Capítulo 10: O nome do Jogo


- Tiersen. – ela repetiu entre dentes – Você vai me deixar entrar. Agora.

- Perdoe-me, Lady Black. – Tiersen repetiu, tentando não se intimidar pelos olhos furiosos da moça a sua frente – Mas seu pai deu ordens expressas. Ninguém deve entrar no escritório. Especialmente a senhorita.

Ela bufou, rolando os olhos. Tinha que dar um jeito de entrar naquele maldito escritório e entender o que raios estava acontecendo. Respirou fundo, tentando colocar a cabeça de volta no lugar.

Era difícil... Afinal, não é todo dia que você acorda com uma criada histérica no meio da madrugada, avisando que sua mãe foi seqüestrada, ao mesmo tempo em que o carro do seu pai sai cantando pneu no jardim em frente a sua janela.

- Quando meu pai sair, por favor, peça para que ele entre em contato, Tiersen. – ela pediu, cansada, dando as costas ao rapaz.

- Como quiser, senhorita.

Ela se afastou, massageando a cabeça. Não adiantava gritar com Tiersen, ele era um simples camareiro, não poderia mesmo desobedecer às ordens de Sirius e James. Tinha que encontrar outra maneira de entrar naquele escritório. Se ao menos Harry estivesse ali... Ele conhecia todas as passagens secretas que levavam para dentro do famoso prédio da Palm Avenue.

Fechou o cenho ao se lembrar do rapaz. Ele certamente estava muito ocupado por hora para se preocupar com alguma coisa. Provavelmente, sequer sabia do que acontecera com a mãe.

Tentou forçar a mente a trabalhar no caso que se apresentava agora. Quem poderia ter seqüestrado sua mãe e tia Lily? Por que fariam isso? Por dinheiro? Não, se fosse isso, seu pai não estaria tão preocupado. Pelo que Irma dissera, ele, tio James e tio Remus tinham tido uma séria discussão na biblioteca. E eles tinham vindo se trancar na sede dos Valetes, em vez de irem para a Scotland Yard exigir investigações, então...

Não, os detetives de Remus certamente não atuariam nesse caso. Lyn logo chegou à mesma conclusão a que Lily chegara na noite anterior. Aquele seqüestro estava relacionado às atividades dos valetes. Não era dinheiro. Era vingança.

- Ora, ora, ora... Quem vemos por aqui?

Lyn olhou para o teto, como se pedisse a alguma entidade superior que aquilo fosse apenas um pesadelo. Infelizmente, para ela, não era. Cruzando os braços, ela se virou, encontrando os olhos cinzentos de Draco Malfoy.

- Pensei que estivesse com seus amáveis súditos. Se muito me engano, eu os vi partirem ontem em um carro caindo aos pedaços... Muito me surpreenderia se eles chegassem ao seu destino final. – ele observou, sarcástico, ao mesmo tempo em que deslizava a estola creme e tirava o sobretudo, entregando-os ao porta casacos.

- O que está fazendo aqui, Malfoy? – ela perguntou, tentando não alterar a voz.

- Sociabilizando, prima. Embora que, ao que eu me lembre, esse seja um clube de cavalheiros, muito me alegra sua presença.

- Você é sócio dos Valetes? Acho que vou pedir ao meu pai que reveja a lista de associados... Esse deveria ser um clube exclusivo, mas vejo que estão democratizando muito o acesso nos últimos tempos. – ela retrucou, ácida.

Draco sorriu de lado.

- Assim como os títulos nobiliárquicos que tanto despreza, minha cara, os títulos de sociedade dos valetes também são passados de pai para filho. E, mesmo que seu pai seja um dos sócios majoritários desse lugar, não poderia expulsar minha família daqui. Ou melhor... – ele apoiou-se no balcão, encarando-a, divertido – Ele não poderia expulsar a família dele daqui.

- Ótimo. – ela resmungou para si mesma e, passando por ele, entregou sua ficha ao funcionário, que assistira à toda discussão levemente surpreso.

Draco observou ela calçar as luvas e colocar o sobretudo branco sobre o vestido leve, jogando os cabelos negros para trás, dirigindo-se para o saguão de acesso. Alcançou-a com poucos passos, parando diante dela, de modo a impedir passagem.

- O que você quer agora?

- Você me parece preocupada. – ele observou, sem deixar de sorrir.

- Isso não é da sua conta. – ela respondeu de imediato.

Antes que Lyn pudesse voltar ao seu caminho, ele inclinou-se sobre ela, encarando-a fundo nos olhos.

- E se for da minha conta? E se eu souber, exatamente, o que está acontecendo?

- Do que está falando, Malfoy? – ela perguntou, estreitando os olhos.

Ele sorriu, dessa vez de forma enigmática.

- E se eu souber onde estão sua mãe e sua tia?


Remus encarou os amigos por mais alguns instantes, enquanto o telefone chamava pela quinta vez antes da ligação cair novamente. Colocou o bocal de volta o seu lugar e suspirou.

- O telefone que ele me deu não atende. Talvez ele não esteja lá.

- Lógico que não está! Remus, você acredita mesmo que Severus Snape possa estar ao nosso lado? – Sirius perguntou irritado.

- Se o tivéssemos escutado antes, isso não estaria acontecendo. – Remus respondeu, sem se alterar – Eles têm Lily e Susan agora em mãos e não temos idéia de onde elas possam estar ou quem sejam nossos oponentes.

James andava de um lado para o outro, ansioso.

- Remus, você tem certeza de que ele não lhe deu nenhuma outra indicação? Nenhum nome?

O chefe da Scotland Yard apenas meneou a cabeça.

- Acredito que ele não pudesse ser mais claro do que aquilo que já lhe disse, James. Snape apenas falou que tomássemos cuidado com o quepe negro. Talvez ele estivesse sendo seguido, por isso, não havia outra indicação.

- O quepe negro. – Sirius suspirou – Isso pode ter muitos significados.

James olhou para o porta-retratos em sua mesa. Era uma foto de Lily, ainda bem jovem, grávida. Ela lhe dera de presente em uma das muitas discussões dos dois acerca da fuga dela antes do nascimento de Harry.

Como ela estaria naquele momento? Estaria viva? Machucada? Pensando nele?

Fechou os punhos, tentando conter a raiva que ameaçava se apoderar dele. Se não se controlasse e perdesse a cabeça, não conseguiria descobrir nada de útil.

O telefone tocou, estridente. Os três se encararam por alguns instantes, antes de Remus atender.

- Alô?

Ninguém respondeu. Por alguns instantes, ele ouviu a respiração pesada de alguém do outro lado e, em seguida, a pessoa desligou. Remus novamente encarou os amigos.

- O que eles querem afinal? - James perguntou, voltando a se sentar, embora a ansiedade ainda se fizesse presente em todos os seus movimentos.

Remus suspirou, afundando junto ao encosto da poltrona. Sirius cruzou os braços, fechando os olhos.

- Eles querem jogar. Querem nos enlouquecer. É isso. – os olhos dele tornaram-se mais sombrios – Isso é um jogo. Se perdermos... Susan e Lily perdem suas vidas. Se ganharmos...

- Ninguém sabe o que pode acontecer. – James completou, enterrando o rosto nas mãos.


Órion observou com certa admiração a irmã acabar de arrumar-se. Os cachos negros caíam sobre seus ombros, num certo contraste com o vestido azul celeste. A maquiagem leve realçava os olhos claros e a boca pequena. Ela parecia quase um anjo. Quase. Não fosse o detalhe de que ele a conhecia há dez anos.

- Lyn... Você tem certeza do que está fazendo? – ele perguntou subitamente, levantando-se da cama dela.

A moça suspirou.

- Aquele idiota sabe onde a mamma e tia Lily estão, Órion. Eu preciso ir.

Ele assentiu e ela se levantou da penteadeira, cerrando o fecho da delicada pulseira de cristais que ganhara da mãe há muitos anos. Puxou para si o casaco que estava sobre a cama e logo deixou o quarto, com o irmão quase nos calcanhares.

Os dois pararam diante de uma porta grossa de madeira negra. Pela quarta vez desde que voltara para casa, após conversar com Draco Malfoy, Lyn testou a maçaneta da porta. Trancada.

- Por que você ainda não arrombou essa porta, Lyn? – Órion perguntou, observando a irmã com atenção.

- Porque eu já vou ficar de castigo quando a mamma chegar por ter pegado o carro do Harry. Se eu quebrar essa porta, ela me mata. – ela sorriu de leve – Essa é sua área, pirralho. Consegue abrir essa fechadura sem quebrar nada?

Ele piscou o olho.

- Isso é fácil. Me dá um grampo.

Cinco minutos depois, o salão de armas estava aberto para os irmãos. Lyn entrou a passos lentos, observando as dezenas de armas da coleção do pai. Precisava de algo pequeno e leve.

Demorou mais algum tempo até que ela encontrasse a pequena pistola com a qual costumava treinar com o pai quando criança. Abriu o canhão, contando as balas ali dentro. Em seguida, encaixou a arma no coldre que levava atado à perna, disfarçado pela fenda do vestido. O fato de a saia ser rodada tornava o volume quase imperceptível e mesmo a fenda só se revelava quando ela se movia um pouco mais bruscamente.

Draco jamais saberia o que o teria atingido.

- Bem, acho que estou pronta. – ela vestiu o casaco – Como estou?

Órion sorriu.

- Se eu não fosse seu irmão, até pensaria que você é normal...

Ela riu.

- Seu pirralho chato...

Ele a seguiu silenciosamente pela passagem da biblioteca que dava para o jardim. Ninguém podia desconfiar da saída de Lyn ou Sirius certamente seria alertado. E Lyn tinha certeza que, tão logo o pai deixasse o escritório, providenciaria para despachá-la de Londres o mais rápido possível.

Um carro já esperava junto ao portão dos Black. Lyn encarou o irmão com carinho por alguns instantes antes de fazer um breve cafuné na cabeça dele.

- Daqui a pouco eu estou de volta, certo?

Ele assentiu, sorrindo.

- Não chegue muito tarde, Lyn. Não sei até quando posso segurar a Irma.

- Deixa comigo. – ela também sorriu e, em poucos instantes, estava no carro que Draco mandara para buscá-la.

Rodaram pelas ruas de Londres em silêncio, só parando às escadarias do palacete onde os Malfoy viviam. Lyn não sabia, mas aquele lugar já fora uma das várias residências de Tom Riddle. Lúcio Malfoy a recebera do mestre pouco tempo depois de James ter entrado a serviço do conde.

Draco já a esperava à mesa, bebericando uma taça de vinho branco.

- Salve, prima! Fico feliz que tenha aceitado afinal meu convite para um jantar em família.

Ela sorriu, irônica.

- Também estou extremamente feliz, meu caro primo.

Ele se levantou, ajudando-a a retirar o casaco, conduzindo-a até um salão contíguo à sala de jantar. Tão logo entraram, um criado ligou a pesada e nobre vitrola que jazia esquecida a um canto e uma valsa lenta começou a tocar.

Draco fez um sinal e logo o criado desapareceu. Em seguida, ele ofereceu a mão à Lyncis.

- Me concederia a honra dessa contradança, Lady Black?

Ela mordeu os lábios de leve, mas assentiu. Mantendo uma certa distância dele, enquanto o rapaz a envolvia pela cintura com uma mão, começaram a valsar.

- Então, o que achou do resultado de anos de pilhagens, assassinatos e traições? – ele perguntou, fazendo um gesto para o salão.

- Uma estrutura muito frágil, não? – ela perguntou, tentando não encará-lo.

- Será mesmo? – ele sorriu – Sabe, Lyncis... Meu pai está, nesse instante, junto com os outros seqüestradores da sua mãe. Quem você acha que é o lado mais frágil nessa situação?

Ela sentiu o coração disparar.

- Por isso você sabia do seqüestro hoje de manhã? Por que seu pai é um dos malditos bastardos que...

- Modere a língua, milady. – Draco a observou com interesse – Apesar de ter sido esse seu jeito um tanto, como posso dizer, explosivo que me chamou a atenção... Não creio que pragas e palavrões fiquem tão bem saindo dos seus lábios.

- Talvez se sua mãe estivesse em poder do meu pai, você poderia compreender as atuais condições que me levam a ser tão ríspida. – ela respondeu, encarando-o por alguns instantes.

Ele apenas deu de ombros, sorrindo. Eles continuaram a dançar em silêncio por alguns instantes e uma segunda canção começou a tocar.

- Eu não sou muito ligado ao meu pai. – ele confessou, sem olhar para ela.

Lyn piscou os olhos, curiosa.

- Você agora vai me fazer confidências?

- Alguma coisa contra? – ele perguntou.

- Nenhuma. Desde que você possa me revelar onde está minha mãe no processo. De preferência, comece por esse segredo.

Ele meneou a cabeça.

- Eu contarei tudo o que você deseja saber. Onde elas estão, com quem estão, quem está por trás de tudo isso e por quê. Meu pai nunca se preocupou com o que eu ouvia ou deixava de ouvir, desde que me mantivesse quieto e deixasse ele fazer seu serviço. – ele sorriu – Mas não agora.

Lyn mordeu os lábios. Ele tinha que falar! E, se não fosse por bem... Ela precisava de uma distração. Uma idéia surgiu em sua mente e ela abaixou a cabeça, fazendo uma careta. Infelizmente, não havia outra maneira... Tinha que distraí-lo para alcançar a pistola...

Draco sentiu o corpo dela se aproximar um pouco mais, enquanto ela soltava de sua mão, abraçando-o pelo pescoço. O rapaz sorriu de lado. Estavam tendo afinal algum avanço ali. Talvez até... Ele abaixou ligeiramente a cabeça, encontrando os olhos dela. Duas enormes safiras brilhantes... E estavam brilhando para ele...

Lentamente, o rapaz se aproximou. Lyn fechou os olhos bem antes dos lábios dele tocarem os seus. Refreou o desejo de se apartar do loiro e, com uma das mãos, acariciou de leve a nuca dele, enquanto a outra corria rapidamente para a fenda do vestido. Sentiu o cabo frio da pistola e, silenciosamente, retirou-a do coldre.

Ele sorriu entre os lábios dela ao sentir o cano da arma encostada junto a sua têmpora. Afastando-se, sem parar de valsar, ele a encarou.

- Eu esperava que você fizesse alguma resistência, mas pensei que hoje iria afinal conhecer seus dons de esgrimista. Até me senti um tanto desapontado quando percebi que você não tinha trazido nenhuma espada...

- Eu estou com um pouco de pressa hoje, Malfoy. - ela sorriu, irônica - Talvez um outro dia. Por hora, você poderia cumprir sua palavra? Eu realmente gostaria de saber onde está minha mãe.

Ele rodopiou com ela, sorrindo.

- A noite ainda não acabou, Lyncis.

Ela estreitou os olhos e rapidamente soltou-se de Draco, descendo o cabo da pistola contra a cabeça dele. O rapaz caiu sentado numa das poltronas do salão, sentindo-se levemente zonzo, enquanto um líquido quente empapava-lhe o cabelo. Sangue. Antes que pudesse se recuperar, sentiu novamente o cano da arma junto a sua pele.

- Você vai falar? - ela perguntou, encarando-o firmemente.

- Você não seria capaz de atirar em mim. - ele respondeu, sorrindo.

- Será mesmo? Bem, Malfoy, se você não quiser falar onde minha mãe e tia Lily estão, você não me tem nenhuma serventia. Além disso, seu pai está envolvido no seqüestro, como você mesmo confessou. O que me diz? - ela piscou o olho, divertida - Olho por olho, dente por dente. Embora eu ache que sua vida vale muito pouco em comparação a delas.

Ele estreitou os olhos.

- Você não seria capaz...

- Tem certeza? - ela se aproximou com um sorriso.

Draco fechou os olhos, ouvindo ela engatilhar a arma. Um tiro soou na penumbra do salão.


E agora? Lyn matou Draco? O que vai acontecer com ela? E o que está acontecendo com Lily e Susan? Que enrascada, não?

Bem, eu não vou responder nenhuma das minhas perguntas ou vou etsaragar algumas surpresas para os próximos capítulos... Mas adianto que as coisas vão esquentar ainda mais...

Beijos e agradecimentos para Moony Ju, Belle Lolly Perversa Black, Pekena, Mari-Buffy, Bebely Black, Lisa Black, Juliana, Bia Black, Belle Potter, Elyon Somniare, Paty Felton, gaby-fdj-black, Nany Potter, Mirtes, Ana, Andy Black, Lucy Potter, Helena Black, Carol Previtalli, Eowin Symbelmine e todos que estão lendo a fic.

Até a próxima...

Silverghost.

p.s.: para quem leu e gostou de Essência Feminina e Marauder's week... Segunda-feira, dia das bruxas... O guia da coleira. A terceira e última parte da história.

p.p.s.: alguém já percebeu que eu adoro trilogias? HUAHUAHUAHUAHUAHUA...