Capítulo 09: Estrada sombria


O ar estava frio e ele respirava pausadamente, observando pelos vidros embaçados do carro a neve branca cair lá fora, rodopiando ao sabor do vento. As ruas de Londres estariam escuras como breu, não fosse aquela capa branca a cobrir o asfalto desde cedo.

Sentiu a mão do amigo pousar sobre seu ombro. Embora a face de James estivesse relaxada, ele não demorou a perceber o brilho de preocupação nos olhos dele.

- Deve ser apenas um alarme falso, Sirius. – ele falou em voz baixa, mais para convencer a si mesmo que para confortar o moreno – Remus deve estar fazendo tempestade em copo d'água.

- Eu só terei certeza disso quando chegar em casa e encontrar minha família segura, James. – Sirius respondeu, sério – Se algo aconteceu a algum deles, a culpa é nossa. Deveríamos ter tomado providências desde o ataque a Azkaban.

James suspirou e voltou a se ajeitar em seu assento, sentindo no bolso do paletó a bola de papel em que o telegrama de Remus se transformara desde que o recebera naquela manhã.

Sirius tinha razão. Se as coisas estavam chegando aquele ponto, a culpa era deles. Tinham se descuidado demais. E agora... Só esperava que o informante de Remus estivesse errado... Que, se havia alguma vingança em andamento, ela caísse sobre eles, não sobre suas famílias.

Finalmente, o carro entrou na alameda do casario dos Black. Sirius não esperou sequer o carro parar, abrindo a porta e saltando tão logo chegaram perto das escadarias. Pouco depois, foi seguido por James.

Sirius bateu pesadamente no grande portão e logo uma criada apareceu, o rosto um tanto aflito.

- Sir Black?

- Boa noite, Irma. – ele cumprimentou, e, sem esperar resposta, subiu quase correndo os degraus que levavam ao primeiro andar.

James observou o amigo enquanto tirava a pesada capa de veludo e as luvas, entregando-as à criada. Quando Sirius sumiu na curva da escadaria, ele virou-se para ela.

- A senhora estava acordada até agora? Pela rapidez com que atendeu a porta, eu diria que passou a noite ao pé dela.

Ela assentiu, preocupada.

- Sim, Sir Potter. Eu estou aqui desde cedo, esperando pela chegada de minha senhora.

James franziu o semblante.

- Susan saiu?

- Sua esposa esteve aqui mais cedo, milorde. As duas saíram para visitar Lyn e Harry na Academia.

O moreno fitou longamente a parede.

- Talvez, por causa da neve, elas tenham ficado presas na Academia.

Nesse momento, os passos de Sirius voltaram.

- Lyn e Órion estão dormindo lá em cima. Mas Susan não está no quarto.

- Irma disse que elas foram à Academia. Aliás, Lyn não deveria estar lá?

- Ela chegou essa tarde. – Irma voltou a dizer – Algum tempo depois da mãe sair.

Sirius caminhou até o telefone, mas, antes que o tirasse do fone, o rugido de alguém batendo ao portão cortou novamente o silêncio da mansão. Irma correu rapidamente para atender a porta.

Os dois homens a acompanharam. Mas não era Susan que chegava da Academia com Lily. Remus avançou para o hall, tirando o chapéu dos cabelos claros.

- Remus, o quê... – James começou, avançando para o amigo.

- Acabo de receber uma carta do meu informante. – ele o interrompeu, sério – Temo estar lhes trazendo péssimas notícias.


Lascelles observou o relógio de bolso, pendurado junto ao volante. Dez minutos para as cinco. Passou a marcha sem desviar os olhos do espelho retrovisor, onde as duas mulheres se refletiam.

A morena cedera ao cansaço e agora dormia no ombro da amiga. Lily Potter observava a paisagem passar pelos vidros, cada vez mais rápido.

O rapaz tirou o boné, depositando-o sobre o banco ao seu lado, aumentando ligeiramente a pressão no pedal do acelerador. Estavam chegando à encruzilhada, já perto da entrada de Londres. Em pouco mais de meia hora, ele estaria em seu destino final.

Observou novamente a mulher ruiva pelo espelho. Não podia negar que ela era extremamente desejável. Mas sangue impuro corria em suas veias. Por causa de gente como ela, tinham perdido a guerra.

Henry Lascelles era inglês. Morara a vida inteira na Inglaterra. Entretanto, muito cedo, tivera contato com a ideologia nazista e se entusiasmara com aquelas promessas. Especialmente com a possibilidade de fazer os judeus pagarem por tudo o que tinham feito.

Sua família perdera tudo nas mãos dos banqueiros judeus. Seu pai se suicidara com a vergonha, sua mãe tivera que trabalhar duro para sustentá-lo. E acabara morrendo no processo, vítima das péssimas condições de trabalho das fábricas têxteis da Inglaterra que – mais uma vez – pertencia a um judeu.

- Raça amaldiçoada. – ele resmungou baixinho para si mesmo.

Já podia ver a encruzilhada a alguns metros deles. Pisou um pouco mais fundo no acelerador, tirando uma das mãos do volante para apalpar o revólver que trazia escondido no bolso interno do paletó.

Susan acordou quando Lily se mexeu, ligeiramente incomodada. A morena se endireitou em seu assento, enquanto Lily inclinava-se para o motorista.

- Lascelles, estamos indo muito rápido.

Ele pareceu não ter ouvido suas palavras. Na verdade, ela teve a ligeira impressão de que a velocidade aumentara. Lily arqueou as sobrancelhas. Não estava acostumada a ser desobedecida.

- Lascelles, desacelere o carro.

Novamente, nada. Lily ergueu a cabeça, mordendo os lábios ao perceber que o carro ia reto, de encontro à pedreira que separava a estrada principal das outras. Perdendo a paciência, ela puxou a manga da camisa do rapaz.

- Lascelles, pare esse carro imediatamente! – ela o puxou repetidamente, sentindo um início de pânico na boca do estômago – PARE ESSE CARRO!

- FIQUE QUIETA! – ele gritou, empurrando-a com violência.

Lily caiu sentada de volta ao seu lugar. Susan a olhou assustada e ela mordeu os lábios quando ele deu uma virada brusca com o volante, entrando em uma estrada secundária que ela não lembrava para onde levava. Só sabia que, definitivamente, não era para casa.

Ela voltou-se para a porta, retirando a trava dela, embora a luva grossa de couro a atrapalhasse um pouco. Antes, entretanto, que pudesse abrir a porta e tentar pular por ela, levando Susan junto, sentiu novamente a velocidade aumentar, enquanto Lascelles virava-se para elas, um revólver apontado diretamente para a cabeça de Susan.

- Afaste-se dessa porta, minha senhora.

- O que você está querendo? – Lily perguntou, tentando manter-se calma. Susan não ousava se mexer – Está fazendo isso por dinheiro? Nós podemos...

- Cale a boca e fique quieta de uma vez. Ou será bem pior. – ele respondeu, voltando-se novamente para frente – Não quero seu dinheiro.

A paisagem agora era um borrão escuro ao redor delas. Lily aproximou-se de Susan, preocupada.

- Você está bem? – ela perguntou em um murmúrio.

Susan sorriu de leve.

- Não se preocupe comigo. Temos que encontrar uma maneira de fugir.

O carro balançou violentamente e Lily fechou os olhos, tentando ignorar a velocidade vertiginosa em que eles seguiam, enquanto segurava firmemente o pulso de Susan.

- Você vai nos matar! - ela gritou novamente para ele.

- Não, minha senhora. O que a espera é ligeiramente pior que a morte. - Lascelles respondeu sem se virar para ela.

Depois dessa resposta, Lily afundou em seu assento, a mente trabalhando a todo vapor. Estavam sendo seqüestradas. Mas por quem e com que propósitos?

Aquele rapaz certamente não estava à frente daquilo. Era jovem demais e ela o observara durante os três meses em que ele trabalhava em sua casa. Lascelles sempre fora atencioso e gentil com todos. Não, ele não era seu real inimigo.

Com um solavanco final, Lily percebeu que o carro tinha parado. Ela observou a paisagem que se descortinava pela janela. Um casarão se destacava contra as primeiras luzes do anoitecer. A velha taverna.

A porta se abriu e ela primeiro percebeu o cano de um revólver antes de qualquer outra coisa. Lascelles a puxou para fora, repetindo o gesto com Susan. Ela teve tempo para observar a doca, completamente vazia, antes de ele começar a empurrá-las em direção à taverna.

Em silêncio, eles percorreram os corredores até finalmente penetrarem em um salão parcamente iluminado. Lily sentiu alguém puxar seus braços para trás, forçando-a a ficar de joelhos e amarrando seus pulsos sem qualquer cortesia, enquanto Lascelles fazia o mesmo a Susan. Em seguida, os dois homens deixaram o salão.

Por alguns instantes, ela pensou se agora não seriam mortas. No momento em que vira a taverna, percebera que não tinham sido seqüestradas por dinheiro. Aquela taverna tinha um significado especial, especialmente para os Valetes. Especialmente para James. Quem quer que estivesse por trás daquilo, queria vingança.

Ela abaixou a cabeça, sentindo uma presença estranha nas sombras que dominavam uma das esquinas do aposento. Só esperava que aquilo pudesse ser rápido. Estava suficientemente familiarizada com o submundo para saber que existiam muitas maneiras de agir que, definitivamente, eram pior que a morte.

Passos pesados soaram e botas negras de campanha surgiram em seu campo de visão. Um homem. O que os Valetes poderia ter feito a ele para que desejasse se vingar de Sirius e James nas pessoas delas?

- Seja bem vinda, senhora Potter. – ele a saudou com a voz maliciosa - Ou eu deveria dizer Fraü Krentz?

Susan sentiu Lily enrijecer junto a ela. Lentamente a ruiva levantou a cabeça, afastando as mechas de cabelo que insistiam em cair sobre seu rosto.

- Não pode ser... - a ruiva murmurou, sentindo a pouca esperança que tinha desaparecer.

O homem que saíra das sombras olhava para ela com os olhos frios e tinha os lábios contraídos em um pérfido sorriso. O uniforme negro, impecavelmente arrumado, dava-lhe um ar de elegância, não fosse pela braçadeira vermelha que ostentava a cruz suástica.

Estavam diante de um dos oficias nazistas de Hitler. Mais exatamente, diante de Klaus Wenticht, tenente-coronel do campo de extermínio onde ela passara os piores momentos de sua vida.


Antes de começar minhas N/As (que eu não sei para que escrevo, já que ninguém vem aqui para lê-las, mas sim à fic em si...), quero usar esse espaço para uma dedicatória especial. Amanhã, dia 20 de outubro, minha afilhada querida, Letícia, estará chegando à maioridade. Sei que esse não é um capítulo muito feliz para ser dado de presente... Mas o que vale é a intenção, não? Pensei em aguardar o dia, mas tenho que fazer um trabalho de comercial e amanhã vou passar o dia na faculdade, então...

FELIZ ANIVERSÁRIO, LETY! E QUE VOCÊ SEJA MUITO FELIZ!

Agora, voltando à programação normal... HOHOHOHOHOHOH... Vocês acertaram... Klaus Wenticht está de volta para assombrar a vida da pobre Lily...

Vejamos, o que falar sobre esses dois últimos capítulos... Confesso que a cena em que Lyn e Órion estão juntos no capítulo passado, na minha opinião, foi muito fofa... Adoro eles dois... Quanto a Ginny e o Harry e a Lyn e o Draco... Por favor, tenham calma, sim? O final desse quadrado amoroso vai agradar a gregos e troianos. Ou não vai agradar a ninguém. Mas só esperando o último capítulo para saber (sim, só no último capítulo). Além disso, não chegamos nem à metade da história! Então, tenham calma!

Ninguém gostou do Lascelles, não é mesmo? Depois desse capítulo, então... É, ele estava com os maus desde o começo... Afinal, ele apareceu no ataque à Azkaban, lembram?

Vamos às respostas das reviews, não é mesmo... E eu tenho muitas reviews acumuladas... (quem manda não responder no capítulo anterior?). Primeiro, beijos para Bebely Black, Bia Black, Elyon Somniare, Paty Felton, Moony Ju, Thalita, Juliana Montez, Juliana, Carol Previtalli, Luci Potter, BelleLolly, Babbi, Nany Potter, Rach Black, Andy Black, Lika Malfoy, Tha Perversa, Mari-Buffy, Paula Dani, Helena Black, Lisa Black, Tathi, Gi Foxster, Gween Black, Flávia, Mirtes, That Potter, Lele Potter Black, Ana e todo mundo que lê a fic (espero não ter esquecido de ninguém!)

Vou indo, pessoal... Meu irmão quer entrar no pc... Aí, já viu, né?

Beijos,

Silverghost.