Capítulo 07: O quepe negro
Havia um cheiro enjoativo na brisa noturna, uma mistura de peixe e suor, que lembrava as docas mais afastadas da cidade. As águas escuras do Tâmisa estavam acima do nível normal devido às chuvas que castigavam Londres naquele começo de inverno. Passos soaram no beco. Pouco depois, dois homens surgiram à parca luz do solitário lampião, plantado junto à velha taverna.
O primeiro era ligeiramente mais baixo que seu companheiro. Estava vestido com uma capa de lã surrada, os olhos pequenos percorrendo ansiosamente todos os cantos mergulhados nas sombras que assomavam a sua volta. Havia medo em cada movimento dele e, ao mesmo tempo, havia também uma estranha determinação.
O outro era uma figura mais elegante. A longa capa negra caía sobre seus ombros, o veludo pesado em contraste com a pele pálida e os cabelos quase brancos. Os olhos claros percorreram as sombras como muito mais intimidade do que o primeiro demonstrara.
- Você tem razão, Pettigrew. - o loiro observou - Esse lugar é perfeito. Eles nunca desconfiariam de que estamos bem debaixo do nariz deles.
Peter sorriu nervoso e assentiu.
- James é orgulhoso demais para sequer desconfiar do que estamos fazendo, Malfoy. Mesmo sabendo que eu e Severus estávamos livres, ele não se dignou a fazer um único movimento para ter mais segurança. Acredita que está muito longe de nosso poder.
Lúcio sorriu e observou o prédio a sua frente. As janelas quebradas pareciam observá-lo como órbitas vazias. Embora mais de cinqüenta anos tivessem se passado desde a construção daquele prédio, ele sobrevivera aos ataques aéreos que os alemães tinham infligido à cidade durante a guerra. Era firme e sólida o suficiente para bem servir aos planos deles.
- Vamos, Pettigrew. Precisamos organizar tudo para trazermos para cá. Há muito trabalho a se fazer ainda esta semana...
Loucura. Ele estava ficando louco, tinha perdido completamente a razão. E, no entanto, todas as pequenas ações que tinha levado a cabo nas últimas quinze horas pareciam ter finalmente aliviado a carga que carregava em seus ombros há, pelo menos, dez anos.
A palavra traição atravessou sua mente, não pela primeira, nem pela última vez naquele dia. Mas ele não se importou. Já carregara aquele título por tempo suficiente para se acostumar com o próprio peso da palavra.
A passos calculadamente calmos, Severus Snape se afastou pela última vez do prédio da Scotland Yard. Com as mãos nos bolsos e uma nuvem branca a escapar dos lábios, ele finalmente sumiu nas sombras da noite.
"Mãe:
Eu sei que você estava planejando um grande Natal em família... Mas, para variar, o pai teve que viajar para resolver problemas de Palm Avenue junto com o padrinho. A senhora agora está certamente querendo juntar tia Susan, tio Remus e tia Hestia para destrinchar um grande peru...
Mas antes que comece a preparar a casa e arme a árvore de Natal, deixe-me avisá-la que não pretendo passar o Natal em casa esse ano.
Meus amigos, de quem já lhe falei antes, fazem questão da minha presença na Toca. Tenho certeza de que a senhora vai entender que existem certas necessidades sociais às quais não posso fugir. Espero que a senhora compreenda minha posição.
Beijos saudosos,
Harry."
Lily dobrou a carta recém-chegada, guardando-a na gaveta da penteadeira e observando-se no espelho. Os olhos verdes brilharam maliciosos no reflexo, enquanto ela sorria.
- "Necessidades sociais às quais não posso fugir". Harry, Harry, Harry... Você está me saindo pior que o seu pai...
O sorriso se transformou em algo mais terno e carinhoso quando os olhos dela encontraram uma foto sobre a mesinha. Os três Potter estavam reunidos, sentados nas escadas do alpendre do chalé em que costumavam reunir os amigos.
Harry estava crescendo muito rápido... Qualquer dia desses, ele apareceria dizendo que ela ia ser avó... Riu sozinha com o pensamento.
Muito bem... Ele podia até fugir da habitual reunião natalina... Mas não escaparia de uma visita materna naquele fim de semana. Nem de apresentá-lo à sua namoradinha...
- Remus? O que houve? Por que está tão preocupado?
Hestia sentou-se na mesa, de frente para o marido, que lia absorto pela quinta vez uma carta que recebera naquela manhã.
Remus desviou o olhar da carta e encarou os olhos astutos de Hestia. Talvez ela soubesse o que fazer... Talvez ela tivesse uma saída para o dilema em que ele se encontrava naquele momento...
- Já se passaram dois meses desde o ataque à Azkaban. E não tivemos nem uma única pista durante todo esse tempo.
- Eu sei, Remus, e eu já disse que você não deve se preocupar tanto, temos homens em toda Londres, se eles piscarem no lugar errado...
- Severus Snape esteve aqui ontem à noite. – Remus a interrompeu – Teve tempo de invadir a sede, passar despercebido por todos os guardas e deixar um simpático cartão na minha mesa.
Hestia estreitou os olhos, sentindo-se sem ar.
- E sabe o que é mais interessante? – Remus continuou – O traidor quer virar a casaca mais uma vez. E avisou que "os valetes correm perigo". Mas James e Sirius estão fora da cidade. O que isso significa? Ele está tentando brincar conosco? E Pettigrew? Onde ele está nessa história?
- Você tentou se comunicar com os dois? – Hestia perguntou, endireitando-se.
- Mandei uma mensagem em Morse pelo Fawcett. Não tentei alarmá-los, só perguntei como estavam os negócios e se tinham visto algo estranho na Escócia. Mas eles responderam que estava tudo bem e que os "negócios" corriam de maneira maravilhosa e que era melhor eu nem saber do que se tratava.
Hestia meneou a cabeça, sorrindo apesar de toda a situação. Em seguida, deu um breve suspiro.
- Eles não acreditam que corram algum risco, não é verdade?
- James mal quis me ouvir quando falei de Azkaban e Sirius simplesmente riu, me perguntando o que aqueles dois poderiam fazer contra eles.
-Eles se esquecem que há alguém por trás de toda essa história. Snape e Pettigrew não fugiram sozinhos. Eles tiveram ajuda.
Remus assentiu.
- Sim, Snape me alertou sobre isso também. Disse que eu tomasse cuidado com o quepe negro. O que isso poderia significar?
Ela cruzou os braços, pensativa.
- Não tenho idéia do que isso poderia significar, Remus. Mas será que podemos confiar em qualquer informação vinda dele? Snape pode estar querendo apenas nos confundir.
- Eu sei. E tenho medo de estar fazendo julgamentos errados, Hestia... Mas por hora, só o que podemos fazer é esperar...
- Obrigada, Lascelles. – Lily agradeceu polidamente, deixando o carro com a ajuda do motorista – Foi uma sorte você estar de serviço justamente quando Watson adoeceu.
O rapaz sorriu para a ruiva antes de colocar o boné e voltar para o assento do motorista. Lily subiu rapidamente as escadarias da mansão, entregando a capa e as luvas para a criada que se aproximou assim que bateu ao portão.
Pouco depois, Susan estava com ela na sala de estar.
- É estranho que Lyn não tenha escrito nenhuma carta... – Susan observou, aproximando-se da amiga – Ela provavelmente vai passar o Natal com Harry e os amigos também. Eles nunca se largam...
- Talvez Lyn estivesse ocupada com os estudos. – Lily apenas observou, ajudando a amiga a vestir a capa – Ou com a esgrima... Por isso não escreveu.
Susan sorriu enquanto deixava o casarão. Observou o céu claro por alguns instantes. Certamente nevaria até o final do dia.
- Não sei como ela consegue ser tão parecida com o pai...
Passos rápidos soaram na escadaria e Órion apareceu ofegante.
- Mamma, deixa eu ir também! A senhora prometeu que quando fosse visitar Lyn e Harry, me levaria junto!
A morena abaixou-se, até ficar na altura do filho.
- Será uma visita rápida, Órion. Além disso, você não disse que estava para terminar um de seus novos inventos? Pois então? Terá tempo para explodir a casa antes da mamãe chegar.
Lily tentou segurar o riso enquanto Órion balançava a cabeça, emburrado.
- Pensei que promessas deveriam ser cumpridas sempre! Foi a senhora quem ensinou!
- E quem disse que não estou cumprindo uma promessa? – Susan perguntou de volta – Apenas estou adiando o cumprimento dela por tempo indeterminado. Agora, volte para casa. Está frio, você pode pegar um resfriado.
De má vontade, o menino obedeceu à mãe. Susan e Lily atravessaram o gramado da mansão. Lascelles já as esperava com o carro aberto. As duas mulheres entraram, rindo e conversando, sem perceber uma sombra escura passar pelos olhos do jovem motorista ou o sorriso malicioso que ele tinha nos lábios quando fechou a porta atrás delas.
Hohohoho... O que vocês acham que devem esperar agora?
Agradecimentos a minha nova neta, Mari-Buffy, Pekena, Bia Black, Gaby-fdj-Black, Helena Black, Elyon Somniare, Tati Potter, Luci Potter, Tathi, Paty Felton, Juliana, Julia, Moony Ju, That Potter, Bebely Black, Nany Potter, Belle Lolly Perversa Black, Carol Previtalli, Mirtes, Ana, Juliana Montez, Gi Foxter e todos que lêem essa fic.
Não vou falar muita mais ou estragarei as surpresas que tenho para vocês... Sobre Luna e Neville... Bem, complica pra mim colocar mais gente na história... Já são muitos personagens para focar de cada vez, vocês não querem que eu endoide aqui, não é?
Bem, vou indo, turma! Beijos,
Silverghost.
