Lisa Black, ang, Juliana, Tathi, Lele Potter Black, Julia, Elyon Somniare, Carol Previtalli, Aline, Rach Black, Juliana Montez, Gween Black, Sarah Lupin Black, Mylla Evans, Andy Black, Lily Dany Potter, Bia Black, Paty Felton, Mirtes, Ana... meu pai, será que me esqueci de alguém?

Sobre as perguntas que vocês fizeram... Bem, se eu revelar quem vai morrer, não tem graça, não é mesmo? E a Bellatrix não vai aparecer nessa fic. Já tenho muitos vilões com quem lidar...

Quanto a Lyn... Bem, ela pode ficar com os dois, porque não? Honrar a tradição da família... Não foi o que o pai dela mandou ela fazer? E sim, ela fará parte dos valetes. Há uma cena maravlhosa em que ela "dança" com um par de pistolas... HUAHUAHUA... A Lyn é bem filha do Sirius...

Falando na família Black, vocês realmente gostaram do Órion, não? Vou ver se consigo colocar ele mais vezes na história...

O Harry está muito santinho? HOHOHO... O que acharam dele nesse capítulo? HAHAHA... Vocês não perdem por esperar as confusões em que ele vai se meter...

Hum... vou me despedindo por aqui... Deixem muitas reviews, sim? Isso me dá inspiração para escrever. Para vocês terem uma idéia, eu tinha planejado quinze capítulos. Mas depois que conversei com algumas pessoas, aumentou para dezesseis. Depois, dezoito. Mais reviews, e meu esquema agora tem vinte capítulos! Escrevam para mim! Minha inspiração aumenta, o número de capítulos também e todos somos felizes!

Beijos.

Silverghost.

p.s.: hermenêutica significa interpretação.