Capítulo 13: Passagem submersa
Susan bebeu avidamente a parca água que Lascelles lhes havia trazido. Os pulsos estavam doloridos pelo tempo que haviam passado presos, mas aos poucos a circulação voltava e ela já quase podia sentir os dedos novamente.
Infelizmente, aquilo só seria possível até a refeição terminar. Depois disso, Lascelles as prenderia novamente e não haveria nada que elas pudessem fazer.
Enquanto isso, Lily, que já havia terminado de comer, observava o cano da arma que o rapaz mirava em sua cabeça. Parado à porta, com aquele revólver nas mãos, Lascelles lembrava o próprio Wenticht anos antes, quando ela chegara ao maldito campo de concentração onde seu pai acabaria por morrer.
A ruiva suspirou, fechando os olhos. Pensar naquilo ainda lhe doía demais. Por mais anos que se passassem, ela jamais poderia esquecer do pai segurando o gatilho, fazendo com que ela disparasse contra ele mesmo.
- Como nossas convidadas estão passando? – uma voz fria soou junto à porta.
Lily rapidamente ergueu-se, sem se importar com a arma que Lascelles apontava para ela. Wenticht sorriu, passando pelo rapaz para encará-la.
- Por que já não nos matou de uma vez? – ela perguntou com a voz entrecortada, carregada de ódio.
Ele sorriu, o mesmo sorriso malicioso que ela se acostumara a observar no rosto dele nos anos em que viveu sob o nome de Fraü Krentz.
- Estou esperando mais convidados, Lady Potter. – ele respondeu, observando-a com atenção – Quanto mais tempo fica aqui em meu poder, mais seu marido se desespera. Quando finalmente nos encontrarmos, ele vai estar tão furioso que acabará dando um passo em falso. Aí, sim, eu a matarei. Mas, antes, pretendo matá-lo na sua frente.
Lily rilhou os dentes, fechando os punhos com força, enquanto Susan se levantava, olhando o homem com certa compaixão. Embora soubesse muito bem quem ele era e o que ele fizera no passado – ela e Lily nunca tinham tido segredos uma com a outra – não conseguia deixar de se perguntar por qual espécie de sofrimento Wenticht passara para desejar tão avidamente vingança.
Infelizmente, não havia nada que qualquer das duas pudesse fazer. Nada, a não ser esperar pacientemente que o tenente tivesse sua desforra. Ou que se arrependesse amargamente de ter provocado quem não devia.
- Então, solte Susan. – Lily pediu após respirar fundo – Ela não tem nada a ver com essa história.
Susan sentiu-se tentada a protestar que não deixaria a amiga para trás, mas o próprio Wenticht foi quem respondeu.
- Sinto muito, m'lady. Mas meu "sócio" tem negócios mal resolvidos com o esposo de sua amiga. – ele sorriu, dando mais um passo até ficar muito próximo da ruiva – É uma pena que tenha sangue judeu correndo por suas veias, Fraü Krentz... A senhora certamente ficaria muito bem na minha cama.
O rosto de Lily tingiu-se de vermelho intenso e, com uma careta de repulsa, ela deu um passo para trás. Klaus, entretanto, segurou-a pelo pulso enquanto Susan, com os olhos muito arregalados, perguntava-se o que poderia fazer. Lascelles apenas observava a tudo impassível, o revólver negro nas mãos.
- Desagrado tanto a vossa senhoria, milady? – ele perguntou com um sorriso.
Lily respondeu com uma cusparada na face dele. Imediatamente, Klaus soltou seu pulso, erguendo a mão e desferindo um golpe certeiro sobre o rosto da mulher. Lily caiu sentada no chão, mordendo os lábios para não dar a ele o gosto de vê-la gritar ou chorar.
- Não se preocupe, sua pequena vadia. Eu jamais me sujaria com alguém da sua laia. – Klaus disse com a voz carregada de sarcasmo, voltando-se para a porta – Amarre-as bem e depois volte para o salão.
Lascelles assentiu e desceu os três degraus que levavam ao cômodo ao mesmo tempo em que o outro homem o deixava. Lily não emitiu nenhum som quando ele a segurou violentamente pelo braço, fazendo com que se sentasse junto às costas de Susan, amarrando os pulsos de ambas com uma corda seca.
Assim que se viram sozinhas, Susan tentou virara a cabeça para ver o estado de Lily.
- Você está bem? – ela perguntou com a voz preocupada.
- Na medida do possível. – Lily respondeu com a voz tremida, ainda entre dentes – Su, tente mexer os braços para os lados.
- Nós já tentamos isso antes, Lils, e só o que conseguimos foram belos vergões nos pulsos. – ela respondeu, suspirando.
- Das outras vezes eles nos amarraram com a corda molhada. – Lily respondeu – Após secarem, elas ficavam tão apertadas que era realmente impossível se soltar. Mas elas agora estão secas e eu consegui deixar uma folga quando Lascelles nos prendeu.
Susan sorriu, aprumando-se e começando a flexionar os pulsos. Sentia o cerne da corda arranhando e mordiscando sua carne, mas continuou tentando, sentindo que Lily fazia o mesmo por seu turno.
A ruiva respirou fundo enquanto dava uma última puxada nas cordas que a prendia. Após mais alguns instantes de luta, ela sentiu o nó desafrouxar o suficiente para tirar primeiro um braço, depois o outro.
Aliviada, ela abriu e fechou os dedos, tentando fazer com que o sangue voltasse a circular. Em seguida, voltou-se para a amiga, que já estava também quase se soltando.
- Pronto, Susan. - ela a ajudou a acabar de se desamarrar também - Agora temos que sair daqui.
A morena observou os pulsos machucados de Lily e seus próprios pulsos antes de virar-se para a porta.
- Não vamos conseguir sair por essa porta, Lils.
- E quem disse que vamos sair por ela? - Lily deu um sorriso cansado - Wenticht cometeu um erro ao escolher esse lugar como esconderijo. Há uma passagem nesse quarto para o prédio dos valetes. Não é usada há anos, mas é nossa única chance...
Susan também sorriu.
- E o que estamos esperando?
Lily assentiu e voltou-se para as paredes de pedra bruta. Demorou até encontrar o pequeno calço que sinalizava a passagem. Respirando fundo, ela tentou mover a pedra solta, mas o calço partiu-se.
Susan observou os esforços da ruiva. Lily estava cansada, não conseguiria fazer aquilo sozinha. A face dela, que fora atingida por Klaus, começava a inchar e um pequeno filete de sangue escorria pelas têmporas dela. Limpando o rosto sujo, a morena aproximou-se, empurrando a amiga de leve.
- Deixa que eu faça isso.
Logo Susan percebeu quão difícil era a tarefa. Se tivessem alguma coisa que pudessem colocar nas fendas da parede... Mas contavam apenas com as próprias mãos.
- Su, você não precisa... - Lily começou, ao ver a outra mulher enterrar as unhas nas frestas, arrancando sangue dos dedos delicados.
- Você já fez demais, Lily. - Susan respondeu simplesmente e, num último esforço, puxou a pedra.
Uma passagem escura se revelou. As duas se entreolharam.
- O túnel começa estreito, mas vai se alargando. Teremos que nos arrastar de início. Depois que chegarmos ao salão de pedra, há um pouco de luz natural e poderemos nos orientar. Vá na frente, eu vou dar um jeito de colocar a pedra no lugar.
Susan assentiu. Após alguns instantes arrastando-se no pequeno túnel sem ver nada a sua frente, Susan sentiu uma corrente de ar frio. A passagem se alargara e elas logo se puseram em pé.
- Estranho... Já devia haver alguma claridade aqui. - Lily observou - Alguma coisa aconteceu. Só espero que a passagem ainda esteja aberta.
Lily tomou a dianteira, segurando a mão da amiga enquanto tateava a parede, que a cada passo se tornava mais úmida. A única coisa que se ouvia era a respiração entrecortada das duas.
Não demorou para que Lily percebesse o que tinha acontecido. Onde antes era um grande salão de pedra, agora havia um lago de águas escuras. Uma tênue luz brilhava no fundo do lago, onde as águas se encontravam com um paredão de pedra.
- Ah, senhor... Deve ter ocorrido algum desabamento... A água inundou a galeria.
Susan apertou a mão da ruiva.
- O que vamos fazer agora?
Lily observou as águas tranqüilas pensativamente, os olhos fixos na luz que bruxuleava contra o paredão.
- Aquela luz... Deve haver um túnel que conduz ao outro lado. Teremos que mergulhar. Eu vou primeiro para ver se dá para atravessá-lo ou se o túnel é muito extenso. Se eu não voltar, quero que você suba de novo, Su.
- Mas Lily...
- Prometa, Su. – Lily pediu, limpando o rosto suado – Prometa que vai subir se eu não voltar. E que não vai se deixar abalar por aqueles homens.
Susan suspirou.
- Muito bem... Eu prometo.
A ruiva sorriu e sentou-se no chão, arrancando os sapatos e tirando a roupa rapidamente, ficando apenas com as roupas de baixo. As anáguas brancas logo ficaram empapadas de lama enquanto ela penetrava dentro d'água. Em silêncio, Susan observou a amiga nadar até o paredão e, instantes depois, desaparecer sob as águas.
Engraçado como nos últimos tempos eu sempre estou quase correndo... Ok, tenho aula daqui a olhando o relógio dez minutos, mas é bom postar logo, porque de tarde tenho que estudar para processo (algum dia minhas provas terão fim?)
Vamos rapidamente aos agradecimentos... Gaby-fdj-black, Moony Ju, Paty Felton (o próximo capítulo vem no seu aniversário, minha sobrinha), Rach Black, Cacaia, Diego Potter, Carol Previtalli, Belle Lolly, Thalita, Helena Black, Bebely Black, ThatPotter, Bia Black, Paula Danielli, Lisa Black, Mirtes, Ana, ufa... Tenho que ir, tenho que ir...
E aí, gostaram da fuga da Lils e da Su? Espero que sim... O que terá acontecido? Lily vai morrer afogada? Será que afinal chegamos a parte das mortes que eu tanto prometi? Só esperando o próximo capítulo... dia 03 de dezmebro, presente de aniversário para minha sobrinha fofa Paty!
Beijos,
Silverghost.
